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Perspetiva da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico

Parte I O ensino superior como política pública e o desenvolvimento socioeconómico

8. O ensino superior em pequenos Estados Insulares em desenvolvimento: as perspetivas da

8.4. Organizações internacionais e o ensino superior

8.4.3 Perspetiva da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico

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À semelhança das organizações supramencionadas, a OCDE associa o ensino superior ao desenvolvimento económico e social, isto é, o ensino superior deve ter um importante contributo na economia e, concomitantemente, nas sociedades modernas.

Em 2008, a OCDE publicou o relatório de um estudo realizado entre 2004 e 2008 designado “O Ensino Superior na Sociedade do Conhecimento” (OCDE, 2008)57. Neste estudo

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a OCDE (2008, p. 2) reconhece que “. . . o ensino superior é um fator importante de competitividade económica no contexto de uma economia mundial cada vez mais dependente do conhecimento. . .”.

Para além da expansão, uma das caraterísticas mais comuns na atualidade é a diversificação do ensino superior. Este passou a ser feito não apenas nas universidades, mas também nos politécnicos, nos institutos politécnicos e em institutos tecnológicos.

Relativamente às principais tendências do ensino superior, o relatório (OCDE, 2008) aponta as seguintes:

- expansão dos sistemas de ensino superior58 (maiores números de ingressos, isto é, crescimento anual de matrículas);

- diversificação da oferta (novos tipos de instituições, incluindo o ensino privado e novas formas de difusão);

- conjuntos de alunos mais heterogéneos (aumento da população feminina, aumento de alunos mais velhos e de origens socioeconómicas e étnicas mais diversificadas);

- novos meios de financiamento (diversificação de meios de financiamento, mais investimento público e sistemas de apoio aos estudantes);

- foco crescente na responsabilidade e nos resultados (a expansão deve estar associada à qualidade e às despesas públicas e, em suma, à responsabilidade do ensino superior face à sua relevância e utilidade socioeconómicas);

- novas formas de governança institucional (novas perspetivas de gestão académica e novas formas e estruturas de tomada de decisão);

- implementação de rede mundial, mobilidade e colaboração (internacionalização do ensino superior, redes de instituições, académicos e de alunos, incluindo a colaboração em matéria de investigação).

O relatório (OCDE, 2008) espelhando a visão desta organização sobre o ensino superior, apresenta um quadro de principais orientações políticas, resumindo-se no seguinte:

58 Segundo a OCDE, em 1991 havia 68 milhões de indivíduos a frequentar o ensino superior. Em 2004,

94 Quadro 1. Principais orientações das políticas

Objetivos das políticas Principais orientações das políticas

Orientações do ensino superior: estabelecer o caminho certo

Desenvolver uma visão estratégica para o ensino superior, criando, para isso, instrumentos sólidos para a sua orientação

Garantir a coerência e reforçar a capacidade institucional das instituições

Criar consenso em torne de políticas de ensino superior

Adequar as estratégias de financiamento às prioridades nacionais

Implementar um estratégia de financiamento adequada às prioridades nacionais (da economia e da sociedade), passando pela partilha de custos entre o Estado e os alunos

Melhorar o resultado custo-eficácia

Associar medidas de financiamentos públicos aos resultados apresentados à sociedade

Garantir e melhorar a qualidade

Desenvolver a cultura da qualidade, associada aos objetivos do ensino superior

Implementar a avaliação externa como medida de qualidade e de crescimento qualitativo das instituições

Alcançar a igualdade

Reforçar a integração no ensino superior de grupos com maior desvantagem educativa, através do processo de discriminação positiva

Oferecer incentivos às instituições de ensino superior com vista ao acolhimento de estudantes mais necessitados

Realçar o papel do ensino superior na investigação e na inovação

Melhorar a difusão do conhecimento, a interação e colaboração interinstitucional

Alargar os critérios utilizados para a avaliação da investigação

Conceder maior autonomia às instituições no que tange a gestão dos recursos humanos, conciliando a liberdade universitária com a contribuição desta para a sociedade

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Carreira académica: adaptar-se à mudança

Melhorar as condições de acesso e apoiar o trabalho dos universitários

Reforçar os laços com o Mercado de trabalho

Coordenar políticas de emprego com a educação, melhorando os serviços de orientação profissional

Formular estratégias de internacionalização no contexto nacional

Desenvolver a internacionalização

Incentivar as instituições de ensino superior a desenvolver políticas proativas de internacionalização, criando estruturas para promover o sistema de ensino superior nacional

Implementar as políticas de ensino superior

Associar todos os atores nas políticas de reforma no ensino superior, incorporando iniciativas vindas de base

Favorecer as reformas marginais mais do que alterações de grande envergadura a não ser que tal se justifique por apoio publico às reformas

Fonte: OCDE (2008) – Orientações de política para o ensino superior

No capítulo das prioridades políticas, o relatório (OCDE, 2008) assinala que apesar das diferenças e tradições de diferentes países-membros no que se refere ao ensino superior foi possível definir as seguintes prioridades:

- elaborar uma visão global para o ensino superior: uma visão global e coerente para o futuro do ensino superior em harmonia com os objetivos socioeconómicos nacionais, definindo para o efeito a missão e o perfil das várias instituições deste nível de ensino;

- assegurar as capacidades do ensino superior de contribuição para os objetivos económicos e sociais do país: reforço da componente extensão, através da ampliação das ligações com os empregadores, regiões e mercados de trabalho, bem como ligações entre universidades e a indústria eficazes para a investigação e a inovação, a participação de entidades externas ao sistema na governação institucional e na garantia da qualidade e políticas de internacionalização;

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- criar instrumentos sólidos para a orientação do ensino superior: avaliação de desempenho, incluindo do pessoal, programas de formação com vista ao desenvolvimento profissional e à promoção da qualidade, eficiência e a capacidade de resposta; contratos de resultados ou financiamentos associados aos resultados e melhor recolha e difusão de informação;

- desenvolver uma estratégia de financiamento que facilite a contribuição do sistema de ensino superior para a sociedade e para a economia: os fundos públicos devem estar ao serviço da sociedade, da economia, ou seja, o financiamento deve visar à expansão, à qualidade, à rentabilidade, à igualdade e à capacidade das instituições ou do sistema; os estudantes devem assumir parte dos custos da sua formação, os fundos públicos devem ser atribuídos em função da relevância da oferta de formação para a sociedade no seu todo; um sistema de apoio aos alunos que inclua bolsas de estudo e empréstimo, ajudando-os nas despesas com as propinas e com o custo de vida;

- colocar ênfase na qualidade e na relevância: garantir a qualidade, isto é, que todos os alunos recebam uma educação de qualidade e relevante para o desenvolvimento socioeconómico do país; aumento da igualdade de acesso e os resultados e um maior equilíbrio entre a responsabilidade financeira e a melhoria da qualidade; assumir a garantia de qualidade como um processo e de monitorização externa de qualidade, evoluindo para um papel de aconselhamento para realçar a melhoria;

- aumentar o perfil de igualdade no seio do programa político do ensino: colocar a igualdade na agenda política das instituições e dos países, definindo as origens dos problemas da igualdade; deve incluir ainda entre outros aspetos a orientação profissional e serviços de aconselhamento, a oferta variada e alternativa de ensino superior para acomodar os mais diversos interesses dos alunos, incluindo o ensino à distância, políticas de discriminação positiva e incentivos diversos aos alunos;

- posicionar os sistemas nacionais na esfera internacional: elaboração de um plano diretor para a internacionalização, maximizando as suas vantagens no contexto nacional;

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- implementar as políticas com êxito: produzir resultados sólidos, segundo as melhores práticas, gerando consensos entre os diversos atores envolvidos no ensino superior e uma visão de longo prazo para o ensino superior.

A OCDE considera que o mundo está mudando com o ensino superior e que a forte demanda na “economia do conhecimento” é um sinal positivo da absorção no mercado de trabalho de indivíduos com a mais alta qualificação académica.

Nos “Indicadores Educacionais em Foco” sob o tema “De que forma está mudando o conjunto de talentos global?” (OCDE, 2012) esta organização analisa a expansão do ensino superior nos países-membros e no G20 e conclui que este nível de ensino está em claro crescimento. Sublinha (2012, p. 1):

O conjunto de talentos global cresceu rapidamente ao longo da década passada . . . Em 2000, havia 51 milhões de indivíduos entre 25 e 34 anos com o ensino superior nos países da OCDE, e 39 milhões em países do G20 não pertencentes à OCDE. Ao longo da década passada, entretanto, essa diferença ficou bem menor, em parte pela significativa expansão do ensino superior nesse ultimo grupo de países.

Esse crescimento será contínuo na subsequente década, pois dizem estes indicadores (2012, p. 1) que, “Por exemplo, em 2010, estimou-se que 66 milhões de indivíduos entre 25 e 34 anos tinham nível superior nos países da OCDE, enquanto nos países do G20 não pertencentes à OCDE havia 64 milhões”.

Refere ainda o mesmo estudo que ao continuar esta tendência nos países emergentes como a Argentina, o Brasil, a China, a Indonésia, a Rússia, a África do Sul e a Arábia Saudita o número de indivíduos com nível superior ultrapassará em 40%, o número de indivíduos com o ensino superior nos países da OCDE em 2020.

Convém ainda verificar que, segundo os indicadores da OCDE (2012, p. 2) em 2000 “. . . um em cada seis indivíduos entre 25 e 34 anos com o ensino superior era dos Estados Unidos, e uma proporção similar era da China. Doze por cento vinham da Rússia e em torno de dez por cento eram do Japão e da China”. Dez anos mais tarde este quadro sofreu alterações, pois a China, segundo as estimativas desta organização, aparece em primeiro lugar com 18%, os Estados Unidos em segundo com 14%, a Rússia e a Índia com 11% e o Japão com 7%. O rápido crescimento da economia chinesa e as novas demandas do mercado de trabalho explicam o salto

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chinês, o que não implica necessariamente a queda em número de talentos dos demais países aqui citados.

Partindo do princípio de que as economias dos países da OCDE e dos países do G20 não membros desta organização irá crescer, é de se prever que aumente também o número de graduados do ensino superior.

Reportando aos dados da UNESCO e do Banco Mundial o mesmo se pode dizer, de um modo geral, da tendência de crescimento nos países em desenvolvimento, onde também se nota uma rápida expansão do ensino superior. Note-se que na chamada economia do conhecimento, maior nível de formação significa melhores empregos e melhores salários e por assim dizer mais promoção social e os indivíduos estão cada vez mais impelidos a procurar melhores qualificações profissionais para melhor responderem à demanda do mercado de trabalho.