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Plano Diretor Participativo de Santo André

3. Gestão de habitação dos municípios

3.2. A questão da habitação no município de Santo André

3.2.1. Plano Diretor Participativo de Santo André

O Plano Diretor Participativo de Santo André foi realizado entre 2002 e 2004, tendo sido apresentado como projeto de Lei número 13, em 30 de março de 2004, e aprovado pela Câmara Municipal de Vereadores em 2 de dezembro do mesmo ano. A lei foi apresentada após uma ampla discussão pública com expressiva participação popular, principalmente pelos membros do Conselho Municipal de Habitação, e dos movimentos de moradia que estavam organizados desde a primeira gestão do prefeito Celso Daniel, em 1989-1992.

Os artigos mais importantes que definem, no Plano Diretor, os princípios e objetivos da Política Urbana de Santo André são os seguintes:

O artigo 3 define, conforme orienta o Estatuto da Cidade, os três eixos de um Plano Diretor Participativo:

98 I – a função social da cidade

II – a função social da propriedade III – Sustentabilidade

IV – Gestão Democrática e Participativa

O artigo quatro é aquele representado na Figura 2, na página 68, que ilustra os elementos de um plano de habitação.

Artigo quarto – As funções sociais da cidade no Município de Santo André correspondem ao direito à cidade, para todos e todas, o que compreende os direitos à terra urbanizada, à moradia, ao saneamento ambiental, à infra-estrutura e serviços públicos, ao transporte coletivo, à mobilidade urbana e acessibilidade, ao trabalho, à cultura e ao lazer.

O artigo quinto reforça a relação com a habitação de baixa renda:

A propriedade imobiliária cumpre a sua função social quando- respeitadas as funções sociais da cidade- for utilizada para:

I. habitação, especialmente Habitação de Interesse Social; II. atividades econômicas geradoras de emprego e renda; III. Proteção do meio ambiente;

IV. preservação do patrimônio cultural.

Temos no artigo sétimo, a questão fundamental ainda a ser desenvolvida por quase todos os municípiosbrasileiros:

A gestão da política urbana se dará de forma democrática, incorporando a participação dos diferentes segmentos da sociedade em sua formulação, execução e acompanhamento.

Assim o planejamento em todas as fases – formulação, execução e acompanhamento são assumidos como matéria de interesse de todos e não uma tarefa exclusivamente técnica, definida por uns poucos.

O Plano Diretor de Santo André define 21 objetivos gerais de Política Urbana, dos quais citamos abaixo, aqueles diretamente envolvidos com a questão da habitação de baixa renda:

99 II – garantir o direito universal à moradia digna, democratizando o acesso à terra e aos serviços públicos de qualidade;

III – reverter o processo de segregação sócio-espacial da cidade por intermédio da oferta de áreas para a produção habitacional dirigida aos segmentos de menor renda, inclusive em áreas centrais, e da urbanização e regularização fundiária de áreas ocupadas por população de baixa renda, visando à inclusão social de seus habitantes; Para o atendimento destes dois objetivos é necessário que os municípios instalem sistemas e processos próprios de gestão de habitação. Vamos verificar como está atuando este processo em Santo André.

O artigo 11 define os objetivos da Política Municipal de Habitação garantindo o acesso à terra urbanizada e à moradia, ampliando a oferta e melhorando as condições de habitabilidade da população de baixa renda; estimulando a produção de HIS – Habitação de Interesse Social e HMP – Habitação de Mercado Popular pela iniciativa privada e garantindo a sustentabilidade social, econômica e ambiental nos programas habitacionais, por intermédio das políticas de desenvolvimento econômico e de gestão ambiental. O artigo 13 determina que o Poder Executivo Municipal deva realizar o Plano Municipal de Habitação- PMH.

O Título III- Do ordenamento territorial- define as zonas especiais entre os quais as ZEIS – Zonas Especiais de Interesse Social e as ZEIA – Zonas Especiais de Interesse Ambiental. Definidas no artigo 61, as ZEIS são porções de territórios destinadas prioritariamente à regularização fundiária, urbanização e produção de HIS e HMP. Junto com o Plano Diretor foram delimitados, na área do município, cerca de 1,5 milhão de metros quadrados destinados a habitação de interesse social. O conceito de zonas especiais de interesse social já era trabalhado em Santo André, desde 1989-1992 com a denominação de AEIS - Áreas de Especial Interesse Social. Nesta mesma época, também para tratar a regularização fundiária, foi instituído o instrumento CDRU – Concessão de Direito Real de Uso.

100 O Título V- tem a definição dos instrumentos de Política Urbana que trazem os meios e as ferramentas para que sejam atendidos os objetivos do artigo 182 da Constituição Federal e do Estatuto da Cidade. O artigo 115 lista os 47 instrumentos que poderão ser adotados. Com estas quantidades de instrumentos foi necessário que o Plano Diretor tratasse, em extensas páginas, os instrumentos principais para a cidade de Santo André. Listamos os principais instrumentos contidos na lei:

- Do parcelamento, edificação, ou utilização compulsória

O município de Santo André, quando da aprovação do Plano Diretor em 2004, foi um dos primeiros municípios a realizar a notificação dos proprietários sobre o parcelamento, edificação, ou utilização compulsória.

- Do IPTU progressivo no tempo e da desapropriação com pagamentos em títulos da Dívida Pública (com notificação também).

- Da outorga onerosa do direito de construir. - Ficou fixado em lei, que 50% dos recursos – contrapartidas financeiras- obtidos com a utilização deste instrumento deverá ser destinados à habitação de interesse social).

- Da transferência do direito de construir.

- Das operações urbanas consorciadas. - Para a gestão da Política Urbana foram criados, no título VI do Plano Diretor, diversos órgãos e sistemas. O funcionamento e a existência destes órgãos na Prefeitura de Santo André são vitais, pois sem eles, não poderá ser realizada a gestão da habitação, que é uma parte da Política Urbana. Assim o Plano Diretor cria:

- O Sistema Municipal de Planejamento e Gestão. - O Conselho Municipal de Política Urbana.

O Plano Diretor define a composição de membros deste conselho e diz que entres estes deve existir membros que representem os conselhos setoriais já existentes. Os conselhos são:

101 Habitação, Saneamento Ambiental, Transporte, Orçamento e Desenvolvimento Econômico. O CMPU é composto por 38 membros, sendo 19 do governo municipal e 19 da sociedade civil. Destes, 5 são dos conselhos anteriormente referidos, 5 de empresários, 4 de ONGs e 5 de movimentos sociais. Ressalta-se aqui a existência anterior ao Plano Diretor, de um Conselho de Habitação.

- O Fundo Municipal de Desenvolvimento Urbano - O Sistema de Informações Municipais

E como instrumentos de democratização de gestão, que permitem o acesso e a participação popular, ficam criados:

- A Conferência Municipal de Política Urbana - Assembléias Territoriais de Política Urbana

A criação destas assembléias é importante para permitir o acesso da população mais pobre à questão urbana e habitação, pois exige que estas se realizem nos bairros e distritos da cidade, perto de onde vivem.

- Audiências públicas, iniciativa popular de projeto de lei, plebiscito e referendo popular.