• Nenhum resultado encontrado

2.5 RETEXTUALIZAÇÃO DAS ENTREVISTAS

2.5.1 Perspectivas do Aluno com Deficiência Visual diante do Ensino

Durante as observações em sala de aula, questionei os alunos DVs sobre suas relações e afinidades no contexto escolar. Dessa forma, a entrevista tornou-se importante fonte de informação para a realização do estudo e foi realizada junto a três alunos que estudam nas respectivas escolas, aqui denominados como: Aluno 1 – Escola Neuza Maria Souza Santos; Aluno 2 – Escola Colomba Dalto; Aluno 3 – Instituto de Educação Gastão Guimarães.

Na escola, os alunos interagem entre si e com os professores, favorecendo a aprendizagem. Essa interação depende dos laços socioafetivos para ocorrer a aprendizagem e conduzir ao conhecimento. Para Freire (2011), as relações entre professor/aluno são importantes no caminho da aprendizagem, é o que direciona o aluno ao amadurecimento dos sentidos.

Para compreender estas ações na sala de aula, questionei os alunos sobre como se sentem no ambiente escolar.

“Gosta da escola, pois não tem dificuldades de locomoção e sempre recebe apoio dos colegas.” (Aluno 2).

“Se sente bem na escola, não tem problemas com locomoção e realiza as atividades propostas.” (Aluno 3).

Observa-se que todos se sentem bem no ambiente escolar. No entanto, quando questionados sobre as relações com os professores de Língua Portuguesa, colegas e direção, as respostas obtidas foram diferentes, pois um deles (Aluno 2) tem dificuldades de relacionamento com a professora de Língua Portuguesa, conforme a resposta obtida na entrevista.

“Observa que a professora explica o assunto e depende da atenção dele entender e estudar; Perguntado sobre a relação com os colegas, o aluno observa que há interação, principalmente nos trabalhos em grupo; Com relação à escola, o aluno diz que gosta do ambiente, que se dá bem com a direção, observando que há confiança e, devido as dificuldades da sua necessidade especial, se sente um exemplo para os colegas e explicita sobre a importância de frequentar a escola, para aprender sobre a vida. ” (Aluno 1).

“A maior dificuldade de relacionamento é com a professora de Português, por não compreender a metodologia de ensino. Por isso, não gosta das aulas da disciplina. Com os colegas sente-se apoiada, inclusive no momento de realizar as atividades. Na relação com a direção, observa que todos são prestativos e facilitam sua inclusão na unidade.” (Aluno 2).

“Tem boas relações com os colegas, professores e direção, relatando que conta com o apoio de todos. Nas atividades, relata que alguns professores descrevem as imagens, outros nem se lembram de sua existência na sala de aula.” (Aluno 3).

Sobre a importância de frequentar a escola, as respostas são compensadoras, pois entendem a relevância de aprenderem a conviver e a participar da instituição escolar.

“Para aprender sobre a vida. ” (Aluno 1).

“É importante à educação formal, pois através dela entende que obtém ajuda na adaptação, no desenvolvimento, por isso, acredita na importância de frequentar a escola ” (Aluno 3).

Esta questão o Aluno 02 não soube responder por não compreendê-la ou por se recursar a emitir opinião sobre a necessidade de frequentar a escola, mesmo que

tenha respondido na questão anterior que gosta de frequentar o ambiente escolar e se dá bem com os colegas.

Ao serem questionados sobre se gostam das aulas de Português, respondem que:

“Não gosta por ter dificuldades de compreender a gramática, acha difícil, mas consegue memorizar muitas coisas utilizando a audição, porém sente dificuldade para leitura e produção de textos pela falta de visão.” (Aluno 1).

“Não gosta, por não conseguir compreender.” (Aluno 2).

“Gosta das aulas e aceita as intervenções da professora de gramática, com relação à de Redação, salienta que tem dificuldades de aprendizagem, devido à professora não construir métodos de ensino que contribuam para seu desenvolvimento, relatando que a mesma simplesmente coloca o assunto no quadro.” (Aluno 3).

As respostas acima contribuem para compreender que os alunos têm dificuldades de compreender a língua, por isso, não gostam da disciplina, o que conduz a questionar sobre as dificuldades enfrentadas nas aulas de Língua Portuguesa. Neste caso, os alunos deram as seguintes respostas:

“Devido à cegueira, sinto dificuldades nas atividades por não poder ler e escrever.” (Aluno 1).

“O problema está na forma de ensino da professora.” (Aluno 2).

“Muitas das avaliações não são adaptadas para o Braille o que dificulta o processo formativo, promovendo dificuldades de aprendizagem e autonomia, inclusive as atividades só são realizadas com a ajuda do professor de AEE, que é intérprete de libras.” (Aluno 3).

Os alunos sentem dificuldades de compreender os conteúdos da disciplina e culpam a cegueira por este problema, porém quando há maior interação na sala e uma abordagem de ensino que envolve interação social e troca de conhecimentos, as aulas tornam-se dinâmicas e inclusivas. Logo, questionei sobre a atuação da professora e a compreensão dos conteúdos:

“O professor só faz leitura de testes e provas e não apresenta os conteúdos de forma compreensiva.” (Aluno 1)

“Dependo dos colegas para ler e escrever ” (Aluno 2).

“Sinto dificuldades nas aulas de redação.” (Aluno 3).

Com estas respostas, percebo que a abordagem dos professores é inapropriada para incluir os cegos, que dependem de leitura compartilhada e maior atenção em relação ao ensino, por isso, sentem dificuldades para aprender. Assim, ao serem questionados sobre as dificuldades enfrentadas na escola respondem que são:

“Na realização das atividades por não poder ler e escrever.” (Aluno 1).

“Dificuldade de participar das aulas.” (Aluno 2).

“A falta de materiais transcritos para o Braille.” (Aluno 3).

Questionados sobre como fazem para ler em sala de aula, as respostas são:

“Pede aos colegas para ler o que está escrito no quadro ou para escreverem para ele no caderno. O que aprende é com a memorização e todas as atividades de que participa é respondendo de forma oral.” (Aluno 1).

“Conta com apoio dos colegas.” (Aluno 2).

“Conta com apoio da intérprete do AEE e com os colegas, já nas aulas de gramática conta também com a professora.” (Aluno 3).

Neste caso, os alunos DV contam com a parceria dos colegas que exercem a função de ledores ao realizarem leitura das atividades para o colega cego. Apenas um dos alunos conta com um profissional intérprete, porém é salientado que mesmo atuando junto ao aluno cego, não conhece o Braille devido a ser intérprete de LIBRAS.

Sobre a leitura e interpretação de textos com imagens, os alunos respondem que:

“Conta com o apoio dos colegas.” (Aluno 1).

“Os materiais didáticos de alguns professores são enviados para o CAP-DV para serem transcritos em Braille, mas, com relação aos textos multimodais, observa que a professora não faz audiodescrição e depende dos colegas descreverem as imagens.” (Aluno 2).

“Nos textos com imagens, que dependem de audiodescrição, a leitura só ocorre nas aulas de gramática, a qual conta com apoio da professora que descreve as imagens, mas, a professora de Redação não realiza essas atividades, deixando a cargo da intérprete que nem sempre consegue descrever de forma compreensiva.” (Aluno 3)

Na leitura e interpretação dos textos multimodais com imagem, é necessário que as orientações e abordagens do professor sejam realizadas para que o aluno entenda o sentido ideológico e o contexto para apresentar uma leitura compatível que conduza a interpretação. Assim sendo, a leitura efetuada nas salas de aula regular para compreensão dos textos imagéticos, de acordo as respostas dos alunos, não é uma leitura condizente.

2.5.2 Questionando os Professores: Abordagem e Concepções para o Ensino-