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Dizem que nada pode durar para sempre, que as coisas mudam, desaparecem e perdem seu gosto. Dizem que as pessoas enjoam do que conquistam e deixam de lado tudo aquilo que para elas já não possui valor. Dizem até que o amor pode chegar ao fim.

Discordo. Não acho que o amor seja tão comum, tão usual quanto os valores terrenos ao ponto de se esgotar, de perder seu prestígio, de perder o seu brilho e o seu sabor em nome do desgaste chamado tempo. Para mim o amor é eterno.

Ao contrário de Deus, que depende apenas Dele mesmo para se eternizar, o amor depende do interesse, da retribuição, da manutenção, da valorização daqueles que se dispuseram a vivê-lo. O problema é que ninguém quer se esforçar, ninguém analisou ainda que é a partir do esforço que conquistamos os maiores valores, e depois reclamam, insultam a nobreza de um sentimento precioso, dizem que por sua causa sofreram amargamente.

Fui acompanhado pelo amor desde a juventude. No ápice da adolescência, naquele momento de experiências e descobertas, quando nossas mentes constroem o cenário do Futuro e as cenas do Porvir, apaixonei-me perdidamente por uma garota especial. Ela era linda! Sua fala sutil envolvia meu coração, seu toque sublime era afastamento amedrontava esse velho que vos escreve, mas o desejo era forte, a vontade de tê-la somente para mim se tornava insuportável, no dia em que a beijei amorosamente e arrisquei todo o Futuro fiz uma descoberta inigualável: meus anseios também eram os dela.

Ah... Nossa época de namoro foi maravilhosa. Se o tempo nos permitisse voltar atrás nunca mais sairia de lá. Vejo os casais atualmente, quanta frieza, quanta superficialidade, muitos não amam a pessoa, amam o status, amam o prestígio que é anunciar “fulano de tal é meu namorado” apenas por beleza ou por riqueza, amam lotar o famoso e complicado Instagram de fotos desenhando uma vida vazia e fria.

Namorei de verdade e ninguém precisou ficar sabendo, para mim bastava que Helena soubesse o tamanho do meu sincero amor.

Teme o casamento? Muitos o temem, dizem que é nele que descobrimos a verdade sobre quem está ao nosso lado, dizem que nele os sentimentos se esfriam. Não acreditem nessas mentiras, foi o casamento que me deu meus maiores presentes: filhos queridos, família dos sonhos. Se enfrentei brigas? É claro que sim, a convivência humana não é fácil, mas nunca me deitei sem pedir perdão. Se eu me incomodava por assumir a culpa mesmo sendo inocente? É claro que não, a vida é ligeira ao extremo para perdermos tempo com mágoas, além disso, quantas vezes Helena não fez o mesmo? Casamento é isso, é uma união, um acordo sagrado, às vezes um cede e em outras o outro é flexível.

por Amilton Júnior Hoje não tenho mais a minha amada, guardo sua memória, guardo suas doces lembranças. Orgulho-me por saber que estive ao seu lado mesmo quando ela não sabia mais quem eu era, mas sei que seu coração nunca me esquecera. O que concluo? Hoje ninguém mais quer amar, ninguém mais se importa em fazer o outro feliz, o amor tem sido trocado por aventuras e os seres humanos têm se vendido por tão pouco... O resultado? Pessoas vazias, vazias de amor!

por Amilton Júnior

Acorrentados

Há muitos anos, em uma sociedade com rígidas e resistentes regras, existia uma jovem chamada Luara. Filha do mais poderoso barão, cobiçada pelas mães de tantos rapazes predestinados a assumirem os negócios de suas famílias, era também alguém de revolucionário coração que, cansado das ordens injustificáveis, anseia por alterar tudo que foi construído ao longo das gerações.

Mas como combater?

Até conhecer o formoso, gentil e humilde Lucas.

Apesar de conhecerem a lei que os governava, os jovens apaixonados não ousaram confrontar o imbatível amor que entre eles nascia e os envolvia, seria inútil, cansativamente inútil buscar fugir do inevitável.

Entregaram-se aos sentimentos.

Deixaram-se levar pelas muitas e intensas emoções.

A cada dia suas almas se conectavam mais e mais.

Porém, o mesmo amor que nos fortalece e enche de coragem para que vençamos quaisquer estigmas, é o que nos impossibilita de imaginar as consequências das escolhas que fazemos em nome de um sentimento tão devastador quanto ele.

Esqueceram-se de que forças fatais os rondavam.

Subestimaram a capacidade dos maldosos em descobrirem o romance que tão intensamente às escondidas viviam.

Augusto, o terrível barão, não demorou a descobrir os passos da filha que prometera a uma família influente, jamais voltava atrás em seus acordos e em nenhuma hipótese permitiria que o forçassem a posturas contrárias ao que previamente firmou. Evitou escândalos e discussões, evitou revelar o que sabia, apenas marcou um jantar no qual oficializaria o destino da jovem mulher.

— Não há mais o que esperar, nossos filhos são dois adultos e nem vimos o tempo passar, é chegada a hora de combinarmos o casamento — sem qualquer cerimônia o barão informou sua decisão —. Luara, eis o seu esposo.

À mesa, ninguém questionou, ninguém se quer vestiu um semblante de espanto, pena ou repulsa, reagiram da forma mais passiva e conformada possível, afinal, sempre foi daquele jeito, sempre os homens ditavam a vida de suas mulheres tidas como simplórias propriedades.

Lembrou-se de Lucas.

A revolucionária, pela primeira vez e para espanto dos presentes, levantou-se bruscamente, encarou o pai com severidade, desafiaria o ultimato patriarcal, agrediria os valores de uma sociedade estagnada.

por Amilton Júnior

— Quando fui questionada quanto a minha intenção de casar-me? Em nenhum momento! Por qual razão acreditou que decidiria algo tão importante que diz respeito somente a mim?! Recuso-me a continuar no silêncio. Viver infeliz jamais será o meu propósito!

— Aconselho que reavalie suas palavras e procure ouvir o que diz antes de pronunciar qualquer fala, não pedi sua opinião, que manifeste seus pensamentos, apenas comuniquei algo que tenho todo o direito de decidir e não será você quem mudará isso!

— Sempre há uma primeira vez para tudo, o que nunca imaginei é que seria a primeira a contestar suas ordens, não haverá casamento e se não quiser ser motivo de falatórios por conta do escândalo que causarei, acatará minha decisão! — lançando os talheres sobre a mesa deixou o ambiente, ficou o silêncio e a surpresa naqueles que assistiram à cena tão anormal.

O barão, no entanto, jamais se rebaixaria às ordens de uma mulher, nem que fosse a própria filha, alguém que compartilhava do seu sangue e não pouparia esforços até que suas determinações fossem fervorosamente seguidas.

Adentrou os aposentos de Luara tão logo os convidados se retiraram.

Encarou-a diretamente nos olhos.

— Dê-me um bom motivo para reconsiderar meus conceitos — a voz grave soou aos ouvidos sensíveis.

— Dizer que a vida pertence a mim e que, portanto, sou dona dos meus próprios caminhos não é o bastante? — não se intimidou, falou ao pai de igual para igual.

— Lembra-se de quando me viu caçar e do quanto implorou para que eu poupasse a vida de um simples e inofensivo coelho? — o barão trouxe à tona uma antiga lembrança.

— É claro...

— Não queira assistir ao mesmo evento outra vez, garanto que já não atenderei ao seu clamor e o seu bichinho adorável será privado de ver o dia amanhecer — apertou a perna da filha com força o bastante para lhe causar angústia, deixar seu aviso —. Sabe do que estou falando, meus olhos tudo percebem e meus ouvidos tudo escutam...

A ameaça estava feita.

A perigosa ameaça.

Lançando pedras sobre o rio e vendo-as afundarem tão logo tocavam a superfície da água, Lucas escutou os passos sobre as folhas caídas ao redor da mata, aguardava por eles, não hesitou em receber a amada com o beijo quente de todos os encontros.

Ciente de que aquela era a última demonstração de afeto, Luara se entregou aos lábios do galanteador rapaz, até que se afastou bruscamente, empurrou o amante para trás e, com os olhos marejados, proferiu as palavras que pensou nunca declarar.

— Temos que nos separar...

Lucas não compreendeu de imediato, encarou a mulher pela qual se apaixonara exibindo confusão no olhar, como duas pessoas que se amavam daquela forma teriam que se afastar de repente? Seria isso possível? Claro que não!

— Por que disse isso?

por Amilton Júnior

— Se quiser continuar vivo terá que me abandonar... — não resistia aquela insuportável distância, rendeu-se ao abraço afetuoso e protetor do único capaz de lhe garantir segurança e paz, permitiu que as lágrimas caíssem bruscamente —. Ele exigiu que me casasse com alguém que nem conheço, sabe sobre nós e prometeu que o machucaria se eu me recusasse às suas ordens. Não suportaria essa culpa. Não sobreviveria sabendo que sofreu alguma dor por me amar. Prefiro vê-lo vivo, nem que para isso precise renegar minha própria felicidade!

O jovem comerciante, alguém de espírito trabalhador e coração aplicado, apertou o que poderia ser o derradeiro abraço, intensificou-o, sentiu as lágrimas densas molharem sua camisa.

Mas não desistiria daquele amor.

E se Luara o amasse de verdade também não desistiria.

— Pode parecer loucura, uma decisão difícil de escolher, mas tenho a solução.

Se aqui não podemos nos unir que outro lugar nos conceda essa dádiva! Estou disposto em fugir com você e cumprir a mais importante das promessas que fiz, fazê-la a mais realizada de todas as mulheres!

Partir a destinos desconhecidos, deixar para trás uma história vivida, afastar-se de pessoas que valiam à pena. Tudo isso pesou no coração da jovem mulher que não se deixou abalar por inseguranças, queria ter o amor de Lucas, desejava amá-lo por todo o sempre. Ciente de que sua escolha a forçaria a importantes renúncias, a filha do temido barão aceitou a proposta, quem sabe um dia teria a chance de retornar e mostrar o quanto era feliz? Naquele momento o que de fato importava era viver seu maior sonho.

Na calada da noite, quando todos deveriam estar rendidos ao cansaço, Luara escalou as paredes da fazenda, libertou-se da prisão que a impossibilitava de uma vida plena.

À cavalo, Lucas a aguardava.

Cavalgariam contra o vento.

Partiriam rumo ao amor.

Tão logo adentraram a estrada ouviram disparos violentos.

Assustado, o animal passou a ignorar os comandos do cavalheiro, penetrou a

Com a ajuda do lampião que garantia luz em meio à escuridão, Lucas acolheu a namorada em seus braços, sentou-se sobre a relva, repousou o corpo que desfalecia em seu colo, identificou que o disparo fora direto ao peito da amante, um disparo que deveria tê-lo atingido.

— Precisamos voltar... — contra sua vontade as lágrimas rolavam desesperadas

—. Você precisa de um médico!

por Amilton Júnior

— Não, não há o que fazer... — com dificuldade para respirar, Luara abriu um sorriso gentil, seus olhos se esforçavam por contemplar o rosto do bondoso rapaz, a última visão que teria —. Não daria tempo... — gemeu pela fisgada que sentira.

— Precisa ser forte! — tentou erguer a jovem, mas ela já não conseguia reagir

—. Precisa continuar ao meu lado...

— E eu estarei... — tocou o peito do estimado guerreiro, alguém que nunca a decepcionaria —. Não deixe de acreditar no que vivemos e ajude outras pessoas a se libertarem da opressão, sabe que esse sempre foi o meu sonho, ser livre, livre para amá-lo... — as mãos frias tocaram o rosto molhado por lágrimas, era o derradeiro toque —. Partirei feliz...

A mão perdeu sua força.

Angustiado, Lucas deitou-se sobre a mulher.

Jurava vingança em meio ao pranto.

Unir-se-ia a tantos outros injustiçados para que as correntes fossem arrebentadas.

por Amilton Júnior

No documento 1 Palavras & Sentimentos – 2ª Edição (páginas 50-56)

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