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5 FIGURAÇÕES ESCOLARES DE PERNAMBUCO

5.5 Percepção de Participação na Gestão

Esse indicador e o próximo (Percepção de Autonomia Profissional) são elaborados com base nas concepções de Schein sobre as normas e valores da cultura organizacional (segundo nível) e assunções básicas (terceiro nível). Procuramos identificar como se dá a percepção dos profissionais sobre a participação deles na gestão e sobre a autonomia profissional. Identificadas essas percepções, procuramos compreender como elas são apropriadas e influenciadas pelas assunções básicas de cada ator.

O principal princípio que procura nortear as normas e valores de uma gestão democrática da educação encontra-se no incentivo à participação dos atores nas dimensões da gestão escolar (PARO, 2006).

Nesse sentido, questionamos aos profissionais da Figuração Alfa se eles são ouvidos por seu diretor sobre a utilização dos recursos financeiros.

Tabela 9: O diretor pede opiniões sobre a melhor forma de utilizar os recursos financeiros da escola? Fig. Alfa Percent Cumulative

Percent

Valid

SIM 59,4 59,4

NÃO 28,1 87,5

NÃO SEI RESPONDER 12,5 96,9

100,0

Total 100,0

Fonte: Questionários da Pesquisa de Campo

Os dados da Tabela 9 indicam que cerca de 60% dos profissionais afirmam que são consultados sobre a melhor forma de utilizar os recursos financeiros da figuração. Observamos que a maioria dos respondentes é requisitada para a execução das atividades financeiras, contudo chama atenção o fato de que 12,5% dos profissionais não sabem responder, o que pode representar diminuição da participação.

Tabela 10: O diretor pede opiniões sobre a melhor forma de utilizar os recursos financeiros da escola? Fig. Beta Percent Cumulative

Percent

Valid

SIM 46,2 46,2

NÃO 38,5 84,6

NÃO SEI RESPONDER 15,4 100,0

Total 100,0

Fonte: Questionários da Pesquisa de Campo

Na Figuração Beta, o percentual dos que afirmam serem consultados é de 46,2%, enquanto que 38,5% afirmam não serem consultados. Chama atenção o fato de que 15,4% dos profissionais dizem não saber responder. Além de indicar menor participação, esses dados podem sinalizar pouca clareza nas formas de comunicação por parte da gestão.

Dessa forma, torna-se evidente a diferença entre a percepção dos profissionais quanto à participação deles na gestão dos recursos financeiros, pois, se a minoria dos atores da Figuração Alfa afirma não ser consultada ou não saber se é consultada (cerca de 32%), no caso da Figuração Beta a não participação dos atores representa a maioria (cerca de 53%).

Associando esses dados às nossas observações de campo, lembramos que havíamos saído da Figuração Beta antes de chegar à Figuração Alfa, mas, mesmo com tanto tempo de pesquisa de campo (quase seis meses naquele momento), ainda nos saltava aos olhos a diferença gritante entre as duas culturas organizacionais. Por exemplo, em vista do caráter de

fragmentação das atividades da FB, faz-se importante, enquanto estratégia de gestão, que todos os professores e demais funcionários participem da fiscalização dos espaços da figuração, principalmente nos momentos de pausa das aulas para os alunos.

A adoção dessa estratégia administrativa, mesmo que levasse à atribuição de uma nova responsabilidade aos professores, rapidamente passaria a ser vista como uma ação que traz menos trabalho para todos. O fato de os professores, aqueles que ainda possuem algum respeito e admiração dos alunos, ficarem refugiados na sala dos professores durante os intervalos das aulas e horário das refeições fragmenta ainda mais o cotidiano daquela figuração, já que os alunos não se sentem cuidados por eles.

Preocupados em verificar se essa estratégia já havia sido proposta pela gestora da figuração, também consideramos importante perceber quanto os membros da Figuração Beta estavam dispostos a desempenhar essas estratégias que exigem maior participação.

Tabela 11: Frequência com a qual os funcionários participam coletivamente da organização da escola. Fig. Beta Percent Cumulative Percent NENHUMA 30,8 30,8 RARAMENTE. 30,8 61,5 FREQUENTEMENTE 30,8 92,3 SEMPRE 7,7 100,0 Total 100,0

Fonte: Questionários da Pesquisa de Campo

Com base na Tabela 11, podemos perceber que há um pequeno equilíbrio nas respostas à pergunta relativa à percepção dos membros da Figuração Beta quanto à frequência com a qual os profissionais participam da organização coletiva e, assim, desempenham funções em prol de toda a figuração. Observemos que somente dois entrevistados marcaram a opção “sempre”, o que corresponde a apenas 7,7% do total, enquanto que aqueles que responderam que a frequência é nenhuma ou raramente correspondem a 61,6% dos profissionais.

O fato de que o trabalho em equipe não é incentivado como um valor da cultura organizacional, tampouco uma assunção básica que leve os membros da Figuração Beta a desenvolverem essa estratégia em prol do coletivo explica as impressões que apresentamos até agora. Contudo, acreditamos ser importante avaliar outros aspectos que possam confirmar, ou refutar tais impressões.

Em mais um dia de visitas à Figuração Beta, chegamos na hora do intervalo para realizar uma entrevista, atendendo ao pedido de uma professora que iria ser entrevistada.

Logo ao chegarmos, pudemos presenciar cenas repetidas: alunos nos corredores, professores apressados e coordenadores agitados, demonstrando não estarem dispostos a pararem para darem informações. Como num jogo de cartas marcadas, na hora do intervalo, os professores passam a responsabilidade de cuidado com os alunos para a coordenação. Os representantes da coordenação, por sua vez, já imaginando o que está por vir, ficam mais tensos e procuram direcionar os meninos para a ala deles.

Nesse momento da observação nos ficou mais claro o sentido de haver três grades de ferro em sequência logo na entrada da figuração. Elas se estendem num corredor que não chega a ter dez metros de cumprimento, contudo cumprem uma função essencial para a prática de gestão adotada naquela figuração: as grades separam a ala dos alunos da composta pela sala dos professores, das coordenações, da direção e da secretaria.

Assim, enquanto recurso material adquirido em nome da segurança da figuração, as grades de ferro passaram a ser administradas simbolicamente pelos seus recursos humanos enquanto recurso material que pudesse separar os alunos dos profissionais bem como dos membros externos da comunidade escolar, a exemplo dos pais e representantes dos alunos, não promovendo maior integração entre os membros da figuração, tampouco o desenvolvimento de uma maior participação no processo de gestão.

Mesmo a sala de leitura, que fica depois das três grades e, consequentemente, mais perto dos alunos, também possui uma grade de ferro na porta. Como já destacamos, essa sala encontrava-se fechada em várias de nossas visitas e, em uma dessas visitas, inclusive, presenciamos um grupo de cerca de 20 alunos frustrados por terem encontrado a sala fechada na hora do intervalo (Notas de Campo, 11.06.2015).

Nesse momento tenso, e não de descanso e confraternização, que caracteriza a hora do intervalo na Figuração Beta, presenciamos a coordenadora falando em voz alta com um dos professores. Ela chamava a atenção dele para que a sala de aula não ficasse apenas com os alunos, uma vez que eles a usavam para outras coisas, e não para estudar. Destacamos que essa reprimenda foi feita de forma que foi possível ser notada por todos os presentes, sem que houvesse preocupação com o constrangimento do professor por parte da coordenadora.

Na sala dos professores, enquanto esperava os questionários, presenciamos a entrada de outra coordenadora para entregar materiais e cobrar que os professores voltassem para as salas, já que a sirene já havia tocado por duas vezes. Destacamos o fato de que, nesse dia, haviam sido acionados quatro toques, e o intervalo, que deveria durar 20 minutos, prolongou- se por cerca de 50 minutos. Mais uma vez percebemos que a diretora não estava presente.

Na realização da entrevista para a qual havíamos nos deslocado até a Figuração, destacamos a informação passada pela professora de que a diretora estava naquele cargo há 17 anos, mas que passou por eleição direta apenas uma vez, sendo reconduzida para o cargo outras vezes com base nas avaliações anteriores (Entrevista, 20.04.2015).

Nessa mesma visita, a terceira àquele local até então, aproveitamos a espera pelo preenchimento dos questionários por outros atores e decidimos realizar observação na secretaria. A impressão que sempre tínhamos logo ao chegarmos era a de que os funcionários simulavam estar trabalhando para não correrem o risco de serem requisitados para realizar outras funções.

Exemplo disso é a nossa observação sobre o trabalho de duas secretárias. Num misto de interpretação e performance dramatúrgica (GOFFMAN, 2007), elas pareciam estar atentas a algum documento muito importante, pois direcionavam atenção a eles e faziam expressões faciais de descontentamento e preocupação. Contudo, depois de cerca de cinco minutos naquela posição, duas alunas entraram na secretaria pedindo informação. Uma das funcionárias, levantando os olhos sobre os óculos, porém mantendo a cabeça curvada sobre o documento que tinha em mãos, viu que o assunto não era da sua alçada e, assim, delegou a responsabilidade para a outra que também parecia ocupada. Ao ter que se levantar para atender a aluna e afastar-se do documento, notamos que se tratava apenas de uma simples capa de uma ata de frequência.

Era por volta de 10h30 e a figuração estava em pleno movimento de pessoas e diversas demandas, conforme descrevemos acima, contudo não havia qualquer estímulo para o desenvolvimento de práticas mais participativas por parte de qualquer membro da equipe e muito menos da equipe gestora para organizar o agitado intervalo dos alunos e, assim, tornar aquele ambiente mais pedagógico e acolhedor para todos.

A partir de pequenas iniciativas que privilegiassem a participação dos diversos atores na gestão dos variados desafios que forjam o cotidiano escolar, toda a Figuração Beta passaria a ter um melhor ambiente para o desenvolvimento de suas atividades. Porém, a desmotivação e descompromisso são valores reinantes, e isso desmobiliza a participação dos atores.

Em contrapartida, muitas das informações que já apresentamos sobre a Figuração Alfa não só sinalizam que a participação dos seus profissionais é um valor incentivado como também que eles se sentem protagonistas da gestão, tal como indica o resultado dos questionários.

Tabela 12: Frequência com a qual os funcionários participam coletivamente da organização da escola. Fig. Alfa Percent Cumulative Percent RARAMENTE. 31,3 31,3 FREQUENTEMENTE 56,3 87,5 SEMPRE 12,5 100,0 Total 100,0

Fonte: Questionários da Pesquisa de Campo

Os dados acima registrados apontam que a opção “nenhuma frequência” não foi marcada por profissional algum. Além disso, se somarmos aqueles que entendem que na figuração se participa coletivamente da organização frequentemente e sempre, teremos um percentual de 68,75% do total.

Em outra escola, quando comecei a trabalhar, o diretor disse: “Aqui você finge que ensina e eles fingem que aprendem”. Mas eu nunca concordei com isso. Em outras escolas, a relação era muito piramidal. Aqui eu falo que a gestão é muito democrática. Eu faço questão de dizer que a diretora, ela traz as questões pra gente decidir democraticamente, entendeu? (Professor, Entrevista, 17.04.2015).

A fala desse ator, aliada a outras informações e dados até aqui apresentados, permite- nos não somente dizer que os integrantes da Figuração Alfa se sentem como partícipes e protagonistas dos processos que envolvem a gestão da figuração como também constatar que esse é um valor presente na cultura organizacional da figuração.