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Pesquisas sobre população de Rua

CENÁRIOS

CAPÍTULO SEGUNDO DA EXCLUSÃO À CIDADANIA 1 A moldura da metrópole

3. Pesquisas sobre população de Rua

É preciso que se diga: não há dados estatísticos precisos sobre essa população. Existem pouquíssimos dados acompanhados de um mínimo de controle e metodologia adequada.

Podemos recorrer a levantamentos feitos no passado. Os primeiros dados remontam à pesquisa feita pela Secretaria do Bem-Estar (Surbes) da subprefeitura da Sé, datada de 1991, que concluiu:

De cada mil pessoas que passaram a viver na Rua nos últimos tempos, 600 estão na Rua há menos de seis meses e 400 nos últimos 30 dias. A faixa etária das pessoas na Rua é de 20 a 40 anos, em plena capacidade para o trabalho. De cada 1000, 400 são da região Sudeste, 280 do Nordeste. De cada mil na Rua, 180 são do interior de São Paulo (Trecheiro, 1991, n. 03/04 p. 1).

Foi a primeira pesquisa sobre população de rua em São Paulo, localizadas 3.392 pessoas dormindo nas Ruas nas regiões centrais da cidade,

como afirma a então secretária de Assistência Social, Aldaíza Sposati (Trecheiro, setembro 2002, p. 7).

Em 1996, o jornal Trecheiro fazia pesquisa na Rua São Bento, no dia 11 de abril, com 74 pessoas entrevistadas, entre 19 e 21,30h, sendo dez mulheres e 64 homens, com dados reveladores:

Do Sudeste são 34 pessoas (ou seja, 45,95% dos entrevistados), do Nordeste, 28 pessoas; do Sul, 12 pessoas, e do Norte e Centro-Oeste ninguém. Até 18 anos de idade, havia seis pessoas, de 19 a 25: 13 pessoas, de 26 a 35: 19 pessoas, de 36 a 50 anos: 29 pessoas, e acima de 51 anos: sete pessoas. O mais velho era Roberto Duarte, de 66 anos de idade, há um ano na Rua. O mais jovem, Mauricio Antonio Seixas, de 14 anos, paulistano, há dois anos na Rua (Trecheiro, abril 1996, p. 3).

Neste mesmo ano, a Prefeitura de São Paulo reconhece a existência de 5400 pessoas de Rua pra os que a lei 12.316/97 deve garantir abrigos de inverno (Trecheiro, ano VIII, maio/1998, p. 4).

Em janeiro de 1999 a Prefeitura de Santo André realiza pesquisa sobre o perfil dessa população emergindo no ABC paulista: 187 pessoas viviam nas Ruas de Santo André, sendo 57% solteiros, 46% de S. Paulo, 55% de 31 a 50 anos. Existiam 53% com mais de um ano de Rua, e 31% com mais de dez anos nas ruas andreenses. Das 85 pessoas procedentes do Estado de São Paulo, 19 eram de Santo André (Trecheiro, janeiro de 1999, p. 3). A situação dos moradores de rua passa a adquirir um rosto metropolitano.

O Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no ano de 2000 não contou as pessoas em situação de Rua, conforme denúncia na Folha de S. Paulo em junho de 2000. Como o critério censitário prevê a existência de domicílio, o IBGE os tornou inexistentes para a demografia oficial!

É população real não computada nas estatísticas, o que dificulta a implementação e a eficácia de eventuais políticas para o segmento.

Apesar da grave lacuna, há as pesquisas realizadas no município de São Paulo pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE).

A Prefeitura de São Paulo realiza nova pesquisa, coordenada pela mesma Fundação, divulgada no mês de fevereiro de 2001:

Recenseados 94 bairros da cidade, foram encontrados 8.095 moradores adultos de Rua. Na Sé e República, 2.071 moradores. Em Santa Cecília, Consolação, Brás e Bom Retiro, outros 1.782 pessoas. Homens representavam 85% e mulheres 15%. Entre 18 e 49 anos: 70% da população. Entre 50 e 64 anos: 19% do povo, e enfim, acima de 65 anos: 4% da população. Quanto à permanência nas Ruas tivemos estes dados: 10 anos – 8%; 5 a 10 anos – 11%, 2 a 5 anos – 16%, 1 a 2 anos – 13%, de 6 meses a 1 ano – 15%, de 3 a 6 meses – 11%, de 1 a 3 meses – 13%, e até um mês de Rua – 13% (Trecheiro,

abril 2001).

A Secretaria de Assistência Social afirma que os dados coletados pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) em 2000 demonstram a existência de 8.702 pessoas vivendo nas Ruas (Trecheiro, set. 2002, p. 7).

Maria Luiza Marcílio relata que estes 8.706 moradores estariam assim distribuídos:

O Censo de Moradores de Rua da Cidade, feito em 2000 pela Fipe, contou 8.706 pessoas sem teto, sendo 5.014 vivendo em Ruas, pontes e viadutos e 3.693 em abrigos e albergues. As crianças dos moradores de Rua, em geral, não estão na escola (MARCILIO, 2005,

p.349).

Um projeto da administração da Prefeitura de São Paulo, denominado Sempre Vivo, abordou 5759 pessoas nas Ruas de julho a setembro de 2002.

Entre os entrevistados, 52% têm como principal motivo de estar nas Ruas o desemprego (Trecheiro, outubro 2002, p. 4).

A Fipe volta a realizar a pesquisa de campo em 2003 e constata:

Houve um aumento de 19,3% no número de pessoas em situação de Rua na cidade. Agora, o número subiu para 10.934, sendo que 4.208 moravam nas Ruas e 6.186 em albergues. Os homens são 84%, as mulheres 14%, e não foram identificados 2% das pessoas. Em 2000, havia 5.013 nas Ruas e 3.693 nos albergues. Em 2003 a situação se inverteu, pois são 6.186 em albergues e 4208 pessoas dormindo nas Ruas. Aldaíza Sposati, secretária de Assistência Social afirmava que há uma série de fatores combinados por trás da situação, desde o desemprego até os efeitos do consumo de álcool e drogas. Segundo ela, a população cresce quatro vezes mais do que o aumento vegetativo da população (Trecheiro, novembro 2003, p. 3).

Na pesquisa foram localizados mais de 400 universitários nas Ruas e nos 33 albergues existentes na rede da prefeitura. O perfil não se alterou nos últimos anos: o morador de Rua é homem e tem 38 anos de idade. Com relação à cor da pele, caiu o percentual de brancos (de 33,4% para 29,5%) entre os anos 2000 e 2003. Negros também tiveram diminuição (de 30,1% para 25,4%). Já os pardos saltaram de 29,5% para 37,2% nas pesquisas da Fipe (Folha de S. Paulo, 06/11/2003, p. C7). No mesmo ano, estudo pormenorizado do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) mostra que:

A região metropolitana de São Paulo é um caso agudo da dupla face da pobreza. Ela concentra 52% dos indigentes e 47% dos pobres do Estado. Os governos não têm olhos para a miséria urbana. Há dezenas de ‘guaribas’ na Grande São Paulo, mas o Fome Zero decidiu construir o seu símbolo na Guaribas do interior do Piauí (Folha de S. Paulo, 03.10.2003, p. A3 especial).

O jornal Diário de São Paulo ao apresentar o Programa Acolher, da Secretaria de Assistência Social do Município de São Paulo, informa que recebia 6186 pessoas em 33 albergues e abrigos municipais conveniados. Havia 50 agentes de acolhida percorrendo todos os dias as ruas do centro paulistano (Diário de S. Paulo, 17/01/2004 página A2).

A última pesquisa, feita com os albergados em São Paulo, pela Fipe, coletou dados entre os meses de dezembro de 2005 e janeiro de 2006, e publicada em 20 de junho de 2006:

Foram entrevistados 631 homens albergados em 22 albergues da rede conveniada. Trabalham 73% dos jovens. O porcentual de envelhecimento é maior que em 2000, atingindo 47%. 80% são migrantes, 1% é imigrante e 19% nasceram na cidade de São Paulo. O dado surpreendente é que 49% procedem da região Sudeste, e destes 39% são do próprio Estado de São Paulo. Embora 72% dos que estão em albergues, trabalhem a renda daí obtida é bastante instável, diz a pesquisadora Sílvia Schor, coordenadora deste projeto (Trecheiro, julho 2006, p. 4).