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Perfil dos docentes de Administração

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2.3. Universidade tradicional

2.3.4. Perfil dos docentes de Administração

O perfil dos docentes dos cursos de administração de empresas de Universidades tradicionais também pode revelar a maneira pela quais estes adquirem e disseminam o conhecimento, seja através da prática, seja pela pesquisa. Portanto cabe ilustrar alguns pontos levantados na literatura a respeito.

Através de uma pesquisa realizada por Souza-Silva e Davel (2005) a respeito da formação do professor de Administração no Brasil, o autor, após a realização de entrevistas semiestruturadas com representantes dos principais entidades responsáveis pelo fomento e regulação do ensino superior, identificou o seguinte perfil dos docentes de pós-graduação, na visão dos entrevistados: (a) alta experiência docente e alta vivência gerencial; (b) alta experiência docente e carência de vivência gerencial; (c) baixa experiência docente e alta vivência gerencial; e (d) baixa experiência docente e baixa vivência empresarial.

Segundo Souza-Silva e Davel (2005) o primeiro tipo (alta experiência docente e alta vivência gerencial) é o modelo ideal e almejado de professor na área de Administração, sendo aquele professor que consegue transitar tanto no campo da docência quanto da vivência gerencial, atuando como acadêmico e consultor empresarial.

Já o segundo tipo de professor tem boa experiência como docente e carência de vivência gerencial. Comumente, é mais teórico, com intensa formação acadêmica e alta

titulação sendo encontrado frequentemente em universidades públicas e possui maior inclinação para pesquisa.

O terceiro tipo de professor possui carência de experiência docente e alta vivência gerencial. Em geral são executivos que resolvem ingressar na vida acadêmica mesmo não tendo muita experiência docente e muita das vezes possui pouca titulação.

E por último, o quarto tipo de professor é aquele que não possui nem significativa experiência docente, nem vasta vivência em organizações, sendo dividido entre os que possuem boa titulação, mas não possuem experiência docente, e os que possuem titulação modesta e nenhuma vivência gerencial, o que segundo os autores se torna um dos casos mais preocupantes.

Alcadipani (2005) apresenta ainda em seu texto as dificuldades (financeiras, de tempo, experiência, conciliação entre trabalho e estudo, dicotomia entre ensino e pesquisa, entre outros.) dos mestrandos durante a realização do curso de pós-graduação e a falta de preparo dos mesmos ao atuarem como docentes nos cursos de graduação.

O autor descreve algumas sensações sentidas pelos docentes no começo de carreira como: “Inexperiência, medo, aflição e insegurança, sentimentos usuais dos que estão começando um sacerdócio” (ALCADIPANI, 2005, p.162). Aponta ainda as dificuldades de conciliar o exercício da atividade docente com os estudos na pós- graduação, denunciando os baixos salários pagos por algumas instituições de ensino que faz com que os mestrandos lecionem em várias instituições, como pode ser observado neste fragmento:

Ao invés de dedicação exclusiva para fazer a pós-graduação stricto sensu, a necessidade de sustentar-se faz com que os alunos da pós se transformem em verdadeiros taxistas. Devido ao baixíssimo valor da bandeirada precisam andar dia após dia, noite após noite em busca de horas-aula por todos os cantos, torcendo para achar mais uma faculdade de esquina. Horas que deveriam ser dedicadas ao estudo, à aprendizagem e ao desenvolvimento são vendidas nas faculdades Mc Donald’s. (ALCADIPANI, 2005, p.162).

O autor ainda apresenta algumas indagações dos futuros mestre que estão sendo formados em nossos cursos de pós-graduação, em relação à situação apresentada:

O sacerdócio se transforma em biscate, as preciosas horas das discussões acadêmicas e das leituras são trocadas no mercantilismo da desilusão. Quem consegue dedicar-se aos estudos? Qual é o tipo de formação que podemos ter para nós mesmos? Quem consegue ler o que deveria ser lido? Quem consegue estudar o que deveria estudar? Quem tem tempo para escrever e re-escrever, ler e reler o que fez? Quem tem tempo para escrever uma dissertação, fazer uma tese, como deveria ser feita? (ALCADIPANI, 2005, p.162).

Estes perfis descritos por Alcadipani (2005) tem relações com os perfis apresentados na pesquisa realizada por Souza-Silva e Davel (2005), no que diz respeito a experiência docente, mesmo levando em consideração que na pesquisa de Souza-Silva e Davel estes perfis são apontados por representantes dos principais entidades responsáveis pelo fomento e regulação do ensino superior, e na descrição de Alcapadini o perfil é apresentado pela experiência do próprio autor e observação de seus pares .

Fischer et al (2005, p. 110) também chama a atenção para as incríveis exigências que incidem sobre o ser múltiplo que é este professor, também pesquisador, gestor acadêmico, orientador, revisor, consultor, provedor de recursos, membro de infinitas comissões e representante institucional em eventos de todo o tipo. Espera-se que produza conhecimento relevante e publique em revistas conceituadas.

Além disto, a autora aponta a relação entre professor-aluno onde variam em função do contexto institucional, da cultura dos estudantes, do poder acadêmico em jogo e do carisma pessoal.

Ainda sobre o perfil dos docentes a autora argumenta que:

Entre dilemas identitários, tensões e paradoxos, há algo permanente que acompanha quem ensina desde as primeiras rodas de jogo, e que Jorge Luís Borges considerava a virtude sem a qual todas as demais são inúteis: o encanto. O “tipo ideal” professor expressa-se em um perfil quase irrealizável nas condições objetivas de ensino, na maior parte das instituições. No entanto, todos temos em mente professores que nos servem de referência e que foram pessoas marcantes, que nos ajudaram a romper estruturas cognitivas e nos deram condições para que pudéssemos reconstruí-las, criativa e significativamente. Professores como estes são encantados pelo ofício e pelas artes do ensino e, talvez por isso, encantadores. (FISCHER et al, 2005, p.110)

Nota-se a partir destes perfis a importância da formação e capacitação docente no sentido de elaboração e aperfeiçoamento de métodos e práticas docentes pelos cursos de pós-graduação, que estejam direcionados em atender este perfil de mestrando descrito pelos autores.

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