3. Gestão de habitação dos municípios
3.3. A questão da habitação no município de Franco da Rocha
3.3.1. Plano Diretor Participativo de Franco da Rocha
A prefeitura de Franco da Rocha contratou como consultora para o Plano Diretor, a FUPAM- Fundação para a Pesquisa Ambiental- órgão coligado à FAU USP. Os trabalhos e estudos do Plano Diretor foram coordenados e realizados pela Diretoria de Planejamento da Prefeitura em conjunto com a FUPAM. O Plano Diretor Participativo não foi concluído até a data prevista de Outubro de 2006, e então com um pequeno atraso, foi aprovado pela Câmara de Vereadores em 11 de abril de 2007.
No Plano Diretor de Franco da Rocha estão expressos artigos e capítulos que se dirigem à função social da cidade, a questão fundiária e da habitação:
No Capítulo XIII das estratégias de política urbana e rural, Seção I dos Instrumentos de Política Urbana, fica determinada a utilização de instrumentos para a função social da cidade e da propriedade;
26 Fazendo parte deste grupo de projetos da FAU USP, assumi a responsabilidade da questão da área invadida que se tornou motivo para desenvolver o estudo sobre a questão habitacional de Franco da Rocha.
124 artigo 105- O poder executivo adotará os seguintes instrumentos para a execução, controle, gestão e promoção do Desenvolvimento Urbano:
III- Instrumentos para o cumprimento da função social da propriedade e atendimento das funções sociais da cidade:
a- Parcelamento, edificação ou utilização compulsória (é dito que deverá ser realizada lei específica, mas faz os primeiros ordenamentos nos artigos 106 a 111) b- Outorga onerosa do direito de construir (artigo 112)
c- Transferência de potencial construtivo (artigos 113 e 114) d- Operações urbanas consorciadas (artigo 115)
e- Consórcio Imobiliário (artigo 116)
f- Direito de preempção (artigos 117, 118 e 119) g- Direito de superfície (artigo 121)
h- Estudos de impacto de Vizinhança (artigos 122 a 125)
Na seção II das Diretrizes do ordenamento territorial, o artigo 48 diz que o Poder Público Municipal promoverá a aplicação da seguinte diretriz de ordenamento territorial:
IV - Instituir mediante lei, zonas especiais de interesse social, destinadas à reurbanização e regularização fundiária de áreas ocupadas e irregulares por população de baixa renda
Esta diretriz é reforçada no artigo que define as Zonas Especiais e que estão efetivamente demarcadas no território do município, em um mapa de instrumentos urbanísticos.
Seção XI Das zonas especiais
Art. 131 – As zonas especiais indicadas no Mapa de Instrumentos de Ordenamento Urbanístico, Anexo 6, são as abaixo descritas:
I – Zonas Especiais de Interesse Social – ZEIS - destinadas a reurbanizar e regularizar aglomerados habitacionais urbanos assentamentos subnormais e loteamento irregulares ocupados por população de baixa renda;
II – Zonas Especiais de Interesse Ambiental- ZEIA
III – Zonas Especiais de Desenvolvimento Integrado- ZEDI
A seção III, de Diretrizes de regularização fundiária, afirma que tem como objetivo a implantação de infra-estrutura básica para assegurar o usufruto à moradia digna, melhorias urbanísticas, condições de acesso à inclusão social, mediante a melhoria das condições de moradia e ao atendimento da função social da cidade. Mais adiante o artigo 73 define a construção de um estoque de terras para a realização da função social da propriedade.
125 Deste modo, o já mencionado artigo 105, em sua seção X, define os instrumentos de regularização fundiária.
I- Instalação de ZEIS
II- Concessão do Direito Real de Uso (Lei 271/67)
III- Concessão de Uso especial para fins de moradia, medida provisória 2220/01 IV- Usucapião especial de Imóvel Urbano
V- Direito de preempção
VI- Assistência técnica urbanística, jurídica e social gratuita.
Os instrumentos da política fundiária também estão ali descritos, mas ainda falta transformá-los em lei específica.
Abaixo, temos o artigo que cria o Fundo para buscar recursos financeiros:
Art. 132 – Fica criado o Fundo Municipal de Desenvolvimento Urbano com a finalidade de apoiar ou realizar investimentos destinados a concretizar os objetivos, diretrizes, planos, programas e projetos urbanísticos e ambientais integrantes ou decorrentes da lei do Plano Diretor, em obediência às prioridades ali estabelecidas.
E continua, no artigo 135, definindo o principal uso para os recursos do Fundo Municipal:
Art. 135 – Os recursos do Fundo Municipal de Desenvolvimento Urbano serão aplicados com base na lei federal 10.257, de 10 de julho de 2001 e nesta lei, na:
I – execução de programas habitacionais de interesse social, incluindo a regularização fundiária e a aquisição de imóveis para a constituição da reserva fundiária;
Concluindo com o artigo 141, que cria o Conselho Municipal da Cidade:
Art. 141 – Fica criado o Conselho Municipal da Cidade, órgão consultivo e deliberativo em matéria de natureza urbanística e de política urbana composto por representantes do poder público e da sociedade civil.
126 Com estes artigos do Plano Diretor, verificamos que a cidade de Franco da Rocha preenche os requisitos básicos necessários para realizar um plano de habitação municipal. Definiu a função social da cidade com a criação de instrumentos de ordenação e uso do solo e demarcou no território os locais das zonas especiais. Tratou da questão fundiária, com o estabelecimento de artigos que permitem o uso dos instrumentos de regularização e criou o Fundo Municipal para buscar recursos financeiros, principalmente para a habitação.
Segue o artigo que prevê que o município tem poder legal para realizar planos de urbanização e de habitação:
Art. 129 – O Poder Público poderá promover plano de urbanização de áreas usucapidas, isoladamente ou coletivamente, habitadas por população de baixa renda, com a participação de seus moradores, visando à melhoria das condições habitacionais e de saneamento ambiental.
O Plano Diretor define a Política de Habitação através de objetivos e diretrizes que registramos a seguir:
Art24. – O poder Executivo implementará uma política de habitação com o objetivo de assegurar a universalização do acesso à moradia digna servida por infra-estrutura urbana básica aos município, com prioridade para a população de baixa renda, inclusive mediante reurbanização e regularização fundiária.
Os objetivos são definidos da seguinte forma:
Art. 25 – Constituem objetivos da Política Municipal de Habitação:
I- O atendimento prioritário das demandas das populações de baixa renda, contando com a participação ativa dessa população;
II- a realização de estudos da realidade municipal para adequação da política habitacional às necessidades levantadas;
III- a articulação com os programas de apoio do governo estadual e federal à política habitacional;
IV- a integração com as demais políticas municipais relativas ao meio ambiente, ao desenvolvimento urbano, econômico e social, à saúde, à educação;
V- o exercício do direito fundamental à moradia digna, com padrões mínimos de habitabilidade, higiene, salubridade e acessibilidade por todos os habitantes. VI- A requalificação urbanística e a regularização fundiária dos assentamentos
precários e irregulares ocupados pela população de baixa renda, atendendo às disposições desta lei;
VII- A utilização dos vazios urbanos dotados de infra-estrutura pública para os programas habitacionais;
127 VIII- A simplificação dos parâmetros, índices urbanísticos e demais normas de legislação de parcelamento, uso e ocupação do solo e da legislação edilícia e dos procedimentos de aprovação e programas destinados à habitação social de modo a permitir a redução dos custos e o aumento de oferta dos lotes e unidades habitacionais.
Temos este importante parágrafo único, que estabelece prazos:
Parágrafo Único - Para fins previstos neste artigo, o Poder Público Municipal providenciará a elaboração do Plano Municipal de Habitação, com a criação do Conselho Municipal de Habitação e do Fundo Municipal de Habitação, através de lei específica, que deverá ser enviado à Câmara no prazo máximo de 1 (um) ano, renovável por mais 1 (um) ano, a contar da aprovação deste Plano Diretor.
Observe-se que a data de aprovação do Plano Diretor é 11 de abril de 2007 - faltando poucos meses para fechar os dois anos, em abril de 2009. O plano de habitação está no seu ponto inicial de trabalho, como constatamos em entrevista na prefeitura.
E são definidas as seguintes diretrizes na implantação da política de habitação:
Art. 26 – O Poder Executivo Municipal aplicará as seguintes diretrizes na implantação de sua Política de Habitação:
I- Atender prioritariamente à população de menor renda, ou a que resida em áreas de maior risco.
II- Assegurar a participação do setor privado na produção de habitação de interesse social, através de incentivos normativos e projetos integrados;
III- Viabilizar os programas habitacionais através da formação de banco de terras, para a implantação de infra-estrutura, equipamentos públicos e unidades habitacionais
IV- Promover a solução dos assentamentos irregulares nas áreas definidas pelas ZEIS, no Mapa de Instrumentos de Ordenamento Urbanístico, anexo 6, procedendo aos levantamentos, a elaboração e adequação dos projetos urbanísticos e o controle de sua implementação.
V- Aprimorar os sistemas de monitoramento e controle da ocupação do solo do município, de forma a impedir o aparecimento de loteamentos irregulares e punir os seus responsáveis
VI- Oferecer assessoria e suporte técnico e jurídico à autoconstrução de moradias para a população de baixa renda, inclusive com fornecimento de projetos de edificação padrão.
VII- Promover adequadamente as atividades de implantação e controle de programas habitacionais, mediante quadro de funcionários e infra-estrutura de apoio adequados.
128 Nesta diretriz VII, tem-se uma das exigências para termos o Plano de Habitação, que é a existência de estrutura organizacional para tratar das questões da habitação. A diretriz solicita a montagem de um setor de habitação próprio, junto à prefeitura. No entanto, até o julho de 2008 não existia nada estruturado, neste sentido. Da mesma maneira, quando o município é solicitado para mostrar a realização do planejamento e produção local de HIS, verifica-se que embora registrada a intenção no Plano Diretor, na realidade não tem nenhum processo formal ou programa próprio de construção de moradias. E registre-se que no momento, não existe nada em andamento para modificar esta situação.