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2. Organizações no Agronegócio de Base Econômica Familiar

2.4. Pontos de Alavancagem para a Gestão de Sistemas Complexos

internos e blocos de construção e também os efeitos multiplicador e reciclador, que

fornecem aos sistemas complexos grande capacidade de aprendizagem e coerência quando sob mudança. Entretanto, requerem dos gestores ações coerentes com esse paradigma. A esse respeito, Holland descreve:

Sistemas complexos são bastante diferentes da maioria dos sistemas que têm sido cientificamente estudados. Eles exibem coerência sob mudança, via ação condicional e previsão e eles fazem isso sem direção central. Ao mesmo tempo, parece que sistemas complexos adaptativos têm pontos de alavancagem, onde pequenas quantidades de input produzem grandes e direcionadas mudanças. (HOLLAND, 1996)

Esses pontos são conseqüência natural dos efeitos multiplicador e reciclador, e, portanto, são chaves para a gestão. Com eles pode-se fomentar o desenvolvimento das redes seguindo-os como premissas gerenciais. Segundo Agostinho (2003), pode-se influenciar o comportamento de sistemas complexos adaptativos através de ações gerenciais direcionadas a certos pontos de alavancagem. Dessa forma, é possível gerenciar o processo de auto- organização. Como lembram Kely; Allison (1999 apud AGOSTINHO 2003), quer se queira ou não, quer se goste ou não, nossos negócios e organizações são formados por sistemas auto- organizados. Seria aconselhável, portanto, aprender a trabalhar com esses sistemas, em vez de ir contra eles.

Agostinho (2003), a partir da premissa de que é possível orientar externamente o destino de uma organização tirando proveito de sua capacidade auto-organizativa, propõe um modelo de gestão denominado Gestão Autônoma. Entretanto, a autora ressalta que isso implica transformação, tanto na concepção de organização quanto em seu modo de gestão, pois grande parte do esforço da administração clássica, atualmente em uso, vai no sentido de restringir a auto-organização.

2.4.1. Princípios da gestão autônoma

Segundo Agostinho (2003), há quatro propriedades-chave do gerenciamento de um sistema complexo adaptativo: autonomia, cooperação, agregação e auto-organização. A seguir, uma descrição sintética:

• A autonomia estabelece que todos os membros da organização sejam tomadores de decisão, sendo orientados por suas próprias capacidades de julgamento a respeito do que percebem do ambiente ao redor.

• A cooperação estabelece que a direção da organização crie condições para que relações colaborativas e de reciprocidade surjam espontaneamente na rede existente.

• A agregação estabelece que as fronteiras de um agregado – seja um setor, uma equipe, um departamento etc. – definem o universo de ação autônoma. Assim, dentro desse limite estabelecido, os indivíduos têm autonomia para se organizarem, atribuindo mutuamente suas funções para atrair, selecionar e desligar seus pares.

• A auto-organização estabelece que a direção da organização informe o resultado das ações aos atores e esses, se necessário, ajustam seu comportamento. Em outras palavras, a direção fomenta a criação de mecanismos eficientes de feedback e garante a legitimidade da autonomia dos indivíduos.

Da ação individual ao desempenho sistêmico, tais propriedades se relacionam da seguinte forma:

Indivíduos autônomos, capazes de aprender e de se adaptarem, cooperam entre si obtendo vantagens adaptativas. Tal comportamento tende a ser selecionado e reproduzido, chegando ao ponto em que estes indivíduos cooperativos se unem formando um agregado que também passa a se comportar como um indivíduo e assim por diante. Diz-se, então que o sistema resultante se auto-organiza, fazendo emergir um comportamento global cujo desempenho também é avaliado por pressão de seleção presente no ambiente (AGOSTINHO, 2003).

Todos esses princípios são aplicáveis às organizações do ABEF. Conforme já destacado, a autonomia é um princípio intrínseco dos atores das organizações do ABEF, pois, em conjunto com suas famílias, cuidam da produção de suas propriedades, ou melhor, de sua agregação. A cooperação surge das relações de confiaça e a auto-organização cria o fluxo. Portanto, mais uma vez ressalta-se agora, os princípios da gestão autônoma de sistemas complexos: Confiança e auto-organização. Segue um detalhamento para melhor entender os componentes da criação da auto-organização.

Princípios da auto-organização

Por sua relevância para o gerenciamento de sistemas complexos, a auto-organização será usada como uma dimensão a ser considerada no estudo das redes sociais. Wheatley (2006) detalha a seguir os princípios básicos da auto-organização (Figura 1): identidade,

informação e relações entre as pessoas:

• Identidade - Capacidade geradora de sentido da organização: seu intento, o propósito de sua individualidade. A organização ocorre em volta de sua identidade, uma individualidade que se organiza. Posta em movimento, essa identidade se torna o processo gerador de sentido da organização. Ao decidir o que fazer, o sistema se reporta ao seu senso de identidade. Todos nós interpretamos acontecimentos e dados de acordo com o que pensamos que somos. Não “conhecemos” simplesmente o mundo: nós criamos mundos com base no significado que investimos e na informação que escolhemos perceber. Então, tudo o que sabemos é determinado pelo que pensamos que somos.

• Informação - A vida usa a informação para se organizar em forma material. Em geral, a informação que flui abertamente por uma organização parece caótica, mas é o nutriente da auto-organização. É só quando a informação pertence a todos que as pessoas podem se organizar de maneira rápida e eficaz em torno de mudanças de ambiente e de mudanças relativas aos clientes e à concorrência. Quando a informação é amplamente disponível, pessoas diferentes vêem coisas diferentes, enriquecendo os pontos de vista sobre o mesmo objeto. É a informação - não planejada, não controlada, abundante, supérflua – que cria as condições para o surgimento de respostas rápidas, eficazes e bem integradas.

• Relações - As relações entre as pessoas são os caminhos que levam à inteligência do sistema. Por elas, as informações são criadas e transformadas e a identidade se expande para incluir outras partes interessadas, tornando o empreendimento mais inteligente. Quanto mais acesso as pessoas têm umas às outras, cresce a diversidade e a possibilidade de realizações e inovações. Nos sistemas que se auto- organizam, todos tem acesso a todos: para realizarem seus trabalhos, as

pessoas precisam ter liberdade de alcançar qualquer um da organização, independente da posição que ocupem.

Figura 1. Auto-organização e complexidade Fonte: elaborado pelo autor.

Embora as organizações assumam diferentes formas, elas surgem e se auto-organizam basicamente em condições semelhantes: uma individualidade se organiza, um mundo de significados compartilhados se desenvolve, redes de relacionamento tomam forma, informações são percebidas, interpretadas, transformadas. Dessas dinâmicas simples surgem expressões amplamente diferentes de organização (Wheatley, 2006).

Complexidade

O todo é ao mesmo tempo maior e menor do que a soma de suas partes. Aquele que produz o produto produz, ao mesmo tempo, a si

próprio. O produto é produto daquilo que o produz. Edgar Morin

Esses três domínios são fundamentais para a auto-organização. Em organizações, se o foco estiver centrado apenas na identidade não haverá existência; se for na informação, não haverá ação; e, finalmente, se for apenas nas relações, não haverá sentido. Portanto, é na síntese desses três princípios básicos que se cria a auto-organização, que todos os líderes almejam.

Os domínios da auto-organização complementam as outras propriedades-chaves: autonomia, cooperação e agregação, uma vez que estas estão relacionadas à estruturação da rede e aos objetivos individuais, enquanto aqueles domínios estão relacionados à dinâmica da organização e aos objetivos globais.