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3 A interlocução inicial na EBM Adelaide Starke

3.1 O reconhecimento do terreno: o diálogo com a escola e a professora

3.1.2 O Plano de Ensino

O PE da professora encontra-se em 5 partes. As três partes iniciais correspondem ao desenvolvimento de projetos de trabalho. Dessa forma, a primeira parte corresponde ao primeiro projeto: a utilização do jornal como ferramenta de trabalho. Essa parte sugere que sejam realizados os seguintes trabalhos em sala de aula: 1) análise de jornais – da primeira página, dos cadernos, das seções, da linguagem, do público a que se destina, da imagem, do texto em relação à imagem e à legenda etc.; 2) análise e produção dos principais gêneros utilizados pelos jornais – notícias, editoriais, crônicas etc.; 3) montagem de um jornal escrito – no laboratório de informática; 4) exposição dos jornais produzidos para o público leitor.

A segunda parte corresponde ao segundo projeto: a leitura de obras para-didáticas. Nessa parte, o PE não menciona quaisquer indicações de obras a serem lidas, o que nos leva a presumir que a escolha dos livros seja feita pelos próprios alunos.

A terceira parte, que corresponde ao terceiro projeto, tem como foco de trabalho também a leitura, mas sobre uma obra específica, já indicada pelo PE, a saber: leitura, interpretação e debate sobre a obra “Encarando a Adolescência”, de Clara Rappaport.

Ao final da exposição dos três projetos, são apresentados os seus objetivos correspondentes que, na sua totalidade, estão voltados ao processo de leitura: formar leitores críticos...; desenvolver estratégias de leitura...; refletir sobre a juventude...; desenvolver o hábito da leitura...; ler por prazer. Além disso, podemos perceber (deduzir) que os três primeiros objetivos propostos para essas três primeiras partes do PE referem-se, na mesma ordem, aos três projetos propostos, um para cada projeto, respectivamente. Apenas os dois

últimos objetivos “desenvolver o hábito da leitura” e “ler por prazer” parecem dizer respeito aos três projetos simultaneamente.

A quarta parte é reservada ao estudo de aspectos gramaticais. Esses conteúdos gramaticais listados pela professora podem ser agrupados em dois blocos: a) estudo da teoria gramatical – pronomes demonstrativos em relação ao tempo e à situação; o pronome relativo; orações subordinadas adjetivas e adverbiais; figuras de sintaxe; versificação; estrutura e formação de palavras; b) estudos das convenções da escrita e uso da norma padrão – pontuação das orações subordinadas adverbiais e das orações coordenadas, uso da crase; concordância verbal e nominal; regência verbal e nominal. Após a apresentação dos conteúdos em tópicos, o PE apresenta os objetivos pertencentes a essa parte, os quais, na sua maioria, sugerem o conhecimento/reconhecimento, pelo aluno, da norma gramatical: conhecer, identificar e empregar adequadamente o pronome...; reconhecer os valores semânticos das orações...; conhecer, diferenciar e empregar os elementos mórficos...; conhecer e distinguir os processos de formação das palavras...; conhecer e identificar as figuras de sintaxe...; conhecer e exercitar os princípios do fenômeno da crase.

A quinta parte do PE trata da produção de textos e de seus objetivos. Como objeto de estudo, essa parte enfoca dois assuntos: o ensino do texto narrativo (o tempo na narrativa: o cronológico e o psicológico, o flash-back) e o ensino do texto dissertativo/argumentativo (razões e conclusão na argumentação, argumentar para conquistar direitos). A disposição dos conteúdos de ensino apresentados pelo PE em dois assuntos distintos nos permite seguir a mesma orientação para a leitura dos objetivos apresentados na seqüência, isto é, agruparmos os objetivos relativos ao ensino do texto narrativo e agruparmos os objetivos relativos ao ensino do texto dissertativo/argumentativo. Do total dos objetivos apresentados para o trabalho com produção de textos, dois dos objetivos referem-se, basicamente, à produção de textos narrativos: produzir textos narrativos com base no enredo, conhecer e operar o conceito

de tempo narrativo; e quatro dos objetivos referem-se ao ensino do texto dissertativo/argumentativo: desenvolver técnicas de argumentação, produzir textos argumentativos, conhecer textos dissertativos e estruturas de textos dissertativos, produzir textos dissertativos a partir das estruturas.

Sobre esse PE elaborado pela professora, podemos dizer que é inovador não só porque contempla projetos para o trabalho em sala de aula, mas, principalmente, porque são projetos contemplativos tanto da produção textual como da leitura. Nesse sentido, as palavras de Possenti (1996) sobre o espaço reduzido do ensino da gramática liberar espaço maior ao ensino do texto tomaram propriedade nesse documento. Além do mais, das cinco partes sugeridas para o trabalho em sala de aula, três partes prevêem o trabalho com a leitura, uma parte prevê o trabalho com a produção textual e apenas uma parte é reservada ao estudo da teoria gramatical. Outro aspecto que consideramos positivo neste PE é o teor dos projetos, principalmente o projeto contemplado na primeira parte (a utilização do jornal como ferramenta de trabalho), porque a professora poderia privilegiar qualquer outro projeto, no entanto, optou por trabalhar com algo que fizesse alguma diferença para a vida diária do aluno: o jornal, um meio de comunicação que faz parte (ou deveria fazer) da vida dos educandos, da família e da sociedade.

Há, contudo, algumas observações que consideramos importante fazer em relação ao PE como um todo. Se retomarmos a primeira parte do PE –que trata do trabalho com o jornal –, veremos que o estudo centra-se em quatro direções: 1) análise de jornais; 2) análise e produção dos principais gêneros utilizados pelos jornais; 3) montagem de um jornal escrito; 4) exposição dos jornais produzidos para o público leitor. Dessas quatro direções propostas, podemos concluir que todas contemplam o trabalho de leitura, mas que os itens 2 e 3 contemplam, além da leitura, também a produção escrita. Por outro lado, devemos atentar ao fato de que quando o PE privilegia a “análise e produção dos principais gêneros utilizados

pelo jornal [...]”, não há critérios no PE que justifiquem essa escolha, a não ser a arbitrariedade da ocasião, ou o ponto de vista subjetivo da professora. Tanto é verdade que, mesmo que considerássemos os gêneros mencionados no PE como os principais, a expressão “etc” no final da lista rompe essa lógica porque sugere a infinidade e não um número determinado.

Se avançarmos para a segunda e a terceira parte, veremos que ambas também contemplam, em seus respectivos projetos, o trabalho com leitura: a segunda parte contemplando a leitura e análise literária de livros para-didáticos, e a terceira, a leitura de uma obra específica.

No início desta seção, havíamos dito que essas três primeiras partes – as que propõem três projetos de trabalho – possuíam objetivos comuns. A questão que colocamos é que praticamente todos os objetivos apresentados como referentes às três primeiras partes – aos projetos – dizem respeito essencialmente às atividades de leitura:

Objetivos dos projetos:

Formar leitores críticos e competentes na sua comunicação oral e escrita, possibilitando-lhes uma interação social.

Desenvolver estratégias de leitura: explicitação do conteúdo implícito, levantamento de hipóteses, relações de causa e conseqüência, de temporalidade e espacialidade; transferência, síntese, generalização, tradução de símbolos, relações entre forma e conteúdo, etc.

Refletir sobre a juventude: seus valores, sua relação com a vida, seu sentimento de

onipotência, suas contradições, etc. Desenvolver o hábito da leitura.

Ler por prazer.

Nesse sentido, as atividades de produção de texto presentes como sugestão de trabalho na primeira parte – no projeto de trabalho com o jornal –, mais especificamente nos itens 2 e 3:

I Projeto: Utilização de jornal como ferramenta de trabalho.

1. Análise de jornais: da primeira página; dos cadernos que compõem o jornal; das diferentes seções; da linguagem; do público a que se destina; da imagem; da relação entre texto, imagem, legenda; do projeto gráfico; da ilustração, das manchetes e dos diferentes tipos de letras; etc.

2. Análise e produção dos principais gêneros utilizados pelos jornais: notícias, reportagens, editoriais, crônicas, entrevistas, anúncios e propagandas, críticas, etc.

3. Montagem de um jornal escrito. Em grupo, no laboratório de informática. O