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Possibilidade de Ensino/Aprendizagem em Empreendedorismo

O empreendedorismo, como estado de espírito participante, interventivo, inovador e tendente ao desenvolvimento da qualidade de vida da humanidade, deve ser considerado como uma obrigação social e, portanto, fazer parte da educação cívica de todos. Parece, então, que será um dever de cidadania procurar desenvolver e ajudar os outros a desenvolver o seu próprio espírito empreendedor (Silvestre, 2003).

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Bridging Social Capital – é geralmente baseado em relações fracas, a nível individual, utiliza o que um indivíduo desenvolveu dentro das suas próprias associações e reflecte seus próprios valores, estruturas, prioridades e alocação de recursos (redes que possuem ou encorajam a auto-empregabilidade).

5 Bonding Social Capital – fornece aos empreendedores redes que facilitam a avaliação, obtenção e utilização dos recursos

necessários para a exploração (indivíduos que vêm de famílias que possuem os seus negócios próprios, pais que têm empresas).

“Bridging Social Capital”

“Bonding Social Capital”

Capital Humano Processo de Reconhecimento da Oportunidade Processo de Exploração da Oportunidade Empreendedores Nascentes

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Um desempenho empreendedor, como mostrado por Silvestre (2003), parece poder ser desenvolvido apoiando-se, de uma forma sintética, na Equação 1.

Iniciação de desempenho empreendedor = Intensidade do evento originador*

* [Motivação (desejabilidade x necessidade x recompensa) * * Competência (saber x saber fazer x saber ser) *

* Auto-eficácia empreendedora (somatório das experiências anteriores afectadas pelo respectivo grau de desempenho)] *

Fonte: Silvestre (2003). * Contexto incubador (envolvente empreendedora x mercado)

Equação 1: Equação do desempenho empreendedor.

Aceitando esta equação, é necessário perceber e desenvolver a motivação, a competência e também o contexto incubador para o desempenho.

Muitos investigadores têm sugerido que a educação em empreendedorismo se deve iniciar na escola primária e continuar através de todos os níveis de ensino (Gibb, 1993). Outros argumentam que os empreendedores se definem numa idade precoce, antes da escola primária e, tornar-se empreendedor teria, então, pouco a ver com a educação em empreendedorismo, a menos que essa iniciação tenha lugar durante esta fase precoce do desenvolvimento dos sujeitos (Malinen, 1998, citado por Silvestre, 2003).

Ensinar e educar para o empreendedorismo é uma tarefa tão fácil como difícil. Fácil porque, quando crianças, todos fomos empreendedores no nosso comportamento. As crianças, especialmente nas idades de 5-12 anos, são auto-confiantes, imaginativas, sociáveis e experimentadoras espontâneas, dentro da sua realidade percebida. Este comportamento, normalmente apelidado de “brincar”, tem, em princípio, muito em comum com o prospectivo empreendedor.

Tanto as crianças como os empreendedores herdam as suas envolventes (Johannisson et al., 1997). O desafio é, assim, preservar, ou mesmo reforçar, os talentos empreendedores naturais das crianças durante o seu crescimento. Nesta tentativa, o sistema de educação, como uma das principais instituições da sociedade, tem uma responsabilidade considerável, pelo menos em tentar evitar um “desaprender” das capacidades empreendedoras. O autor propõe, assim, uma abordagem geral à formação em empreendedorismo na escolaridade obrigatória. Isto não só se adapta ao desenvolvimento socio-biológico do jovem, como parece compatível com a atitude existente em relação ao empreendedorismo. Acredita-se que, se os estudantes forem adequadamente preparados no secundário, através de uma formação em empreendedorismo, as iniciativas para chegar a um empresariado concreto podem tornar-se um “ingrediente” normal dos currículos e dos percursos dos estudantes na Universidade (Johannisson et al., 1997).

Numa investigação conduzida por Mohan-Neill (1998), incidindo sobre as atitudes dos estudantes perante pequenos versus grandes negócios e as suas visões sobre o valor da educação em Empreendedorismo e Gestão de Pequenos Negócios, o autor sugere que os estudantes expostos a

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uma educação em empreendedorismo têm uma visão mais favorável das pequenas empresas e estão mais informados sobre as vantagens e desvantagens deste tipo de empreendimento. O mesmo autor conclui que, mesmo um simples curso de empreendedorismo, ou sobre pequenos negócios, pode ter um impacto significativo e bastante positivo nas visões e atitudes dos estudantes sobre o valor dos cursos e os programas de educação em empreendedorismo.

Os indivíduos escolhem aprender quando reconhecem as suas limitações e pontos fortes e vêem uma discrepância entre esses pontos fortes e o que é necessário para o emprego (Silvestre, 2003). A formação na área da criação de negócios parece incluir duas abordagens muito diferentes: a formação para arranque de negócios (start-ups), que proporciona aos potenciais empreendedores conhecimentos e competências que lhes permitem gerir, de uma forma eficaz, o processo e ultrapassar certas dificuldades durante a criação e o lançamento da empresa; a formação para aqueles que arrancarão com os negócios e que consiste em formar empreendedores, procurando mudar atitudes, aptidões e personalidades (Fayolle, 1998). O mesmo autor apoia-se no pressuposto de que o programa de formação provoca comportamentos cuja mudança diz respeito ao indivíduo. Estas mudanças são atingidas através da activação de diferentes registos, como o conhecimento, a experiência, as aptidões, as atitudes e a personalidade. Apenas o conhecimento está aberto aos métodos tradicionais de ensino. As outras dimensões são trabalhadas, essencialmente, através da prática, da experiência da situação e da confrontação com problemas reais.

Numa perspectiva de antecipação e especificação dos aspectos que poderão ser desenvolvidos através do ensino do empreendedorismo, é útil aplicar as conclusões de Churchill (1995). De acordo com o autor, os eixos estratégicos que poderiam ser considerados nesses processos de educação em empresariado/empreendedorismo são:

Desenvolver um contexto favorável ao empreendedorismo; Desenvolver atitudes favoráveis ao empreendedorismo; Criar (ou reconhecer) e desenvolver uma oportunidade;

Avaliar a sua desejabilidade, através do potencial económico, do risco financeiro envolvido e do risco pessoal envolvido;

Perspectivar e organizar os recursos financeiros, de gestão, técnicos e físicos para a explorar; Possuir o desejo ou a tenacidade para “fazer isso”;

Gerir o lançamento, incluindo relacionamentos competitivos e cooperativos e redes de relacionamento e

Gerir a captação e realização da oportunidade real, através da criação de valor para o empreendedor e para a sociedade e da realização de valor para o empreendedor ou sua família.

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O mesmo autor ainda salienta que um contexto empreendedor pode ser complementado, potenciado e aprendido através de acções de ensino/aprendizagem de empreendedorismo. A mudança e o desenvolvimento de atitudes são campos privilegiados do sistema educativo. Relativamente ao reconhecimento das oportunidades, parece que a melhor compreensão do desencadear dessa percepção aponta algumas vias, no sentido de se poder afirmar que uma prática continuada e acompanhada de um cruzamento de conhecimentos e do desenvolvimento do espírito observador poderá traduzir-se num aumento da probabilidade de reconhecimento antecipado de oportunidades empreendedoras.

Para além disso, é possível sensibilizar os educandos para o facto de o empreendedor exprimir formas de pensamento um pouco diferentes dos não empreendedores e, ainda, para a forma de se posicionarem em áreas de oportunidade potencial. Por outro lado, parece ser possível ensinar-se a avaliar e a gerir os recursos, nomeadamente, como gerir o lançamento e o aproveitamento da oportunidade, a sua realização e a recolha dos proveitos. É possível alertar as pessoas para as exigências do empreendedorismo e mostrar-lhes as vantagens e o tipo de papéis de quem fez isso com sucesso, mas, em contrapartida, não se pode ensiná-los a terem o desejo e a tenacidade para iniciar e, mais importante, continuar com o empreendimento até à sua conclusão (Churchill, 1995).