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Positivismo: o método como caminho

No documento ARIETE NASULICZ E BELTRAMI (páginas 146-149)

6. REDENÇÃO: O ESPÍRITO DO DEVIR

6.3 Modernidade: o diálogo científico

6.3.2 Positivismo: o método como caminho

O Método filosófico é luz e trâmite na Humanidade. Sem o clarão do Método, as concepções da mente se podem metamorfosear em monstros. O Método é a chave do conhecimento. O Método é a lâmpada, o caminho para a luz, e a luz no caminho.

Dario Vellozo Comte é um dos pensadores do século XIX que exerceu grande influência na formação de Vellozo. O método positivista parece ser o ponto de apoio que sua obra oferece a ele. Selecionamos alguns trechos do Volume I das Obras Completas em que Vellozo exerce sua habilidade de interpretar, aproximar e reelaborar idéias.

No sistema de Política Positiva Augusto Comte assim se expressa: “Pitágoras realizou admiravelmente êste grande desígnio, instituindo disciplina sistemática a um tempo privada e pública. Assim surgiu, em escala restrita, mas decisiva, sistematização direta da vida humana, física, intelectual e moral.” (v. III, pág. 336).

Os pitagóricos, diz A. Comte, realizaram ativamente o tipo do verdadeiro poder espiritual, constituindo livremente, conforme contínuo respeito da sociabilidade real, as cidades que os consultavam espontaneamente, sem nunca participarem das magistraturas que estabelecem. (v. III, pág. 337)317

Mais adiante, no capítulo No jardim do templo do I.N.P., em À luz do método pitagórico diz Vellozo:

316

Ibidem, p. 394. 317

Meditados os livros de Platão e Aristóteles, ricos de ouro de idéias pitagóricas; estudados Descartes e Victor Cousin, - elucidativa a leitura do Livro Preliminar (Do Método, V. I) de O positivismo e a

Ciência experimental - do Abbade Broglie; idem, dos Prolegômenos sôbre o Método, da obra Significação histórica do Cristianismo – de

Clemente Ricci; idem, do Ultimum Organum – de J. Strada; idem, do

Método Geral e Científico – de jacques Brieu. Auferem do valor do

Método, coroa da Lógica, as lições do Dr. Euzébio Mota, grande e solitária luz da Filosofia, em terras paranaenses. (...) O método neo- pitagórico estuda os problemas sob os possíveis pontos de vista, concluindo, provisoriamente, de acôrdo com o conhecimento adquirido318.

(...)

Alfred Dubuisson é um dos executores testamentários de Augusto Comte. O Positivismo Integral foi redigido estudando em “sua fonte” as concepções do Filósofo.

Augusto Comte impregnou-se das doutrinas da Escola de Crótona, em mais de uma página da Política Positiva procurando render justiça ao valor de Pitágoras.

Em sua Síntese Subjetiva, (v. I., pág. 9), assim se expressa: “... A sabedoria final institue a sinergia em síntese fundada na simpatia, concebendo tôda atividade dirigida pelo amor a HARMONIA UNIVERSAL.”

O enunciado é genuinamente pitagórico. Se o coordenador da

Filosofia Positiva, nem sempre conclue de acôrdo com o filósofo de

Samos, - talvez porque perturbado pelo preconceito aristotélico; - é fato que, em suas concepções mais luminosas, muito se lhe aproxima.

Não fôra a crítica de Aristóteles que, por vêzes, tirou dos fragmentos pitagóricos conclusões incompatíveis com o espírito dos

Versos Dourados, quiçá as concepções de A. Comte, em relação aos

destinos do Homem, fôssem de todo idênticas às da Escola de

Crótona.

Nos pontos em que Aristóteles se afiniza a Platão, Comte se afiniza a Pitágoras.319

(...)

A lâmpada é chave do Saber é o Método Integral ou Método

neo-pitagórico. A missão especial do Instituto resume-se em

conservar incorruptível o MÉTODO, propagando-o. Nosso esfôrço, garantindo Nova Crótona pela agricultura e pelas artes, instruíndo e educando, cultivando a Ciência e a Filosofia, proporcionando ao Pitagórico a subsistência, o confôrto, a vida afetiva, estética e moral, tende a premunir o MÉTODO contra azares possíveis, sempre fatais ao gênero humano.

O Método filosófico é luz e trâmite na Humanidade.320

Não pretendemos aqui discutir a filosofia positivista de Comte. Pretendemos, com os fragmentos aqui escolhidos, demonstrar como Vellozo procede em relação às suas influências. Ele junta idéias antagônicas e reinterpreta conforme o seu 318 Ibidem, p. 55 e 56. 319 Ibidem, p. 92. 320 Ibidem, p. 265.

entendimento. Ele alia o método positivista comtista ao método pitagórico, mesmo que por vezes os métodos se contradigam. Ele mesmo afirma que aproxima “as concepções mais luminosas” de ambos os métodos e “Nos pontos em que Aristóteles se afiniza a Platão, Comte se afiniza a Pitágoras”.

Neste outro fragmento podemos ver como Vellozo rearranja o enunciado acerca do método de Comte ao método de Papus, sem poupar inter-relações.321

Diz Papus; - “O methodo principal da Sciencia Occulta é a

analogia. Pela analogia se determinam as relações que existem entre

os phenomenos.

Dado o estudo do homem, trez methodos principaes podem levar ao fim:

Pode-se estudar o homem em sua vida, em sua intelligencia, no que se chama a sua alma: é o estudo do invizivel, o estudo por deducção.

Pode-se emfim, reunindo estes dous methodos, considerar a relação que existe entre os orgãos e a funcção, ou entre duas funcções, ou entre dous orgãos: é o estudo por analogia.

O methodo analogico não é pois, nem a deducção, nem a inducção; é a applicação lucida que resulta da união destes dous

methodos.” (Science Occulte.)

3º. – Nem se ajusta inteiramente a Philosophia ou Sciencia Espirita o quaternario occultista: Saber, Querer, Ouzar, Calar.

“Saber, Querer, Ouzar, sim: - mas nunca sepultar no Sigillo o resultado de suas investigações, sobre os phenomenos psychicos ou sobre o mundo invizivel.

(...) – Saber Querer, Ouzar, Calar – é o quadrivium que a

ESPHYNGE (egypcia) encerra, e traduzimos tambem por: - INTELIGENCIA, VONTADE, OUZADIA, SIGILO, essa primeira chave, - dissemos – O Neophito abriria a primeira porta do templo...”322

O que pudemos perceber ao analisarmos as fontes é que Dario Vellozo tinha profunda admiração por Comte como um grande homem do seu tempo. Utiliza partes da filosofia positivista, sem no entanto ser doutrinado por ela. Acreditamos que se ele fosse tão positivista quanto se afirma, teria fundado uma igreja positivista em Curitiba, o que

321

Papus (Gerard Anaclet Vincent Encausse: (1865-1916). Médico, escritor ocultista, rosacrucianista, cabalista, e maçom. Fundou o martinismo moderno, ainda continuado nos dias de hoje na Tradicional Ordem Martinista - TOM. Filho de pai francês, o químico Louis Encausse, e de mãe espanhola, de origem cigana, a senhora Irene Perez. Dedicou horas aos estudos dos segredos ocultistas na Biblioteca Nacional de Paris e na Biblioteca do Arsenal, analisando os segredos da Alquimia e da Cabala. O nome Papus foi adotado por influência de Eliphas Levi, e identifica-se com uma entidade espiritual dedicada à terapia. Em 1882 foi iniciado por Henri Delaage na Sociedade dos Filósofos Desconhecidos, ordem que teria sido fundada dor Louis Claude de Saint-Martin, no século XVIII, na França. Não podemos contemplar aqui toda a influência exercida por Papus em Dario Vellozo, essa relação ainda não foi explorada. Sua história por si só rende uma pesquisa acadêmica. Mas podemos afirmar que Papus é autor ocultista mais publicado, editado e citado por Vellozo. Informações sobre o autor. (PAPUS. A Cabala. São Paulo: Martins Fontes: Sociedade das Ciências Antigas, 1988.)

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não ocorreu. Ele fundou o I.N.P. com base na antiga tradição esotérica pitagórica, agregando a esta filosofia uma reatualização de conceitos e práticas para o seu mundo. Ele ao mesmo tempo ressuscita e reinventa o pitagorismo, agregando argumentos fornecidos pelas mais diversas correntes de pensamento do seu tempo. A fórmula para sua nova conceituação de método parece ser a mesma usada na conciliação dos discursos de Lavoisier e Le Bon mostradas anteriormente. Ele usa os argumentos de método integral de Comte associado ao método pitagórico, tirando daí um terceiro enunciado: o seu método neo-pitagórico aplicado e ensinado no instituto. O que Vellozo efetivamente entende por método é o caminho, o meio que possibilita o indivíduo evoluir nessa existência.323

Além dos textos inseridos nas Obras Completas, encontramos nos arquivos um artigo publicado na Revista Esphynge, intitulado O Positivismo, o qual sugere que Dario Vellozo via Comte como um grande homem.324 Elogiava-o por ter fundado uma nova religião, uma religião da humanidade. Mas não seguia a risca toda a Doutrina Positivista. Vellozo na verdade, se apropriava de parte da filosofia, a parte que ele achava mais coerente e conveniente, e transformava-a numa nova idéia, fruto da sua interpretação. A nova idéia criada, por sua vez, era conciliada a outros argumentos e a outros discursos de forma a dar coerência ao discurso-criado de Vellozo. Ele enquadrava Comte como um orthólogo, assim como ele também se pensava um “orthólogo”.325

No documento ARIETE NASULICZ E BELTRAMI (páginas 146-149)