• Nenhum resultado encontrado

Peça 12: Escola é território livre da violência em Belém

3. O POSICIONAMENTO DISCURSIVO DO JORNAL “O LIBERAL” SOBRE A

3.1. APRESENTAÇÃO DAS PEÇAS

3.1.12. Peça 12: Escola é território livre da violência em Belém

de reconhecer a violência nos dois ambientes, há diferenciações notáveis: enquanto que na escola pública o aluno-agressor é assemelhado a bandidos, os alunos-agressores da escola particular são apenas “transgressores das regras disciplinares da escola”. De outra forma, também se faz dualidade entre os alunos: há os que, merecedores de partilhar do convívio e experiência escolar, são considerados vítimas prejudicadas pela ação do aluno-agressor que, diferentemente, deva ser excluído do processo educacional.

3.1.12. Peça 12: Escola é território livre da violência em Belém

A matéria do dia 20 de dezembro 06, décima segunda peça analisada, é constituinte do caderno Polícia, e possui uma boa visibilidade na chamada de capa deste dia, assumindo toda a extensão da parte superior da página, antecedendo-se a todas as demais notícias.

Ela é bastante dúbia, pois diz que a escola é “livre da violência”, mas em decorrência da continuidade abaixo é possível entender que, na verdade, o jornal impresso “O Liberal” quis dizer que a escola é território livre para a violência, o que mais uma vez se remete à violência como algo que se forma externo a escola e depois a adentra. Da mesma forma, enfatiza novamente expressões violentas de ordem explícita e física como as principais formas de violência nas escolas propostas pelo jornal impresso “O Liberal”.

Em seu interior, congrega um título principal “Escolas de terror” e dois subtítulos: “Consumo e tráfico de drogas são frequentes” e “Alunos e professores querem mudar

cenário”. Ambos referentes à escola como esse local de acontecimento da violência, cujas

principais ocorrências recaem sobre situações que advém do entorno e centrados na ação de sujeitos (o que consome drogas e o que trafica); também os principais atores envolvidos em tal conjuntura são os alunos e os professores que, partindo apenas do enunciado proposto, aprecem como propositores e agentes de transformação do contexto violento que a escola

Fonte: Acervo de jornais da Biblioteca Pública Artur Vianna, 2010.

abriga. A princípio, a matéria ressalta as credenciais da pesquisa, como os pesquisadores envolvidos e a universidade relacionada, assim como a amplitude da mesma, revelando sua temporalidade e abrangência. Desta forma, apresenta a escola pública como cenário de violência e contraria o pesquisador que se recusa a mencionar o nome dessas escolas – “„Queremos evitar a estigmatização dessas escolas’ justifica o coordenador do Observatório [...]” – as quais o jornal impresso “O Liberal” se refere como “Escolas de terror” no título; apresentando o seguinte discurso imagético, cuja legenda explicita não só o nome da escola que está sendo exposta pela violência que abriga, como também expõe “o aluno” como autor e vítima dessas ações.

Legenda: No Celso Malcher, "corredor do inferno" para espancar

os alunos que entram nas salas.

O jornal impresso “O Liberal” insiste em exemplificar as ocorrências de violência que aponta na apresentação da pesquisa e em dar nome a uma dessas escolas, ou sugerindo que a Celso Malcher é uma das escolas pesquisadas, e/ou generalizando ao mostrar que os resultados da pesquisa realizada nas 24 escolas podem se aplicar a realidade de qualquer escola da rede pública em Belém. Para além disto, a imagem dos alunos é a mais exaltada aqui, sobretudo, como agressores. Como descreve no texto escrito visibilizado no imagético, um corredor no qual alunos agridem-se. A violência física também desponta como o principal tipo de ocorrência, esta aparece pelo viés da briga entre alunos e violência sexual; situações de violência psicológica também são citadas, mas não com a mesma ênfase, e como aparecem

Imagem 16 – Alunos- Agressores: O Liberal 20 de dez/06

Fonte: Acervo de jornais da Biblioteca Pública Artur Vianna, 2010.

como resultados da pesquisa, todos são acompanhados por percentuais e os da violência psicológica são sempre os menores e sempre posicionados após os relatos de ordem física.

Da mesma forma, a escola como instituição pública também é bastante exposta por suas dificuldades: precariedade física, más condições do ensino e a própria violência; ressaltando a imagem de uma escola pública depredada e ineficiente, ideia que se chancela pelos dados e falas dos pesquisadores, de alunos, e até mesmo da diretora de uma escola.

A periferia mais uma vez merece destaque, o discurso do jornal impresso “O Liberal”, neste sentido, ressalta a relação direta entre periferia e violência, utilizando a fala de alunos para comprovar tais assertivas. Neste ínterim, não surge a fala do pesquisador, mas a de um aluno para exemplificar as ocorrências de violência nas escolas da periferia, seria porque essa ideia é do jornal impresso “O Liberal” e não teve nenhum dado da pesquisa que o respaldasse?

A família, mesmo de forma tímida, também aparece como responsável pela formação do aluno violento, que se acentua pelas condições da escola a qual tem acesso. Neste sentido, o aluno é ressaltado por ser o principal agressor no contexto de violência nas escolas, mas não como responsável por sua causa que o jornal impresso “O Liberal” vem atribuindo ao entorno e/ou a família.

E o pesquisador, a pesquisa e o seu status social que concorre para a pertinência de suas incursões, as quais foram convidadas pelo jornal impresso “O Liberal” a comporem seu discurso sobre a violência escolar. A presença do pesquisador é símbolo da inquestionabilidade da ciência e seus construtos, por isso ideal no tocante a transformar as reportagens jornalísticas em sérias expressões da verdade, ao ponto de poderem ser consideradas confiáveis.

Legenda: Reinaldo Nobre comenta a pesquisa: dados assustadores.

Fonte: Acervo de jornais da Biblioteca Pública Artur Vianna, 2010.

Imagem 17 – O Pesquisador: O Liberal 20 de dez/06

O subtítulo “Consumo e tráfico de drogas são frequentes” vem abordando especialmente as formas de violência nas escolas, tais como o tráfico e o consumo de drogas, já bastante visibilizado pelo enunciado principal; mas também a violência contra o patrimônio, a formação de gangues e a discriminação. Já no intervalo, respondente ao subtítulo “Alunos e professores querem mudar cenário” sobreleva-se a imagem do bom aluno em oposição ao aluno violento anteriormente citado como principal agressor das histórias de violência na escola; o que nos convence ainda mais da dualidade construída pelo jornal impresso “O Liberal” entre o mocinho e o bandido.