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1.3 As ações do Governo Vargas de apoio à indústria Nacional

1.3.4 Política Cambial

A despeito da política cambial executada pelas autoridades econômicas (Ministério da Fazenda e pela SUMOC), mesmo quando se evidenciaram limitações de curto prazo, tanto externas quanto internas, o Governo procurou manter uma política econômico-financeira de estímulo à industrialização (BASTOS, 2005, 2011; FONSECA, 1989; IANNI, 1971, OLIVEIRA, 1984). Para isto, a fim de garantir o equilíbrio das contas externas e de proteger a indústria nacional, foi mantido o regime de cotas de câmbio para importações, no qual a

paridade cambial foi fixada em Cr$ 18,50/US$, taxa considerada sobrevalorizada11; além do mais, as divisas eram negociadas segundo um sistema escalonado de licenciamento, o qual estabelecia uma ordem de prioridades para os bens a serem importados, dando prioridade aos bens considerados “essenciais ao desenvolvimento econômico” sem similares produzidos nacionalmente em detrimentos de bens de consumo, principalmente de luxo, considerados “supérfluos”.

Teoricamente, podia-se importar qualquer tipo de mercadoria, mas os interessados deviam inscrever-se em listas de espera por categorias, estabelecidas de acordo com um sistema de prioridades fixadas pela Carteira de Exportação e Importação do Banco do Brasil (CEXIM), incumbida de manejar todo o sistema de licenciamento. Podiam ser importados livremente artigos essenciais, como remédios, inseticidas e fertilizantes, e tinham prioridade no licenciamento certos bens, como combustíveis, gêneros alimentícios básicos, cimento, papel, equipamento tipográfico e maquinaria. No outro extremo, desencorajava-se a importação de bens de consumo, considerados supérfluos, através de sua inclusão em intermináveis listas de espera. (IANNI, 1971. p. 118).

Assim, a política cumpriu as orientações presidenciais, destinando reservas cambiais para financiar importações de bens de capital e insumos que aumentaram muito nos anos de 1951 e 1952, quando os agentes internos esperavam a eminente eclosão de uma nova crise geopolítica de restrições comerciais e financeiras advindas do possível conflito armado no continente asiático, a Guerra das Coreias (BASTOS, 2011; IANNI, 1971). Isso porque tal evento estava enquadrado em um cenário de provável acirramento da Guerra Fria, com possíveis repercussões em âmbito global, que desencadeassem o interrompimento do fluxo de mercadorias transacionadas internacionalmente. O maior temor era que a inflexão do comércio internacional provavelmente provocaria escassez de bens importados, sobretudo bens de capital e insumos estrangeiros necessários à manutenção e aceleração do ritmo de desenvolvimento industrial e econômico. Neste sentido, para BASTOS (2011), IANNI (1971) e OLIVEIRA (1984), é de suma importância salientar que nos sete primeiros meses do Governo Vargas foi notório o relaxamento de concessão das cotas de importação.

Este esquema de licenciamentos hierarquizados foi substituído apenas em 1953, quando foi homologada a instituição da Instrução 70 da SUMOC, que oficializava a compartimentalização em cinco categorias de importações, sobretaxando as importações classificadas de menos essenciais, através da adoção de uma taxa cambial valorizada, além de subsidiar, agora, via taxas cambiais menores, ou desvalorizadas, as importações consideradas essenciais. Também estava incluída nesta Instrução a categoria de câmbio subsidiada e

11 Uma vez que tal paridade detinha valor similar ao visto em 1938 e que neste período, de treze anos, a inflação acumulada foi de aproximadamente 400%, crescendo a uma taxa anual de 11,9% (FONSECA, 1989, p. 374).

destinava a estimular as exportações, tornando-as mais competitivas em relação aos produtos estrangeiros (FONSECA, 1989; IANNI, 1971).

Ianni (1971, p. 118) alegou que a política cambial de categorias com taxas diferenciadas foi “destinada a melhorar a capacidade de exportação de produtos brasileiros, além de garantir prioridade para as importações de bens essenciais”.

Por sua vez, Fonseca (1989), em análise aos impactos da nova política cambial, elencou a necessidade de se reequilibrar o deficitário balanço de pagamentos, “ferindo ao mínimo os compromissos desenvolvimentistas” (FONSECA, 1989, p. 394), no qual tinha acumulado, até 1953, cerca de 700 milhões em atrasados comerciais. O autor explicou que uma das razões para que se lançasse uma política de reequilíbrio das contas externas foi a necessidade de quitação dos atrasados comerciais para que o País pudesse cumprir os acordos selados junto ao Eximbank, podendo assim normalizar o envio da segunda parcela do empréstimo, previsto nas negociações da CMBEU, de US$ 300 milhões, até então suspenso pela instituição bancária.

Como visto na Tabela 7, salvo os anos de 1951 e 1952, em que se pôde observar um aumento das importações em razão da política de relaxamento das cotas de importação ocorrido nos primeiros sete meses de 1951, tendo impacto em 1952 devido ao prazo de vencimentos destas (cuja validade poderia ser de até um ano), nos demais anos o saldo da balança comercial foi superavitário. O que comprovou que o Governo não se eximiu da tarefa de controlar importações e exportações em moedas conversíveis e inconversíveis (FONSECA, 1989, p. 390).

Tabela 7 – Exportação, Importação e Saldos na Balança Comercial – 1949-1954 (US$ milhões)

Anos Exportação FOB Importação FOB Saldo

1949 1.100 947 153

1950 1.359 934 425

1951 1.771 1.763 68

1952 1.416 1.701 -286

1953 1.540 1.116 424

Fonte: CONJUNTURA ECONÔMICA, 1973 apud FONSECA, 1989, p. 390

Além do mais, mesmo com o saldo visto, Fonseca (1989, p. 390-391) confere ao crescimento vertiginoso das importações a partir de 1951 como uma evidência de que o Governo destacava apoio às importações, sobretudo de bens essenciais à manutenção do ritmo de crescimento econômico e industrial.

Os interesses superiores do desenvolvimento econômico obrigam a que, na política de importações, a liberação no licenciamento incida predominantemente sobre os bens de produção que, conquanto aumentem a capacidade do país a longo ou médio prazo, nem sempre redundam em aumento imediato da oferta de bens de consumo. (VARGAS, 1954, p.188 apud FONSECA, 1989, p 392, rodapé).