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3.3 FATORES DETERMINANTES DA EFETIVIDADE DE REDES

3.3.1 Práticas Gerenciais

Após revisão na literatura que aborda a importância e a diferença entre gestão de redes e de empresa, foram identificadas práticas de gestão consideradas importantes pelos respectivos autores para ajudar a rede a atingir seus objetivos. Vale salientar a existência de nomenclaturas distintas para abordar tais práticas. Alguns autores utilizam o termo práticas de gestão (EVANSCHITZKY et al., 2007), outros utilizam a denominação de atributos de gestão (VERSCHOORE FILHO, 2006) ou mecanismos da rede (GRANDORI; SODA, 1995) ou funções de gestão (SYDOW; WINDERLER, 1998) ou tarefas-chave (MILWARD; PROVAN, 2006).

As práticas de gestão, quando alinhadas aos objetivos da rede, tendem a potencializar os resultados das empresas integrantes, permitindo com isso que os propósitos sejam alcançados e essas empresas aperfeiçoem seu desempenho individual. Dessa forma, quanto mais complexas as redes se tornam, mais problemática será a sua gestão, exigindo práticas gerenciais mais elaboradas, estruturas flexíveis e profissionais competentes para implementá-las (ROTH et al., 2012).

No estudo de Roth et al. (2012, p. 120), foi realizada uma revisão de literatura sobre as principais funções da gestão de redes interorganizacionais, sendo encontradas: “seleção de integrantes, planejamento, avaliação, comunicação, troca e integração, serviços aos associados, coordenação, serviços e controle.” Eles identificaram que vários tipos de redes empregam as funções de planejamento e controles de resultados, similares aos encontrados nas organizações hierárquicas, o que corrobora a visão de Provan e Kenis (2008) e de Turrini et al. (2010) de que como uma rede interorganizacional é voltada para o atingimento de objetivos, requer boas práticas de gestão com profissionais capacitados para tal.

Sobre a elaboração e acompanhamento do planejamento estratégico, os estudos de Verschoore Filho; Balestrin; Antunes Júnior (2012, p. 10) apontam a dificuldade de algumas redes na elaboração e acompanhamento do planejamento estratégico. Esses autores mostram que as redes realizam ações pontuais para solucionar ou atingir determinado objetivo de curto prazo e eles ainda argumentam que “a disseminação e a utilização mais efetiva do planejamento estratégico contribuirão para a organização de metas e ações de pequeno, médio e longo prazo, auxiliando no desenvolvimento e na consolidação das redes”. Nesta mesma linha, Provan, Fish e Sydow (2007) reforçam que os objetivos estratégicos são os principais norteadores de uma rede estruturada e, quando não há a definição destes, “percebe-se que todas as demais operações que são desencadeadas pelos objetivos estratégicos acabam sendo consideradas também incipientes.” (BORTOLASO; VERSCHOORE FILHO; ANTUNES JÚNIOR., 2012, p. 9).

Sobre a função de Organização, refere-se à atividade relacionada à distribuição de tarefas, recursos e responsabilidades entre as empresas da rede, de acordo com as competências específicas de cada empresa, no intuito de oferecer a máxima contribuição para os resultados da rede (RITTER; GEMÜNDEN, 1998 apud ROTH et al., 2012).

Sydow e Winderler (1994) propõem que as funções básicas da gestão de redes possam ser modificadas em função da própria dinâmica da rede. Para esses autores, as funções da gestão são: a seleção de parceiros para a cooperação; a alocação de tarefas, recursos e responsabilidades; a alocação do trabalho em rede e avaliação dos resultados.

Grandori e Soda (1995) relatam que os principais mecanismos de rede utilizados para sustentar a cooperação, facilitar o trabalho e ajudar no atingimento dos objetivos são: comunicação, decisão e negociação; relações de autoridade e hierarquia (supervisão hierárquica e planejamento formal) controle e coordenação social (desenvolvimento de necessidades baseadas nas normas do grupo); integração, unidade e regras; seleção dos integrantes; sistema de controle e planejamento; sistema de incentivo; sistema de informação; suporte público e infraestrutura.

No estudo realizado por Verschoore Filho (2006), foram identificados cinco atributos de gestão considerados relevantes para uma rede, são eles: mecanismos sociais que fortalecem os relacionamentos entre os atores; aspectos contratuais; motivação e comprometimento; integração e flexibilidade e organização estratégica.

Para Evanschitzky et al. (2007), a gestão de redes é desmembrada em níveis estratégico e operacional. No nível estratégico, as práticas de gestão estão diretamente relacionadas com a propriedade de recursos e distribuição de poder (seleção dos integrantes da rede, definição dos mecanismos de controle e objetivos de performance). No nível operacional, as práticas estão

relacionadas à coordenação das atividades de execução entre os parceiros da rede, a exemplo da elaboração e desenvolvimento de projetos, resolução de conflitos de interesse e de poder, entre outras. A principal tarefa de gestão da rede refere-se ao estabelecimento de rotinas, construção e atualização das metas e estratégias sobre as competências e habilidades que existem na rede (EVANSCHITZKY et al., 2007).

Outra prática de gestão bastante citada na literatura é a compreensão das necessidades das empresas pertencentes de oferecer serviços que atendam a essas necessidades, fazendo avaliações constantes para verificar se atendem ou não aos interesses definidos da rede. Tanto o nível como os tipos de serviços que são oferecidos pelas redes fazem o diferencial para o alcance da competitividade e conquista de bom desempenho (WEGNER, 2011).

Vale ressaltar que ainda há falta de clareza teórica na definição entre os termos governança e gestão, no que tange à literatura de redes, havendo pesquisadores que os percebem como sinônimos. Com base nisso, Roth et al. (2012, p.120) fizeram uma diferenciação entre a governança e a gestão de redes interorganizacionais, apresentando também algumas interrelações:

[...] a governança encarrega-se da definição da estrutura da rede, do detalhamento de sua organização, da instituição de mecanismos regulatórios e do processo de tomada de decisão, enquanto a gestão se encarrega de planejar, executar e controlar as estratégias e ações, dentro dos limites estabelecidos pela governança.

[...]

Cabe ao sistema de governança constituir normas, regras, autonomia e limites de funcionamento da rede, e à gestão a prática de atos gerencias. Dessa forma, o papel da governança não é gerir, mas delimitar a gestão, tarefa que incumbe aos gestores da rede. Dentro dos limites impostos pela governança da rede interorganizacional, os gestores têm liberdade para usar seus conhecimentos e habilidades para planejar e executar estratégias para alcançar os objetivos estabelecidos.

É preciso considerar, portanto, que a governança e a gestão afetam o nível de eficiência da rede e existe entre elas uma relação de influência mútua, ou seja, “se a rede atinge um nível de eficiência considerado insatisfatório, pode surgir a necessidade de revisar e adaptar o sistema de governança, desenvolvendo-se novas regras de funcionamento, de autonomia ou de limites para a gestão.” (ROTH et al, 2012, p. 121). Esses mesmos autores ressaltam ainda que para uma rede obter resultados, devem-se utilizar práticas de gestão que variam de acordo com os objetivos e modelo de rede.

O Quadro 7 sintetiza as principais práticas gerenciais levantadas na literatura de redes de cooperação interorganizacional, a partir da comparação das contribuições dos autores estudados, pois serão utilizadas como referência no estudo empírico da tese.

Quadro 7 – Síntese das práticas gerenciais

Práticas de Gestão Autores Principais

Planejamento, organização, direção e controle das atividades, avaliação dos serviços oferecidos (qualidade e satisfação) e atividades desenvolvidas; seleção de parceiros.

Grandori e Soda (1995); Sydow e Winderler (1994); Milward e Provan (2006); Verschoore Filho (2006); Evanschitzky et al. (2007); Wegner (2011); Roth et. al (2012).

Fonte: Elaboração própria

A síntese de práticas gerenciais exposta no Quadro 7 não tem a pretensão de ser conclusiva, uma vez que as características de cada rede, a capacidade dos gestores e a estrutura da própria rede poderão influenciar na escolha das práticas gerenciais a serem utilizadas. Essas práticas gerenciais serão tratadas, nesta tese, como funções administrativas/gerenciais da administração (planejamento, organização, execução e controle).