• Nenhum resultado encontrado

7.1 A LEITURA COMO FIO: maneiras de ler e de se informar

7.1.2 Práticas informacionais

Para tratar da busca, uso e partilha de informação pelos depoentes, percebemos a leitura de textos escritos como fator impulsionador e influente desse processo, porquanto foi a forma mais citada para se obter informações. Constatou-se, portanto, a posição de Almeida Júnior (2009), ao afirmar que só existe apropriação da informação mediante a realização da leitura, embora este considere leitura em seu sentido amplo, e não apenas a leitura de textos escritos.

Em primeira instância, é importante observar que algumas pessoas têm uma noção mais ampla do conceito de informação do que outras. Conforme pensado por Capurro (2003), as práticas informacionais são as próprias definições do que cada sujeito cognoscente social considera como informação, do que ele seleciona e coloca como critério para acessar ou descartar, num processo sócio-histórico.

Se, para alguns participantes, a informação é tudo o que eles tenham interesse de saber, para outros, a informação remete apenas a notícias. Fazendo um paralelo entre essas concepções e a posição dos dois autores, pode-se compreender que, no primeiro caso, a informação é entendida em seu sentido terminológico grego, que significa “dar forma a algo”, numa ação dupla de “in-formar” algo ou se “in-formar” de algo. Isso pode ser identificado nos exemplos dados por Araújo (2014, p. 150), como “produzir pesquisa científica, construir sua identidade, monitorar o ambiente mercadológico, testemunhar direitos e deveres, etc.”.

No segundo caso, o conceito de informação é similar à noção trazida por Castrillón (2011), que a define em três grupos: científica e técnica, utilitária e notícias. Esta última, diz a autora, é a forma pela qual as pessoas criam os imaginários sobre sua nação e por meio deles participam da sociedade. É o modo com o qual as pessoas formam ou deformam sua opinião, mas constituem patrimônio das mídias, que “a criam, a condicionam, a difundem e lucram com elas” (CASTRILLÓN, 2011, p. 75).

Para os entrevistados que consideram o conceito de informação de maneira mais ampla, as fontes pesquisadas podem ser livros, bases de dados, encontros científicos, portais de notícias e colegas. Eles compreendem o livro como sua maior fonte de informação, a exemplo de Sofia, que diz: “os livros ainda são a minha base principal, apesar de utilizar muito a internet”, ou Vicente: “eu hoje, leio muito. É livro, seja o que for, todo tipo de livro”. Também foram identificadas como fonte de informação as próprias pessoas, os colegas, a troca de informação oral como forma de permutar opiniões, entendimentos e críticas. Nesse sentido, Sérgio menciona que “a melhor estratégia de você se manter informado é estar com as pessoas, conversando com as pessoas que estão fazendo”.

Para os entrevistados que limitam o conceito de informações a notícias, foram apontados como fontes mecanismos de busca, redes sociais, jornais e revistas impressas e online, programas jornalísticos de TV e rádio. Este segundo grupo constituiu a maioria dos entrevistados para os quais o acesso à informação está ligado a abastecer-se de notícias, das coisas que estão acontecendo à sua volta, em tempo real. Ou seja, constituem formas de identificação, busca, uso e compartilhamento de informações disponíveis nas mais variadas fontes (SAVOLAINEN, 2008).

Para o caso de se informar sobre notícias, a maioria dos entrevistados demonstrou repúdio aos grandes veículos de comunicação de massa impressos ou televisivos, apontando para seu caráter manipulador e tendencioso. Ao invés disso, eles procuram ser mais cautelosos na seleção das fontes e recorrem aos veículos chamados alternativos, como no caso de Ana Clara: “tento filtrar cada informe e retirar dele o máximo de clareza da ótica da minha realidade, tarefa difícil diante das mídias tendenciosas que temos acesso e das nossas construções pessoais”.

Em contrapartida, o interagente Severino, de 16 anos, defende os jornais tradicionais por se tratar de meios “mais conhecidos”, de mais confiança, pois “eles têm que ser rigorosos com os perfis deles porque eles têm um nome a prezar. Então, como a informação bem dada é tudo”, continua ele, “eu procuro justamente nesses locais. Se eu não puder ler um jornal físico, eu procuro no site dos jornais”.

Sabe-se que o amadurecimento da leitura, sobretudo da leitura crítica, não é algo que se adquire rapidamente ou de forma fácil. Com isso, ao mesmo tempo em que não podemos negar o papel manipulador da mídia, não podemos julgar a forma como cada sujeito se informa. Entretanto, entendemos que o nível de leitura de cada sujeito e seu poder de compreensão são fatores que influenciam as escolhas das fontes, e por isso temos um quadro diverso de perfil de interagentes de informação.

Porém, cabe aqui uma consideração pontuada por Castrillón (2011, p. 79), para quem a biblioteca “deve contribuir para encontrar soluções ao problema da desinformação, originado da manipulação que a mídia faz da informação”. Dito de outro modo, deve agenciar espaços de debate para a discussão desses temas, pois, continua a autora, “da mesma maneira que a sociedade civil se organiza para conseguir o aperfeiçoamento da qualidade de outros produtos e serviços, ela poderia fazê-lo para exigir melhores condições de informação [e comunicação] e nisso a biblioteca tem um importante papel” (CASTRILLÓN, 2011, p. 79).

Com relação às fontes de informação utilizadas pelos entrevistados, apresentamos o Quadro 7, que apresenta quais foram os veículos citados pelos sujeitos. Observa-se, a partir desse quadro, uma priorização das fontes escritas, embora se subentenda o uso de outras formas de expressão, como imagens, vídeos e sons, devido ao uso das redes sociais na internet, que agregam em si essa multiplicidade de mídias.

Quadro 7 - Fontes de informações utilizadas pelos entrevistados. Jornais online Jornais

impressos Revista online

Noticiários de TV Redes sociais Mecanismos de busca Rádio Brasil de Fato Caros amigos Carta Maior Diário do Centro do Mundo O Economista Destak Diário de Pernambuco Folha de Pernambuco Continente Cult Fórum Revista Brasil TV Brasil TV Câmara TV Senado E-mail Facebook WhatsApp Twitter Instagram Blog Google CBN

Fonte: Dados da pesquisa.

As formas pelas quais os participantes se informam são bem variadas e estão representadas no Gráfico 2. Nesse quesito, alguns deles citaram exatamente em quais fontes eles se informavam (Quadro 7) e outros disseram apenas os meios que os levavam às fontes, a exemplo da amplamente citada “Internet”, por meio dos mecanismos de busca e redes sociais. Nesses casos, são esses meios que os levam às diversas fontes e suportes.

Gráfico 2- Formas pelas quais os sujeitos se informam.

Fonte: Dados da pesquisa.

Em relação às preferências dos meios impressos, audiovisuais ou virtuais, os usos são múltiplos. Há aqueles que gostam apenas de ler jornais impressos, como a mediadora Lia: “eu uso jornal, para mim. Ler é mais emocionante que assistir. Prefiro comprar meu jornal na integração e vir lendo”, e outros que só acessam fontes de notícias online.

O grande uso das mídias virtuais, como mecanismos de busca e redes sociais na internet, sinaliza o importante recurso da interatividade e da autonomia no uso e apropriação da informação, na medida em que a internet permite o compartilhamento de informações em um ambiente colaborativo e coletivo, além de oferecer maior vantagem na escolha das fontes que se deseja acessar.

Contudo, a Internet, apesar de ser a forma de busca de informação aludida pela maioria, foi também colocada como bastante fluida e perigosa, inspirando cautela ao utilizá-la. Esse cuidado se referiu tanto ao indivíduo não se limitar a ela enquanto fonte de busca, mas extrapolá-la, utilizando-a como ponto de partida para outros meios, como também na filtragem das informações. Sofia nota que: “a internet é território de ninguém, as informações estão lá...

16% 17% 13% 13% 11% 9% 6% 5% 3% 1%2% 2% 2% Mecanismos de busca

Redes sociais (E-mail, Blog, Facebook, Instagram, Twitter, Whatsapp) Jornal online

Jornal impresso Livros impressos TV

Revista online (variedades, política, científica) Colegas Revista impressa Anais de eventos Banco de tese Livros digitais Rádio

É muito bom, é colaborativo, você pode ter autonomia de achar informação, mas nem sempre a informação vai ser boa, vai ser válida”.

A falta de leitura e seleção adequada das informações, por exemplo, é evocada por Conceição, quando retrata o fato de as pessoas não lerem as informações que compartilham em seus perfis nas redes sociais, por exemplo, ocasionando a viralização de notícias falaciosas e prejudicando a compreensão de outras pessoas devido ao ruído na comunicação.

Observamos, portanto, uma relação existente entre a conduta leitora e informativa dos entrevistados para com seus contextos pessoais e sociais, sobretudo na concepção de Courtright (2007), para quem existe uma interação dinâmica e complexa entre as pessoas e a informação destas com relação aos fatores políticos, tecnológicos e culturais de modo mútuo, em que os atores não são apenas formados pelo contexto, mas fazem parte dele também.

Nesse sentido, tanto as fontes de pesquisa citadas como a leitura engajada realizada pelos profissionais e interagentes das bibliotecas se relacionam com seus históricos de vida e suas posições políticas, que convergem sempre na busca de uma conscientização e empoderamento político para a condução de ações que melhorem a qualidade de vida social e educacional da sua comunidade.

O uso da leitura para a busca de informações de diversos teores e temas é feita tanto em busca da realização de uma satisfação fundamental na vida deles, que é a de ler, prática vista como um direito humano, que eles lutam para que seja de todos, como também em busca de um corpo de conhecimentos e habilidades para uma melhor condução e ativismo nas lutas sociais em busca dos seus direitos e de políticas públicas para o setor.

Percebemos que o repúdio a certos tipos de canais informativos advém de seus repertórios e de suas trajetórias sociais e políticas, que já atingiram um patamar de criticidade tal que lhes permite filtrar essas informações e usar fontes alternativas que respondam aos anseios de suas demandas e que promovam a discussão de uma maneira mais próxima daquilo que eles defendem. Ou seja, as fontes utilizadas não são usadas de modo ingênuo ou aleatório, mas de modo consciente e atuante.

Nota-se, desse modo, nas práticas informacionais dos entrevistados, o uso da competência informacional e leitora, que permite, por meio das habilidades adquiridas, a apropriação da informação. E isso reflete tanto a forma que se conduzem os espaços informacionais, nos quais atua a figura interferente do mediador, como na interação gerada pelos leitores, que se mesclam e se amalgamam nas trocas e compartilhamentos de informações.

Enfim, em meio a esse mundo tão repleto de informações, trazemos Augusto, que, além de mediador de leitura, é escritor e ilustrador de livros infantis, ao tratar do seu processo

criativo. Ele acredita que se informar representa apenas parte do processo formativo, pois a enxurrada de informações que recebemos hoje nos exige mais do que apenas passividade de busca e uso, mas a paciência e o dom da escuta e da criação. Cedemos-lhe a palavra:

Quando tenho um tempinho, eu prefiro inventar alguma coisa, criar alguma coisa, botar a informação para fora do que botar a informação para dentro. Acho que a gente tá num mundo atolado em informação, e às vezes é preciso silenciar um pouquinho.

De maneira sintética, montamos um quadro que resume os principais elementos que representam as práticas leitoras e informacionais dos sujeitos da pesquisa.

Quadro 8 – Práticas leitoras e informacionais

Fonte: Dados da pesquisa