• Nenhum resultado encontrado

Pesquisas realizadas sobre desempenho de seguradoras

3. ANÁLISE DE DESEMPENHO

3.6 Pesquisas realizadas sobre desempenho de seguradoras

A análise de desempenho em seguradoras é um assunto que vem sendo discutido por pesquisadores nacionais e estrangeiros. A seguir, serão destacados alguns trabalhos pesquisados que abordam essa análise.

A dissertação de Magalhães da Silva (2000) teve por objetivo medir a eficiência das 25 maiores instituições financeiras brasileiras (em termos de ativos totais em março de 2000). Para isso, o trabalho aplica a metodologia da análise envoltória de dados (DEA), em conjunto com a técnica I-O Stepwise, para selecionar as variáveis a serem

estudadas. Esta técnica de seleção de variáveis baseia-se no critério de grau de ajustamento, ou seja, da proximidade com a fronteira eficiente, buscando identificar quais são os fatores que mais influenciam os outputs.

Foi, então, aplicado um modelo de análise envoltória de dados chamado modelo DEA-BCC, que considera retornos variáveis de escala, permitindo que as unidades de análise que operam com baixos valores de inputs tenham retornos crescentes de escala e que

aquelas que operam com altos valores tenham retornos decrescentes de escala, o que, segundo o autor, torna o estudo mais robusto e geral, privilegiando a análise dos resultados encontrados, com orientação voltada para a maximização dos outputs. Como resultado, foram

obtidas seis instituições ineficientes, entre as 25 analisadas. Por meio de uma análise complementar destas instituições, o autor concluiu como fatores de ineficiência problemas de carteira de credito, além de incorporações não finalizadas, demonstrando que a instituição incorporadora demora a usufruir resultados de sua incorporada.

O artigo de Contador et al. (2000) trata da avaliação de seguradoras que atuam

no Brasil, procurando destacar a maior eficiência em subscrição de riscos, aplicando para isso o método da análise envoltória de dados. Para colocar em prática os conceitos, o artigo

baseou-se no Boletim Estatístico da SUSEP do primeiro semestre de 1999 para selecionar um grupo de 52 seguradoras com vendas superiores a R$ 5 milhões no período. As variáveis foram escolhidas de forma a valorizar o processo de comercialização de seguros. Foram elas:

Inputs – sinistro retido e despesa comercial e Output – prêmio ganho. A orientação utilizada

foi a maximização de output e a escala de retorno variável de escala, ou modelo DEA-BCC,

explicado anteriormente.

Como resultado, os autores obtiveram somente 10 das empresas estudadas como eficientes, e destas quase todas dispunham de bons canais de distribuição para a venda de seus produtos. Cinco pertenciam a conglomerados bancários, e, segundo o autor, “se utilizam maciçamente de sua rede de agências para venda de seus de seus seguros, o que ocorre simultaneamente a distribuição de seus produtos financeiros (caracterizando o poder da venda casada – cross selling)”.

Magalhães da Silva et al. (2003) objetivaram avaliar o setor segurador

brasileiro, por meio de um estudo comparativo entre as maiores seguradoras do País no ano de 2002, empregando a técnica da análise envoltória de dados, a qual permite estabelecer um

benchmark de eficiência. Para isso, foram escolhidas as 11 maiores seguradoras (em termos

de patrimônio líquido), de acordo com o descrito no Boletim Estatístico da SUSEP 2002 (período de janeiro a novembro de 2002).

O modelo DEA-BCC foi o escolhido para calcular os níveis de eficiência relativa. O resultado apresentou duas unidades com eficiência máxima (100%). Foi possível também identificar o percentual de ineficiência em cada variável no tocante às seguradoras que não atingiram a eficiência plena. Além disso, foi percebido que das oito empresas testadas, as cinco mais eficientes são pertencentes a conglomerados financeiros. Dessa forma, os autores perceberam o ganho de escala existente para estas empresas no segmento de seguro, já que utilizam o canal de distribuição das agências para vender seus produtos.

Brockett et al. (2004) propõem-se a examinar a eficiência de companhias de

seguro por meio da análise envoltória de dados, usando solvência, capacidade de pagamento de sinistro e retorno sobre investimento como outputs. Além disso, a avaliação da eficiência

foi examinada para estudar companhias por ações e companhias mútuas (sem ações, cujos lucros são distribuídos entre os participantes). Os autores focaram a relação entre solvência e eficiência, visto que esta pode representar um potencial conflito em que solvência seria o

enfoque das agências reguladoras e consumidores, enquanto que eficiência seria o mais

importante para administradores e investidores.

Dessa forma, a pesquisa consistiu em estudar 1.524 companhias, sendo 1.114 por ações e 410 mútuas. Os resultados das análises podem ser sumarizados como se segue: as companhias em ações mostraram-se mais eficientes do que as companhias mútuas; concluiu- se que a inclusão ou a omissão da variável solvência como output têm pouco efeito nas

contagens da eficiência ou em seus elementos componentes. Sendo assim, percebeu-se que

não somente os reguladores, mas também os administradores, investidores e os detentores de apólices, todos devotaram muita atenção à solvência, de modo que os poucos ineficientes

estão presentes nesta variável.

As conclusões a que Brockett et al. (2004) chegaram foram consistentes com a

justificativa fornecida, tratando solvência como um output de maior interesse gerencial, ou

seja, melhor que simplesmente como uma condição reguladora externamente imposta. Para os testes de significância, foi usado o estatístico de Mann-Whitney. Isso aponta as possibilidades

adicionais de que um casamento natural pode ser feito entre as propriedades não-paramétricas de DEA e de os métodos estatísticos livres da distribuição usados avaliar os resultados. Os autores esclarecem que os resultados encontrados aplicam-se somente aos tipos do seguro (propriedade e responsabilidade) e dos períodos (1989) cobertos pelos dados.

Macedo et al. (2006) aplicam a análise envoltória de dados (DEA) na avaliação

do desempenho de seguradoras em operação no Brasil em 2003. A partir de informações sobre rentabilidade do patrimônio líquido (RPL), margem operacional (MOP) e sinistralidade (SIN) de seguradoras de quatro segmentos, de autos, de saúde, de vida e

previdência e de diversos outros segmentos, buscaram discutir a performance relativa dessas empresas, bem como a utilidade da modelagem apresentada. Esta pesquisa foi feita a partir de dados secundários colhidos na edição de junho de 2004 da revista Balanço Financeiro, da Gazeta Mercantil, retirando as seguradoras que já foram consideradas ineficientes de início,

pois tinham rentabilidade negativa. Por fim, a amostra foi composta por 25 seguradoras de autos, 10 de saúde, 13 de vida e previdência e 18 de seguros diversos.

Como resultado, Macedo et al. (2006) encontraram que os grandes

conglomerados financeiros não conseguem necessariamente obter maiores desempenho. Isso pode mostrar que para competir neste mercado pode ser necessário um foco operacional cada vez maior, trazendo para o setor uma nova perspectiva competitiva, pois os ganhos financeiros que estes grandes conglomerados poderiam obter mostram-se cada vez menos eficientes, passando assim a competição a ser centrada numa disputa operacional, focada, por exemplo, numa gestão eficiente do risco (sinistralidade). Numa comparação entre a análise de

desempenho feita pela Gazeta Mercantil e pelo DEA no artigo, os autores perceberam que na

maioria dos segmentos os primeiros colocados do ranking da Gazeta não obtiveram

necessariamente índice de eficiência igual a 100 % ou próximos deste valor, à exceção do segmento saúde.

Chang (2006) fez um estudo em 20 empresas de seguros de Taiwan aplicando

grey relational analysis para estabelecer um modelo de avaliação de desempenho para

empresas de seguro. O autor explica que a grey relational analisys é uma análise quantitativa

O objetivo da pesquisa foi, então, estudar as referidas empresas durante o período de 2000 a 2002. Para isso, o autor escolheu 19 índices financeiros para serem variáveis de avaliação de desempenho e separou estes itens em cinco indicadores: estrutura de capital, rentabilidade, solvência, eficiência administrativa e potencialidade do capital operacional.

Como conclusão, o autor obtém cinco índices financeiros que mais afetam o desempenho das companhias de seguros: retorno sobre ativos, eficiência na aplicação de fundos, índice de endividamento de curto prazo, participação de capital de terceiros e “lucro líquido/prêmio retido”. E, no caso dos indicadores operacionais a ordem de importância é: rentabilidade, potencialidade do capital operacional, estrutura de capital, solvência e eficiência administrativa. Além disso, o autor mostrou que a avaliação de desempenho

operacional em empresas seguradoras por meio do uso apropriado da grey relational analisys

aparentemente é uma prática efetiva.

O artigo de Yang (2006) apresenta o modelo two-stage de análise envoltória de

dados para avaliar a performance global de empresas seguradoras do ramo de vida e saúde canadenses. Segundo o autor esse modelo se destaca neste estudo por prover compreensão de duplo impacto: de operação e de estratégias de negócios para as companhias estudadas. O modelo pode integrar a performance produtiva e a performance de investimentos e considerar um meio termo entre estes dois aspectos. A análise foi formada por uma amostra de 72 companhias de seguro no Canadá, usando dados anuais de 1998.

No primeiro estágio, o autor concluiu que o modelo BCC identificou eficiência técnica de 76% e 52% em média para o modelo de produção e investimento, respectivamente, mostrando que existe um grande potencial de melhora no desempenho da indústria de seguros canadense. Comparando o modelo de investimentos com o de produção, o autor concluiu que as seguradoras pesquisadas têm melhor performance na perspectiva de produção. Ressalta, ainda, que, de acordo com o modelo DEA, se um segurador não for considerado eficiente, o

modelo pode determinar se os seguradores devem melhorar seus desempenhos da produção e/ou do investimento, para conseguir a eficiência sistemática.

De acordo com o autor, a DEA expõe minuciosamente o uso/produção dos recursos/resultados envolvidos no desempenho das DMUs (Decision Making Units),

indicando os fatores que contribuíram ou diminuíram a avaliação de eficiência destas. Não obstante, um dos benefícios mais úteis derivados de uma análise de DEA é o conjunto de metas para a melhoria das DMUs que a DEA encontrou como ineficiente. Este conjunto fornece sugestões de mudanças necessárias nos inputs e outputs, de forma que as unidades

ineficientes tornem-se eficientes. Como o modelo de DEA usado foi o two-stage, o segundo

estágio foi examinado para comprovar se as seguradoras são eficientes ou não em termos do desempenho global. Se não, o modelo indica se e quanto a eficiência da produção e/ou a eficiência do investimento devem ser melhoradas. Os resultados mostraram que a indústria canadense de seguros de vida e saúde operou razoavelmente eficiente durante o período estudado.

Por sua vez, a dissertação de Pereira (2006) teve por objetivo apresentar os principais indicadores econômico-financeiros usados no setor de seguros e analisar opiniões e percepções dos gestores contábeis e financeiros de sociedades seguradoras sobre a importância e a aplicabilidade de indicadores econômico-financeiros para a análise de desempenho. O trabalho foi desenvolvido por meio de pesquisas baseadas em referencial bibliográfico e nas legislações e normas específicas do mercado segurador. Além disso, o autor propôs alguns indicadores que podem fazer parte do sistema de avaliação de desempenho das seguradoras. A dissertação apresentou dados coletados por meio da distribuição de questionários com perguntas acerca da aplicabilidade e importância da análise econômico-financeira em sociedades seguradoras, aplicados a gestores de 12 grupos de

seguradoras que representaram 79% do volume de prêmios emitidos pelo mercado segurador, em 2004, além de 10 outras seguradoras individuais, obtendo resposta de 16 empresas.

Como resultado, Pereira (2006) concluiu que não é só por uma questão de exigência legal que os responsáveis pelas seguradoras elaboram os demonstrativos contábeis e financeiros, mas, sobretudo, para terem um ponto de partida na execução de uma análise mais profunda dos resultados, produzindo avaliações com riquezas de detalhes, com o uso dos indicadores econômico-financeiros. O autor percebeu, ainda, uma tendência menor na utilização dos indicadores de contas patrimoniais do que contas de resultados. De acordo com Pereira (2006), o imediatismo pela informação e a menor complexidade na formatação dos cálculos talvez sejam as explicações deste procedimento.

As pesquisas citadas nesta seção mostram técnicas de análise de desempenho em seguradoras, caracterizando a significância da pesquisa nesta área. Pode-se perceber a presença do método DEA em muitos destes trabalhos, o que o caracteriza como um bom método a ser utilizado.

3.7 Considerações finais

Este capítulo mostrou a evolução do pensamento administrativo sobre a questão da análise de desempenho, destacando tanto a análise financeira quanto a não- financeira. Mostrou, ainda, a aplicabilidade desses conceitos para as empresas seguradoras e a forma como pode ser desenvolvida a análise de desempenho econômico-financeiro dessas empresas.