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Peça 8: Gangues impõem terror às escolas

3. O POSICIONAMENTO DISCURSIVO DO JORNAL “O LIBERAL” SOBRE A

3.1. APRESENTAÇÃO DAS PEÇAS

3.1.8. Peça 8: Gangues impõem terror às escolas

A chamada de capa do dia 16 de setembro de 2004, na oitava peça analisada, refere-se a uma matéria do caderno Atualidades, que vem destacando a ação de gangues numa escola pública do bairro do Jurunas, que foi saqueada, como também mostrar certa precariedade do ensino pela ausência de professores. A imagem possui a seguinte legenda: “PANELAS VAZIAS Alunos observam o fogão

desligado por falta de alimentação.”

Ao ressaltar a ação de externos em detrimento do bom funcionamento da escola, como situação característica de violência nas escolas, delega ao aluno e aos professores o papel de vítimas da violência que, neste contexto, é atribuída ao entorno, ao bairro – Jurunas. O que se revela na imagem, a cozinha do que se sugere ser a escola invadida e o fogão desligado, sem funcionamento, e ao fundo, crianças por trás de grades que separam o ambiente da cozinha do restante da escola. O aluno recebe bastante visibilidade nesta imagem, que relacionados ao título “Gangues impõe terror as escolas”, parecem também integrantes das gangues e/ou os que trazem “o terror” a escola.

No que se limita ao título principal supracitado, as situações expostas como violência na escola são basicamente de duas ordens: ação de estudantes (briga, porte de armas, tentativa de homicídio) e/ou de agentes externos a escola, o “bandido”, o “assaltante” (invasão, roubo). Os quais se confundem, porque o aluno também é a pessoa que ameaça professores, sendo assim também considerado “o bandido”. A violência escolar, neste sentido, confunde-se com criminalidade.

Os professores e os demais funcionários quando citados, cumprem especificamente dois papéis: o de vítima e/ou denunciador, fala testemunhal; que serve de prova, de evidência e, por isso, como atestados de veracidade e credibilidade ao construto discursivo do jornal impresso “O Liberal”. Quanto aos alunos, estes também representam duas figuras distintas a partir da exposição do jornal impresso “O Liberal", uma que diz respeito ao aluno-agressor

Imagem 11 – Chamada de capa O Liberal 16 de setembro de 2004.

Fonte: Acervo de jornais da Biblioteca Pública Artur Vianna, 2010.

que nesta trama assemelha-se ao bandido, que está imerso nas “Gangues impõe terror as

escolas”; este aluno, tanto quanto o agente externo “impõe terror às escolas”.

De outra maneira, também há o aluno-vítima que sofre com a violência, pois lhe são cerceados o direito ao acesso a uma educação de qualidade, que lhe é tirado por outros alunos e pela violência do entorno, do bairro – Jurunas e Cremação. Destarte, o estudante igualmente, pode servir ao propósito da denúncia e testemunhas dos fatos ressaltados. Como se pode observar na imagem abaixo:

Legenda: CARÊNCIA Os mais prejudicados pelo descaso com a segurança nas escolas são as crianças, que ficam sem poder se alimentar para estudar.

Diferentemente da fotografia da capa, aqui as crianças estão em primeiro plano, a frente das grades, com um cartaz de denúncia; parece mesmo que o jornal impresso “O Liberal” expressa os dois tipos de alunos de que trata – agressor e vítima.

A SEDUC mais uma vez é requisitada para prestar esclarecimentos quanto as circunstancias da escola que tivera sido saqueada, a qual atribui a culpa a direção da escola e falta de mecanismos de segurança que impedissem a violência do bairro de interferir na rotina da escola; esta também aparece como obstrutora do trabalho do jornal impresso “O Liberal”, por impedir entrevistas e intimidar funcionários que as tivessem permitido. Neste sentido, há uma nota que acompanha a matéria, na qual a SEDUC se retrata negando as acusações, demonstrando claramente as tensões existentes entre o órgão e o veículo jornalístico.

Embora o representante da SEDUC venha apontando as ações que este órgão tem empreendido para a resolução deste problema das escolas, todas essas medidas parecem desmentidas pelo restante do que foi apresentado pelo jornal impresso “O Liberal”; a

Imagem 12 – Alunos-Vítimas: O Liberal 16 de set/ 04

necessidade das grades para impedir a ação dos bandidos, pelo que se vê nas imagens, é destaque a presença de grades; os programas e palestras, pois o jornal impresso “O Liberal” estende o problema da violência como sendo realidade de varias outras escolas da rede; e da culpabilidade do entorno, para o qual a matéria vem apresentando também o aluno como agressor. Assim, a SEDUC parece descreditada nas suas considerações acerca da violência nas escolas e das soluções para esta.

A presença do discurso do especialista se revela a partir da credibilidade que o discurso científico possui para a sociedade, de maneira que vem ratificar muitas das assertivas do jornal impresso “O Liberal”, como a autoria exclusiva do aluno nos casos internos de violência na escola e de uma leitura de violência urbana que é antecessor a violência na escola, porque a adentra.

Outro recurso visual aborda o histórico da violência nas escolas do Jurunas, o qual vem tratando das ocorrências consideradas representantes da violência escolar, que são da ordem das ações externas, por meio de arrombamentos e furtos

e de ações internas

protagonizadas por alunos. O bairro

do Jurunas e da Cremação também citada na matéria, fazem referência à violência do entorno dos bairros periféricos, os quais o jornal impresso “O Liberal” relaciona com a produção da violência e/ou dos “violentos” – alunos/bandidos – que atingem a escola.

Ainda percebemos por meio desta, e de outras passagens escritas, a autorreferenciaçao do jornal impresso “O Liberal”, que se coloca como o meio sem o qual a sociedade não teria acesso às informações e situações ocorridas na escola. O agente social que busca as respostas, que problematiza, que inquire, e por isso, constrói-se como denunciador dos problemas que a escola enfrenta, e o porta-voz da sociedade para cobrar iniciativas e soluções das autoridades competentes.

Fonte: Acervo de jornais da Biblioteca Pública Artur Vianna, 2010.

Imagem 13 – Histórico da violência nas escolas do Jurunas: O Liberal 16 de set/ 04