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Peça 14: Pesquisa desvenda violência nas escolas

3. O POSICIONAMENTO DISCURSIVO DO JORNAL “O LIBERAL” SOBRE A

3.1. APRESENTAÇÃO DAS PEÇAS

3.1.14. Peça 14: Pesquisa desvenda violência nas escolas

A décima quarta peça apreciada, do dia 23 de setembro de 2007, situa-se no caderno Cidade/Atualidades, na página direita inteira, com uma chamada de capa bastante expressiva da notoriedade intencionada ao fato, ocupando logo toda a extensão superior da peça; embora não apresente fotografia inicialmente, mas a reportagem respectiva sim. Compondo-se para além do título principal “Pesquisa desvenda violência nas escolas”, de dois subtítulos: “Ausência de equipes técnicas completas contribui para a insegurança” e “Governo do

Estado tem relatório em mãos para agir contra o problema”.

Na capa, as seguintes proposições,

“Escola acuada pela droga”

ANTES, O TRÁFICO RONDAVA, AGORA, TEM LIVRE TRANSITO ENTRE OS ALUNOS.

Bastante semelhante ao título do editorial “Educação acuada” / “Escola acuada”, vem traduzindo a situação da escola atualmente, como julga o jornal impresso “O Liberal”, de maneira que esta encontra-se coagida pela violência de seus entornos; indefesa a essa ação externa que vai tomando o espaço escolar a partir de seus alunos. A priori se destacam alguns elementos fundamentais da trama discursiva do jornal impresso “O Liberal” acerca da violência escolar: a escola, o entorno, o aluno e as ocorrências tidas por violência escolar. Com o mesmo intento, logo abaixo aparecem a figura do professor e da família como falas testemunhais do que o jornal impresso “O Liberal” aborda; assim como a presença dos pesquisadores que vem abalizar cientificamente as assertivas propostas.

O título principal “Pesquisa desvenda violência nas escolas”, remete-se, mais uma vez, aos esforços de estudiosos acerca da violência escolar, ressaltando a pesquisa cientifica como o meio mais seguro para se buscar compreender tal fenômeno, pelo qual emergirão as informações mais confiáveis. Neste interlúdio, o jornal impresso “O Liberal” apropria-se das investidas da pesquisa para expor a escola como cenário para a violência urbana que antes se

Fonte: Acervo de jornais da Biblioteca Pública Artur Vianna, 2010.

Imagem 18 – Chamada de capa O Liberal 23 de setembro de 2007

mantinha alheia a este espaço, o que tem se transformado atualmente, segundo o veiculo. Questiona a capacidade da escola de continuar exercendo seu papel mediante tal conjuntura, apresentando dados que “comprovariam” a forte presença das drogas e tráfico entre os alunos. O espaço destinado ao título principal apresenta alguns dados referentes à pesquisa realizada pelo Observatório de Violência nas escolas, sobre o diagnóstico desse fenômeno nas escolas estaduais de Belém, principalmente, as formas de violência mais comuns – violência física – e envolvidos – alunos, sobretudo, como agressores e professores. Embora haja destaque para a briga também entre alunos e professores, não fica claro se estes últimos teriam responsabilidade pela inciativa do ato; e, como a insistência no “aluno/agressor é muito presente no decorrer da peça, mesmo quando o professor aparece envolvido, insinua ainda, que este seja apenas vítima.

O que também se manifesta no discurso fotográfico, pois trata da imagem de alunos conversando e namorando em frente a uma escola; depois de muito ter falado em gangues e drogas adentrando a escola, tal imagem não passa uma ideia de aplicação nos estudos, mas ao contrário.

A legenda: “Insegurança que

assola principalmente os bairros periféricos não poupam as escolas e prejudica o aprendizado dos alunos”, traz

a violência do entorno mais uma vez na transformação do ambiente escolar, que deixa de desempenha o seu papel esperado: o aprendizado. Da mesma forma, a ênfase na violência física, como incidência mais apontada pelo jornal impresso O Liberal, que embora aponte outras formas de violência, estas parecem sempre coadjuvantes.

No construto dessa trama discursiva, sobrelevam-se as credenciais da pesquisa e dos pesquisadores, que a seu turno, tem seus discursos apropriados e ressignificados tal qual as necessidades do jornal impresso “O Liberal”, entre o que se revela, o que se omite e como se organiza a apresentação das informações. O que se observa não só nas investidas textuais escritas, como também no discurso imagético,

Imagem 19 - Adolescentes: O Liberal 23 de set/07

Fonte: Acervo de jornais da Biblioteca Pública Artur Vianna, 2010.

Legenda: Os pesquisadores

Reinaldo Pontes, Jane de Melo e Claudio Cruz

mergulharam no universo da agressividade escolar.

Pois, se nota a disposição dos pesquisadores ao redor de uma mesa, por trás um quadro magnético e outras mesas, assim como ao fundo uma pessoa utilizando o computador; o que nos parece ser uma sala de grupo de pesquisa, provavelmente na universidade que abriga o Observatório; ou seja, todo um cenário é pensado para a exposição da figura dos pesquisadores, aludindo a sua autoridade científica, para os consagrar como propositores confiáveis de informações sobre o tema da violência, o que também confere ao jornal impresso “O Liberal” credibilidade por tomá-los como subsídio para a construção da informação que propõe.

Assim, tais mecanismos vêm favorecer a ideia de responsabilização dos que competem gerir a rede de ensino em não possibilitar a existência de equipes multidisciplinares nas escolas do Estado, o que é apontado pelos pesquisadores como necessário ao trato das questões de violência no ambiente escolar; assim como da denúncia das péssimas condições físicas e estruturais de grande parte das escolas analisadas pela pesquisa do Observatório, da qual o jornal impresso “O Liberal” destaca as observações dos pesquisadores quanto a importância de um ambiente adequado para os alunos, os quais possam desenvolver um senso de pertença a escola e, assim, não depreda-la. O que não só expõe as escolas públicas pela sua falta de estrutura, como aponta mais uma vez o aluno como autor do ato violento.

A violência escolar nesse contexto parece representativa da ação do aluno, já que é referente à agressividade e demarca a responsabilidade gestora dos órgãos que tratam da manutenção dos espaços físicos e da contratação de profissionais, como se propõe no subtítulo “Ausência de equipes técnicas completas contribui para a insegurança”.

E, por último, o subtítulo: “Governo do Estado tem relatório em mãos para agir

contra o problema”, apresenta mais pormenorizadamente e nomeadamente os responsáveis Imagem 20 – Os Pesquisadores: O Liberal 23 de set/07

Fonte: Acervo de jornais da Biblioteca Pública Artur Vianna, 2010.

pelo gerenciamento das escolas estaduais. Neste âmbito, questionam a vontade política do Estado em oferecer soluções para o problema da violência nas escolas, já que, segundo o jornal impresso “O Liberal”, um relatório desse diagnóstico efetuado pelos pesquisadores teria sido endereçado ao governo ainda em junho de 2006 e novamente na ocasião do lançamento do livro oriundo da pesquisa, em janeiro de 2007; o que não teria tido a atenção merecida.

A porta voz do governo é a secretaria executiva da SEDUC, a qual é convidada a prestar esclarecimentos quanto à situação das escolas do Estado e o aproveitamento dos dados da pesquisa do Observatório no enfrentamento à violência nas escolas. Apesar das iniciativas expostas como o uso do relatório em programas educativos e verbas para a manutenção das escolas, como o jornal impresso “O Liberal” coloca duas entregas do relatório, sugerem, assim, e de antemão as explicações da SEDUC, que apesar do esforço dos pesquisadores em levantar dados sobre a questão da violência nas escolas, o governo/SEDUC pouco tem feito em relação ao problema. O que já ressalta o próprio título “Governo do Estado tem relatório

em mãos para agir contra o problema”, o que indica que ainda não agiu.

Este descrédito é tão presente que a imagem eleita e sua legenda apontam os alunos como testemunhas da situação das escolas, da realidade de violência e, consequente, do comprometimento da aprendizagem, o que contrasta e contradiz tudo o que foi exposto pelo secretário da SEDUC, a

despeito dos esforços do

governo em propor e

implementar medidas de enfrentamento àviolência nas escolas.

Legenda: Adolescentes fizeram relatos de situações em que a

violência prejudica o ensino.

Imagem 21 – Adolescentes II: O Liberal 23 de set/07

Fonte: Acervo de jornais da Biblioteca Pública Artur Vianna, 2010.