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cenário e perspectivas

POLÍTICAS CULTURAIS PARA A MODA

Além das considerações conceituais já mencionadas, vale ressaltar que uma certa cultura mundial tem favorecido o crescimento da área de Moda, através de uma nova concepção do setor e do fenômeno moda em sua am- plitude. É visto, hoje, como um grande negócio, abrangendo mercados

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bastante diversificados como, por exemplo, mercado editorial, metalúrgi- co, artístico, além dos nichos de mercado específicos ao setor do vestuá- rio (feminino, masculino, infantil, adolescente etc.) e ao setor de produção de cama, mesa e banho. Em decorrência dessa transformação de “visão da moda”, houve um grande desenvolvimento da área no Brasil.

Um pensamento mais abrangente sobre moda apareceu no Brasil com maior destaque, sobretudo na última década, ligando a dimensão simbó- lica e criativa à econômica e envolvendo os atores sociais do setor, através da inserção da moda na pasta de cultura do governo. Essa iniciativa teve na ampliação do conceito de cultura, a partir da gestão do então ministro da Cultura Gilberto Gil (2003-2008), e nas instâncias de participação social, os principais motivadores. Uma série de ações do Ministério da Cultura (MinC) permitiu a cada setor criativo contribuir de maneira mais próxima na elaboração de políticas públicas, entendendo a cultura como estratégica para o desenvolvimento social, político e econômico.

Uma das instâncias de participação dos setores e segmentos criativos em âmbito governamental aparece na reestruturação do Conselho Nacio- nal de Política Cultural (CNPC), em 2005.1 O CNPC é um órgão colegiado integrante da estrutura básica do MinC e tem como finalidade a proposi- ção e formulação de políticas públicas para desenvolver e fomentar as ati- vidades culturais no Brasil. (BRASIL, 2010b) Apesar de ter sido instalado oficialmente no final de 2007, em momentos anteriores o CNPC contri- buiu nas discussões das políticas culturais, sendo de grande importância para o início da organização do setor da moda no âmbito do MinC; vale destacar que o CNPC foi construído deste então por Grupos de Trabalho (GTs) e Colegiados Setoriais – inclusive, pelo GT de Moda e, atualmente, pelo Colegiado Setorial de Moda –, pela Conferência Nacional de Cultura (CNC), entre outros.

DIMENSÕE S CRIA TIV A S D A E C ONOMIA D A CUL TURA

A I Conferência Nacional de Cultura, realizada em 2005, foi uma das ações do MinC com vistas à discussão da política de cultura brasileira e para a elaboração do Plano Nacional de Cultura2 (PNC). As propostas de ação apresentadas na Conferência, provenientes de seminários e pré-con- ferências setoriais por todo o país, promoveram diálogo entre a sociedade civil, os setores culturais e o governo, culminando em diretrizes para a po- lítica de cultura nacional. A II Conferência Nacional de Cultura, em 2010, foi especialmente interessante para o setor da moda, quando o MinC in- cluiu o eixo Economia Criativa para a construção de estratégias setoriais, “com o objetivo de levantar demandas, realizar diagnósticos e constituir colegiados de setores como o da moda, do design, da arquitetura e do ar- tesanato.” (BRASIL, 2011, p. 23) Assim, na ocasião, os Colegiados Setoriais do CNPC e Grupos de Trabalho de setores, como o então GT da Moda, apresentaram propostas oriundas de pré-conferências setoriais. Ainda, foi aprovada a carta manifesto “A cultura está na moda (moção 23)” que, den- tre outros aspectos, afirmava que “a cultura está na moda e a moda está na cultura” e indicava a aproximação do setor a outros, como “a cultura popu- lar, a música, a arte visual e digital, a arquitetura, etc.” (MESQUITA, 2010) Como continuação das discussões sobre as políticas setoriais para a moda, o Ministério da Cultura organizou o I Seminário de Cultura de Moda,3 que aconteceu em Salvador, em setembro de 2010. O evento con- tou com discussões no campo da Moda em mesas temáticas sobre diver- sidade cultural, economia global, sustentabilidade, questões contempo- râneas e vieses da moda, circuitos regionais e políticas culturais. Foram elencadas 25 diretrizes para o setor, divididas nos eixos institucional/asso- ciativo, criativo e empresarial.

Ainda como parte desse Seminário, foi realizada a eleição dos mem- bros para a primeira gestão do Colegiado Setorial de Moda do Conselho

2 Instituído pela Lei n.º 12.343, de 2 de dezembro de 2010, implementado a partir de 2011. 3 Memória do seminário em: <http://culturadigital.br/setorialmoda>.

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Nacional de Política Cultural (CNPC), substituindo o GT Moda. O Cole- giado Setorial de Moda é composto por 15 representantes da sociedade civil organizada (das regiões brasileiras e de três segmentos da cadeia pro- dutiva da moda – criativo, associativo/institucional e empresarial) e cinco representantes do Poder Público (técnicos e especialistas indicados pelo Ministério da Cultura). Vale dizer que, na atual composição do Colegiado Setorial de Moda (2012-2014), são membros do poder público represen- tantes da Fundação Nacional das Artes (Funarte), do Ministério do Desen- volvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), da Secretaria da Eco- nomia Criativa (SEC) do Ministério da Cultura, do Fórum Nacional dos Secretários e Dirigentes Estaduais de Cultura, e do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

Das competências do Colegiado de Moda, são, no total, 19 itens do Re- gimento Interno (BRASIL, 2014), que incluem preservação de acervos, di- namização de arranjos produtivos, incentivo de criação de redes e promo- ção de atividades de formação, e estudos e diagnósticos do setor, além de “debater, analisar, acompanhar, solicitar informações e fornecer subsídios ao CNPC para a definição de políticas, diretrizes e estratégias relacionadas a Moda” e “elaborar e revisar o Plano Nacional de Moda e, acompanhar e avaliar suas diretrizes”. (BRASIL, 2014)

A série de ações realizadas pelo MinC até então, no sentido de forma- tar grupos de trabalho e colegiados setoriais e discutir políticas públicas de cultura a partir das demandas específicas de cada setor, culminou na con- solidação do Plano Nacional de Cultura (PNC),4 em 2010. Nas estratégias e ações contidas em seu Capítulo II – “Da diversidade reconhecer e valorizar a diversidade proteger e promover as artes e expressões culturais” (BRA- SIL, 2010a), constam os seguintes indicativos relacionados à moda:

DIMENSÕE S CRIA TIV A S D A E C ONOMIA D A CUL TURA

2.1.13 Incentivar projetos de moda e vestuário que promovam conceitos estéticos baseados na diversidade e na aceitação social dos diferentes tipos físicos e de suas formas de expressão.

2.5.13 Promover e fomentar iniciativas de preservação da memória da moda, do vestuário e do design no Brasil, contribuindo para a valorização das práticas artesanais e industriais, rurais e urbanas.

As discussões para a construção do PNC fomentaram outra vertente de ações do Ministério da Cultura em que a moda está especialmente re- lacionada à criação da Secretaria da Economia Criativa (SEC).5 Segundo o Plano dessa Secretaria (2011-2014), até então as dimensões simbólica e cidadã previstas no PNC se desenvolveram, mas a econômica “careceu de políticas públicas para sua efetivação. Essa estratégia passa a ser assumida pela Secretaria da Economia Criativa como seu maior objetivo.” (BRASIL, 2011, p. 39) Ainda, dentre os principais objetivos da SEC, estão a capacita- ção e assistência ao trabalhador da cultura, o estímulo ao desenvolvimento da Economia da Cultura, o turismo cultural e a regulação econômica.

Para trabalhar nas discussões e ações sobre Economia Criativa no âm- bito da realidade do Brasil, a SEC parte dos princípios da inclusão social, sustentabilidade, inovação e diversidade cultural brasileira e traz a econo- mia criativa como uma alternativa de desenvolvimento,

partindo das dinâmicas culturais, sociais e econômicas construídas a partir do ciclo de criação, produção, distribuição/circulação/difusão e consumo/ fruição de bens e serviços oriundos dos setores criativos, caracterizados pela prevalência de sua dimensão simbólica. (BRASIL, 2011, p. 23)

Deste modo, as políticas públicas voltadas àqueles setores de “nature- za tipicamente cultural (patrimônio, expressões culturais, artes de espetá- culo, audiovisual e livro, leitura e literatura)” foram ampliadas e incluem também os “setores de base cultural, com um viés de aplicabilidade fun- cional (moda, design, arquitetura, artesanato).” (BRASIL, 2011, p. 30) Se-

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gundo o Plano da SEC, para o Ministério da Cultura são cinco as categorias culturais: os campos do patrimônio; das expressões culturais; das artes de espetáculo; do audiovisual/livro, literatura e leitura; e das criações cultu- rais e funcionais. Neste último campo estão os setores do Design, da Ar- quitetura e da Moda.

No Plano da SEC, a moda também está entre os objetos de parceria dessa Secretaria com outros ministérios, como o Ministério do Desenvolvimento, da Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e outras secretarias do Sistema MinC, como a Secretaria de Audiovisual (SAV). No texto do Plano, a moda aparece na previsão de ações e produtos da SEC, que pretende o fomento a empreendimentos criativos através das Criativas Birô. Vale lembrar que, ainda no âmbito do Ministério da Cultura, a moda tem possibilidade de se encaixar em quatro eixos – projetos de internacionalização, tradição bra- sileira, preservação de acervo e formação de estilista/capacitação – da Lei Rouanet, mecanismo de fomento à cultura através de isenção tributária.6

Um passo importante para a consolidação de políticas de cultura es- pecíficas para a moda aconteceu no final do ano de 2014, quando o Plano Setorial de Moda, de autoria do Colegiado Setorial de Moda do CNPC, foi lançado para consulta pública.7 A proposta, estruturada em cinco eixos – memória; educação; produção, promoção e difusão; fomento; e institucio- nalização – prevê objetivos, estratégias, metas e ações para o setor.