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Em geral, a própolis é bastante estável, mas o armazenamento adequado é importante. A própolis e seus extratos devem ser armazenados em recipientes hermeticamente fechados em um lugar escuro, longe do calor excessivo e direto e preferencialmente ao abrigo da luz. Em geral a vida média desses extratos está acima de 12 meses em condições de armazenamento adequado. Foi demonstrado que os extratos etanólicos de própolis apresentaram atividade antimicrobiana inalterada após 15 anos em condições adequadas de estocagem. Esta estabilidade é provavelmente devido à estabilidade das substâncias fenólicas e derivados do ácido cinâmico, principais responsáveis pelas propriedades antibacterianas da própolis.

A liofilização dos extratos tem sido descrita como um processo que preserva a caracteristica antibacteriana. Entretanto ainda não tem sido descrito se este processo altera as demais propriedades atribuídas à própolis. A liofilização pode melhorar as propriedades farmacotécnicas e reológicas da própolis e garantir maior aplicabilidade nas formulações farmacêuticas.

Para se estabelecer um adequado prazo de validade de formulações farmacêuticas contendo própolis depende muito da sua composição e deve ser determinada caso a caso. Quanto maior a concentração de compostos sensíveis as variações de temperatura e exposição à luz, tanto menor será a vida útil e a estabiliade da formulação. Por isso recomenda-se o uso de conservantes para garantir uma vida útil maior e a estabilidade físico-quimica e química, apesar da própolis auxiliar nas funções conservantes devido as suas propriedades antimicrobianas e antioxidantes.

A própolis tem sido preparada de várias maneiras incluindo novos métodos que utilizam própolis bruta de Apis mellifera e os reagentes Tween 80 (Polisorbato 80) ou lanolina etoxilada, e etanol para a obtenção do Extrato Aquoso de própolis; o Método Extrato Tweenólico de própolis e o Método Extrato etanólico de própolis, o mais comumenten empregado no mercado brasileiro.

Extrato Aquoso de própolis é preparo por adaptação de Matsushige e colaboradores (1996). Em um becker adicionam-se 500 ml de água desionizada e 100 gramas de própolis bruta triturada em liquidificador, aguardando-se 24 horas. Aquece- se a mistura em banho termostatizado com água a 80ºC, por duas horas. Posteriormente essa solução é turbolizada em liquidificador, filtrada (filtro de gaze), aclopado a funil e kitassato. O filtrado pode ser liofilizado durante 48 horas. Finalmente, ressuspende-se o pó resultante em água deionizada nas concentrações desejadas.

Extrato Tweenólico de própolis pode ser preparado tomando-se um becker, onde adicionam-se 500 ml de água desionizada e 25 g de Tween 80. Agita-se até formar uma solução homogênea. Posteriormente adicionam-se 100 g de própolis bruta triturada. Os próximos passos são idênticos aos do EAP.

Extrato etanólico de própolis é preparado tomendo-se um becker onde adicionam-se a própolis bruta triturada (100 g) e o etanol 80% (500 ml). Agita-se à temperatura ambiente durante 30 minutos. A solução é turbolizada em liquidificador. Filtra-se em filtro de gaze, adaptado a funil e kitassato. O filtrado é seco em placa de petri sobre placa termostatizada a 75 ºC. Ressuspende-se em etanol 80 % nas concentrações desejadas.

A própolis tem sido utilizada não somente como antisséptico, mas também em preparações cosméticas como: cremes faciais, pomadas, loções e soluções (DEBUYSER,1983; HAUSEN et al., 1987). Estas formulações apresentam vantagens devidas as suas atividades antibacterianas, revitalizando e umectando a pele e melhorando com isso a elasticidade e controle da oleosidade. Soluções contendo 3% de própolis ajudam na regulação do pH da pele (PARK e WOO, 1996).

Foi também utilizada como conservante em cosméticos e pomadas anti- herpética (POPESCU et al.,1985). Foram relatadas algumas preparações a base de própolis: unguento, pomada, cápsula, “spray” bucal, tabletes (GOETZ, 1990), xampu, cremes e tinturas (CORTANI, 1991), preparações dermocosmetológicas: leite de limpeza para pele seca e normal, creme diurno para pele normal, oleosa e seca, creme nutritivo para pele normal e seca, creme para limpeza (LEJEUNE et al., 1988) e soluções antiacne (CLERICI, 1999; MARCUCCI, 1994;).

Para uso externo a própolis é usada em bases de cremes nas concentrações de 5-8% e em bases de xampus nas concentrações de 2-5% (VANGELISTI, 1986). Os sabonetes glicerinados com própolis são indicados para acnes, ulcerações da pele, ótimo cicatrizante de ferimentos, após barba e todos os processos alérgicos e de tratamento regenerativo cutâneo (VANGELISTI, 1986).

Na França, diversos produtos cosméticos a base de própolis são comercializados incluindo cremes, água de colônia, xampus, sabonete, leite de toalete, loção pós-barba e bronzeador. Os laboratórios Catharine Moreau (Paris) comercializam uma máscara vitaminada com própolis.

Na Romênia é comercializado um creme de própolis que apresenta propriedades emolientes, regenerativas de tecidos e desinfetantes. A Romênia e a Rússia possuem as principais especialidades medicamentosas a base de própolis tais como: acneol (extrato fluido de própolis, glicerina, ácido salicílico e mentol) utilizado contra acne, óleos de própolis (20% de própolis em azeite de oliva) propolan aerosol (preparação a base de própolis com outros produtos ativos) ambos para uso dermatológico.

Na Espanha é comercializada uma especialidade chamada Vigordenta que é constituída de um extrato alcoólico de própolis e um sal de zinco, utilizado como antisséptico bucal, hemostático e bactericida (DEBUYSER,1983).

A própolis tem sido utilizada por cirurgiões plásticos brasileiros em tratamento estético de peles com acne e rugas superficiais. Depois do “peeling” químico (superficial) com ácido glicólico, há uma esfoliação da pele e a produção de colágeno aumenta naturalmente, fazendo com que a pele fique mais macia e elástica. Após este peeling é aplicada uma pomada à base de própolis para evitar a formação de cicatrizes hipertróficas (LIRA, 1994).

Vários registros de patentes internacionais têm sido identificados no Intellectual Property Network, órgão de divulgação de patentes nos Estados Unidos. Entre elas podemos citar como relevantes, a capacidade da própolis de inibição da formação de catarata, doença resultante do stress oxidativo, e da replicação do HIV pelos ésteres do ácido caféico (GRUNBERGER, 1997), como agente antitumoral (ARAI et al., 1998), por suas substâncias fisiologicamente ativas (YOSHIDA et al.,1994), por sua efetividade na remoção de verrugas (WISE e KONSTANTINOVIC, 1995), como

agente controlador da apoptose (KIMOTO et al.,1998), derivados fenol benzopiranos para uso como agente antibacteriano, antiviral ou agente imunomodulador (MARKONIUS, 1995, 1999), para o tratamento de acne (PAUNESCO, 1992).

Essa notável lista de patentes e de produtos, demonstra o interesse da indústria internacional por esta resina. Infelizmente, no Brasil a própolis ainda não é reconhecida nos órgãos oficiais de controle na área da saúde. Por esse motivo, preparações à base de própolis com fins terapêuticos não podem ser oficialmente comercializadas no país.

Além disso, as exportações brasileiras no setor apícola a partir da década de 90 têm se tornado cada vez mais importante, sobretudo depois que o mercado asiático, especialmente o japonês, descobriu as qualidades da própolis brasileira. O Brasil é hoje um dos principais fornecedores mundiais dessa resina medicinal, e com a crescente exigência de certificados de análise de qualidade dos produtos importados, está obrigando os apicultores brasileiros a apostarem na qualificação da sua produção para continuar competitivo neste concorrido mercado mundial.

As exigências internacionais para a qualidade dos produtos apícolas obrigaram o Brasil a estabelecer normas para definir padrões mínimos de comercialização dos produtos originários da colmeia, especialmente para a própolis. Esta legislação, recentemente criada, regula parâmetros químicos e físico-químicos mínimos para as amostras de própolis aptas para comercialização. Todavia para a própolis que possui preponderantemente atividade terapêutica, estes parâmetros, subjetivos de qualidade, deveriam ser complementados com uma avaliação farmacológica para o monitoramento das propriedades biológicas.

Tais procedimentos, certamente, agregariam valor ao produto apícola brasileiro e o levaria a alta competitividade internacional. Países com a China, Austrália, e mais recentemente os nossos vizinhos: Argentina e Uruguai estão instalando suas redes nacionais de laboratórios para o controle de qualidade químico e biológico das suas amostras apícolas, garantindo os seus espaços no mercado mundial e assegurando a longevidade de suas inserções no comércio exterior.

É, portanto, urgente que o Brasil, que detêm uma grande fatia desse mercado mundial, possa neste momento de transição para um novo milênio, onde a qualidade dos produtos será o grande diferencial competitivo, ter instalado em nível nacional uma cadeia de laboratórios de referencia para o estabelecimento dos padrões internacionais mínimos exigidos para a comercialização, e que possa estabelecer e disciplinar a comercialização dos nossos produtos dentro e fora do país. Para isso é necessário que tenhamos informações precisas a respeito da composição química dos vários tipos de própolis produzidos no Brasil e sua relação com as atividades terapêuticas para as quais deverão ser comercializadas. Neste contexto a escolha de um biomarcador químico pode representar um avanço significativo nos parâmetros de exportação e na validação interna de nossos produtos à base de própolis.

O complexo tecnológico para o estabelecimento imediato da Rede Nacional de Laboratórios de Qualidade em Produtos Apícolas, ainda que necessariamente em multicentros, está preparada para atender a demanda das empresas brasileiras e podem através de convênios específicos, supervisionadas pelo governo federal, desenvolver o trabalho qualitativo determinando a sobrevida do Brasil no mercado apícola internacional.

Inúmeras patentes foram depositadas no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) com preparações de própolis para vários fins.

Na linha odontológica uma importante patente depositada em 2001 foi concedida em 2013 para a Profa. Maria Cristina Marcucci e colaboradores (PI0105471-6 A), que descreve técnicas de preparo, e usos da própolis em formulações de uso odontológico, incluindo um enxaguatório de própolis e suas variações. Nesta mesma linha Mirian M Hidalfo e colaboradores (2005) depositaram a patente PI 0506243-8 A) descrevendo método de obtenção de extrato de própolis com teores variados de álcool sugerindo usos odontológicos para estes extratos. Mais recentemente, a Fundação Ezequiel Dias de Minas Gerais também submeteu (2012) o depósito junto ao INPI de patente que descreve formulações de uso odontológico, descrevendo um método para o preparo de enxaguatório bucal, de modo similar àquele descrito para a patente concedida para Marcucci e colaboradores em 2013.

Outra importante aplicação de formulações contendo própolis foi encontrada na patente dos Professores Niraldo Paulino e Amarilis Scremin, PI 0904121-4 A2, que descreve o preparo, padronização, controle de qualidade e aplicações de uma formulação para uso vaginal útil no tratamento de doenças do sistema ginecológico feminino.

Similar atividade foi protegida através da patente PI 0705948-5 A2 (2007), de Zenaldo Porfirio da Silva, que descreve uma pomada contendo própolis útil no tratamento de feridas infectadas e no controle de úlceras de decúbito, contaminadas com bactérias oportunistas.

Para evidenciar essa atividade antibacteriana a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária depositou a patente PI 1004808-1 A2 (2010), que descreve uma interessante interface da própolis na obtenção de nanopartículas, que podem ser aplicadas em inúmeras formulações farmacêuticas com melhore proprieades antibacterianas.

Recentemente a indústria Apis Flora Industrial e Comercial Ltda desenvolveu um biocurativo contendo extrato de própolis associado ou não à outros extratos vegetais, sugerindo utiliza-los em patologias infecciosas, inflamatórias e na regenação de lesão tecidual. Tal formulação foi registrada no INPI sob o número PI 1100760-5 A2 em 2011.

Um processo para fracionamento de própolis em pó seco e pasta composta de ceras e produtos resultantes foi descrito na patente PI 1000614-1 A2 por Campolin & Schimdt e outros parceiros, tais preparações extrativas podem ser amplamente usadas em formulações farmacêuticas, em produtos alimentícios e para fins cosméticos.

A utilização cosmética foi também contemplada na patente PI 10 2012 019950- 5 A2: Formulações cosméticas e farmacêuticas a base de óleo de café e própolis, depositada por Andreia Marques dos Santos, Maria Cristina Marcucci e Niraldo Paulino, e licenciada pela Empresa Novo Mel Industria e Comércio Exterior. Essa patente descreve importantes propriedades cosméticas como fator de proteção solar, atividade antioxidante e outras atividades podendo ser aplicada no desenvolvimento de cremes ou loções com fator de proteção solar associadas a propriedades antioxidantes, antimicrobianas, anti-inflamatórias e cicatrizantes de microlesões.

A própolis, em especial a brasileira, apresenta potencial farmacotécnico ainda em expansão e pode em pouco tempo representar uma importante ferramenta no arsenal terapêutico para o tratamento de inúmeras doenças, em especial doenças ligadas ao sistema respiratório, doenças decorrentes de processos oxidativos, doenças inflamatórias, doenças degenarativas, doenças de pele e distúrbios de cicatrização e doenças odontológicas.

O desenvolvimento de produtos farmacêuticos nestas áreas, utilizando amostras de extratos de própolis tipificados, padronizados em termos de constituição química, e origem botânica, e com condições de se estabelecer parâmetros de controle de qualidade representarão em um futuro muito breve uma grande fonte de renda e de avaço tecnológico farmacêutico do país.

Referências

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5 PROPOTERAPIA EM DOENÇAS DO SISTEMA RESPIRATÓRIO (PELOS