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De perto e de dentro, memórias cartográficas de Mãe Efigênia sobre a cidade de Belo Horizonte

CAPÍTULO 1 Mãe Efigênia: a cidade e o Ngunzo de Manzo

1.1 De perto e de dentro, memórias cartográficas de Mãe Efigênia sobre a cidade de Belo Horizonte

Efigênia Maria da Conceição, mais conhecida como Mametu Muiandê, Mãe

Efigênia, ou simplesmente Mãe

24

, nasceu em 02 de janeiro de 1946, na cidade mineira de

23 Os capítulos serão iniciados por cantigas ou pontos referentes aos Inquisses do Candomblé de Nação Angola. Segui-se aqui a sequência do Xirê. Xirê é o termo utilizado para denominar a sequência na qual os

Inquisses são reverenciados ou invocados durante os cultos a eles destinados.

24 É comum ouvirmos em Manzo a locução “Mãe” para se dirigir a Efigênia ou ainda quando se referindo a

Ouro Preto e é uma sacerdotisa do Candomblé e da Umbanda, com aproximadamente

cinquenta (50) anos de santo, e cerca de trinta (30) anos de iniciação no candomblé. Mãe

Efigênia é a matriarca e liderança máxima da Comunidade fundada por ela há cerca de

quarenta (40) anos.

Segundo Mãe Efigênia, “vim de uma família humilde, meu pai, meus avós, sou

bisneta de escravo: minha bisavó chamava Babil, era escrava, não tinha registro nem

nada.” Sua infância foi vivida, em grande parte, no Morro da Queimada

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, em Ouro Preto:

eu morava para lá da Escola de Música, no Morro da Queimada, em um lugar chamado Engenho. Minha bisavó e minha avó moravam no Engenho. Casinha de pau-a-pique, uma casinha de barro mesmo. Minha mãe que fez, porque a gente era muito pobre. Casinha, fogãozinho de lenha, água apanhada na bica, os potinho de água nos canto. (Mãe Efigênia, julho de 2012).

Entretanto, com o desmoronamento desta casa, a família passou a residir em

vários lugares: “passamos a morar aqui, ali, mora aqui, mora ali e ai viemos para Belo

várias ocasiões refere-se a si mesma como “a Mãe”. Por exemplo, no diálogo: “Carlos: - olá Mãe Efigênia,

tudo bem com a senhora? Mãe Efigênia: - Oi Carlos, a Mãe esta bem”.

25 Segundo Oliveira “O Morro da Queimada abriga hoje um sítio arqueológico de inestimável valor, sendo um

testemunho material das primeiras tipologias arquitetônicas da cidade, por guardar preciosos registros da exploração de ouro no início do século XVIII e vestígios remanescentes de um dos mais dramáticos momentos da história do Brasil-Colônia.” Segundo o mesmo autor, a origem da toponímia atual do morro se deve à

insurreição liderada por Felipe dos Santos, morador daquela localidade. Para Oliveira, “a sedição de Vila Rica

teve início em 25 de junho de 1720, em oposição aos aumentos dos impostos pela Coroa Portuguesa, por meio da proibição da circulação de ouro em pó e a implantação das casas de fundição na então capitania de São Paulo e de Minas Gerais. O levante durou em torno de dezoito dias. Em 16 de julho, o Conde de Assumar entrou em Vila Rica por volta das onze horas da manhã, à frente de mil e quinhentos homens. O morro do Ouro Podre, onde residiam quase todos os conjurados, foi incendiado e ficou sendo chamado de Morro da Queimada. A população local transferiu-se para os outros arraiais próximos.”

(http://morrodaqueimada.fiocruz.br/pdf/6_O%20Parque%20Arqueologico%20do%20Morro%20da%20Quei mada.pdf) Após este epsódio o morro foi ocupado principalmente por negros. A este respeito, Lima, Vieira e

Lopes, em seu texto MORRO DA QUEIMADA: SÉCULO XIII

(http://morrodaqueimada.fiocruz.br/pdf/Morro%20da%20Queimada%20seculo%20XVIII.pdf ). Registram uma ata da câmara municipal de Ouro Preto, pela qual se sabe que:

“Segundo as atas da Câmara produzidas entre 1716 e 1721, os maiores conflitos nessa zona eram: 1) a instalação de vendas sem licença; 2) o comércio ambulante de negros e negras de tabuleiros nas lavras; 3) o acolhimento de escravos fugitivos pelos moradores; 4) a comercialização de comida, bebida e prostitutas para os escravos nas vendas, onde gastavam os rendimentos dos jornais devidos aos seus proprietários.”

Horizonte”. Apesar de ser de uma família humilde financeiramente, Mãe Efigênia faz

questão de dizer com orgulho “sou neta do Sr. José Pereira que fundou o bloco Zé Pereira

dos Lacaios

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de Ouro Preto.”

Segundo Mãe Efigênia, ela nasceu e cresceu em um ambiente familiar

bastante agradável, apesar dos apertos financeiros serem uma constante. Sua mãe, figura

importante em sua formação, era bastante católica e trabalhava em atividades domésticas

em sua própria casa e na casa de terceiros. Segundo Mãe Efigênia, seus familiares

prestavam serviços domésticos.

Em suas recordações a mãe sempre foi uma figura bastante religiosa: “minha

mãe carnal era muito católica”. Efigênia lembra que, em sua infância, apesar de gozar da

liberdade de brincar na rua “fui criada em um colégio de freiras em Ouro Preto, Asilo Santo

Antônio (...) eu vivia muito na Igreja”. Nesta época, a principal atividade de Efigênia era

acompanhar a catequista, pois pertencia ao Apostolado do Sagrado Coração de Maria.

26 Segundo o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais – IEPHA a diversão carnavalesca conhecida como Zé Pereira tem origem portuguesa. Os Zés-Pereiras são característicos das festas e romarias do norte de Portugal, onde desfilam pelas ruas acompanhados por instrumentos musicais como caixas, pífaros e bumbos. O bloco Zé Pereira dos Lacaios, de Ouro Preto, foi fundado por um português chamado José Nogueira Paredes e tem sua origem no Rio de Janeiro, quando, em 1846, este português resolveu desfilar pelas ruas do centro da cidade do Rio, no primeiro dia de Carnaval. Com o passar do tempo, o bloco atraiu uma turma de foliões e músicos, responsáveis pela abertura da festa. Em 1867, José Nogueira Paredes mudou-se para a cidade de Ouro Preto, então capital do Estado de Minas Gerais, para trabalhar no Palácio do Governo, criando na cidade, o Bloco Zé Pereira Clube dos Lacaios, organizado por funcionários do Palácio. O nome lacaios referia-se aos puxas-sacos e seus fraques e cartolas. O uso de fraques, cartolas e lanternas, torna-se marca registrada do bloco, bem como os bonecos gigantes, Zé Pereira, Catitão e Baiana. Os “catitões” representam personagens como Tiradentes, Jair Boêmio e Sinhá Olímpia. Outra tradição do bloco é, dos “carias”, pequenos diabos que vão tirando faíscas do calçamento. Apesar desta versão, o IEPHA reconhece que existe uma divergência na literatura, pois vários estudiosos sustentam que o termo Zé Pereira era utilizado para qualquer agitação carnavalesca, e o uso do termo teria sido originário da apresentação da peça francesa Les Pompiers de Nanterre que, em sua versão nacional teve como música título, “Viva o Zé Pereira”: “E viva o Zé Pereira/ Pois a ninguém faz mal/ E viva a bebedeira/

Nos dias de carnaval”. O Zé Pereira dos Lacaios de Ouro Preto tem cerca de 140 anos de existência.

(http://www.iepha.mg.gov.br/banco-de-noticias/1039-iephamg-apresenta-ze-pereira-tradicao-antiga-no- carnaval) consultado em 25 de janeiro de 2013.

Aos nove anos de idade, Mãe Efigênia, acompanhando a sua mãe, muda-se

para Belo Horizonte. A mudança se deveu à busca por um tratamento mais adequado para

a avó que havia se queimado gravemente. E a escolha por Belo Horizonte se deveu ao

padrasto de Mãe Efigênia ter um filho que era “encarregado da entrega do Jornal Estado

de Minas”, residindo na cidade. Ao chegar a Belo Horizonte, a família passou a residir na

mesma região, mas em local diferente, onde se localiza hoje a Comunidade de Manzo. O

fato de prestar serviços a militares na antiga capital do estado pode ser um indício da

escolha por residir, ao se chegar à cidade de Belo Horizonte, na região do antigo Bairro do

Quartel, hoje Bairro Santa Efigênia. Outro indício poderia ser o fato da sede do referido

jornal ficar também nesta mesma região da cidade.

O começo na cidade foi bastante difícil:

(...) nós não tínhamos colchão, dormíamos em cima do jornal, todo mundo. Levantava de manhã, todo mundo, com as roupinhas marcadas de letra. Minha avó paralítica numa cama, meu padrasto na outra e minha mãe trabalhando e eu com nove anos de idade, fui trabalhar em casa de família, na Rua Cláudio Manuel, no Bairro dos Funcionários, numa pensão. Estudava no núcleo Afonso Penna27, na Avenida João Pinheiro, mas estudava à noite, porque de dia eu tinha que trabalhar pra ajudar a família. (Mãe Efigênia, julho de 2012).

27 O Grupo Afonso Pena, somado a outras escolas públicas da zona central e sul da cidade, como os Grupos Bueno Brandão, Barão do Rio Branco, Instituto de Educação, Colégio Estadual Central, dentre outros, guardam ainda hoje, no imaginário dos moradores de Belo Horizonte, a memória de terem sido centros de excelência educacional, rivalizando em qualidade até os anos 70 do século passado, com o sistema privado de ensino, notadamente os de origem religiosa. Ainda em meados dos anos 90, consistia em certo estatus estudar nestes espaços, principalmente para as classes economicamente subalternas, e motivo de conquista e possibilidade de ascensão educacional e social. Eu mesmo, sou ex-aluno dos “vestutos” E.E.Bueno Brandão

e Colégio Estadual Central, colégio legendário na cidade, por ter formado, até os anos 70 do século passado

parte da intelectualidade mineira e principalmente parte de seus lideres políticos, sou testemunha do que significava, apesar da decadência, estudar nestes espaços.

Segundo o Centro de Referência Virtual do Professor da Secretária Estadual de Educação de Minas Gerais, a

“Escola Estadual Afonso Pena é uma das escolas pioneiras de Belo Horizonte. Foi criada no governo do Dr. João Pinheiro, recebendo o nome de Grupo Escolar “Afonso Pena”, no ano de 1907 e legitimada pelo Decreto nº 2006 de 13/07/1907. Foi escolhido para Patrono do estabelecimento o Conselheiro Dr. Afonso Pena, proprietário de uma das casas onde até hoje funciona a escola.” Em seu principio a escola, foi escolhida

para ser um referencial para a classe rica de Belo Horizonte. Segundo o Centro de Referencia “devido à

qualidade de ensino e a sua localização central. Recebeu assim filhos de famílias tradicionais que se tornaram ilustres como: Dr. Aluisio Clemente Lima e Dr. Gilberto Clemente Faria, diretores do Banco da

Devido às constantes dificuldades financeiras, Mãe Efigênia acaba se

empregando na casa de outra família, na Rua Estevão Pinto

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. Tratava-se de uma família

baiana que, em seguida, retornou ao seu estado natal, levando consigo Mãe Efigênia, que

passa então residir no interior baiano. Ainda como empregada doméstica, ela retorna a

Belo Horizonte, acompanhando outra família que residia em Jequié-BA.

Esta família, em Belo Horizonte, passa a residir em Santa Efigênia, em um local

relativamente perto de onde se localiza o Quilombo de Manzo, na hoje Avenida Mem de

Sá, “mas naquela época era um mangueiral, muita mangueira, era um córrego que a

gente lavava roupa o dia inteiro, era a fazenda dos Barone.” Segundo Mãe Efigênia, esta

família era aparentada com os Barone, por isto escolheu esta região para residir.

Em suas lembranças, a hoje Av. Mem de Sá “era tudo córrego, da Niquelina [se

refere à hoje Rua Niquelina, importante via interna de tráfego do bairro Santa Efigênia]

Lavoura(hoje ABN-AMRO BANK), Dr. José Sete Câmara, Dr. Elos Melo Viana, Dr. Aureliano Pires de Albuquerque, Dr. Abgard Renaut, Pedro de Castro Silvio Barbosa, Dr. Luis Adelmo Lodi, Oto Barcelos Corrêa, Dr. Abílio Machado, Fernando Sabino, Guimarães Rosa, dentre outros.” De fato, para os Belohorizontinos,

tratam-se de figuras de destaque no “mundo empresarial, político, do direito e da literatura”, alguns inclusive homenageados em equipamentos urbanos. O prédio onde funciona a escola foi tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico de Minas Gerais (IEPHA), em 02/12/1983, e é constituído de duas casas residenciais que sofreram algumas adaptações. Àlguns metros do Grupo Afonso Pena, em outra quadra, funciona a famosa Faculdade de Direito, que teve como fundador e primeiro diretor o futuro Presidente da República Afonso Penna. Em razão disto, a Faculdade de Direito da Universidade Federal de

Minas Gerais, localizada na hoje Praça Afonso Arinos, antiga Praça da República, na região central da cidade,

é denominada de “a vestuta Casa de Afonso Penna”.

Por fim não deixa de ser notável que uma jovem negra, empregada doméstica, em fins dos anos 50 e começo dos 60 tenha frequentado, ainda que no período noturno – portanto já em um programa especial, este grupo escolar. E mais significante, é o fato desta menina não ter podido continuar seus estudos, pois sua mãe “entendia que meninas negras não precisavam estudar e sim trabalhar”.

Para informações em itálicos consultar

(http://crv.educacao.mg.gov.br/sistema_crv/index.aspx?id_projeto=27&ID_OBJETO=119315&tipo=ob&cp=0 00000&cb=0) consultado em fevereiro de 2013.

28 Percebe-se, nas falas de Mãe Efigênia, a remissão ao que denominarei aqui de uma cartografia moral da cidade. Uma cartografia que é significativa não somente de suas lembranças e memórias, mas das divisões socioeconômicas de estatus, origem e geográficas da cidade. Através de suas memórias, é possível, principalmente para um nativo da cidade de Belo Horizonte, criado na região centro-sul reconhecer boa parte dos percursos, trajetos, manchas e lugares citados por Mãe Efigênia.

até o final da Mem de Sá, não tinha casa, não tinha nada.” Sua mãe biológica possuía uma

moradia precária nesta mesma região: “a mãe tinha um barraquinho, ficamos um tempo”.

No entanto uma enchente levou a família a ter que se mudar novamente: “ai teve uma

enchente. O Cafezal [se refere à conhecida favela, hoje Vila do Cafezal

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em Belo

Horizonte] ali não tinha nada, não tinha casa, ali a gente tirava lenha para cozinhar.

Chama Cafezal porque tinha a Fazenda do Cafezal e já alguns barracos. Aí fomos morar na

Vila Paraíso, eu cresci ali na Vila Paraíso.”

Os relatos de Mãe Efigênia, compreendendo sua infância em Ouro Preto e

adolescência e juventude na cidade de Belo Horizonte, antiga e a nova capital do estado,

os processos de lutas da comunidade de Manzo que ainda se verá, e a minha própria

vivência, sensações e experiências permitem perceber, que as trajetórias na cidade, antes

de serem relatos de histórias em sentido teleológico e individual trata-se de um caminho

cruzado, de todo um segmento populacional e sua luta por habitar a cidade.

A singularidade de Manzo permite perceber como o princípio do direito à

cidadania, aqui de modo particular o direito ao pertencimento e à construção da cidade,

vão além das normatizações predefinidas por um poder estatal, via de regra, portador de

29 A hoje Vila Santana do Cafezal, mais conhecida como Favela do Cafezal, localiza-se na regional centro-sul da cidade, entre os bairros São Lucas e Serra, e se avizinha dos Bairros Paraíso e Santa Efigênia na regional leste da cidade. Ocupa uma área montanhosa. E como explicitado por Efigênia era uma antiga Fazenda. É comum a estas regionais - termo administrativo-legal de organização urbana em Belo Horizonte - da cidade, compreendida pelas margens sul e leste do município, a característica montanhosa por fazerem parte da Serra do Curral. A Serra do Curral, em 1997, por ocasião das comemorações do centenário da cidade de Belo Horizonte, foi eleita por seus cidadãos como símbolo da cidade, e Tombada pela Lei Orgânica do Município e pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Além de sua importância paisagística e como área de lazer, na parte compreendida pelo Parque Municipal das Mangabeiras, os órgãos técnicos consideram-na marco geográfico mais representativo da região metropolitana de Belo Horizonte. E de importância histórica, pois sua imponência serviu no período de colonização como referência de localização para os viajantes.

A área de vizinhança das regionais centro-sul e leste é marcada pela presença de áreas verdes, nascentes e elevações, muitas delas, ocupadas pelas hoje denominadas vilas, mas ainda popularmente chamadas Favelas. O território de Manzo, segundo uma pesquisa cartorial, feita no ano de 2013 pela Secretária de Planejamento do Governo Estadual, como desdobramento da luta política da comunidade, pertence a um lote colonial ainda não desmembrado da antia Fazenda das Olarias, de propriedade do executivo estadual.

um discurso violador da diversidade, da vida vivida e vivenciada e normatizador de

práticas que violam os modos, saberes, fazeres e viveres dos cidadãos.

Este comportamento ultrapassa o caso, aqui descrito de Manzo, e transborda

para toda a cidade. No caso, especifico de Belo Horizonte uma série de medidas tomadas

pelo poder público em nome de um discurso que se vale da tecnicidade, da ordem e de

um modelo de bem estar tem funcionado na prática como um processo de negação a

diferença. Em nome de uma política dita participativa, democrática e cidadã o que se vê

na prática da cidade nua e densa (Agier, 2011) é um modelo de (re)ordenação do espaço

público e privado que, aprofundando a forma-dominação do poder financeiro e das elites

fundiárias urbanas e seus entrepostos no poder público, reforçam o discurso normativo do

Estado.

A cidade regida como empresa, passa da metáfora e da publicidade, para a

tragédia cotidiana da cidade violadora dos direitos de mais de 200 mil de seus cocidadãos,

segundo

dados

dos

movimentos

sociais

organizados.

Segundo,

o

IPEA

(http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=20656,

consultado em 28 de agosto de 2014), a RMBH é a segunda com maior crescimento de

déficit habitacional, entre 2007-2012, o déficit habitacional na RMBH cresceu 10%.

Segundo este Instituto, a RMBH vai à contramão dos dados nacionais onde houve redução

do déficit habitacional. A Fundação João Pinheiro, do governo estadual, em 2007 a Região

Metropolitana de Belo Horizonte - RMBH detinha um déficit de 171 mil moradias.

Em novembro de 2013, o Jornal Correio da Cidadania publicou um artigo

assinado pelo professor e frei Gilvander Moreira, assessor da Comissão Pastoral da Terra

de Minas Gerais e da Pastoral dos Sem Casa. Segundo o frei que além de militante da

causa dos sem teto e sem terra é doutorando em sociologia pela UFMG:

A especulação imobiliária está crescendo, com ela, o déficit habitacional e, consequentemente, as ocupações urbanas. (...) Somente na região metropolitana de Belo Horizonte, MG, já são mais de 25 mil famílias em ocupações urbanas, umas planejadas e outras “espontâneas”. Direitos fundamentais, como o de morar com dignidade, estão sendo violados. Somente em quatro ocupações estão cerca de 12 mil famílias: 4 mil famílias na Ocupação

William Rosa, em Contagem, MG; 4.500 famílias na Ocupação Vitória; 2 mil famílias na Ocupação Esperança; e 1.500 famílias na Ocupação Rosa Leão. Essas três na Região do Isidoro/Granja Werneck, em Belo Horizonte, com 8 mil famílias. (...)Até o presente momento, somente foram construídas em Belo Horizonte 1.427 unidades habitacionais pelo Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) para famílias de 0 a 3 salários mínimos, em que pese mais de 4 anos de existência de referido programa. No 1º dia de cadastro para o PMCMV, há quatro anos, 199 mil famílias se inscreveram. A Fundação João Pinheiro atestava um déficit habitacional de 63 mil casas, em 2005. Oito anos após, estima-se um déficit habitacional na capital mineira acima de 150 mil casas. Não há programa

de construção de moradias para população carente em Belo Horizonte diversa do PMCMV. (...) O Ministério Público Federal informou que, de 7.957 remoções

realizadas pelo programa Vila Viva em Belo Horizonte, somente 3.950 remoções importaram em reassentamento – sem titulação – em unidade habitacional construída por esse programa.”

(http://www.correiocidadania.com.br/index.php?option=com_content&view=ar ticle&id=9055:social111113&catid=71:social&Itemid=180 consultado em 28 de agosto de 2014).

Exemplos desta violência, para a qual os atingidos sentem inclusive

dificuldades de verbalizar, são programas governamentais, como o Vila Viva –

supostamente de urbanização de vilas e favelas, que em nome de um bem estar definido

a priori por técnicos e burocratas em seus gabinetes, acabam por violar os modos,

saberes, viveres, fazeres e as vontades e desejos das populações alvo do programa. Manzo

se coaduna a este processo maior de negação da diferença em nome de um discurso

ordenador que se transveste de técnico e que acaba por criar um processo de