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3.5 Procedimentos da cooperação jurídica internacional para fins de produção de prova

3.5.2 Pedido de auxílio direto

O auxílio direto pode ser definido como a cooperação realizada entre Autoridades Centrais dos Estados-parte de convenções internacionais que preveem esse

74 Art. 7º As cartas rogatórias podem ter por objeto atos decisórios ou não decisórios.

Parágrafo único. Os pedidos de cooperação jurídica internacional que tiverem por objeto atos que não ensejem juízo de delibação pelo Superior Tribunal de Justiça, ainda que denominados como carta rogatória, serão encaminhados ou devolvidos ao Ministério da Justiça para as providências necessárias ao cumprimento por auxílio direto.

Art. 8º A parte interessada será citada para, no prazo de 15 (quinze) dias, contestar o pedido de homologação de sentença estrangeira ou intimada para impugnar a carta rogatória.

Parágrafo único. A medida solicitada por carta rogatória poderá ser realizada sem ouvir a parte interessada quando sua intimação prévia puder resultar na ineficácia da cooperação internacional.

75 BRASIL. Supremo Tribunal de Justiça. Carta Rogatória n. 438. Relator Ministro Luiz Fux. Julgado em

24/09/2007.

76 DIPP, Gilson Langaro. Carta rogatória e cooperação internacional. In: BRASIL. Manual de cooperação

jurídica internacional e recuperação de ativos. Cooperação em matéria penal. Brasília: Secretaria

mecanismo de assistência mútua, ou ainda, de acordos ou tratados bilaterais que tratam especificamente do tema77.

Mas o auxílio direto não se particulariza somente pelo fato de que o seu processamento é gerenciado pelas autoridades centrais. O que a singulariza na realidade, é o fato de que o Estado estrangeiro não se apresenta na condição de juiz, mas de administrador, porquanto não encaminha um pedido judicial de assistência, mas sim uma solicitação para que a autoridade judicial do outro Estado tome as providências e as medidas requeridas no âmbito nacional78.

Na carta rogatória, o que se tem é o processamento do pedido formulado pela autoridade judicial estrangeira, em que a intervenção da autoridade judicial do Estado requerido limita-se a uma cognição restrita à admissibilidade da solicitação. Já na assistência direta, é a própria autoridade do Estado requerido que toma a decisão, por provocação da autoridade estrangeira, analisando não somente as formalidades, mas o próprio mérito da solicitação. E mais, enquanto na carta rogatória tem-se um pedido judicial estrangeiro, na assistência direta, a provocação pode ser feita pelas partes interessadas ou pela autoridade policial, e não necessariamente pelo juiz.

Tal qual na carta rogatória, o pedido de auxílio direto pode ser ativo ou passivo. No caso do pedido de auxílio direto ativo, não somente os juízes brasileiros podem recorrer a esse instrumento, mas também o Ministério Público, a defesa e a autoridade policial. No caso dos acordos bilaterais para fins de cooperação em matéria penal, a autoridade central brasileira eleita é o Ministério da Justiça. O mesmo deve ocorrer no tocante à assistência direta prevista em tratados internacionais como a Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional e a Convenção contra a Corrupção.

Na hipótese do pedido de auxílio direto passivo, em que o Brasil é o Estado requerido, a função da autoridade central é encaminhar a solicitação para a autoridade brasileira competente, seja ela judicial ou administrativa, para que tome a providência solicitada.

A gênese do instrumento do auxílio direto está evidentemente associada à ineficiência das cartas rogatórias, notadamente pelo fato de que as medidas de caráter

77 ARAÚJO, Nádia de; SALLES, Carlos Alberto de; ALMEIDA, Ricardo Ramalho. Medidas de cooperação

interjurisdicional no MERCOSUL. Revista de Processo, São Paulo: RT, v. 30, n. 123, p. 45, mai. 2005.

78 DIPP, Gilson Langaro. Carta rogatória e cooperação internacional. In: BRASIL. Manual de cooperação

jurídica internacional e recuperação de ativos. Cooperação em matéria penal. Brasília: Secretaria

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executivo solicitadas sempre foram consideradas atentatórias à soberania nacional. A partir do instante em que a autoridade nacional passa a agir por provocação da autoridade estrangeira tendo plena autonomia e controle sobre o mérito e formalidades do pedido, escusa-se do recurso à soberania como argumento de autoridade a impedir a cooperação.

No Brasil, o pedido de auxílio direto não possui previsão constitucional, mas vigência infraconstitucional, a partir da ratificação dos tratados internacionais e acordos bilaterais que o preveem expressamente.

A propósito da ausência de previsão constitucional, o Ministro Marco Aurélio, no julgamento do HC 85588/Rio de Janeiro (STF – julgado em 05/03/2005), considerou que

o empréstimo do rótulo de procedimento de cooperação internacional a certo instrumento não pode desaguar na prática de atos somente passíveis de serem alcançados por meio de carta rogatória, como são aqueles ligados à audiência de instrução, visando à persecução criminal. A cooperação há de se fazer com respeito irrestrito à organicidade de Direito nacional, reafirmando-se a República como revelada por um Estado Democrático de Direito, para tanto se mostrando indispensável que se homenageie a máxima segundo a qual o meio justifica o fim (BRASIL, 2006).

O argumento em sentido contrário, a admitir a utilização do pedido de auxílio direto pelo Direito brasileiro, parte da premissa de que na carta rogatória, o que há é a nacionalização de um pedido judicial estrangeiro deliberado, diferentemente do que ocorre no pedido de auxílio direto em que a iniciativa judicial ou não, é da própria autoridade nacional, por provocação da autoridade estrangeira. Com efeito, ainda, a admissão do pedido de auxílio direto e de outras formas de cooperação previstas em acordos e nos tratados internacionais fundamenta-se na tendência internacionalista consolidada na Constituição Federal de 1988.

A questão que se coloca, todavia, e que, tanto na hipótese da carta rogatória como no pedido de auxílio direto, quando o objeto é a produção da prova, há uma clara necessidade de padronização e simplificação dos procedimentos no âmbito interno, de modo a tornar o instrumento da cooperação mais eficiente, principalmente do ponto de vista dos interesses tutelados. Isso se aplica não somente às diversas terminologias utilizadas para designar o procedimento da assistência, como ao tratamento legislativo fragmentado dado pelo ordenamento jurídico brasileiro.

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