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Capítulo 3: Críticas às explicações fisiológicas: os interlocutores de Skinner

3.1 Pavlov

Não há, provavelmente, autor que tenha recebido mais reconhecimento por parte de Skinner do que Pavlov. Seu livro, “Conditioned Reflexes”, em conjunto com “Philosophy” de Russell e “Behaviorism” de Watson, serviu de base preparatória para a carreira em Psicologia que Skinner estava por iniciar em Harvard (Skinner, 1979). Logo no início de seus estudos em Harvard, Skinner presenciou o “Congresso Internacional de Fisiologia”, no qual Pavlov foi o convidado especial. Na ocasião, Skinner adquiriu uma foto autografada do fisiologista russo que o acompanharia pelo resto de sua carreira, em suas salas na Universidade de Indiana e na Universidade de Harvard e, por fim, em sua própria casa, ao lado de fotos da família (Skinner, 1979). Catania e Laties (1999) afirmam que “…for the young Skinner, Ivan Petrovich Pavlov was not just an influence: Pavlov was his hero” (p. 455).

Pavlov é também o autor mais citado no primeiro livro de Skinner (1938/1966b), “The Behavior of Organisms”, contando 44 menções. À guisa de comparação, Sherrington, o segundo mais citado, é mencionado apenas 14 vezes (Catania & Laties, 1999). Talvez não seja de modo algum exagerado afirmar, embora nos faltem evidências concretas para isso, que a própria estrutura do livro de Skinner (1938/1966b) deixa transparecer a influência da obra de Pavlov (1927/1960). Ambos os livros possuem organização semelhante: são iniciados por um capítulo acerca dos conceitos e dos fundamentos metacientíficos do trabalho; em seguida ambos possuem capítulos que descrevem minuciosamente as técnicas e os aparatos utilizados nas pesquisas; e, por fim, há uma extensa, quase exaustiva, apresentação de dados empíricos.

A influência de Pavlov é indiscutível principalmente no que concerne ao posicionamento metodológico defendido por Skinner em sua ciência do comportamento. Nas palavras do próprio autor (1966a):

121 Possible the most important lesson I learned from it, and one easily overlooked, was respect for a fact. On December 15, 1911, at exactly 1:55 in the afternoon, a dog secreted nine drops of saliva. To take that fact seriously, and to make one’s readers take it seriously, was no mean achievement. It was important too that it was a fact about a single organism. Animal psychology at that time was primarily concerned with the behavior of the average rat. The learning curves which appeared in textbooks were generated by large groups of organisms. Pavlov was talking about the behavior of one organism at time. He also emphasized controlled conditions. His soundproofed laboratory, a picture of which appears in the book, impressed me greatly, and the first apparatus I built consisted of a soundproofed chamber and a silent release-box. […] The motto of this society is taken from Pavlov: “Observation and observation”. Pavlov meant, of course, the observation of nature, not of what someone had written about nature (p. 76).

Algumas das principais características da filosofia da ciência proposta por Skinner já estavam em Pavlov. Os autores compartilhavam o respeito pelos fatos, mesmo que estes parecessem, à primeira vista, irrelevantes ao planejamento da pesquisa. Skinner (1956) sustenta que as descobertas por puro acaso, por “serendipity”, constituiriam um dos principais fatores no desenvolvimento científico. O caso de Pavlov é um exemplo claro. Fisiologista de formação, Pavlov não possuía nenhuma relação com a Psicologia (Konorski, 1970). Grande parte de sua carreira fora dedicada ao estudo da digestão, até que, um dia, um fato curioso chamou a sua atenção: os cães utilizados nos experimentos sobre digestão salivavam na presença de estímulos normalmente associados, por conta até da própria rotina de atividades no laboratório, à comida. Mesmo não fazendo parte de sua agenda de pesquisa, Pavlov não ignorou o fato e logo se viu estudando o que seria denominado, no início, de salivação “psíquica” (Babkin, 1949). Outra característica do modelo pavloviano que também influenciou o modo de se fazer pesquisa na análise do comportamento foi o estudo com sujeito único, em detrimento das análises estatísticas com grande amostragem que poderiam ocultar nuances do comportamento individual em favor do sujeito ideal “normal” (cf. Sidman, 1960). Em adição, assim como Pavlov, Skinner era bastante preocupado com o controle experimental das variáveis independentes e do próprio ambiente laboratorial. Utilizava aparatos mecânicos, tendo criado inclusive alguns deles, sendo os principais o registro cumulativo e a caixa-problema que, posteriormente, levaria seu nome (Skinner, 1979).

122 Finalmente, Skinner (1966a) afirma que Pavlov também foi responsável por ensiná-lo sobre a importância da observação direta da natureza. Caberia aos fatos observados na natureza, e não à atividade racionalista pura, responder as grandes questões científicas. Konorski (1970) afirma que uma das frases mais repetidas por Pavlov durante a sua vida foi: “Mr. Fact resolves all our arguments and he is the master we should serve and obey” (p. 242).

É nesse último ponto, o respeito pelo “Senhor Fato” observado na natureza, que encontramos a principal crítica de Skinner a Pavlov. Conforme veremos a seguir, para Skinner, a teoria neurológica de Pavlov não era “factual”, pois o autor não havia estudado aspectos fisiológicos do comportamento, mas sim o comportamento em si mesmo. A extensa quantidade de dados presentes em seu “Conditioned Reflexes” dizia respeito a relações comportamentais, e era a esse “Senhor Fato” que Pavlov deveria prestar contas. Dar à obra o subtítulo “An Investigation of the Physiological Activity of the Cerebral Cortex" não tornaria os dados menos comportamentais ou mais fisiológicos. Para Skinner, Pavlov estudava comportamento e não fisiologia. Essa questão fica clara na seguinte passagem do autor (1966a):

He turned too quickly to inferences about the nervous system. The subtitle of the Anrep translation is “An investigation of the Physiological Activity of the Cerebral Cortex”. Pavlov never saw any of that activity; he was studying merely what he took to be its products. His facts were about behavior, and his effort to represent them as facts about the nervous system interfered with his reports and must have affected the design of his experiments (pp. 76-77).

A mesma crítica é retomada em diversos momentos por Skinner: “The data given [by Pavlov] are quite obviously concerned with the behavior of reasonably intact dogs, and the only nervous system of which he speaks is the conceptual one” (1938/1966b, p. 426); “Pavlov had offered his researches as evidence of the activities of the cerebral cortex though he had never observed the cortex in action but had merely inferred its processes from the behavior of his experimental animals”. (1975b, p. 45); “Pavlov's (1927) book was subtitled ‘An

123 Investigation into the Physiological Activity of the Cerebral Cortex’, although he got no nearer the cerebral cortex than a salivary fistula” (1988, p. 470); “The book was about the control of salivation” (1989b, p. 129). Está claro que, aos olhos de Skinner, Pavlov era acima de tudo um cientista do comportamento e não um fisiologista. Ao que parece, para Skinner, é o objeto de estudo, e não propriamente os métodos herdados de suas pesquisas iniciais em fisiologia, o que definiria a área na qual se enquadraria o cientista Pavlov. Ao mudar o foco de estudo dos mecanismos relacionados à digestão para a análise da salivação “psíquica”, Pavlov saíra da fisiologia e entrara no campo da ciência do comportamento.

Ademais, como é possível notar nessas citações, Pavlov foi também um dos principais alvos de Skinner em suas críticas ao sistema nervoso conceitual (seção 2.2). A teoria neurológica de Pavlov seria “conceitual” porque as variáveis estudadas pelo autor não eram fisiológicas, mas comportamentais. A partir do estudo sistemático das relações entre estímulos e respostas, porém sem sequer observar como o próprio sistema nervoso funcionava, Pavlov inferiu toda uma teoria da dinâmica cerebral. Em resumo, são dois os critérios principais, e complementares, na caracterização do sistema nervoso conceitual. O primeiro é a observação: Pavlov não observou o sistema nervoso “real”, isto é, não estudou diretamente o seu funcionamento. O segundo é o objeto de estudo: Pavlov não estudou a fisiologia do organismo, mas as relações entre estímulos ambientais e respostas reflexas. Por meio do estudo do reflexo condicional (objeto de estudo não-fisiológico), Pavlov desenvolveu uma teoria neurológica que não era amparada por fatos da neurofisiologia “real” (e observável) do organismo, mas consistia em inferências derivadas da observação do comportamento do organismo.

Skinner aponta diversos problemas na prática de se inferir as características do funcionamento do sistema nervoso a partir de dados comportamentais. O primeiro deles é a criação de uma ilusão de conhecimento. Conforme dito na seção 1.3, os conceitos

124 neurofisiológicos, quando inferidos a partir de dados comportamentais, podem ocasionar explicações espúrias, obscurecendo, assim, o que de fato se sabe, e o que não se sabe, acerca do comportamento e do sistema nervoso. “The use of terms with neural references when the observations upon which they are based are behavioral is misleading. An entirely erroneous conception of the actual state of knowledge is set up. An outstanding example is the systematic arrangement of data given by Pavlov” (Skinner, 1938/1966b, pp. 426-427).

Skinner também associa a prática de Pavlov aos problemas da metáfora na teorização científica. Diz o autor (1966a): “Pavlov’s physiological metaphors encouraged him to speculate about processes supposed to be going on behind his facts rather than about the facts themselves.” (p. 77). Na seção 2.2 apresentamos alguns dos problemas associados à má teorização, isto é, àquela que vai além dos fatos observados ao criar construtos hipotéticos cuja função seria explicar os próprios fatos dos quais foram inferidos. Há o problema do significado excedente: os significados dos conceitos teóricos devem ser encontrados nas condições experimentais que estabelecem a ocasião para a emissão dos tactos verbais (seção 1.3). Os construtos hipotéticos possuem significado excedente porque as condições de controle que estabelecem a ocasião para a sua emissão vão além ou, até mesmo, estão ausentes dos eventos que pretendem explicar. A própria caracterização da teoria de Pavlov sobre o sistema nervoso como sendo do tipo “conceitual” já implica a existência de significado excedente, pois Pavlov estaria indo além dos dados comportamentais em suas inferências sobre o funcionamento cerebral.

Há também os problemas da distância intraverbal e da contaminação metafórica. Quando a teoria é constituída por construtos hipotéticos, a ligação entre os fatos e as teorias torna-se frágil. As teorias podem, por exemplo, acabar sendo constituídas por extensões metafóricas cuja origem nem mesmo estaria nos eventos que pretendem explicar. Adiante

125 veremos que Pavlov recorria à metáfora para explicar algumas das características do sistema nervoso.

Outro problema seria o encorajamento de especulações indesejadas. Nesse caso, o controle do comportamento verbal de “teorizar” poderia ir além das condições experimentais, gerando hipóteses que não possuiriam necessariamente contato direto com o fenômeno a ser explicado, fornecendo, assim, ficções explanatórias. Para Skinner (1966a), Pavlov não estava livre desse problema: “The various kinds of inhibition which Pavlov thought he saw in his data were logically unnecessary. A response may, for many reasons, grow weak; it is not necessarily suffering extinction” (p. 77).

Em adição, haveria a questão da circularidade nas explicações: a partir de dados comportamentais é inferido um construto hipotético cuja função é justamente explicar os dados comportamentais do qual ele foi inferido. “[…] the ‘activity of the cerebral cortex’ investigated by Pavlov [was part of a conceptual nervous system]. A conceptual nervous system, cannot, of course, be used to explain the behavior from which it is inferred” (Skinner, 1974, p. 213).

A dispensabilidade também é um ponto crítico associado aos construtos hipotéticos: se um evento A causa um evento B, e o evento B causa C, então A causa C. Agora, se temos acesso apenas ao evento A e ao evento C, sendo apenas possível inferir B, então, nas explicações, B sempre figuraria como construto hipotético. Assim, por ser dispensável via regra da transitividade, B, e todos os problemas que o acompanham, poderiam ser eliminados da explicação do comportamento. Sobre Pavlov, diz Skinner (1953/1965): “Pavlov's achievement was the discovery, not of neural processes, but of important quantitative relations which permit us, regardless of neurological hypotheses, to give a direct account of behavior in the field of the conditioned reflex” (p. 54, itálico adicionado).

126 Finalmente, outra crítica direcionada à Pavlov refere-se à sua suposta negação da possibilidade de uma ciência do comportamento livre da fisiologia:

[...] to bolster his claim that psychology was a science, and to fill out his textbook, [Watson] borrowed from anatomy and physiology, and Pavlov took the same line by insisting that his experiments on behavior were really “an investigation of the physiological activity of the cerebral cortex”, although neither man could point to any direct observations of the nervous system which threw light on behavior (Skinner, 1974, p. 6)28.

Ou seja, Pavlov teria recorrido à fisiologia, sua área de atuação nas pesquisas sobre digestão, para validar cientificamente o estudo da salivação “psíquica”. Skinner (1966a) pondera que essa posição de Pavlov seria um produto do materialismo vigente na Rússia do século XIX. Nas palavras do autor (1966a):

A different brand of materialism came into the story when the Soviets made Pavlov a national hero. There is no doubt that the nervous system is material; when it decays, it smells, and could one ask for better proof? Behavior on the other hand is evanescent. In talking about it without mentioning the nervous system, one runs the risk of being called an idealist. There has never been a separate Russian science of behavior (p. 77).

Em síntese, as críticas direcionadas à Pavlov têm a sua gênese na formulação, por parte do autor, de uma teoria “conceitual” do sistema nervoso. Pavlov teria postulado construtos hipotéticos a partir de inferências sobre o comportamento; teria teorizado acerca das atividades fisiológicas a partir de dados comportamentais; teria utilizado essa teoria para explicar o comportamento que, desde o início, serviu de base para a criação da própria teoria; e, por fim, teria negado (ou, pelo menos, falhado em identificar) a possibilidade de uma ciência do comportamento autônoma em relação à fisiologia. Tal como na seção anterior, nesse momento é cabível questionarmos: até que ponto as críticas de Skinner são pertinentes? Para responder essa questão devemos analisar a própria obra de Pavlov.

28 Nota-se aqui que Skinner também dialoga com Watson e este é também alvo da mesma crítica dirigida a

127 Tratemos, primeiramente, da crítica de Skinner segundo a qual Pavlov teria recorrido à fisiologia para validar sua prática como científica, ao invés de assumir a possibilidade de uma ciência do comportamento (Psicologia) autônoma. Logo no início de seu livro, Pavlov (1927/1960) discute a questão:

What attitude should the physiologist adopt? Perhaps he should first of all study the methods of this science of psychology, and only afterwards hope to study the physiological mechanism of the hemispheres? This involves a serious difficulty. It is logical that in its analysis of the various activities of living matter physiology should base itself on the more advanced and more exact sciences – physics and chemistry. But if we attempt an approach from this science of psychology to the problem confronting us we shall be building our superstructure on a science which has no claim to exactness as compared even with physiology. In fact it is still open to discussion whether psychology is a natural science, or whether it can be regarded as a science at all. […] even the advocates of psychology do not look upon their science as being in any sense exact. The eminent American psychologist, William James, has in recent years referred to psychology not as a science but as a hope of science. Another striking illustration is provided by Wundt, the celebrated philosopher and psychologist, founder of the so-called experimental method in psychology and himself formerly a physiologist. Just before the War (1913), on the occasion of a discussion in Germany as to the advisability of making separate Chairs of Philosophy and Psychology, Wundt opposed the separation, one of his arguments being the impossibility of fixing a common examination schedule in psychology, since every professor had his own special ideas as to what psychology really was. Such testimony seems to show clearly that psychology cannot yet claim the status of an exact science. If this be the case there is no need for the physiologist to have recourse to psychology. It would be more natural that experimental investigation of the physiological activities of the hemispheres should lay a solid foundation for a future true science of psychology; such a course is more likely to lead to the advancement of this branch of natural science. The physiologist must thus take his own path, where a trail has already been blazed for him (pp. 3-4).

O primeiro ponto a ser ressaltado nessa passagem diz respeito a qual “Psicologia” Pavlov se opunha. O autor cita James e Wundt como autores da Psicologia que, mesmo sendo da área, não a classificavam necessariamente como “ciência”. Dessa forma, Pavlov não negava necessariamente a possibilidade de uma ciência do comportamento autônoma, tal como a desenvolvida posteriormente nos moldes behavioristas por Skinner. Pavlov era crítico da Psicologia de sua época – introspectiva e mentalista (cf. García-Hoz, 2004). Diz o autor (1909/1955c) sobre a psicologia do mundo “interno”: “Psychology, as the knowledge of the human inner world, is still seeking its own true methods” (p. 208).

128 Precisamente, Pavlov era contra qualquer tipo de explicação que apelasse para eventos mentais, sobrenaturais ou místicos, e que fossem impassíveis de verificação experimental (cf. Boakes, 1984; Fearing, 1930; Konorski, 1970; Pessotti, 1976). Pavlov era, acima de tudo, um monista materialista (Windholz, 1997) e estendeu essa perspectiva filosófica ao estudo da salivação “psíquica”. Fearing (1930), por exemplo, situa Pavlov no contexto da fisiologia mecanicista, ao lado de Loeb, Beer, Bethe e Von Uexküll. O mecanicismo de Pavlov é evidente na seguinte passagem: “Man is of course a system, - roughly speaking, a machine, - like every other system in nature subject to the unescapable and uniform laws of all nature […]. From this standpoint the method of investigating the system of man is precisely the same as that of any other system” (1932, pp. 126-127). O homem é uma máquina e, como qualquer outra máquina, está fadado a curvar-se às leis da natureza. Não há espaço para qualquer tipo de explicação não natural do comportamento do homem-máquina. Além disso, não há motivos para crer que o método de estudo dessa máquina deva ser diferente do método de estudo de qualquer outra máquina.

É correto supor que o posicionamento de Pavlov acerca da Psicologia de sua época, e o ponto de vista monista materialista inerente à sua abordagem mecanicista, seriam plenamente compatíveis com o behaviorismo radical de Skinner. Ora, o próprio movimento behaviorista foi uma reação às psicologias da “consciência” – estruturalistas e funcionalistas – que utilizavam a introspecção como método de estudo (cf. O’Donnell, 1985). E essa sintonia de ideias provavelmente contribuiu para a adoção, pelos behavioristas, do modelo pavloviano do reflexo condicional como unidade básica na formação de “associações” (Fearing, 1930; Malone, 1991), fato que nos leva a outra consideração acerca da obra de Pavlov.

A sua influência na psicologia experimental de língua inglesa foi restrita aos âmbitos metodológico e metacientífico (cf. Boakes, 2003; Ruiz, Sánchez & De la Casa, 2003). Entretanto, mesmo nesse caso, não podemos dizer que Pavlov foi uma figura essencial para o

129 surgimento do movimento behaviorista. O manifesto de Watson (1913), visto como a obra fundacional do movimento, não faz menção a Pavlov. Watson trabalhou a questão da aprendizagem essencialmente a partir da ideia de formação de hábitos. Apenas mais tarde, quando o conceito de hábito se mostrou um tanto obscuro, o autor passou a adotar a perspectiva pavloviana (Brozek & McPherson, 1973). Em resumo, a influência de Pavlov na psicologia da aprendizagem, incluindo-se o movimento behaviorista, é seletiva, abarcando seus métodos de estudo do reflexo condicional e o seu arcabouço conceitual na descrição do fenômeno. A sua teoria neurológica foi amplamente ignorada (Ruiz, Sánchez & De la Casa, 2003).

Nesse ponto encontramos o que talvez seja a principal diferença entre a abordagem de Pavlov e a da psicologia da aprendizagem que havia adotado o modelo do reflexo condicional: Pavlov via o estudo do reflexo condicional como um meio para desvendar o funcionamento do “sistema nervoso superior”. Por outro lado, para a psicologia da