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Politicas de educação bilíngue intercultural na década de 1980 Nesta seção continuo desenvolvendo o desenvolvimento das

IDEOLÓGICAS: CULTURAS E IDENTIDADE LOCAIS NAS POLÍTICAS LINGUÍSTICAS

3.3 POLÍTICAS LINGUÍSTICAS NO PERÍODO REPUBLICANO 99 : A BUSCA PELA CONSTITUIÇÃO DE “UMA NAÇÃO

3.3.2 Politicas de educação bilíngue intercultural na década de 1980 Nesta seção continuo desenvolvendo o desenvolvimento das

políticas de educação intercultural no sistema educativo peruano em paralelo com o desenvolvimento da educação bilíngue como direito dos povos indígenas impulsionados pelos movimentos internacional indígena, organismo internacionais e ONGs.

Nos anos 80 houve uma acentuada crise econômica devido às intenções do governo em regular o comércio internacional em tempos em que as políticas do capitalismo econômico internacional tendiam a reduzir a intervenção dos estados no livre mercado internacional. Deu- se, assim, uma contradição entre o incentivo educacional e o gasto reduzido no setor educativo.

Como política de Estado, se recusa toda forma de “neoimperialismo, neocolonialismo e toda forma de discriminação racial. Essa disposição inscrita no art. n°88 da Constitución Politica del Peru de 1979 –vigente desde inicios da década de 80- dá luzes sobre os movimentos políticos da época que repercutirão com mais força nos conflitos sociais dos anos 90. No documento aqui referido, foi reconhecida a igualdade ante a lei sem distinção de raça ou idioma (art n°2), e foram oficializadas as duas línguas maioritárias: quéchua e aymara, em zonas estabelecidas pela lei e não num estado de direito.

O castelhano é a língua oficial da República. Também são de uso oficial o quéchua e o aymara em zonas e na forma que a lei estabelece. As outras línguas aborígenes integram assim mesmo o patrimônio cultural da nação. (CONSTITUCIÓN POLÍTICA DEL PERU DE 1979, art. n°83)114

114 Tradução minha. No original. “El castellano es el idioma oficial de la República. También son de uso oficial el quechua y el aymara en las zonas y la forma que la ley establece. Las demás lenguas aborígenes integran asimismo el patrimonio cultural de la nación” (CONSTITUCIÓN POLÍTICA DEL PERU DE 1979, art. n°83).

Em concordância com essa lei, procurou-se garantir, portanto, o direito das comunidades nativas a receber educação primária “também” em sua própria língua,

O Estado promove o estudo e conhecimento das línguas aborígenes. Garante o direito das comunidades quéchua, aymara e outras comunidades nativas a receber educação primária também no seu próprio idioma ou língua (CONSTITUCIÓN POLÍTICA DEL PERU DE 1979, art. n°35).115

Importa refletir sobre o modo como a lei é representada, uma vez que o advérbio „também‟ no texto parece não exigir a obrigação ou a total responsabilidade do estado. Essa orientação, expressada no artigo citado da Constitución Política de 1979 faz com que compromissos formais de promover a educação bilíngue sejam modalizados, e por outro lado, no artigo n° 34 pode-se perceber que há uma orientação de preservar a autenticidade das culturas nativas em relação a sua expressão folclórica116 –arte popular e artesanato- o que seria benéfico, caso tais manifestações culturais não fossem reificadas na identidade dos povos nativos.

Com base nas disposições da Constitución de 1979 referidas anteriormente, se estabeleceu a Ley General de Educación N° 23384 de 1982 que, no referente á educação bilíngue, estabelece:

115 Tradução minha. No original: “El Estado promueve el estudio y conocimiento de las lenguas aborígenes. Garantiza el derecho de las comunidades quechuas, aymara y demás comunidades nativas a recibir educación primaria también en su propio idioma o lengua” (CONSTITUCIÓN POLÍTICA DEL PERU DE 1979, art. n°35).

116 “El Estado preserva y estimula las manifestaciones de las culturas nativas, así como las peculiares y genuinas del folklore nacional, el arte popular y la artesanía” (CONSTITUCIÓN POLÍTICA DEL PERU DE 1979, art. n°34).

Nas comunidades cuja língua é o castelhano se inicia esta educação em língua autóctone com tendência à castelhanização progressiva a fim de consolidar no educando suas características socioculturais com aquelas que são próprias da comunidade moderna.

(LEY GENERAL DE EDUCACIÓN, 1982, n° 23384, art. 40).117

Segundo se observa no texto, implementou-se uma educação bilingüe assimilacionista de transição na qual se consolidaram particularidades socioculturais no nível primário com as características da sociedade moderna trazidas com o espanhol. Sete anos após essa implementação, o componente intercultural foi agregado pela primeira vez à educação com a Política de Educación Bilingue Intercultural118 (doravante PEBI) de 1989:

117 Tradução minha. No original “En las comunidades cuya lengua no es el castellano se inicia esta educación en lengua autóctona con tendencia a la castellanización progresiva a fin de consolidar en el educando sus características socio-culturales con las que son propias de la sociedad moderna (LEY GENERAL DE EDUCACIÓN,1982 n° 23384, art. 40).

118 A denominação de educação bilíngue intercultural tem procedência da reunião indigenista de Pátzcuaro, México em 1980.

A Educação Bilingue Intercultural peruana se concebe como aquela que, além de formar sujeitos bilíngues com ótima competência comunicativa em sua língua materna e em castelhano, possibilita a identificação com sua cultura de origem e o reconhecimento de outras culturas que poderiam constituir um valioso aporte para o melhoramento qualitativo de seu nível de vida e de sua comunidade, enriquecendo assim sua própria cultura. Com isto se aspira a equiparar as possibilidades, a entender o orgulho por sua própria cultura e fomentá-la, e possibilitar que o educando se oriente entre as outras culturas com segurança e confiança em si mesmo (POLITICA

DE EDUCACIÓN BILINGÜE

INTERCULTURAL, 1989).119

Porém, de acordo com o texto, esse aspecto intercultural só atingiu a educação do vernáculo dos falantes e não a todo o sistema educativo. Tanto a Ley General de educación de 1982 e as PEBI de 1989 delegaram o exercício da interculturalidade às populações indígenas. Assim, estabeleceu-se que a „identificação‟ com a „cultura de origem‟ seria reforçada nos primeiros ciclos de ensino básico através da língua materna dos alunos, visando facilitar a castelhanizacão nas etapas posteriores, de modo a possibilitar uma maior inserção na sociedade formal moderna. A valoração negativa pela população das zonas urbanas em relação à população nativa e rural não foi nunca reconhecido como um problema a ser superado formalmente. Consequentemente, nada foi feito para superar a exclusão e discriminação étnico-racial arraigada no pensamento colonial peruano. O fato de a EIB ficar restrita ao nível primário e rural-indígena projeta uma situação na qual as línguas

119 Tradução minha. No original: “La Educación Bilingüe Intercultural peruana se concibe como aquella que, además de formar sujetos bilingües con óptima competencia comunicativa en su lengua materna y en castellano, posibilita la identificación con su cultura de origen y el conocimiento de otras culturas que podrían constituir un valioso aporte para el mejoramiento cualitativo de su nivel de vida y de su comunidad, enriqueciendo así su propia cultura. Con esto se aspira a equiparar las posibilidades, a entender el orgullo por la propia cultura y fomentarla, y a posibilitar que el educando se oriente entre las otras culturas con seguridad y confianza en sí mismo” (POLITICA DE EDUCACIÓN BILINGÜE INTERCULTURAL, 1989).

originárias teriam uso no entorno familiar, sendo que o castelhano implicaria a continuação de estudos superiores.

Na continuação, antes de apresentar as políticas de educação intercultural Bilíngue dos anos 90, continuarei discutindo como as políticas de EIB se direcionam a reinvindicar culturas e línguas dos povos originários e faço uns parênteses para a revisão de um documento fundamental a convenção 169 da Organização Mundial do Trabalho (doravante OIT) que orientou as políticas dessa década até a atualidade sobre os direitos dos povos indígenas e os compromissos que deverão assumir os Estados adscritos a esta convenção.120

3.3.3 A convenção N°169 da Organização Internacional do Trabalho