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5. Capítulo V Apresentação e interpretação da intervenção

5.3. Leitura

5.3.2. Preparação da leitura

Um dos aspetos da leitura em voz alta que pretendia que as crianças desenvolvessem era a perceção da necessidade de preparar esta leitura. As próprias metas curriculares apontam para esta necessidade, sendo um dos descritores de dese pe hoàpa aàaàEdu aç oàLite iaà oà .ºàa o,à Le àe àvozàalta,àap s preparação da leitu a à(p. 24).

Assim, aquando dos testes de avaliação diagnóstica, pedi que as crianças lessem o texto para si, primeiramente, e só depois gravássemos a sua leitura. Embora lhes tenha dito que poderiam ler o texto as vezes que quisessem, todas as crianças, sem exceção, optaram por lê-lo apenas uma vez e, visivelmente, apenas porque eu o pedi. Mesmo esta leitura foi, para muitas crianças, demasiado rápida e sem prestarem realmente atenção ao texto e aos aspetos em que teriam maior dificuldade a ler em voz alta para a gravação. Pelo contrário, esta leitura foi feita apenas para me satisfazerem, sem lhe atribuírem significado e sem a perspetivarem como uma preparação para a leitura para a gravação. Nesta fase, os alunos não tinham, então, a noção da necessidade de preparem um texto antes de o lerem em voz alta.

É de referir que uma das crianças me disse que não precisava de ler o texto primeiro e que podia gravar logo. Expliquei-lhe que era importante conhecer o texto primeiro, para que pudesse realizar uma boa leitura. Ainda assim, reafirmou que queria gravar logo, ao que eu assenti. Contudo, ainda no primeiro parágrafo, e dando-se conta da dificuldade que estava a ter, pediu-me para parar a gravação e para ler o texto primeiro. Ao ser confrontado com a evidência, que não poderia fazer a sua melhor leitura em voz alta possível sem antes conhecer o texto, o aluno reconsiderou.

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Para esta preparação da leitura, algumas crianças optaram por ler o texto em voz alta, enquanto outras o leram silenciosamente, sendo que dei autorização para que o fizessem como desejavam. Apesar de não ter anotado cada um dos comportamentos dos alunos, construi a perceção de que aqueles que leram silenciosamente foram os que demonstraram menor dificuldade na leitura em voz alta. Talvez isso revele que as crianças com maior autonomia na leitura, não precisem de ler o texto em voz alta para o prepararem, bastando-lhes realizar uma leitura silenciosa para obterem bons resultados numa leitura oral posterior.

Retomei a questão da preparação da leitura quando os alunos estavam a terminar de redigir as suas histórias, através da discussão sobre o cartaz dos aspetos essenciais na leitura em voz alta. Este é o primeiro aspeto que aparece no cartaz e quando perguntei porque era relevante, obtive espostasà deà alu osà o o:à Pa aà oà osà e ga a osà asàpalav as àeà Pa aàsa e osàoà ueàve àaàsegui .àEstaàpe eç oàde iva,à com certeza, das discussões usuais sobre as fases do nosso trabalho. Frisei sempre que antes de irmos gravar o podcast teriam que treinar a leitura do seu texto, sendo que os alunos facilmente compreenderam a razão desta tarefa.

No processo de revisão do texto, como já foi referido, optámos por reescrever as histórias, utilizando cores diferentes consoante as divisões das falas realizadas pelos alunos, o que se revelou uma mais-valia na fase de treino da leitura, permitindo que as crianças identificassem a sua parte facilmente. Outra hipótese teria sido, com certeza, cada criança ter uma cópia do texto com apenas as suas falas sublinhadas.

Já na fase de gravação dos podcasts, os grupos tomaram diferentes decisões no que concerne ao treino da leitura imediatamente antes das gravações das falas (figura 9). Ainda que todos os grupos tivessem já treinado a sua leitura em voz alta, este treino tinha ocorrido há já pelo menos uma semana.

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Figura 9 – Número de vezes que cada grupo treinou a leitura da sua história antes de iniciarem as

gravações.

No caso dos dois primeiros grupos a gravar, (os grupos que escreveram as histórias áàfo teàsag ada àeà OàDia oà ueàfi aà o àaài i iativaàdeàt ei a e à aisàu aàvezàaà leitura do seu conto partiu deles próprios. Contudo, a quantidade de leituras feitas pelos grupos não foi homogénea: enquanto o grupo que escreveu OàDia oàque fi aà o à apenas leu o texto uma vez, o grupo que redigiu a história áàfo teàsag ada àleuàoàte toà três vezes, integralmente nas duas primeiras vezes e apenas as falas das personagens na terceira. Este comportamento pode estar relacionado com o facto de o grupo do conto Oà Dia oà ueà fi aà o à te à te i adoà oà seuà o toà aisà edo e, consequentemente, dispor de mais tempo para treinar a sua leitura e adquirir mais à vontade com o texto. Por outro lado, todos os elementos do grupo ficaram satisfeitos com esta primeira leitura de treino, pelo que não consideraram necessário repeti-la. Já no caso do grupo do conto áà fo teà sag ada ,à houveà luga à aà o e t iosà sà duasà primeiras leituras, pelo que o grupo considerou necessário treinar alguns aspetos específicos (falas das personagens), de modo a se sentir confiante na sua leitura.

Os outros três grupos não tiveram a iniciativa de ler o texto mais uma vez, antes de gravarmos, o que, por si, não quer dizer que não se apercebessem da importância de ler o texto primeiro, podendo simplesmente estar à espera das minhas instruções, já que era uma situação nova e não sabiam bem como se processariam as gravações.

0 1 2 3 4 N ú m er o d e ve ze s q u e ca d a gr u p o t re in o u a le itu ra Grupos

Treino da leitura

"A fonte sagrada" "O diabo que fica bom"

"A aventura do anão noutra dimensão" "O ratinho da montanha" "O super-herói"

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Assim, quando o sugeri, as crianças concordaram rapidamente, tendo mesmo realizado mais do que uma leitura.

Concluo, assim, que ao longo do desenvolvimento do projeto as crianças se foram realmente apercebendo que a leitura em voz alta tem de ser preparada, sendo necessário conhecer o texto e apercebermo-nos das nossas dificuldades específicas de leitura. Neste caso concreto, os alunos conheciam já profundamente o texto a ler em voz alta, uma vez que foram os seus autores. Isso não invalida, no entanto, que a preparação da leitura em voz alta seja menos importante. Mesmo conhecendo o texto, os alunos necessitaram de treinar a sua leitura várias vezes para se sentirem seguros, inclusivamente, no momento imediatamente anterior às gravações.