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1 Palavras & Sentimentos – 2ª Edição

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Academic year: 2022

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por Amilton Júnior

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por Amilton Júnior

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por Amilton Júnior

Palavras & Sentimentos

Escrito por Amilton Júnior

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por Amilton Júnior

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por Amilton Júnior

Índice

Apresentação ... 6

Amor Genuíno... 8

Ao seu lado, pela eternidade ... 11

De Repente é Amor ... 14

Fascínio Coibido ... 17

Homens de Paz ... 20

Moldar-se ... 22

O Sentido da Vida ... 25

Olhos do Coração ... 29

Para o Amor Apenas Importa Amar ... 31

Peça Perdão ... 33

Perdoar para Amar ... 36

Quando Tudo Começou ... 40

Tenha Misericórdia! ... 43

Trágico Amor ... 47

Vazias de Amor ... 50

Acorrentados ... 52

Sorriso Fatal ... 56

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por Amilton Júnior

Apresentação

Através das palavras, faladas ou escritas, transmitimos muitos dos nossos sentimentos, demonstramos tantos dos nossos pensamentos, revelamos até mesmo diversos dos nossos segredos. Acredito que as palavras são meios que a alma encontra para se expressar, para falar ao mundo, para compartilhar o que pensa e acredita. As palavras tocam, suave ou asperamente, agradável ou incomodamente, fato é que as palavras fazem algo que os gestos não fazem, que os toques físicos não conseguem, elas adentram nosso íntimo e alimenta nossas mentes, aquece nossos corações, de uma forma que apenas elas conseguem fazer.

Nessa edição de Palavras & Sentimentos, reuni diversos contos que publiquei ao longo de 2019, histórias de amor, de mistério, histórias de emoção! Escrever é uma arte maravilhosa, quisera que todos se permitissem a essa aventura, talvez teríamos um mundo mais sensível, um mundo menos bruto e grotesco. Quem escreve, quem se dedica a momentos de introspecção para colocar no papel suas ideias, consegue encontrar paz, consegue colocar para fora pensamentos que nem sabia ter, consegue até mesmo se conhecer um pouco mais. É um exercício legítimo! É uma atividade prazerosa! Convido a você a também escrever, nem que sejam textos curtos e secretos, coloque no papel as palavras que vierem.

Espero que faça uma boa leitura através dos contos aqui reunidos, mais que isso, espero que também compartilhe com o maior número de pessoas que puder. A proposta que sigo é que levemos a literatura aos quatro cantos do mundo, que espalhemos a leitura por onde pudermos, que motivemos as pessoas a embarcarem em quantas histórias quiserem. Por isso esse livro é gratuito, para incentivar o mergulho junto a personagens que tantas vezes nos impressionam pelas similares que possuem conosco, afinal, a arte também imita a vida!

Estarei sempre aberto a sugestões!

Obrigado pela atenção!

Amilton Júnior

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por Amilton Júnior

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por Amilton Júnior

Amor Genuíno

Quando poderia imaginar que viveria uma história de amor? Nunca passou pela minha cabeça que alguém como eu, sempre tão tímida, tão retraída, tão discreta, pudesse despertar os olhos de alguém, pudesse ser notada pelos olhos de outra pessoa.

Mas aconteceu. No final do ensino médio, apaixonada pelo garoto inteligente, dócil e gentil, fui surpreendida: meu sentimento era recíproco.

Fomos nos conhecendo a cada dia. Descobrimos tantos gostos em comum como nos adaptamos ao jeito de cada um ser. Ele, sempre que envergonhado, pressionado pelos protocolos do que “se espera de um namorado”, recolhia-se ao silêncio após um suave, por vezes intenso, mas sempre demorado beijo. Quando nossos lábios se uniam nada mais importava, queríamos apenas sentir um ao outro, trocar a respiração, perceber as batidas dos corações, permitir que as mãos se conectassem. Íamos ao limite. Desafiávamos nosso fôlego. E lá ficava Luís, corado, tímido, sem saber o que fazer.

Mas e quando ele me olhava sem piscar? Minhas pernas tremulavam sempre que ouvia a frase mágica “você é linda, não me canso de contemplá-la”. Seus olhos fixos, seu semblante sério, ele devia saber o quanto eu ficava perdidamente apaixonada, sem reação, aposto que usava tão poderoso artifício por conhecer meu frágil coração.

Ninguém poderia contestar, nem mesmo nós negávamos, o amor que nos unia era forte o bastante para que nem a morte pudesse nos separar. Sempre acreditei nisso, sempre confessei que não importava o que acontecesse, jamais esqueceria aquele a quem me entreguei, jamais o substituiria, ninguém seria capaz de ocupar seu lugar.

Casamo-nos em uma cerimônia que ficou marcada. Foi um momento lindo, de realização, no qual olhei para trás, enxerguei aquela garota solitária, sem expectativas e sorri para ela, foi sim capaz de reviravoltas, era naquele dia a mulher mais feliz do mundo.

Em nossa lua de mel viajamos para o sul. Fazia frio, parecia que o clima quisesse nos congelar, mas nossa paixão era quente, nosso amor ardia em chamas, nossos corpos se aqueciam em momentos de puro êxtase, em horas de utópica magia.

Entregávamo-nos aos nossos sentimentos, embriagávamos no perfume um do outro, éramos transportados da realidade a cada toque sedento por mais.

Amávamo-nos loucamente.

Em uma das noites durante os quinze dias que passamos no Paraná, deitados sobre o tapete macio, aquecidos pela lareira cuja chama dançava graciosamente, cobertos por um generoso cobertor, encostados um no outro, sentindo o calor dos corpos ofegantes, discretamente molhados pelo suor da paixão, Luís declarou suas palavras, as que se eternizaram em meu coração.

— Se existisse medida que mensurasse o tamanho de meu amor por você, ficaria surpreendida pelo número infinito... — soando a voz aveludada que prometia me acompanhar pelo resto dos anos, envolvendo-me em seus braços que firmemente me prendiam a ele, o grande amor de minha vida alisou meu rosto, seus olhos verdes

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por Amilton Júnior refletiam a chama às minhas costas, exibiam paixão —. Você é a mulher que sempre sonhei em ter, é quem me faz feliz, nunca se esqueça disso. Não importa coisa alguma, quero que seja minha e quero ser seu por toda a eternidade... — beijou-me selando tão maravilhosa promessa. Não era mais o garoto que se envergonhava, era um homem que não se enfadava de demonstrar seus descontrolados sentimentos.

— Você mudou a minha vida, transformou meus pensamentos e desvendou meus olhos para que pudessem contemplar horizontes novos, belos e esperançosos.

Jamais fugirei de seus braços, seria um erro... — sempre fui apaixonada por Luís, sempre desejei tê-lo vulnerável a mim e naquele momento meu sonho se concretizava.

Alisei seu rosto áspero, passeei os dedos pelos lábios que me garantiam prazeres carnais e sentimentais, não me via sem a sua companhia —. E também nunca deixarei que escape de minhas mãos!

Os meses se passaram.

Nossos laços apenas se fortaleciam.

Porém novos sonhos passaram a existir. Como todo casal que se ama desejávamos ampliar nossa família, fazer nascer de nosso amor um fruto de alegria.

Queríamos abraçar um filho. No entanto, o que para muitos é a tarefa mais simples, para outros pode ser uma batalha que deixa cicatrizes profundas. Não engravidávamos.

Buscamos ajuda.

O problema não era com Luís, cheguei a torcer para que fosse, eu compreenderia, não o trocaria por motivo algum, não lhe daria as costas por algo que seria possível enfrentar...

O problema era comigo...

Quando recebi a notícia voltei a me sentir como aquela garota desprezada, sem nada a oferecer. Senti-me inútil, inválida, incapaz de realizar o sonho de quem mais amava. Chorei como se as lágrimas pudessem me libertar, lamentei como se nada mais fizesse sentido. Isolei-me. Afastei-me até mesmo daquele que prometi não fugir.

Ele merecia ser feliz.

Eu não poderia lhe garantir esse direito.

Algumas semanas desde que pedi por um tempo, convicta de que abriria o caminho para que Luís concretizasse seu anseio por ser pai, a campainha tocou desesperadamente. Pensei que fosse algo sério. Alguém precisando de ajuda. Fui surpreendida.

— Flávia... — um homem abatido, visivelmente ansioso, abraçou-me como se fosse tudo o que tinha, derramou seu choro sobre meu ombro, feriu meu ser e motivou minhas lágrimas —. Flávia... Por que está fazendo isso? Por que me ignora?

Por que me trata como um desconhecido?

— Luís, precisa entender, precisa saber que não posso lhe dar aquilo que por certo seria seu maior presente, não posso fazê-lo feliz como sei que almeja, como merece! — ainda que chorando, ainda que relutando contra minha vontade de sentir aquele que perdidamente amava, fiz minha declaração na esperança de que me esquecesse –. Não posso arruinar seu futuro, não posso...

— Arruinaria meu futuro se me abandonasse... — beijou-me como das outras vezes, cheio de desejo, cheio de paixão. Tentei combater contra meus desejos, mas me

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por Amilton Júnior rendi, retribuí, era fraca demais diante tudo o que sentia –. Não importa nada, lembra? Quero que seja minha e quero ser seu por toda a eternidade...

Com os rostos colados, sentindo os corações balançarem desesperados, sorri, sorri aliviada, sorri apaixonada. Fui ignorante. Fui tola. Quando o amor é genuíno não há desafio que o vença!

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por Amilton Júnior

Ao seu lado, pela eternidade

O tempo que passamos longe de quem amamos, ainda que sejam poucas horas, mais parece uma insuportável eternidade, minutos infindáveis, nosso coração clama por estar próximo daquele com o qual sincronizou.

Imagine dias.

Ou anos.

A alma sofre a dor do amor, esse sentimento paradoxal, capaz de garantir inexprimíveis alegrias e causar lágrimas de intensa aflição. A alma sofre a dor da distância, da malquista separação, do indesejável silêncio. Os ouvidos suplicam por ouvir a voz especial, os dedos anseiam por tocar a pele inconfundível e os lábios se agitam cansados de esperar para que outra vez sejam unidos.

Bruna sentia essa amargura.

Há anos não dividia a cama com o único homem que amou, o garoto que lhe jurou fidelidade, que cresceu e se transformou na razão do seu sorriso.

Jovens ainda.

Submersos no mundo de novidades e descobertas já não se olhavam como amigos, atentavam-se à beleza que o olhar de cada um exibia; quando prestavam atenção nos próprios pensamentos se surpreendiam com os sonhos, queriam, no futuro próximo, viverem unidos, como homem e mulher, para que juntos escrevessem uma história.

— Preciso falar uma coisa. Há dias venho tentando, mas me falta coragem, porém os desejos que pulsam aqui dentro se tornaram maiores que quaisquer receios... — o ainda adolescente Hugo, tendo a face iluminada pelo sol resplendor, exibindo os primeiros fios de barba que tomavam seu corpo, encarou as íris esverdeadas de uma forma nunca feita, com seriedade, certeza sobre o que declararia.

Esperou que a amiga respondesse algo, mas ela apenas assentiu, prontificou-se a ouvi-lo, parecia saber quais palavras seriam usadas.

— Sabe como estimo os amigos que possuo, torno-me um valente guardião e os defendo com a minha própria vida, mas com você é diferente, não a vejo como alguém que precisa da minha proteção, da minha vigília, sinto a necessidade de amá- la como a mulher da minha vida... — era maduro o bastante para compreender os próprios sentimentos, com esforço abrira o próprio negócio, sabia tomar as decisões certas nos momentos precisos.

A doce Bruna, cuja pele ainda era lisa e os cabelos mais pareciam fios de ouro, levou a delicada e aquecida mão ao rosto do melhor amigo, encarou os olhos castanhos, jogou para o lado a charmosa franja que a impedia de contemplar o constante brilho do olhar juvenil, abriu um sorriso apaixonado.

– Quando percebemos que seremos correspondidos em nossos afetos a vida ganha mais cor, um significado maior e mais poderoso, enchemo-nos de coragem para então descobrir a nudez de nossas almas... Não é mais amizade, é amor... — respondeu.

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por Amilton Júnior Sentados na areia, com um belo e tranquilo mar à sua frente, os jovens adolescentes beijaram-se sutilmente, sorriam tímidos, sentiram o friozinho da inexperiência.

Sobre o armarinho repousava um porta-retrato cuja fotografia revelava o jovem casal, a alegria estampada em ambos os semblantes, quando a distância não os separava, quando o tempo não parecia tão longo assim, quando nada se colocara entre eles e o amor que viviam.

Ela já estava avançada na idade.

Perdia as esperanças.

Finalmente, alguns anos depois da tarde especial na qual confessaram o amor, homem e mulher se casaram e para comemorar em grande estilo optaram por uma viagem ao Sul do país, onde fazia frio, justificativa para que os grandes amantes nunca se desgrudassem um do outro.

Hugo pediu que a esposa fechasse os olhos antes que entrassem no apartamento alugado.

Bruna, que cegamente confiava no esposo, atendeu ao pedido.

Em seus braços, o homem pegou a mulher, subiu com ela as escadas, abriu a porta do quarto, flores o enfeitavam, som melodiosamente romântico tocava ao fundo, o aroma remetia ao doce amor.

— Nem acredito que meu maior sonho hoje é realizado — Hugo se tornara um homem galanteador, perdera a franja que lhe garantia o aspecto infantil, mas as encantadoras covinhas continuavam a marcar presença em cada sorriso compartilhado. Atraiu a esposa para si, deu início aos primeiros passos da dança sincronizada com a suave música.

— Não existe maior prazer... — Bruna, que a cada dia se mostrava uma bela mulher, lançou o olhar apaixonado àquele que inegavelmente amava, acariciou os fios castanhos, entregou-se ao momento de paz e sossego.

— Promete que sempre estará ao meu lado? Promete que não importa o que aconteça não me deixará por coisa alguma? — dispensava beijos sobre o pescoço da amada, sentia-se o mais realizado dos homens por tê-la em seus braços —. Prometa- me isso porque não sobreviverei sem o seu amor.

— Prometo que o amarei enquanto aqui estivermos, enquanto aqui vivermos, alimento-me desse amor inigualável — mantendo os olhos fechados, recebendo as demonstrações de afeto daquele que nunca deixava seus intentos nem enquanto dormia, a mulher fez sua promessa, talvez não tivera refletido sobre o que prometia, algum dia teria tempo para isso.

Do pescoço, os lábios de Hugo procuraram os de Bruna.

Naquela noite separada apenas a eles, entregaram-se à paixão, renderam-se completamente ao amor, envolveram-se intimamente um com o outro.

Viveram tantas coisas juntos.

Construíram uma bela família.

Ensinaram aos filhos a nobreza do amor.

Mas agora estavam distantes.

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por Amilton Júnior A distância, contudo, não era física.

As almas já não conseguiam se comunicar.

De olhos fechados – ninguém sabia dizer quando fora a última vez que estiveram abertos –, Hugo era monitorado por aparelhos há três anos. Vítima de um acidente grave, não conseguia sair do coma.

Bruna, porém, cumpria com sua promessa. Durante os três anos se mantivera ao lado do homem que tinha rugas na pele, perdera a cor dos cabelos e o olhar já não exibia o brilho juvenil, mas ainda assim era o mesmo menino pelo qual se apaixonara, para o qual prometera ser fiel, com o qual era sincera.

Ficaria ao seu lado por quanto tempo precisasse.

Apenas a morte teria o direito de separá-los.

Amavam-se verdadeiramente.

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por Amilton Júnior

De Repente é Amor

Quem sabe quando vai se apaixonar? Quem prevê a aparição de uma insistente paixão? Quem é capaz de ordenar ao coração o momento certo de palpitar por amores? Todos são pegos de surpresa, o amor não avisa quando vai acontecer, de repente ele floresce.

Eram amigos inseparáveis.

Eram cúmplices fiéis.

Os anos que juntos viveram serviram para que um conhecesse mais sobre o outro, compartilhassem segredos, vivessem aventuras e gargalhassem para a vida.

Pensavam que para sempre teriam a tão agradável amizade os cercando, desejavam que pela eternidade pudessem contar com o apoio um do outro.

O desejo, até então, era atendido.

Mas o destino propôs uma forma diferente para que o desfrutassem.

Diego, sempre tímido e reservado, enfrentava um dilema nunca antes experimentado, sentia-se oprimido pelos desconhecidos sentimentos que se manifestavam em seu peito quando se aproximava da melhor amiga, alguém que gostaria de preservar em seu caminho. Não a via mais como a garota de antes, com o olhar infantil que por tanto tempo tivera, seus intentos eram outros, seus anseios se transformaram, a cada dia se convencia do que mais temia: estava apaixonado.

Mas não queria provar da doce paixão.

Ao seu paladar era ela amarga.

Se confessasse o que sentia correria riscos que não suportaria, se revelasse o oculto de seu coração poderia afastar quem muito estimava, contudo sentia-se fraco para combater a força dos impulsos juvenis, talvez não conseguisse guardar o segredo pelo tempo necessário para que o esquecesse, afinal, todos os dias, a cada aproximação, ele se manifestava com maior ímpeto.

O adolescente não sabia como agir.

Lamentava-se por não ser mais um menino.

Bianca, focada em seus estudos, ansiosa pelo vestibular que prestaria ao final do ensino médio, não imaginava que fosse tão vulnerável a um sentimento que não desejava provar, sentia-se indefesa diante os pensamentos involuntários que surgiam em sua mente e lhe arrancavam suspiros, sentia-se fraca a cada vez que ouvia o som de uma voz especial.

Teve que aceitar e confessar a si própria.

Apaixonara-se.

Não entendia como aquilo acontecera. Durante todos os derradeiros anos viveu uma amizade tão ingênua e despretensiosa, por que agora via seu melhor amigo como alguém capaz de acolher seu coração? O sentimento de amizade há muito deixara de existir, amor era o que persistia em abrasar sua alma. Com ele as dúvidas também

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por Amilton Júnior chegaram, os anseios surgiram e o medo de perder alguém querido não permitia que seu desejo fosse exposto.

Quem melhor que o amigo para ser seu primeiro amor?

Mas e se tudo terminasse da pior forma?

Naquela manhã de sábado, ensolarada e agradável, os adolescentes despertaram decididos a arriscarem suas chances, a assumirem suas vontades e enfrentarem o futuro. Precisavam tentar, além de todas as ideias pessimistas existiam as possibilidades de coragem: e se fosse para acontecer?

Por mensagem marcaram um encontro.

Davam o primeiro passo.

O sol raiava sua luz, aquecia a terra e iluminava o céu. As nuvens discretas e leves vagueavam pelo tecido azulado, eram carregadas pelo vento que soprava no mar e fazia as ondas saltitarem em harmonia. Ansioso, balançando as pernas sem que percebesse ou pudesse controlar, o jovem adolescente encarava o oceano, aguardava pela garota que deixara de ser uma amiga e passara a ser o desejo ardente de seu embriagado coração. Pensava nas palavras que poderia dizer, no discurso a declarar, em como venceria a timidez e se permitiria ao amor, seu primeiro amor.

Bianca, avistando o garoto pelo qual descobrira sentir desejos diferentes do que acreditava cultivar, abriu um discreto sorriso, o formigamento nas mãos aumentou a ansiedade por estar ao seu lado, pedir emprestada a sua atenção e revelar de uma vez por todas o que já não era capaz de esconder.

Finalmente, estavam frente a frente.

Encaravam-se apaixonados.

Sentados no mesmo banco, mantendo os trinta enormes centímetros de distância, os adolescentes confusos não trocavam palavra alguma, apenas se permitiam perder na imensidão do mar agitado, tentavam encontrar coragem dentro de si mesmos. O silêncio se quebrou quando ambos se chamaram pelos nomes, sorriram envergonhados, mas o cavalheiro admirado deu vez à sua dama conquistada.

— Preciso que me ouça com atenção, não será fácil depois que eu revelar o que tem me sufocado... — Bianca, desbravando a novidade do se apaixonar, descobriu em seu parceiro o mais belo dos sorrisos, percebeu uma beleza ímpar nas brilhantes íris castanhas que a encaravam atentas e não deixou de notar o charme especial que Diego possuía tendo a testa coberta pela desgrenhada franja. Queria tocá-lo. Queria senti-lo. Queria tê-lo para sempre.

— Por favor, pode confiar em mim... — o ingênuo Diego, acreditando ser aquele só mais um diálogo como os outros, sentiu mais uma vez a ardência no peito ao observar com meticulosidade os olhos azuis que o enfeitiçavam, os lábios delicados que pareciam convidá-lo para um gesto transformador, romântico, um beijo que mudaria toda a realidade.

— Pode parecer estranho, confuso talvez, mas não sinto mais que sejamos amigos, pelo menos não como nos tempos antigos, as coisas mudaram...

— O que quer dizer? — preocupou-se rapidamente, pensava no que poderia ter feito para que causasse aquele desabafo, faria o impossível a fim de alcançar

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por Amilton Júnior reconciliação, mas não deixaria partir quem tinha por especial —. Se foi algo que fiz peço que me perdoe, nunca será minha intenção...

— Diego, quero que me ouça... — tranquila, com a serenidade que deixava o atordoado adolescente ainda mais perdidamente apaixonado, a jovem garota interrompeu o mover dos lábios de seu ouvinte com um toque discreto, abriu o sorriso compreensivo, diria tudo o que precisava —. Nós crescemos, guardamos memórias incríveis e se parássemos para assistirmos ao nosso passado nos divertiríamos incansáveis, mas sinto que a ingenuidade infantil se acabou, não consigo mais vê-lo como o irmão que sempre considerei, meus desejos mudaram, estão intensos, descobri que me apaixonei por você... — suspirou aliviada, esperaria por respostas.

Diego, em sua atônita surpresa, em sua falta de versejares, desenhou no rosto um sorriso empolgante, exibia o olhar animado, seus olhos brilhavam como quando ganhava os mais desejados presentes. Amava e era amado.

— Por tanto tempo tenho relutado contra mim mesmo, tenho ofuscado o que sinto por medo, por incertezas e se não me declarasse o mais agradável dos segredos talvez nunca tivesse coragem para dizer que, inegavelmente, também me apaixonei pela única garota a qual posso confiar meu coração, alguém que quero amar como merece! — finalmente se livrava de um peso tão incômodo.

Fora mais fácil do que imaginaram.

Se deixaram guiar pelas emoções e saborearam o doce sabor do primeiro de muitos beijos que os uniriam mais e mais.

Entregar-se ao amor não é tarefa fácil, mas quando conseguimos abrir os nossos corações àqueles que se dispõem em neles viver, conquistamos felicidades preciosas, incalculáveis.

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por Amilton Júnior

Fascínio Coibido

Os convidados entravam um a um.

Todos com máscaras que escondiam seus rostos.

Alguns estavam acompanhados, outros imaginavam encontrar naquela noite agradável alguém que despertasse o amor.

O rei via o salão do castelo se encher.

A princesa estava ansiosa pela aparição de um alguém especial.

Amores proibidos sempre existiram, são os mais intensos, os mais difíceis de acabar, são os que se fortalecem pelas dificuldades, pelos perigos, pelas ameaças que os valentes amantes aprendem a suportar. Amores proibidos são de fato verdadeiros, ninguém se importa com suas consequências, preocupa-se em vivê-los.

Sofia, a princesa adorável, vivia em segredo um romance suave, uma história que enchia seu peito de esperança, de força para aguentar a distância, de paciência para suportar a vida oculta que precisava manter. Vivia um amor proibido com Rafael, jovem plebeu. Era por ele que esperava no baile de máscaras.

Rafael, um rapaz sonhador e esforçado, digno e honrado, apaixonara-se perdidamente pela princesa tão logo a vira na cerimônia que celebrou seus quinze anos, desde aquele dia nunca mais a esquecera. Vendendo sapatos e oferecendo outros serviços ao rei, conseguiu se aproximar, conseguiu conquistar aquela que não deixava seus sonhos, mesmo conhecendo os riscos, mesmo convencido sobre o quão difícil poderia ser, alimentou aquele amor proibido e aproveitaria o baile de máscaras para descobrir como seria estar com a amada diante tantos olhares.

Conseguiu entrar livremente.

Ninguém o reconheceu.

A música começou.

Os casais se formaram.

Sofia recusava todos os convites lançando um belo sorriso, até que ouviu a voz inconfundível.

— Concede-me essa honra? — feito um nobre cavalheiro, vestido elegantemente, disfarçado pela peça fundamental na festa tão aguardada, Rafael se curvou diante a princesa, estendeu-lhe a mão, convidou-a para o que mais desejava.

— Será um prazer! — ainda mais sorridente, impossibilitada de exibir o brilho dos olhos, Sofia se entregou ao convite, jamais recusaria as ofertas de quem amava assim como nunca deixaria de conhecer sua melodiosa voz.

Começaram a dançar calmamente.

Estavam intimamente conectados naquele momento.

— Como é bom estar aqui, não imagina o quanto esperei por esse dia — animado, satisfeito, o jovem plebeu envolvia a cintura da amada moça, entrelaçava os dedos e sentia o doce aroma que dela exalava —. Está ainda mais bonita, é quase

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por Amilton Júnior impossível ceder aos impulsos de beijá-la, como consegue ser tão mágica ao mesmo tempo em que real?

— E o que posso dizer sobre você? Vestido dessa forma, como um verdadeiro príncipe, provoca-me o desejo de anunciar ao mundo que já encontrei um grande amor — podendo perceber as batidas do forte coração, mantendo os olhos fechados e se concentrando no perfume amadeirado que emanava do belo rapaz, Sofia se aninhou à curva de seu pescoço, esqueceu-se de todo o resto, entregava-se a uma noite especial.

— E se o fizéssemos? E se declarássemos que estamos apaixonados? Que queremos um ao outro? Que nos amamos? — lançou as incógnitas —. Não quero pressioná-la, mas não é possível aguentar por muito tempo um segredo com tamanha proporção...

— Entendo, meu querido, possuo o mesmo pensamento, mas não é por mim que evito correr o risco, é por você... — afastou-se alguns centímetros, tocou o resto que não se cansava de apalpar, como o desejava para sempre —. Não poupariam os ataques, não sei como o meu pai reagiria, temo que seja você o maior prejudicado.

— Sabe que em nome desse sentimento que cultivo por você eu seria capaz de morrer, não sabe? Sabe que a fim de viver esse sonho que nunca se acaba eu pagaria o preço que fosse. A única coisa que quero é amá-la livre e abertamente, é gritar ao universo que meu coração está em suas mãos.

— Beije-me...

— Como?

— Não há o que temer, qual o problema de amar? Por qual razão deveríamos esconder o que sentimos? Não estaríamos cometendo um crime por nos entregarmos ao mais limpo, puro, nobre e belo dos sentimentos, não podem nos condenar porque amamos... Então, beije-me...

Rafael rompeu as barreiras, diminuiu as distâncias e demonstrou todo seu amor no beijo apaixonado, sedento por dias diferentes, dias que trouxessem liberdade ao amor proibido.

Mas há pessoas mal intencionadas que nos perseguem sem que percebamos, que possuem planos maldosos e percebem na nossa ruína a sua ascensão.

— Sua filha namora um plebeu? — a voz feminina soou ao ouvido do rei.

— Do que está falando?

A mulher apontou na direção do casal que descobria o amor encoberto.

Sem que pudessem prever ou perceber alguém tirou a máscara de Rafael revelando sua identidade.

Os guardas logo se aproximaram.

Separaram de maneira violenta o casal que se amava ignorando as exigências para que o não fizessem.

Forte, o rapaz se livrou de seus algozes, lançou o último olhar à amada namorada e correu pulando obstáculos, empurrando serventes, derrubando taças, tombando convidados e desviando dos soldados que não puderam com sua destreza para a fuga, viram-no fugir passivos.

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por Amilton Júnior A festa chegou ao fim.

Sofia foi trancada em seu quarto enquanto o rei pensava no que fazer perante tão caótica situação.

Olhando para as estrelas, lançando seus pedidos à formosa Lua, a princesa interrogou sobre quando viveria aquele ardente amor ou se até mesmo o viveria.

A resposta somente o futuro seria capaz de dar.

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por Amilton Júnior

Homens de Paz

Viver com medo é um castigo insuportável até para o mais valente dos homens.

Viver com medo faz perder a paz, o sono parece traidor e a sombra uma inimiga cruel. Viver com medo tira de qualquer um a esperança sobre o futuro.

E quando esse medo é imposto de semelhante para semelhante?

Igor vivia com medo.

Medo da própria espécie.

Aos vinte anos de idade, com tantos sonhos ainda vivos em sua alma, com tantos planos sendo construídos animosamente, o rapaz se via no meio da floresta, caminhando a passos inaudíveis e extremamente cautelosos, sentindo o suor escorrer pelo corpo por causa do calor insuportável que o uniforme garantia. Um olho fechado e o outro sempre muito atento, à sua dianteira ia a metralhadora carregada, perdera as contas de quantas vítimas tivera que fazer.

E pensar que aquilo poderia ser evitado.

Pensar que o inútil derramamento de sangue poderia ser interrompido através de um simples acordo entre o governante do seu país e o do país opositor.

O poder sempre enlouqueceu os grandes.

E essa loucura custou a vida dos pequenos.

— Droga! — chutou uma árvore antes de se encostar nela, tirou o quepe que exibia o brasão do exército, permitiu que os cabelos respirassem, suspirou profundamente.

A guerra fora instaurada por uma disputa de terras. Os governos rivais tentavam decidir a quem pertenceria o território cobiçado e encontrado, lugar de fartura ambiental incrível, o que enchia os olhos de poderosos empresários sedentos por matéria-prima ou motivados a construírem seus parques luxuosos.

Igor lamentava o homem ser tão ignorante ao ponto de colocar seus irmãos contra a morte. “Morrer pelo país”. Será que o país morreria por ele? Claro que não.

Quando o pai mais precisou do auxílio do Estado para sobreviver foi desprezado, negligenciado, quando resolveram dar atenção já era tarde demais, já estava enterrado.

Sentia saudade da família.

Sentia saudade dos amigos que perdera na batalha injusta.

Sentia saudade dos tempos de criança, quando o mundo mais parecia um divertido desenho animado, quando acreditava que seria um reconhecido engenheiro, faria construções que orgulharia sua mãe, nas quais colocaria o honrado nome de seu pai.

Mas cresceu.

Compreendeu que pela ineficiência do governo e em nome dos interesses de oligarquias, vivia na miséria, pisado pelos ricos, esquecido pelos governantes, perseguido por autoridades. Entendeu que seus sonhos não seriam tão facilmente concretizados, foi obrigado a descobrir a dura realidade que o cercava, a mesma que levara embora seu amado pai.

(21)

por Amilton Júnior Agora, servindo ao Exército, sobre a falácia de que servir a nação é uma dádiva, confessava que a nação de nada importava enquanto os seus cidadãos morriam de fome, tinham os seus sonhos apagados, o sorriso de esperança afastado e os semblantes tomados por amarga tristeza.

Encarando o céu azul ouviu passos se aproximando.

Armou-se.

Ficou cara a cara com o inimigo.

Não era, na verdade, um adversário.

Era só mais alguém que, como ele, cumpria ordens.

— Não quero que morra, mas também não quero morrer — anunciou, falavam a mesma língua.

— A ordem é que matemos qualquer um de vocês — o rapaz, que parecia ter a mesma idade de Igor, recitou o que ouvia nos quartéis, recitou com a voz embargada, como se pedisse desculpas antecipadas pelo mal que estava prestes a oferecer.

— Como se chama? — tentaria uma conversa, fugira tanto, correra tanto do inimigo, tudo o que queria era uma chance de voltar àqueles que amava.

— Márcio... — a mão tremulava, as lágrimas corriam pelo rosto ferido, também ansiava pelo fim do pesadelo.

— Muito bem, Márcio, não tenha medo, não quero feri-lo... Meu nome é Igor, meus amigos costumam me chamar de Sonhador, tem algum apelido? — sabia que através do diálogo inteligente podemos alcançar os maiores acordos, não com violência.

— Por que Sonhador? — quando foi que tivera a última conversa com alguém disposto não a matá-lo, mas ouvi-lo? Entregava-se àquele raro momento.

— Porque ainda acredito no amor dos homens... — revelou —. Tem família?

— Sim, meus pais são agricultores e minha namorada quer ser escritora — sorriu ao falar daquela pela qual era apaixonado.

— Sente saudade?

— Todos os dias...

— Também sinto a falta do meu povo, isso arde aqui dentro, há momentos que parece insuportável... — desabafou —. Tenho sonhos, você também, eu não quero destruir seu futuro em nome de homens insanos e egoístas que quanto mais têm mais querem, mesmo que a preço de sangue — começou a se agachar —. Por isso peço a sua misericórdia, peço que me olhe não como um inimigo, como seu igual — repousou a metralhadora sobre o solo e se levantou, estava completamente vulnerável.

Márcio, espantado com tamanha confiança que existia naquele que lhe disseram para tratar como um cruel inimigo, comoveu-se pelo discurso, jogou o armamento para o lado, permitiu que a distância inútil fosse encurtada.

Os soldados se abraçaram no meio da mata.

Eram irmãos da terra.

Manipulados por homens de perversos, avarentos e injustificáveis desejos.

Homens que fingem se importar.

Importam-se apenas com a própria ascensão custem às vidas que custarem.

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por Amilton Júnior

Moldar-se

A vida em conjunto não é tão fácil quanto parece, cada um de nós possui seus próprios interesses, seus característicos gênios que muitas vezes conflitam com o modo diferente do outro ser. Talvez o maior segredo do mesmo tamanho difícil de realizar para que os relacionamentos sobrevivam, seja o de moldar-se um ao outro.

Luana, uma gerente de banco muito bem sucedida, orgulhava-se de seus prêmios, deixava-os expostos na estante que ornamentava a sala onde recebia os amigos e parentes que a visitavam esporadicamente, via no trabalho uma forma de extravasar, descarregar todo o estresse, gastar energia.

Mas não poderia falar que na vida pessoal, mais especificamente amorosa, conquistara o mesmo êxito. Às quatro da madrugada, com os olhos abertos e submersos à escuridão do quarto, sentia a falta da companhia do esposo, com quem se casara há dois anos, quando acreditava que as declarações de amor e o intenso envolvimento durariam para sempre.

A cama estava vazia.

Entregue apenas a ela.

Aquele vazio indesejável manifestava-se também em sua alma. Não ouvir a voz do marido, não implicar com suas manias que a irritavam, não sentir o seu perfume amadeirado e nem receber os abraços inesperados ao longo do dia tornavam a saudade ainda maior. Estavam sem se falar a quase um mês. Luana esperava pelo dia que dos correios receberia o pedido de divórcio.

Mas o que poderia fazer?

Ele que decidiu sair.

Marcos, um professor de educação física amado pelos alunos e que nas horas vagas não deixava o violão descansar, não se importava com conquistas profissionais, buscava mesmo era pela simpatia das pessoas, em falar a língua do outro, em ser compreensivo com o próximo.

Contudo, talvez esquecera que a esposa também representava o próximo.

Talvez tivesse que ser mais compreensivo com ela. Não estaria no pesqueiro, segurando o anzol e contando as horas solitariamente.

Era romântico, amava receber a mulher após um longo dia de trabalho com um lanche especial preparado por suas mãos, amava em ocasiões especiais organizar uma viagem para que ambos se refugiassem do agito da cidade grande e tivessem apenas a companhia um do outro no interior, amava também as noites de intensa paixão nas quais fazia Luana se sentir a mais amada de todas as mulheres.

Gostava de ser meloso.

Chegava a ser grudento.

E quando chegava nesse ponto a esposa parecia jogar um balde d’água fria, murchava suas expectativas e parecia ser ingrata quanto tudo o que ele procurava demonstrar. Naquele pesqueiro, sentindo falta da parceira, tendo-a apenas nas

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por Amilton Júnior lembranças, sendo acompanhado pelas estrelas, Marcos confessou que queria mudar as coisas.

Mas teria mesmo que dar o primeiro passo?

Bem que ela poderia ser menos insensível, era o que pensava.

Mas a saudade nos corações sufocava as almas que ansiavam por estarem juntas.

O casal se amava apesar das diferenças, mas o orgulho, a falta de humildade em pedir desculpas, mantinha dois intensos amantes inutilmente afastados.

Precisavam aniquilar o abismo.

Antes que caíssem nele.

Luana se lembrava perfeitamente do primeiro encontro com o esposo, era primavera, vestia um vestido leve, florido e entre os fios louros prendera uma flor. Foi assim que o conquistou. Foi até mesmo chamada de linda. E foi assim que se vestiu outra vez.

Marcos se recordou do dia especial no qual pedira a mão da esposa em casamento, escrevera uma música e fizera dela sua meiga proposta. Lembrou de ter provocado as lágrimas emotivas, lembrou de que recebera um suave sim e de que sob os aplausos da admirada plateia beijaram-se apaixonados. Pegou o violão, faria outra vez o mesmo pedido.

Luana sabia exatamente onde encontrar o companheiro, estava na fazenda dos pais, e Marcos sentiu o coração acelerar ao ver passar pela porteira o carro da estimada parceira.

Ela, de vestido florido.

Ele, com o violão no braços.

Ela entendeu o que significava aquele gesto, recordou-se do pedido de casamento.

Ele rememorou o primeiro encontro e o quanto se apaixonara em um simples olhar.

A passos velozes, sob o pôr-do-sol envoltos pela bela paisagem da natureza, romperam o abismo.

Abraçaram-se saudosos.

Beijaram-se nostálgicos.

— Eu sei que não tenho me preocupado com a nossa união tanto quanto me preocupo com o trabalho, mas esses dias me serviram para entender que não posso viver sem a sua presença em meu caminho, você me completa — com lágrimas nos olhos, sorrindo alegremente, Luana dava voz ao coração.

— Também sou dependente do seu amor e preciso da sua companhia para que me sinta protegido, realizado e satisfeito nesse mundo cheio de tantos inconvenientes, contextos que só suportamos ao lado de quem amamos — aliviado pelo encurtar das distâncias, acariciando o rosto delicado daquela que tão profundamente morava em seu coração, Marcos declarou a pureza de seus sentimentos —. Prometo entendê-la melhor, prometo que nunca mais soltarei suas mãos!

— E eu prometo ser menos exigente, mais romântica, lutar pelo nosso amor!

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por Amilton Júnior É...

Poderiam comemorar.

Tiveram a chance da reconciliação.

Mas e quem perde tempo por motivos tão bobos?

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por Amilton Júnior

O Sentido da Vida

Era uma agradável tarde.

Os bancos na praça estavam ocupados por pessoas que apreciavam a natureza, a própria companhia ou a presença de entes queridos com os quais compartilhavam segredos, causos e sorrisos.

A brisa suave naquela fresca primavera parecia fazer os pensamentos flutuarem, os sonhos voarem, as imaginações subirem ao mundo dos desejos.

Sentada solitariamente, praticando um de seus hobbies prediletos, Fátima observava as cenas que inspiravam seus intentos e lhe ofertavam profundas reflexões, não pôde deixar de notar as inocentes crianças que corriam de um lado ao outro, que brincavam livres e despreocupadas dos preconceitos que os adultos deixam dominar seu modo de viver.

Lembrou-se de quando era como elas, quando ainda acreditava na eterna diversão que a vida aparentava ser, quando cultivava sonhos mirabolantes para o futuro como acabar com as guerras e não permitir que mais ninguém morresse de fome. Recordou-se das tardes de inverno que passava na casa da avó, quem fazia maravilhosos bolinhos de chuva acompanhados de um saboroso e acalentador chá de erva cidreira, sentia a falta da boa mulher, o lado ruim de crescer é que perdemos aqueles que mais amamos e que um dia pensamos serem eternos.

Reparou também nos amigos adolescentes que se divertiam contagiosamente com as piadas que surgiam em seus grupos, pareciam enérgicos, repletos de planos, cheios de coragem e vontade para os concretizarem. Voltou para os dias de sua adolescência. Relembrou as emoções que experimentara, os questionamentos que a ajudaram a se transformar na mulher que era, as respostas que obtivera e que lhe trouxeram tantas certezas. Sentia saudade dos amigos. Sentia falta de quando pensava que a juventude era um eterno presente.

Levou a atenção aos jovens casais que uniam as mãos, trocavam doces olhares, cochichavam inaudivelmente e logo em seguida sorriam com timidez, sorriam apaixonados. Foi ali, naquela praça, que recebera o melhor dos pedidos.

Seus cabelos, além de enegrecidos, eram longos, chegavam à cintura e encantavam a muitos. As rugas ainda não existiam. O tremor das mãos nem imaginavam surgir. A jovialidade era estampada em sua face.

Sentada no costumeiro banco que ficava de frente para o chafariz rodeado por um belo ornamento de orquídeas que exalavam o agradável perfume, Fátima repousava a cabeça no ombro do namorado, mantinha os olhos fechados, a respiração tranquila, entregava-se aos momentos de paz que nunca faltavam quando seu grande amor ao seu lado estava.

Sentiu as mãos serem envoltas.

Sentiu o rosto ser acariciado.

Sorrindo sutilmente, a jovem mulher permitiu que as íris castanhas fossem expostas, encarou o sedutor e galanteador olhar do bom Luís, sentiu no coração o agito do amor.

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por Amilton Júnior

— Sempre tão linda... — o rapaz de cabelos louros fez soar a grave, sutil e melodiosa voz, som amado por aquela que chamava de namorada —. Chego a me questionar se não ofusco todo o seu brilho... — era bom com as palavras além de saber como fazer de Fátima a mais feliz das mulheres.

— E eu me pergunto se realmente mereço alguém com tanto amor, com tanta doçura e com tamanha ternura a ofertar — levou a suave mão à face que estimava seu toque, que suplicava em todos os encontros para senti-la na pele —. Você é muito especial...

— Especial é o que tenho vivido desde que nos conhecemos e é o que desejo viver até o resto dos meus dias... Foi capaz de me transformar, foi capaz de me esclarecer quanto o real sentido da vida que não está em ser rico, poderoso, notável...

— beijou a mão que por seu rosto passeava —. Está em ser amado.

— O amor nos modifica de dentro para fora, altera nossos pensamentos, garante novos sentimentos e em pouco tempo já não conseguimos esconder a revolução que trabalha em nosso ser e todo o mundo descobre quem somos, não poderia existir sentido de vida melhor e mais lindo! — a aspirante a escritora, sonhadora e sentimental, declarou o que a alma sentia, feriu o íntimo de seu namorado.

— Estou farto... — endureceu o semblante —. Estou farto das despedidas, farto das distâncias, estou farto de não ter o direito de vê-la adormecer em meus braços, de senti-la despreocupada sabendo que estou ao seu lado para defendê-la, estou farto de dizer adeus... — desabafou o que não aguentava mais, desabafou sobre aquilo que quando existe amor se torna insuportável.

Fátima não pôde lutar contra a emoção.

Ao ver o anel diante seus olhos não pôde esconder as lágrimas emotivas e sentimentais.

— Estou farto de não poder chamá-la de minha esposa, é o que mais desejo, é o que tudo anseio — ajoelhou-se perante a amada —. Aceita se casar com este pobre apaixonado?

— Quando estamos distantes, quando não podemos trocar palavras de esperança, quando o relógio parece lento e não conto com a sua presença sei que o que sinto é verdadeiro, sei que você é o homem que minha alma escolheu para amar, sei que é o cavalheiro com o qual devo cavalgar pelos caminhos da vida e o que mais seria isso se não um puro, genuíno, imenso, invencível e verdadeiro amor? — fez o amante se levantar, encarou-o com a emoção constante, com a admiração persistente, com a estima interminável —. Mais do que ser sua esposa, quero ser sua melhor companhia.

Beijaram-se românticos.

Saborearam o prazeroso gosto do amor incorruptível.

Os anos se passaram.

Contemplar os senhores e as senhoras já avançados na idade enganchados um no outro, caminhando a lentos e sincronizados passos, a renomada escritora confessou que o tampo também passou para si, os anos se foram, os dias voaram e agora, beirando seus oitenta anos, já não tinha familiares saudosos, amigos queridos e o grande amor de sua história, todos o tempo levou.

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por Amilton Júnior Não há como fugir.

Não há como correr.

Para todos o tempo passa, os anos se vão e a juventude se finda e com isso surgem os desafios da velhice, as consequências da experiência longínqua, os problemas que não podem ser ignorados.

A cada dia Luís perdia mais da memória.

Certas vezes não se lembrava nem de quem era.

Há meses não sabia que a esposa era a mulher que um dia amou incontroladamente.

Fátima entendia que não era culpa de ninguém.

E nem o seu amor se esfriou.

Ela permaneceria no propósito de ser a melhor companhia para o querido esposo. Talvez ele não soubesse quem era e nem a história que escrevera, mas ela era capaz de contar em detalhes cada maravilhoso capítulo.

Luís acabou acometido por outras enfermidades.

Enfraqueceu-se.

Sucumbia aos muitos anos de existência.

No hospital, sentada na maca ao lado do eterno namorado, Fátima derramava seu pranto, fora avisada de que o esposo não venceria aquela noite, teria todo o tempo desejado para se despedir.

Acariciou o rosto adormecido.

Beijou a face inanimada.

— Tantas alegrias, tantas conquistas, tanta força, tanta coragem, tanta esperança, tanta crença, tanta felicidade, tantos momentos, tantas histórias... Você me ofertou o melhor livro que alguém poderia escrever, que lendo alguém se emocionaria, que publicado jamais deixaria o carinho dos leitores porque foi algo escrito com a alma, com o coração, através da veracidade de um amor que todos os dias foi nutrido, se regenerou e é eternizado... Obrigado por todo esse amor!

Os olhos cansados se abriram encharcados.

Os lábios amortecidos se moveram vagarosos.

E a voz abafada teve forças para soar o que nunca foi escondido.

— Eu sempre te amei...

A vida se foi.

O espírito partiu.

Ficaram as lembranças de um amor bem vivido...

Discretamente, Fátima enxugou as lágrimas de saudade.

Caminhou a passos brandos em direção ao jovem casal sentado no banco que ficava de frente para o chafariz cercado pelo ornamento de orquídeas.

— Posso entregar um presente? — manifestou-se notando com alegria o livro que os acompanhava, tinha o seu nome.

— Você não é a autora de Amor na Guerra? — a jovem moça logo reconheceu.

— Sim...

— Preciso dizer que o amor tem vida através de suas palavras — estendeu o livro — e que desejo um autógrafo — falou divertida.

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por Amilton Júnior

— Com prazer — escreveu os dizeres — e fico feliz que tenha tocado seu coração — apresentou o presente que tinha a oferecer —. Espero que esse possa falar diretamente com a sua alma — antes de partir declarou mais alguma importante coisa

—. Amem-se sobretudo, o sentido da vida está em amar e ser amado — repetiu o ensinamento que anos atrás tivera com o esposo.

Seguiu seu destino deixando a história que escrevia desde o pedido de casamento.

O Sentido da Vida.

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por Amilton Júnior

Olhos do Coração

Rose nunca se imaginou em um vestido de noiva, caminhando pelo tradicional tapete vermelho, sendo aguardada pelo noivo sorridente, acompanhada pelos olhares dos muitos convidados que lotariam o espaço. Nunca acreditou que algum dia viveria a magia do casamento embora desejasse ansiosamente por esse capítulo na história que escrevia.

Suas incertezas, contudo, revelaram-se grandes equívocos.

O futuro a ela destinado realizava seu maior sonho.

E lá estava a doce Rose, tendo os cabelos ajustados, recebendo os últimos ajustes para que participasse da cerimônia que traçaria um novo ciclo.

Por que era tão desacreditada?

Possuía uma deficiência. Não enxergava.

Pedro sempre sonhou com um grande amor, esperou pela pessoa que balançasse seu peito, que conseguisse tocar em sua alma, aí sim teria a certeza de que era com quem deveria firmar um compromisso em nome do soberano amor. De coração disposto a ajudar quem precisava, foi no ônibus, auxiliando Rose a subir os degraus, que o rapaz conheceu aquela que jamais deixaria seus pensamentos.

Foi conquistado pela sutileza.

Foi atraído pelo toque que ofertou à sua alma momentos de paz e refúgio.

O tempo foi se passando, o que começou como uma forte amizade se transformou em algo mais íntimo e intenso e fez surgir uma nova ambição: viver a eternidade com a amada.

Não se importava com deficiências.

O amor não vê como vê o homem.

A marcha nupcial anunciou que a estrela da festa se aproximava.

Rose não pôde conter a emoção quando deu seus primeiros passos rumo ao compromisso que firmaria, sentia-se feliz, aceita, ia de encontro ao futuro que sempre planejou, ao futuro que teria a boa oportunidade de construir.

Pedro também não escondeu a intensidade dos sentimentos que o envolviam, considerava-se o homem mais sortudo do mundo, aquele que teria ao seu lado a mais bela, meiga e especial das mulheres.

As mãos se tocaram.

Os sorrisos se abriram.

Sendo invadida pelo calor do amor, a mulher apaixonada, submersa à escuridão dos olhos físicos, acariciou o rosto de seu amado, enxergava com os olhos da alma e por isso levou a mão ao seu peito, onde estava a maior beleza.

— Você tem um coração valioso, tesouro algum poderia comprá-lo, sou privilegiada por tê-lo em minhas mãos e prometo que cuidarei dele como se custasse a minha vida, de fato custa, você é razão para que os meus dias sejam alegres, floridos e

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por Amilton Júnior esperançosos — ela começou o discurso, seus olhos azulados pareciam dispersos, mas seus pensamentos estavam bastante determinados em se entregarem aos cuidados de um alguém especial —. Obrigado por me aceitar, obrigado por permitir que meus desígnios sejam tão bravamente alcançados! Eu te amo e para sempre amarei! — jurou.

Se já estava difícil segurá-las, tornou-se impossível para Pedro conter as suaves e alegres lágrimas que molharam seu rosto, ouvir tão belas palavras o encheu de certeza: fazia a coisa mais certa que um dia pensou fazer.

— Sou eu quem deve agradecimentos eternos a alguém cuja presença já é capaz de me transportar para universos longínquos, distantes da pressa desse mundo estressante, cheios de paz e calmaria — o moreno alto, cujos olhos esverdeados comprovavam a sinceridade das palavras proferidas, repousou a mão sobre o rosto delicado, acariciou a suave pele prometendo em seu coração que jamais deixaria de o fazer —. Devo agradecer por entre tantos ter encontrado a mim para presentear com esse amor genuíno, forte, que alimenta o meu espírito e me faz acreditar que a vida é preciosa, é uma dádiva para quem sabe vivê-la apreciando os pequenos detalhes. Eu também te amo e para sempre te guardarei em meu peito!

Os convidados se emocionaram.

Ninguém foi poupado das lágrimas por perceberem a grandiosidade do sentimento que unia homem e mulher para toda a eternidade.

Perceberam que para o amor não há barreiras e nem obstáculos, o amor cria caminhos para quem se sente aprisionado, dá asas a quem precisa voar e realiza o mais impossível dos intentos que nossa simples alma é capaz de imaginar.

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por Amilton Júnior

Para o Amor Apenas Importa Amar

O amor desperta em nós sentimentos intensos, desejos apaixonantes e planos que ansiamos para a eternidade. Quem ama de verdade prova do doce sabor, do embriagante aroma e quanto mais se alimenta de amor mais se torna dependente do valoroso tesouro da alma.

Para o amor não existem circunstâncias, condições ou regras. Para o amor não existem obstáculos, desafios ou problemas que não possam ser vencidos. Para o amor nem mesmo a morte é invencível. Para o amor só importa uma coisa: amar.

Como amava aquela mulher.

Como sentia desejos apaixonantes por aquela que em seu peito adormecia, que em seu peito descansava, que em seu peito se protegia do frio do inverno e dos perigos da vida. Não pôde resistir aos seus impulsos, não pôde conter suas vontades, tocou suavemente o rosto tranquilo, passeou o dedo calmamente, fechou os olhos e se entregou aquele contato tão único, tão ímpar, tão especial.

Como amava aquela mulher.

Seus movimentos pelo rosto que não cansava de admirar eram cautelosos, não queria despertar aquela que tão confiante e despreocupadamente se entregava aos seus cuidados, aos seus afagos, ao seu amor. Sentia-se importante, sentia-se vitorioso.

Como amava aquela mulher e se não fosse por tão profundo e genuíno amor talvez tivesse falhado, desistido do privilégio do viver, se rendido às decepções e desavenças da vida e colocando um precoce ponto final na história que poderia ir longe.

Conheceram-se em um grupo de alcoólicos anônimos.

Ele, como dependente.

Ela, como alguém que iria ajudá-lo na liberdade.

Em um ambiente tão incomum, tão improvável, surgiu entre eles o laço que prometia uni-los para todo o sempre, nasceu aquilo que nem o fogo seria capaz de apagar, nasceu o puro e sublime amor.

Um amor salvador.

Um amor renovador.

A cada palavra trocada, em cada encontro despretensioso, o sentimento era regado, aumentava nos corações, suplicava para que fosse exposto ao mundo. Ela se encantava pela coragem daquele que muito admirava. Ele se embriagava pela doçura que sua oculta amante possuía em todas as palavras proferidas.

Existe algo chamado Tempo, ele trabalha com o amor, são companheiros pacientes e inseparáveis, um prepara o caminho do outro, um recompensa o trabalho do outro. O tempo chegou para aquele casal que se amava, que se desejava, que imaginava um futuro de realizações, mas que não assumia.

O primeiro beijo.

O estonteante, agradável e inesquecível primeiro beijo os envolveu, foi a fúria para que a chama da paixão ardesse em seus românticos corações.

Ele, antes derrotado, agora era premiado pelo amor.

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por Amilton Júnior Ela, sempre sonhadora, agora vivia a realidade.

Casaram-se.

E lá estava ele, admirando sua bela esposa.

Os olhos se abriram.

As íris brilhantes revelaram sua cor.

O sorriso espontâneo denunciou o que sentia a alma.

– Meu amor... — ela não se cansava de assim chamar seu bom e insubstituível esposo, o homem que a conquistou para que jamais a perdesse.

— Sempre linda... — já ele não se enfadava de elogiar a estimada e amada esposa, a mulher que o ajudara na construção de um futuro melhor e que fazia parte desse querido futuro.

Ela sorriu o doce sorriso que enfeitiçava seu nobre admirador.

Ele a beijou com o envolvente beijo que intensificava a paixão em sua preciosa companheira.

Abraçaram-se como amantes.

Cobriram seus corpos pelo edredom que compartilhavam.

Fecharam os olhos e se manteram em contato naquela fria manhã de inverno, sentindo um ao outro, aquecendo um ao outro.

E assim o amor segue em manhãs, tardes e noites. Aproxima casais, fortalece uniões e dissemina o prazer que é senti-lo, tê-lo entre os dedos, exibi-lo no olhar. A cada dia derrama um pouco de sua virtude, a cada vez de uma forma diferente, o importante é que para ele o que realmente importa é amar.

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por Amilton Júnior

Peça Perdão

— Todo final de semana é assim, nunca muda, sempre temos que nos enfiar na casa de sua mãe, se eu quiser um domingo diferente devo ignorar essa vontade e me adaptar a essa inútil tradição! — no calor da discussão Rodrigo ergueu a voz —. Até quando?

— Durante toda a semana vamos aonde quer, encontramo-nos com seus amigos, vamos à casa de sua família e nunca reclamei, por que está montando esse espetáculo agora?! — imitando o gesto do esposo, Camila o interrogou encolerizada.

— É claro que vai, mas sempre demonstra a insatisfação que sente, nem parece aquela de alguns anos atrás que chegou a me dizer que não importava o lugar desde que eu estivesse ao seu lado seria o melhor do mundo! — na verdade não ouviu o que disse, não tinha motivos para acusar a esposa, mas na hora da discussão nossa boca profere palavras que mais tarde poderão nos trazer arrependimento.

— Então é por vingança? Acha que não gosto de frequentar os lugares onde me leva e agora quer me dar o troco?! – indignou-se —. Como você é infantil! — deu às costas e começou a subir os degraus.

— Eu infantil? — puxou a mulher pelo braço —. Você não me entende e ainda me chama de infantil? Isso é egoísmo! — acusou —. Pura ingratidão. Começo a pensar que todas aquelas declarações foram mentirosas e que me casar não foi a coisa certa! — não deveria declarar tal argumento.

— Nosso casamento para você não passa de um erro? — a forma como ouvimos as coisas quando estamos sensíveis podem nos causar grandes incômodos —. Faço o que posso para demonstrar o meu amor, para agradá-lo e ainda sou chamada de egoísta? — encarava as íris verdes com olhar de decepção —. Tudo porque aos domingos gosto de estar com as pessoas que amo?

— Se os ama tanto volte a eles!

Silêncio.

— Não foi isso...

— Já é o bastante — Camila se afastou do marido ariscamente —. Talvez tenha sido mesmo um erro — abriu a porta da sala —. Quero ficar sozinha — partiu.

Atordoado, Rodrigo se sentou no sofá, levou a mão aos cabelos desgrenhados, ouviu as próprias palavras soarem em seus ouvidos. Tarde demais.

Relacionamentos, no início, podem se assemelhar às coisas mais maravilhosas e especiais que a vida é capaz de nos proporcionar, no entanto o tempo passa e os problemas começam a surgir, sábios são aqueles que os contornam e os usam como armas para fortalecer o amor que um dia existiu e que para sempre deveria existir.

Os problemas ficam ainda maiores quando falta a compreensão de um para com o outro, quando o diálogo já não constrói acordos e dá lugar às discussões fervorosas que não levam a destino algum. Eles se intensificam quando passamos a dar ouvidos aos de fora e nos ensurdecemos a quem todos os dias está ao nosso lado.

Com as amizades que tinha, Rodrigo aos poucos se esquecia do que prometera à Camila quando a pediu em casamento, assegurou que a amaria todos os dias e seria o

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por Amilton Júnior motivo do seu sorriso, mas ultimamente parecia se importar mais com a felicidade dos amigos solteiros ou divorciados que, inexperientes e desiludidos, levavam ao técnico de informática uma vida que já não lhe pertencia, pensamentos que não devia cultivar.

Dirigindo, tendo os olhos cobertos por lágrimas, a fala do esposo ecoava na mente de Camila. “Se os ama tanto volte a eles”. Ela não conseguia entender a implicância do marido, sempre foi tratado amistosamente na casa de seus pais e nem eram tantas horas que ficavam juntos, ultimamente Rodrigo parecia pensar apenas nele.

A escritora reconhecia suas promessas passadas, lembrava-se das palavras que não se arrependia de ter dito, mas nada daquilo parecia ter importância, por mais que tentasse nos últimos meses salvar o casamento não conseguia. Culpou-se. Sim, a culpa era dela, pensava ser a responsável pela falta de carinho que o esposo exibia, afinal, ela destruiu o seu sonho de ser pai, era estéril.

Estacionou no acostamento.

Pegou o celular.

Procurou na agenda pelo contato “Mãe”.

O carro capotou.

Um caminhão desgovernado, em alta velocidade, acertou em cheio o carro de Camila, causou um acidente assustador aos olhos que o flagraram.

Nunca sabemos o que a vida nos reserva, quais surpresas nos aguardam no futuro e quais caminhos o destino a nós determinou, por isso é importante que nossas palavras sejam moderadas, que nossas atitudes sejam sensatas, não sabemos quando as pessoas partirão e nem se teremos a oportunidade da despedida.

No hospital, Rodrigo chorava.

Tarde demais.

— O que aconteceu? – o pai se sentou ao seu lado.

— Um acidente...

— Antes disso, o que aconteceu antes dessa tragédia...

O rapaz ergueu os olhos, não teve forças para responder, deitou o rosto sobre o ombro do pai.

— Quantas vezes conversamos, meu filho, quantas vezes lhe falei para que valorizasse os esforços de sua esposa e parasse com as brigas infantis? — acariciava o desconsolado filho —. Por que não me escutou? Em quê os seus amigos são mais vividos do que eu? Em quê a vida que eles levam pode ser melhor que a sua? Todo o dia tem um amor genuíno lhe sendo ofertado e tudo que tem feito foi desprezá-lo.

O técnico de informática deu razão às palavras do pai, palavras que deveria ter escutado há muito tempo, palavras que, jurou em seu coração, adotaria para si se tivesse uma nova chance.

— Eu errei... — reconheceu —. Errei ao me igualar a eles, homens sem compromisso, sem preocupação, que preferem a diversão e tratei minha própria esposa como uma simples companhia... Errei e não sei como corrigir isso.

— Se tiver a oportunidade, peça perdão...

(35)

por Amilton Júnior Em alguns instantes o médico autorizou que Rodrigo entrasse na UTI do hospital, seus passos foram apressados e pesados, seu coração ardia e a culpa o oprimia sem misericórdia alguma.

Viu a mulher desacordada.

Colocou-se ao seu lado.

Envolveu sua mão.

Derramou as sentidas lágrimas.

O arrependimento é uma amarga e persistente dor, com ela vem a culpa e o sentimento de incapacidade, incapacidade de acertar com quem merece o nosso amor.

Os olhos castanhos se abriram.

Para a alegria de um homem desesperado.

Camila sorriu discretamente, amava o esposo como a própria vida, seria capaz de tudo para vê-lo feliz apesar de não compreender seus derradeiros comportamentos.

— Como se sente?

— Bem... Só alguma fraqueza... O que houve? — sentia-se confusa.

— Por minha causa, um acidente.

As últimas palavras do esposo retornaram aos ouvidos da escritora que recolheu as mãos, rompeu o contato entre as peles.

Rodrigo percebeu, desvestiu-se do orgulho, do medo de ouvir palavras ácidas e tomou outra postura.

— Negligenciei o nosso amor e tenho me comportado como um adolescente inconsequente, despreocupado, que deixa se levar por efêmeras emoções, não tenho sido o homem que merece — ajoelhou-se ao lado de Camila e tornou a acolher seus dedos —. Quero que me perdoe por ser um egoísta, um ingrato, uma criança tola e rebelde, preciso que me perdoe e que acredite em mim pela última vez, prometo que não cometerei a loucura de errar com quem mais amo nesse mundo...

Tomando uma expressão sorridente, Camila passou a mão pelo rosto do homem pelo qual tão inteiramente se apaixonara, amava contemplar os olhos verdes, adorava enxergar-se neles.

— Beije-me...

O casal apaixonado rompeu o protocolo e contaminou o ambiente com o vírus do amor.

— Graças a Deus o acidente não trouxe grandes impactos, mas nos revelou uma agradável notícia — o médico, já conhecido pelo casal, comemorou o milagre que alcançara a escritora —. Vocês serão pais!

Encararam-se maravilhosamente espantados.

Não conseguiam acreditar.

Fizeram o médico repetir tantas vezes a notícia e a cada anúncio o coração transbordava.

Ganhavam um motivo novo para se manterem na luta pelo amor.

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por Amilton Júnior

Perdoar para Amar

Amor e ódio são dois extremos completamente distantes e opostos, porém jamais provaríamos do doce sabor do amor se não experimentássemos o amargo gosto do ódio. São dependentes. São fortes. Um é o calor opressor. O outro é o refresco do alívio.

Thomaz e Júlia, dois jovens inexperientes, ainda assim destemidos, eram inegável e descontroladamente apaixonados. Mais que isso. Eram dois amantes enlouquecidos, rendidos ao invencível sentimento que brotara em seus corações, um sentimento poderoso, capaz de encorajar o mais covarde e fazê-lo batalhar em lutas antes impensadas.

Mas todo esse amor era ameaçado pelo ódio mortal que rondava suas famílias, ambas não se comunicavam, não se suportavam, um fato passado, que parecia durar pela eternidade, causou a ruptura. Gerações iam embora e outras chegavam, mas a rixa nunca era superada.

Contudo, ainda adolescentes, o casal se atraiu e nada do que pensassem, intentassem ou planejassem, mudava essa verdade, destituía tão perigosa realidade.

Ignoraram os discursos, desprezaram os boatos, interessaram-se por apenas duas coisas: não eram como seus patriarcas e se amavam mais que tudo. Às escondidas, longe da luz, encobertos pelo secreto, assumiram o romance, comprometeram-se um com o outro, renderam-se aos sentimentos.

O tempo foi se passando, os anos se findaram, ambos já estavam com seus vinte e poucos anos e o amor que os unia apenas aumentava, crescia inevitavelmente, o desejo de um pelo outro se intensificava, tornava-se insuportável, encorajava-os a saírem do escuro e revelarem a verdade.

— Não podemos mais marcar encontros em lugares abandonados, ocultos a todos os olhos, não é justo que vivam amores, sejam felizes despreocupadamente e nós tenhamos que nos privar da vida que possuímos o direito de viver — o rapaz, atento aos olhos azuis que o enfeitiçavam, que lhe garantiam tantos bons sonhos, declarou seu pensamento, estava cansado de fugir, cansado de esconder o que sentia.

— Também não aguento mais marcar encontros com intervalos tão imensos, não suporto essa distância abismal que insiste em se colocar entre nós, mas é arriscado se rebelar, é perigoso enfrentar aqueles que se julgam donos de nossos destinos, não quero perdê-lo... — sentimental, sempre prevenida quanto ao futuro, Júlia passeou os suaves dedilhares pelo rosto de seu amado, deixava-se perder nas íris castanhas que ardiam apaixonadas, que confirmavam a veracidade das inúmeras declarações de afeto.

— Eu te amo tanto — buscando calma, controlando os próprios impulsos revoltosos, Thomaz acariciou os cabelos soltos, abriu um sorriso apaixonado, seu coração era daquela jovem mulher —. Seria capaz de entregar o meu futuro por esse amor, sabe disso, sabe que por você faço o impossível — beijou-a se esquecendo dos problemas, beijou-a sedento por senti-la, por tê-la, por jamais soltá-la.

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