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Amor e ódio são dois extremos completamente distantes e opostos, porém jamais provaríamos do doce sabor do amor se não experimentássemos o amargo gosto do ódio. São dependentes. São fortes. Um é o calor opressor. O outro é o refresco do alívio.

Thomaz e Júlia, dois jovens inexperientes, ainda assim destemidos, eram inegável e descontroladamente apaixonados. Mais que isso. Eram dois amantes enlouquecidos, rendidos ao invencível sentimento que brotara em seus corações, um sentimento poderoso, capaz de encorajar o mais covarde e fazê-lo batalhar em lutas antes impensadas.

Mas todo esse amor era ameaçado pelo ódio mortal que rondava suas famílias, ambas não se comunicavam, não se suportavam, um fato passado, que parecia durar pela eternidade, causou a ruptura. Gerações iam embora e outras chegavam, mas a rixa nunca era superada.

Contudo, ainda adolescentes, o casal se atraiu e nada do que pensassem, intentassem ou planejassem, mudava essa verdade, destituía tão perigosa realidade.

Ignoraram os discursos, desprezaram os boatos, interessaram-se por apenas duas coisas: não eram como seus patriarcas e se amavam mais que tudo. Às escondidas, longe da luz, encobertos pelo secreto, assumiram o romance, comprometeram-se um com o outro, renderam-se aos sentimentos.

O tempo foi se passando, os anos se findaram, ambos já estavam com seus vinte e poucos anos e o amor que os unia apenas aumentava, crescia inevitavelmente, o desejo de um pelo outro se intensificava, tornava-se insuportável, encorajava-os a saírem do escuro e revelarem a verdade.

— Não podemos mais marcar encontros em lugares abandonados, ocultos a todos os olhos, não é justo que vivam amores, sejam felizes despreocupadamente e nós tenhamos que nos privar da vida que possuímos o direito de viver — o rapaz, atento aos olhos azuis que o enfeitiçavam, que lhe garantiam tantos bons sonhos, declarou seu pensamento, estava cansado de fugir, cansado de esconder o que sentia.

— Também não aguento mais marcar encontros com intervalos tão imensos, não suporto essa distância abismal que insiste em se colocar entre nós, mas é arriscado se rebelar, é perigoso enfrentar aqueles que se julgam donos de nossos destinos, não quero perdê-lo... — sentimental, sempre prevenida quanto ao futuro, Júlia passeou os suaves dedilhares pelo rosto de seu amado, deixava-se perder nas íris castanhas que ardiam apaixonadas, que confirmavam a veracidade das inúmeras declarações de afeto.

— Eu te amo tanto — buscando calma, controlando os próprios impulsos revoltosos, Thomaz acariciou os cabelos soltos, abriu um sorriso apaixonado, seu coração era daquela jovem mulher —. Seria capaz de entregar o meu futuro por esse amor, sabe disso, sabe que por você faço o impossível — beijou-a se esquecendo dos problemas, beijou-a sedento por senti-la, por tê-la, por jamais soltá-la.

por Amilton Júnior O desejo entre eles era intenso.

A cada reencontro aumentava.

Júlia perdeu o controle naquele beijo tão renovador, embriagante, que a transportou para um mundo de paz, de segurança, um mundo que só existia quando se entregava ao nobre cavalheiro. Levou as mãos aos seus cabelos, pressionou-o contra si, queria mais daqueles instantes, os únicos nos quais era feliz.

O jovem rapaz, há muito rendido aos braços daquela que não deixava seus intentos, que se fazia presente em cada paisagem que contemplava, a cada som que apreciava e a cada devaneio que o envolvia, levou as mãos à cintura de sua donzela, atraiu-a para seu corpo, passou a depositar seus beijos firmes e românticos pelo pescoço do qual exalava o mais doce dos perfumes.

Por alguns instantes o casal se separou.

Ofegantes, encararam-se sem declarar palavra alguma.

Seus corações pulsavam enérgicos.

Romperam os centímetros de distância.

Entregaram-se à paixão e ao amor incontroláveis.

Deitada sobre o peito descoberto de seu sedutor amante, ouvindo seu coração potente e sentindo a respiração profunda, Júlia deu um sorriso despreocupado, livre, passara pelos melhores momentos de sua vida junto a quem mais estimava.

— Posso saber no que está pensando? — perceptivo, Thomaz questionou.

— Que não importa a situação e nem a condição, não importa se estaremos numa casa abandonada como essa ou em uma fazenda repleta de tantos luxos, se você estiver comigo estarei indescritivelmente realizada...

Tal declaração foi o estopim para que o rapaz sugerisse o que há dias se manifestara em seus anseios, o que se tornara um objetivo a alcançar.

— E se fugíssemos? E se partíssemos para longe? Aceitaria desbravar o desconhecido comigo?

A jovem mulher refletiu por alguns minutos, permaneceu em silêncio analisando os próprios pensamentos e foi respeitada naquele momento de tão importante escolha.

— Não importa o que façamos, o quanto tentamos mudar mentes tão fechadas, continuaremos privados de nosso maior desejo. Não quero ter que esperar dias, semanas, para ouvir sua voz. Já não me contento com cartas, preciso ouvi-lo, vê-lo e tocá-lo. Também quero ser feliz e só o serei estando contigo — entrelaçou os dedos, pressionou-os com ternura —. Eu aceito. Eu aceito ir aonde me levar!

Finalmente, o dia da fuga, depois de tanta ansiedade, chegou.

Montados em seus cavalos, cheios de força e valentia, obstinados à vida que almejavam, os jovens cavalgavam contra o tempo, levantavam poeira, deixavam para trás todos os preconceitos, todas as intolerâncias, os ressentimentos e as mágoas lhes impostos, recomeçariam suas vidas, construiriam o próprio futuro.

Os animais frearam contra a vontade dos cavalheiros.

Armas lhes eram dirigidas.

por Amilton Júnior Tentaram recuar.

Da estrada saltaram mais dois perigosos homens.

E de cada lado os pais do casal, com sangue nos olhos, ira nas mãos.

Não tinham para onde correr, fugir ou se esconder.

— O que pensam estar fazendo? — Frederico, pai de Thomaz, um homem obcecado pelo bem, pela boa conduta, interrogou o filho, em seu tom de voz exigia uma clara resposta.

— Correndo atrás da nossa felicidade! — o rapaz alçou a voz.

— Acha mesmo que esse arrogante será capaz de fazê-la feliz? — João, pai de Júlia, um homem que buscava pela solução mais sensata em seus confrontos, já não estava disposto a convencer seu rival de desistir do passado.

— Ele não é como vocês, não vive à sombra de ódios sem sentido, é com quem quero viver! — a jovem mulher protestou.

— Ódios sem sentido? — Frederico riu —. Quer dizer que de nada importa matar alguém? Filho, houve um confronto entre as fazendas e os homens dessa gente mataram o meu avô!

— Sabe muito bem que aquela guerra não foi motivada por nenhum de nós, nossos servos entraram em desacordo, por motivos audaciosos deram início a um briga cuja proporção nos assustou, mas os meus avós nunca levantaram o dedo contra vocês, quantas vezes mais precisarei explicar?

— Não importa! Eu vi com meus próprios olhos a tragédia acontecer.

— E sinto por isso, mas não pode me culpar por algo que eu nem compreendia, que estava alheio ao meu controle. Éramos crianças, passou da hora de seguirmos em frente!

— Para você é fácil, não perdeu ninguém.

— Está enganado, perdi um amigo cuja falta sinto até hoje...

Eram unidos.

Cresceram assim.

Mas por desentendimentos foram forçados a se odiarem.

Frederico se calou. Seria muito melhor voltar atrás, superar o passado, mas isso feriria seu orgulho.

Levantou a mão.

Dois homens dirigiram os armamentos ao casal.

— Thomaz, qual é a sua escolha? Saiba que não permitirei que nosso sangue se misture aos de uma gente sem escrúpulos.

O valente jovem desmontou do cavalo e se colocou ao lado da namorada, envolveu sua mão gélida, lançou-lhe um olhar de conforto. Não importava o que fosse acontecer, estavam juntos.

— A vida é curta demais para que sejamos privados por nós mesmos de vivermos um amor arrebatador ou uma amizade transformadora. O ódio é veneno para nosso suicídio. Enquanto odiamos bravamente, perdemos de viver momentos de consolo, de paz e felicidade. Já conhecíamos essa história, sempre soubemos que tudo fora motivado por forças alheias aos nossos patriarcas. Não vale a pena dizer não ao amor, não vale a pena fugir do abraço de um amigo querido por motivações ilusórias, nada disso corrigirá o passado. Pode ceifar a minha vida, não me importo, tenho tudo o que sempre quis ter, o amor de Júlia!

por Amilton Júnior A jovem mulher se emocionou.

Thomaz aguardava ansioso pelo veredicto.

Frederico cerrou os punhos. Estreitou os olhos. Abriu a boca. Suspirou. Relaxou o corpo tensionado. Encarou o chão. Ergueu o rosto.

— Somos bombardeados por muitas informações e levados a culpar os outros pelo nosso sofrimento mesmo que eles não tenham o menor domínio sobre os fatos e assim nos aprisionamos em nossa tristeza, somos aparentemente recompensados causando a dor dos inocentes... Poderão ser felizes desde que João perdoe minhas investidas e aceite meu acordo de paz!

— Sempre soube que meu amigo ainda vivia nesse coração! — abriu os braços

—. E ele sempre terá espaço no meu!

Às vezes é necessário insistir, persistir e até colocar a vida em risco pelo amor, mas vale à pena, a consequência é um eterno júbilo.

por Amilton Júnior

Luana era uma jovem atraente, cheia de expectativas quanto aos dias vindouros, vaidosa, gostava de se cuidar para cumprir com suas obrigações. Porém, sofrera uma decepção que jamais imaginara, as amargas dores ofuscaram o brilho da vida, fizeram o prazer de viver seguir outros caminhos, diminuíram as forças daquela que esbanjava energia para fazer da experiência de nesse mundo estar ser a melhor história que alguém poderia escrever.

Os dias se passavam, menos as dores.

Amara verdadeiramente, entregara-se completamente, confiara o coração, seu maior tesouro, a mãos que não souberam manuseá-lo, protegê-lo, antes foram as que o estraçalharam.

Sentada no banco da agitada praça, sem admirar como antes a beleza da natureza, o show do sol se escondendo e cedendo espaço à noite, a mulher de cabelos castanhos e olhos atraentes mantinha o rosto escondido, depois de tanto relutar cedeu às lágrimas.

Marcos era um rapaz de valente espírito, sempre esperançoso, sempre buscando crer na melhor das situações, sempre procurando nos problemas um belo aprendizado. Possuía a querência de muitos, contagiava a tantos com sua maneira espontânea e sonhadora de viver: se quisessem um conselho, o procuravam; se precisassem de um conforto era nele que encontravam.

Amava viver. Amava fazer a diferença na vida daqueles que se permitiam à sua companhia.

No entanto, fugia do amor.

Sim, não acreditava no sentimento que arranca suspiros, desenha sorrisos, aquece corações e consola almas, sabia que esse mesmo sentimento causava dores, frustrações, amargos sofrimentos àqueles que nele confiavam cegamente.

Vivia outros amores.

Não o romântico.

Isso porque não encontrara a pessoa que faria seu coração pulsar de uma forma diferente.

Sorridente, como sempre estava, caminhava pela inspiradora praça de cabeça erguida, olhos atentos aos espetáculos que Deus garantira aos homens, olhos atentos a quem precisasse de um cumprimento, olhos que se atentaram à moça solitária que parecia distante, parecia submersa a prantos incômodos.

— Seria muita ousadia de minha parte oferecer a essa perfeita obra de arte as rosas que merecem? — prostrou-se perante Luana como os nobres cavalheiros, estendeu-lhe os ramos que montara em poucos minutos.

No documento 1 Palavras & Sentimentos – 2ª Edição (páginas 36-40)

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