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3.3 JORNAL TELEVISIVO E ENSINO/APRENDIZAGEM INTEGRADO DE PLM/FLE

3.3.1 Um pouco de história

A televisão nasceu “das descobertas no campo da fotoeletricidade, quer dizer, da capacidade que têm alguns corpos de transformar feixes de elétrons de energia elétrica em energia luminosa” (JEANNENEY, 1996, p. 266)135. Para Mattos (2002)136, a cronologia da

televisão no mundo começa em 1873, quando o norte-americano Willoughby Smith descobriu que o selênio possuía propriedades fotocondutoras e constatou que a condutividade elétrica do elemento variava dependendo da quantidade de luz. Pouco tempo depois, George Carey, outro americano, propôs a criação de um aparelho de transmissão de imagens por meio de circuitos elétricos. Em 1880, os cientistas, Sawyer, norte-americano e Le Blanc, francês, idealizaram o “sistema de varredura”, usado por todos os tipos de televisão. Mattos (2002) esclarece que, por esse sistema, as imagens são transformadas em linhas e transmitidas uma a uma, em alta velocidade, numa sucessão de quadros, que são percebidos pelo olho humano como movimento e cuja imagem é retida graças ao fenômeno da persistência visual.

Quatro países se destacaram nos primeiros passos da televisão, antes da segunda guerra

135 La télévision naît des découvertes sur la photoélectricité, c’est à dire la capacité qu’ont certains corps de

transformer un rayonnement d’électrons d’énergie électrique en énergie lumineuse” (JEANNENEY, 1996, p. 266, tradução nossa).

136 Para maiores informações sobre a evolução das pesquisas que culminaram no invento da televisão que

mundial, pela qualidade, diversidade, e vitalidade de suas experiências: a Grã Bretanha, os Estados Unidos, a França e a Alemanha (JEANNENEY, 1996).

Apesar da Grã Bretanha, através da BBC, lançar as primeiras emissões públicas no ano de 1936 é somente após a segunda guerra mundial que, já sob a predominância dos Estados Unidos, a rede de linhas e de receptores começa a ser ampliada. Na França, a infra-estrutura para o pleno funcionamento da televisão progride mais lentamente que nesses países, mas já em 1947 a televisão conta com 12 horas de programas por semana. Em 1949 nasce o jornal televisivo, que de início vai ao ar três vezes por semana, passa a ser cotidiano, e depois é veiculado duas vezes por dia. Com o passar do tempo, o jornal televisivo assume lugar de destaque na programação televisiva. Atualmente, os canais televisivos apresentam várias edições do telejornal durante o dia, com fórmulas variadas, que vão desde os pequenos informativos, com o resumo das notícias, que são levados ao ar de hora em hora até os canais internacionais especializados apenas em notícias137.

No Brasil, a televisão foi inaugurada oficialmente no dia 18 de setembro de 1950, “graças ao pioneirismo do jornalista Assis Chateaubriand” (MATTOS, 2002, p. 49) e coube aos Diários Associados a iniciativa de instalar em São Paulo a primeira emissora brasileira que foi a TV Tupi, sendo esta também a primeira estação de televisão da América do Sul. Mattos (2002, p. 50) assinala que “quando a televisão chegou no Brasil, a vida cultural do país era concentrada no Rio de Janeiro” e que apesar da TV Tupi ter tido sua sede do Rio de Janeiro inaugurada em janeiro de 1950, inúmeras dificuldades técnicas atrasaram as emissões para janeiro de 1951.

Surgida sob a influência do rádio, numa época em que os jornais e o rádio eram os mais

137 Atualmente alguns países já contam com seu canal internacional especializado em notícias. Em 6 de outubro de

2002, uma das manchetes anunciadas nos jornais da França é que o canal TF1 e FRANCE TÉLÉVISION anunciaram o lançamento de um canal internacional de notícias, com data prevista para 2004.

importantes instrumentos de informação política e de mobilização da sociedade, a programação televisiva veiculava o teatro, os espetáculos musicais, entrevistas e filmes. Dois dias depois de seu nascimento, no dia 20 de setembro de 1950, a TV já “lançava ao ar a edição inaugural de seu primeiro telejornal: Imagens do Dia” (REZENDE, 2000, p. 105). O primeiro jornal televisivo, que ia ao ar todas as noites, constava de uma seqüência de filmes dos acontecimentos locais. Posteriormente, no ano de 1952 entraria no ar o jornal mais importante da TV brasileira da década de 1950, o Repórter ESSO, apresentado por Gontijo Teodoro, que permaneceu no ar até dezembro de 1970.

Os primeiros telejornais eram produzidos precariamente. Em termos visuais, havia uma cortina no fundo, uma mesa e uma cartela com o nome do patrocinador. Os apresentadores eram oriundos, em sua maioria, das emissoras de rádio e os noticiários eram redigidos sob a forma de textos telegráficos, com notícias apresentadas de maneira semelhante aos noticiários veiculados pelo rádio.

No início da década de 1960, a televisão começa a mudar com a chegada do videoteipe e de novas concepções no telejornalismo. O telejornal se torna mais dinâmico, com relação à imagem começam a aparecer os cronistas especializados, mas o Golpe de 1964 traz uma tendência de redução da participação de comentaristas e o jornal passa outra vez a ser apresentado por locutores, sem que haja a crítica da notícia. Nessa época, o telejornalismo brasileiro começa a se inspirar no modelo americano e a se beneficiar dos avanços técnicos que vão cada vez mais afirmando a peculiaridade da linguagem televisiva e marcando a diferença entre esta e a linguagem radiofônica.

Em janeiro de 1969, o Brasil começa a ingressar na era da comunicação espacial. As transmissões via satélite começam a integrar o país ao mundo. É nessa conjuntura que o Jornal Nacional da Rede Globo é colocado no ar, em 1 de setembro de 1969 (MATTOS, 2002), e

transmitido simultaneamente, ao vivo, para o Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre e Brasília. No início o Jornal Nacional tinha apenas quinze minutos de duração e as rubricas eram reduzidas. As edições eram divididas em três partes: local, nacional e internacional. Com o tempo, o telejornal foi ganhando importância, as rubricas foram se ampliando e se consolidando. A partir da década de 70, o esporte passa a ser uma das vertentes principais do telejornalismo da TV Globo (JORNAL ..., 2004, p. 56). Os anos que se seguiram viram a consolidação do aperfeiçoamento na produção dos telejornais, no Brasil e no mundo, de maneira que hoje eles são produzidos com o mesmo apuro técnico de um espetáculo, no qual todos os detalhes são milimétricamente estudados, seja o cenário, os apresentadores, ou as linguagens que dão corpo às notícias.

Se é verdade que o Jornal Nacional é líder de audiência em todo o Brasil e o mais assistido nas casas dos nossos alunos, também é verdade assinalar que esta audiência não é obrigatoriamente fruto de sua qualidade técnica ou informativa, mas da combinação de estratégias cuidadosamente planejadas. Dentre essas estratégias, poderíamos destacar sua inserção em meio a duas novelas, a criteriosa seleção de seus apresentadores138 e até a prática de autopromoção que a emissora faz de sua programação, no interior dos diferentes programas veiculados durante o dia. Esse fato também é reforçado pela liderança em audiência que a emissora desfruta.

O que é incontestável, no momento em que vivemos, é a consolidação do modelo telejornal em todos os países e a mundialização recente da informação. Isso acontece porque graças aos satélites, os canais televisivos são capazes de transportar imagens ao redor do mundo e também porque com o advento das televisões por assinatura, há uma proliferação dos canais internacionais, consolidando o gênero de tal maneira que inúmeros canais televisivos ao redor do

mundo veiculam apenas notícias durante 24 horas139. Esse fato vem tornando possível ver, sem sair de casa, os jornais televisivos de países situados do outro lado do oceano, ouvir outras línguas, conhecer outras culturas. Desse modo, o mundo vai se transformando cada vez mais na aldeia global referida por Mc Luhan (1971).