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CAPS i atende crianças e adolescentes com transtornos mentais graves e persistentes e os que fazem uso de crack, álcool e outras drogas Serviço aberto e de caráter

4. A CONSTRUTIVIDADE DO PROJETO TERAPÊUTICO: DAS NORMAS ÀS RENORMALIZAÇÕES

4.1 O CAPS II ad: o Projeto institucional

4.1.2 População trabalhadora

De acordo com a Portaria 336/02 (BRASIL, 2002), a equipe de um CAPS deve variar conforme sua modalidade e complexidade. Para o CAPS II ad, a equipe mínima para atendimento de 25 (vinte e cinco) pacientes por turno, tendo como limite máximo 45 (quarenta e cinco) pacientes/dia, deveria ser composta por:

a- 01 (um) médico psiquiatra;

b- 01 (um) enfermeiro com formação em saúde mental;

c- 01 (um) médico clínico, responsável pela triagem, avaliação e acompanhamento das intercorrências clínicas;

d- 04 (quatro) profissionais de nível superior entre as seguintes categorias profissionais: psicólogo, assistente social, enfermeiro, terapeuta ocupacional, pedagogo ou outro profissional necessário ao projeto terapêutico;

e- 06 (seis) profissionais de nível médio: técnico e/ou auxiliar de enfermagem, técnico administrativo, técnico educacional e artesão.

O CAPS ad estudado contava com um gerente que tem formação de psicólogo, mas que exercia somente função administrativa na unidade. O gerente respondia a uma coordenação municipal de saúde mental, composta por um psiquiatra e um psicólogo e estes, à Secretaria de Saúde da Prefeitura Municipal. Possuía uma equipe de profissionais de nível superior, denominados Técnicos Superiores de Saúde (TSS), dentre os quais, três terapeutas ocupacionais, quatro psicólogos, três enfermeiros, dois assistentes sociais; uma equipe médica

com dois médicos clínicos; uma equipe de dezenove técnicos e auxiliares de enfermagem e uma equipe de apoio: dois porteiros, dois motoristas, profissionais de serviços gerais, auxiliares administrativos, conforme mostra o organograma na FIG.6.

O CAPS ad dispunha também de funcionários “emprestados” de outros serviços de saúde como um educador físico, que atua em dois períodos da semana e um auxiliar de manutenção que cumpre 40 horas semanais. No início das observações, havia um psiquiatra que cumpria 40 horas semanais, mas que pediu demissão. Segundo a gerência, o número de médicos estava em defasagem. De acordo com o projeto institucional, deveriam ser cinco médicos, entre generalistas ou clínicos e psiquiatras, em regime de 20 horas semanais, mas apesar da possibilidade institucional para contratação, no período da observação, não se alocou novos profissionais e um dos médicos clínicos saiu de licença-maternidade. No encerramento das observações, restava apenas um médico generalista cumprindo 20h/semanais.

A política de contratação era através de concurso público municipal, no entanto, todos eram concursados, exceto os terapeutas ocupacionais e um dos médicos, que foram

Figura 6: Organograma do CAPS ad Fonte: elaborado pela autora

contratados temporariamente através da análise de currículo ou indicações. No caso dos terapeutas ocupacionais, os concursos estiveram sob judice por onze anos e no dos médicos, a situação se devia provavelmente à rotatividade desses profissionais. Verificou-se que no período de três anos de existência do serviço, seis médicos foram admitidos e apenas um permaneceu no serviço durante esse período, porém com carga horária reduzida. Outro setor em que foi relatada rotatividade foi o de farmácia.

A carga horária da gerente era de 40 horas, da equipe de profissionais de nível superior, 20 horas, divididas em quatro dias de cinco horas e os técnicos de enfermagem se revezavam em plantões de 12 por 36. Três técnicas de enfermagem eram diaristas, duas das quais, responsáveis pela dispensação de medicamentos, revezavam-se em turnos matutino e vespertino de segunda a sexta. Embora fosse desejável, o serviço não dispunha de um farmacêutico. A equipe de apoio também trabalhava em turnos.

A equipe de nível superior era heterogênea. Apenas dois profissionais eram do gênero masculino, um enfermeiro e um psicólogo. Os demais profissionais eram do gênero feminino. Quanto às idades, a maioria era relativamente jovem, entre 25 e 35 anos e grande parte estava no serviço há três anos, desde sua criação, embora um enfermeiro e um assistente social já trabalhassem como funcionários públicos no setor Saúde da Prefeitura Municipal há mais tempo. A maior parte tinha pós-graduação em Dependência Química ou Saúde Mental. Uma minoria possuía experiência anterior em outros CAPS ad da região metropolitana, consultório de rua, DST/AIDS ou clínica especializada em álcool e droga. A equipe de enfermagem também era composta da maioria de mulheres e dispunha de alguns profissionais cursando ou graduados em Enfermagem e com experiência anterior em outros serviços de saúde.

Observou-se que o CAPS ad dispunha de uma equipe com praticamente o triplo do número de profissionais definidos pela Portaria 336/02 para CAPS II, com exceção dos profissionais médicos. Apesar disso, considera-se que o número de profissionais, de um modo geral, estivesse se tornando insuficiente frente ao crescimento expressivo da demanda.

4.1.3 Perfil dos usuários

O objeto de trabalho da equipe multiprofissional do CAPS ad foi definido em reunião como “usuários com quadro de dependência ou uso abusivo e prejudicial de álcool e outras

drogas, conforme critérios descritos pelo CID 10 (OMS, 2000). Usuários com co-morbidades psiquiátricas devem ser referenciados para o CAPS de sua área territorial” (Diário de Campo).

No último levantamento institucional, referente a maio de 2011, o CAPS ad atendia em média 140 usuários, 50 dos quais em permanência-dia, ou seja, de modo intensivo e os demais, em atendimento ambulatorial. No período referido, eram realizados em média seis acolhimentos por dia. Esse número é crescente e, em outubro de 2011, já havia uma média de 80 pessoas em permanência-dia, com índice de absenteísmo em torno de 30%.

Desde a abertura do serviço já tinham sido acolhidos 2350 usuários no total. Trata-se de uma clientela bastante heterogênea, cuja maior parte é composta de homens, na faixa etária dos 40 anos. No entanto, a idade dos homens variava entre 19 e 71 anos e das mulheres, entre 20 e 63 anos, em maio de 2011.

Quanto à droga de uso, no mesmo período, 52% eram usuários de álcool, 32% de crack, 11% de múltiplas drogas, 5% de cocaína.

É importante ressaltar que o perfil social também se mostrou bastante variado. Havia tanto usuários em situação de extrema vulnerabilidade social, como os moradores de rua, quanto aqueles que tinham suporte familiar e vínculo com trabalho. Embora o serviço oferecesse acesso universal à população, seguindo as diretrizes do SUS, observou-se que o nível socioeconômico da maior parte dos usuários caracterizava-se como de baixa ou nenhuma renda.