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Verdade: a herança do cientificismo

No documento ARIETE NASULICZ E BELTRAMI (páginas 101-111)

5. CIÊNCIA: A FONTE DO SABER

5.3 Verdade: a herança do cientificismo

Qual será o absurdo de hoje que será a verdade de amanhã?

Alfred North Whitehead – 1925 Cada época, cada momento histórico estabelece uma relação com seu paradigma de ciência, e é possível entendermos as conexões, como afirma Serres, entre um indivíduo ou grupo de indivíduos com a ciência em um dado recorte temporal.232 No entanto, para que seja possível uma compreensão mais clara da idéia de ciência de um tempo passado, tal como nos propomos a discutir, será necessário partirmos da idéia de ciência do nosso tempo presente. Ou seja, devemos apreender o paradigma de saber da nossa época atual, para então, retrocedermos e entendermos o nosso objeto inserido no seu contexto. Todavia, estamos conscientes que, entre o século XVIII e XX, existe uma lacuna temporal significativa, que é justamente o século XIX. Sabemos também da importância da cronologia. Mas, partindo da lógica de que o passado é uma construção do historiador, pois é ele quem dá sentido à memória e reconstrói o passado que deseja resgatar, assumimos uma perspectiva benjaminiana de história, em que o passado é uma construção do presente, adotando a estratégia de partir do presente, de uma perspectiva atual de ciência, desconstruindo o paradigma vigente, modernamente fossilizado, para passarmos à análise de nossas fontes efetivamente no capítulo seguinte.

Thomas Kuhn, um dos principais teóricos da história da ciência, afirma que, ao considerarmos a ciência uma reunião de fatos, teorias e métodos reunidos nos textos atuais, devemos ter então os cientistas como homens que, com ou sem sucesso, empenharam-se em contribuir com um ou outro elemento para a constituição dessa constelação específica.233 Nessa linha, o desenvolvimento do atual parâmetro científico torna-se um processo gradativo por meio do qual esses itens são adicionados, isoladamente ou em combinação, ao estoque sempre crescente que constitui o

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SERRES, Michel. Op. cit., p. 165. 233

conhecimento e a técnica científicos contemporâneos. Dentro desse quadro, a história da ciência torna-se a disciplina que registra tanto os aumentos sucessivos como os obstáculos que inibem sua acumulação. Nessa perspectiva, preocupado com o desenvolvimento científico, o historiador possui duas tarefas principais. De um lado, deve determinar quando e por quem cada fato, teoria ou lei científica contemporânea, foi descoberto ou inventado. De outro, deve descrever e explicar os amontoados de erros, mitos e superstições que inibiram a acumulação mais rápida (e verdadeira) dos elementos constituintes do moderno texto científico. Porém, nos últimos anos, os historiadores estão encontrando mais e mais dificuldades para preencher essas funções metodológicas de investigação que lhes são prescritas pelo conceito de desenvolvimento-por-acumulação pois, ao verificarem o processo de aumento, descobrem que a idéia conceitual de “adicional” torna mais difícil (e não mais fácil) encontrar respostas para perguntas como: quando foi descoberto o oxigênio e o átomo? Ou ainda, quem foi o primeiro a conceber a conservação da energia? Kuhn alerta que o que ocorre no processo de investigação da história da ciência, por tal perspectiva, é que a ciência pensada em suas mais variadas vertentes, com infinitas possibilidades de pesquisa, inclui um conjunto de crenças totalmente incompatíveis com as que hoje mantemos, tornando-se objeto de anacronismo. Isto é, o paradigma do que é pensado como ciência não pode ser tomado linearmente e cabe à história da ciência ponderar sobre as teorias científicas em seus devidos contextos. Em nosso caso, as teorias obsoletas ou místicas não podem ser tomadas, em princípio, como acientíficas ou acumulativas, como já demonstramos até aqui.

Em visão panorâmica, considerando a história da ciência, como narrada pelos historiadores, percebe-se que cada tempo se relaciona de uma maneira diferente com o seu paradigma de ciência. Da passagem do antigo saber hermético, como apontado por Rossi, no qual o segredo resguardava as técnicas, métodos e conhecimentos, para a transição da revolução científica e posteriormente à proposta iluminista do saber público, podemos sinteticamente apontar a mudança na lógica científica: na tradição da ciência hermética, o paradigma era a lógica analógica: “Verdadeiro, sem falsidade, certo e mais do que real, aquilo que está embaixo (ou inferior) é como aquilo que está em

cima (ou superior), e o que está em cima é como o que está embaixo para cumprir as maravilhas de uma coisa”.234

E no paradigma da ciência atual, a lógica passou a se fundamentar na identidade matemática, ou seja, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa: “A” é “A” e somente “A”, e “B” é “B” e somente “B”, não pode ser outra coisa como no princípio da analogia onde “A” pode ser “B” e pode ser “C”, pelo princípio das correspondências. A realidade virtual e o mundo cibernético também são pensados dentro desse paradigma binário de identidade matemática, onde “é” ou “não é”, e não há possibilidade para o “talvez”. Mas, nas últimas décadas, a física quântica parece estar rompendo com esta perspectiva científica e vem ocupando um espaço cada vez maior na formulação do paradigma científico desse terceiro milênio. Uma nova visão de mundo parece despontar no horizonte.

No entanto, a idéia de ciência que vigora nos dias atuais está muito mais ligada ao passado do que ao futuro, mantendo uma relação maior do que podemos imaginar com o pensamento do século XIX. Somos herdeiros de um cientificismo racionalista, no qual a ciência atesta a verdade das coisas. Acreditamos no que é cientificamente comprovado. Um teste de DNA para comprovar a paternidade de um indivíduo, por exemplo, dificilmente encontra contra-argumentos que desacreditem o veredicto do resultado científico. A veracidade histórica de fontes e fósseis, pelas datações do carbono-14, também sugere a confiabilidade científica. O mesmo ocorre com os sistemas científicos de identificação de indivíduos como a impressão digital, o exame da arcada dentária e da íris dos olhos.235 Acreditamos na ciência como verdade.

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Tábua de Esmeralda de Hermes Trismegisto, traduzida por R. Phelps do livro Amphitheatre, de Khunrath. Ensinamentos Herméticos. Publicação Biblioteca Rosacruz, AMORC, Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa, 2005. p. 29.

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A impressão digital é composta por desenhos, impressos em uma superfície lisa, formados pelas papilas (elevações da pele), presentes nas polpas dos dedos das mãos. São usadas há mais de cem anos, como forma de identificação de pessoas. São únicas e são a marca pessoal de cada indivíduo, diferentes inclusive entre gêmeos univitelinos. As papilas são formadas ainda no feto e acompanham a pessoa pela vida toda sem apresentar grandes mudanças. A impressão digital apresenta pontos característicos e formações que permitem a um perito, chamado papiloscopista, identificar uma pessoa de forma bastante confiável. Nos dias de hoje, a comparação é feita também por sistemas computadorizados, os chamados sistemas AFIS (automated fingerprint identification system). Algumas pessoas, contudo, apresentam as pontas dos dedos lisas, o que caracteriza a chamada Síndrome de Nagali, devido ao mal funcionamento de uma proteína chamada cretin 14. Estima-se que existam apenas três mil pessoas no mundo com esse raríssimo defeito genético. Nestes casos, a identificação é feita pela íris ou pela arcada dentária, através da biometria. O sistema de identificação de pessoas pelas impressões digitais foi inventado e posto primeiro em prática na Argentina, em finais do século XIX, por um croata naturalizado, Juan Vucetich. Sínteses. Disponível em:

<http://www.sinpapms.org.br/noticias/papiloscopia.htm> Acesso em: 29/07/2009; Disponível em: <http://www.appes.com.br/impressaodigital.htm> Acesso em: 29/07/2009; Disponível em:

Acreditamos na eficácia de seus métodos. Acreditamos que, se ela ainda não tem resposta para todas as questões, terá um dia.

Mas a nossa relação com a idéia de verdade está cada vez mais fragilizada, pois a idéia progressista de ciência como verdade, legada pelo século XIX, trouxe-nos a um momento crítico de sua evolução. As estruturas sociais, econômicas, políticas, culturais e ecológicas estão em xeque. Enfrentamos dúvidas que a ciência convencional parece não responder. Vivemos um tempo de incertezas. Buscamos soluções. Uma crise de paradigmas se configura. Em meio a este turbulento contexto, muitos filósofos e cientistas do nosso tempo têm buscado redefinir alguns dos nossos paradigmas científicos. Muitos deles estão profundamente engajados em movimentos que propõem uma revolução científica, cultural e de visão de mundo. Sugerem uma ruptura de pensamento, uma mudança de relação do homem com o saber científico. O maior entusiasta dessa nova perspectiva tem sido o físico teórico Fritjof Capra, que inspirado na física moderna de Heisenberg, Einstein e Niels Bohr, tem desafiado a sabedoria da ciência convencional ao demonstrar os surpreendentes paralelos existentes entre as mais antigas tradições místicas e as descobertas da Física do século XX, a física quântica. É para entendermos o mundo a nossa volta que se torna necessário que a história da ciência revisite o passado da ciência, buscando em suas origens místicas elementos que possibilitem uma discussão mais equilibrada do assunto e que permitam formar um corolário cultural da memória que contribua para melhorar as perspectivas de futuro do planeta e da humanidade. Essa é a grande contribuição que pretendemos dar com o nosso trabalho, pois acreditamos que uma pesquisa historiográfica se presta muito mais a responder as dúvidas que suscitam um presente, como afirma Benjamim, do que a contar a história de um passado inócuo e sem sentido para o presente.

Einstein é a imagem que melhor representa o cientista contemporâneo. Embora o cientista atual esteja muito mais próximo de um personagem cético, lógico, racionalista e desprovido de sentimentos, quase um robô. Mas lembremos que foi durante o XVII que se construiu na Europa não só uma imagem de ciência, a chamada “ciência nova”, que tinha como referência os artigos publicados entre a época de Copérnico e Newton, resultando na ciência mecanicista, mas também um retrato do cientista, que se confundiu com a figura do filósofo antigo, ou ainda do santo, do monge, do professor universitário, do fidalgo da corte, do príncipe perfeito, do artesão, do humanista e do Acesso em: 29/07/2009.

mago. Segundo Rossi, os objetivos propostos pelos grupos compósitos de intelectuais que contribuíram para a evolução do saber científico não tinham nada a ver com a santidade individual, a imoralidade literária ou a excepcional personalidade demoníaca que lhes foram atribuídos posteriormente. Segundo Bacon, um cientista era alguém com uma casta paciência, uma modéstia natural, de modos graves e recatados, com uma grande capacidade de compreender os outros e uma afável piedade para com ele.236 Era um sábio!

Mas no XIX, as imagens eram outras, os discursos eram outros, a modernidade tornara tudo mais acelerado e os paradigmas se revezaram inúmeras vezes no mesmo século, como classificou Baumer nos seus mundos de pensamento (o romântico, o neo- iluminista, o evolucionista e o fin-de-siècle). Desde o Renascimento, à idéia de ciência foram agregados novos conceitos, como método, empirismo, precisão, racionalismo, evolucionismo, progresso, verdade. A ciência e a magia divorciaram-se inevitavelmente. A ciência passou a ser a verdade absoluta. Passou a possuir a verdade das coisas. Comprovar cientificamente era estabelecer a verdade dos fatos. Baumer identificou um culto à ciência no XIX. “Ciência, donde previsão; previsão, donde ação.”237 Essa máxima, afirmada na segunda lição da Filosofia Positivista de Comte, serviu como lema ao Neo-iluminismo daquele século. De acordo com essa máxima, a ação dependeria da ciência, e a ciência estaria empenhada, fundamentalmente, na previsão ou no vaticínio.238 A experiência, a comprovação, a repetição fizeram com que a idéia de ciência positiva do XIX ganhasse popularidade entre a comunidade científica. Foram inúmeros os trabalhos de cientistas viajantes do XIX que se utilizaram dos recursos da modernidade para comprovar determinados experimentos e pontos de vista. A fotografia foi um deles. Ela atestava a verdade na imagem. Nesse sentido, o cientificismo significou não só o crescimento da própria ciência, mas a tentativa, em marcante contraste com a disposição romântica para responder a todas as questões, de um modo científico, transformando tudo o que é possível em ciência, incluindo alguns aspectos às próprias humanidades, aplicando os princípios da ciência ao mundo da ação. Havia a ciência da sociedade, ciência da natureza humana, literatura governada pela ciência. A fragmentação e especialização do conhecimento científico tornou-se uma regra. Surgiram a biologia, a zoologia, a botânica, a física mecânica, a química

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ROSSI, P. Op. cit. p. 9. 237

BAUMER, F. Op. cit., p. 62. 238

orgânica, a medicina - que fora seccionada nas várias áreas da divisão do corpo humano - sem contar o aparecimento das ciências do homem, a sociologia, a antropologia... e do inconsciente, a psiocologia e a psicanálise. Mas, e os fenômenos que até então não tinham explicação? Foram relegados à disciplina da metafísica que só podia investigar no terreno especulativo e filosófico e não no plano empírico e demonstrativo como exigia o método positivo vigente. O XIX criou não só uma geração de entusiastas da ciência, mas também uma religião da ciência. No entanto, os defensores da ciência condenavam a filosofia por causa das suas pretensões metafísicas e também por causa do seu raciocínio errado.

Os filósofos acusam os cientistas de estreiteza de espírito; os cientistas replicam que os filósofos são loucos. E assim aconteceu que os homens de ciência começaram a banir todas as influências filosóficas do seu trabalho; enquanto alguns deles, incluindo homens de grande perspicácia, foram tão longe que condenaram também a filosofia não só como inútil, mas também prejudicialmente sonhadora.239

Mas se esta concepção forçava a desistência de uma espécie de conhecimento, pôs ao alcance do homem, outra, que prometia aumentar o seu poder sobre a natureza. Nessa lógica, o conhecimento limitou-se às leis e não às causas, isto é, às causas finais e às essências. Segundo Baumer, a ciência, ao submeter o orgulho humano, aumentou proporcionalmente o seu poder. O conhecimento da essência dos fenômenos como a eletricidade, o fogo ou a vida tornou necessário compreender as suas causas imediatas e determinantes, para que fosse possível o controle da natureza. De acordo com a famosa lei dos três estágios intelectuais de Comte, a Teologia e a Metafísica, que caracterizaram o pensamento das primeiras épocas da história, haviam cedido lugar ao Positivismo, que garantia um conhecimento seguro da natureza das coisas.240

Contudo, a razão mais profunda para a ascensão da ciência foi o triunfo contínuo da própria ciência, a sua habilidade para alargar as fronteiras do conhecimento e reduzir o mundo à “leis” gerais como, por exemplo, o uniformismo na geologia e a conservação da energia, na Física.241 Piamente acreditou-se que o método científico poderia assegurar a verdade do conhecimento. No entanto, se a ciência bastou para o homem no plano material e finito, não deu conta de responder o que não conhecia ou o que não

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HELMHOLTZ, Hermann von. Popular Lectures on Scientific Studies. Apud: Ibidem, p. 64. 240

Ibidem, p. 64 65. 241

concebia. Ironicamente, há um ponto comum no paradoxo que se criou no XIX, que concordaram ciência e religião: ambas buscavam a verdade.

Ainda hoje, a submissão à comprovação científica é o que valida as teorias pensadas e idealizadas pelos cientistas. O físico brasileiro Marcelo Gleiser, ao escrever sobre a profissão do cientista afirma que essa é a beleza da ciência: “a fórmula que descreve um fenômeno pode ser usada por qualquer pessoa, seja ela jovem ou velha, judia, muçulmana ou católica, preta ou branca, liberal ou conservadora”.242 Segundo o método científico, uma teoria criada por um cientista é testada por outros cientistas. Até todos terem certeza de que a teoria está mesmo correta.243

Einstein afirmou que um milhão de experimentos podem comprovar uma teoria científica, mas basta um resultado contrário para que ela seja totalmente demolida. A ciência, desde o século XIX, criou uma rigidez de parâmetros que não permite à experiência mística uma comprovação, uma vez que ela é individual e única, sem

242

GLEISER, Marcelo. O livro do cientista. São Paulo, Companhia das Letras, 2003. p. 25. 243

O método científico é um conjunto de regras básicas para um pesquisador desenvolver uma experiência a fim de produzir novo conhecimento, bem como corrigir e integrar conhecimentos pré- existentes. Consiste em juntar evidências observáveis, empiricamente, e mensuráveis, com o uso da razão. Embora os procedimentos variem de uma área da ciência para outra, consegue-se determinar certos elementos que diferenciam o método científico de outros métodos. Primeiramente, os pesquisadores propõem hipóteses para explicar certos fenômenos e observações, e então desenvolvem experimentos que testam essas hipóteses. Se confirmadas, as hipóteses podem gerar teorias. Juntando-se hipóteses de uma certa área em uma estrutura coerente de conhecimento contribui-se na formulação de novas hipóteses, bem como coloca as hipóteses em um conjunto de conhecimento maior. Outra carcterística do método científico é que o processo precisa ser objetivo, e o cientista deve ser imparcial na interpretação dos resultados. Além disso, a observação precisa ser documentada, tanto no que diz respeito aos dados como aos procedimentos, para que outros cientistas possam analisar e reproduzir o procedimento. É comum o uso de métodos de estatística para se verificar a confiabilidade dos resultados. O método científico portanto, é composto dos seguintes elementos: Caracterização: quantificações, observações e medidas. Hipóteses: explicações hipotéticas das observações e medidas. Previsões: deduções lógicas das hipóteses. Experimentos: atestado de procedimento. Atualmente sobre o método científico, a comunidade científica coloca: observação, descrição, previsão (hipótese), controle, falseabilidade – toda a hipótese tem que ser falseável ou refutável. Isso quer dizer que mesmo que haja um consenso sobre uma hipótese ou teoria, é necessário que se mantenha a possibilidade de se refutá-la, isso está fortemente associado ao fato que uma teoria nunca é definitiva, eis um dos elementos mais importantes do método científico. A hipótese é o caminho que se deve levar a formulação de uma teoria. O cientista, na sua hipótese tem dois objetivos: explicar um fato e prever outros acontecimentos dele decorrentes (dedução das consequências). A hipótese deve ser testada em experiências controladas. Se, após muitas dessas esperiências, os resultados obtidos pelos pesquisadores não contrariarem a hipótese, então ela será aceita como uma teoria. O procedimento científico exige: definir o problema, recolher dados, propor uma hipótese, realizar uma experiência controlada para testar a validade da hipótese; analisar os resultados; interpretar os dados e tirar conclusões para a formulação de novas hipóteses; e publicação dos resultados acessíveis à comunidade científica. Sem esse procedimento padrão, nenhuma hipótese pode ser validada. Disponível em:

<www.producao.ufrgs.br/arquivos/.../482_metodos_de_pesquisa.ppt> Acesso em 27/07/2009; Disponível em:

possibilidade para repetições, muito menos em laboratórios.244 Portanto, a ciência não possui atualmente métodos científicos para comprovar a existência do espírito, sendo a busca de um fluido universal uma aventura dos cientistas do XIX. Questões ligadas à comprovação científica da espiritualidade humana faziam parte das preocupações daqueles homens. Possuíam eles um imaginário de que a ciência seria a redentora da humanidade. Imperava um estado de espírito otimista entre os cientistas, contrastando com o espírito niilista de Nietzsche do início do século. Porém, não pensavam nas conseqüências que esses conhecimentos e experimentos trariam à humanidade: duas guerras mundiais, bombas de destruição em massa, doenças incuráveis, mortes e o construção do mito da supremacia racial. O que esses homens do XIX fizeram? Será que o espírito sábio cientista descrito por Bacon prevaleceu nas pesquisas do fim do XIX e início do XX?

No século XIX, os europeus tinham comido da árvore da ciência e, agora, viam, mais claramente do que antes o modo como as coisas eram: o homem, aparentado com os animais, perdido num grão de areia num universo imenso e indiferente, privado da noção da sua própria identidade e infinidade, sentia, agora que perdera a inocência, o trágico absurdo de viver.245

Como herdeiros do XIX buscamos entender nosso comportamento, por que

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