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PROPOTERAPIA EM DOENÇAS ODONTOLÓGICAS (POR CAMILO

Apesar do seu amplo emprego na área médica por tantos séculos, apenas em 1908 surgiu o primeiro trabalho científico sobre suas propriedades químicas e composição indexado no Chemical Abstracts, e ainda mais tarde, em 1968, surgiu o resumo da primeira patente utilizando a própolis (PEREIRA et al., 2002). Hoje sabe- se que ela é basicamente constituída de 50 a 55% de resina, bálsamos e substâncias aromáticas, 30 a 40% de cera de abelha, 5 a 10% de óleos essenciais ou voláteis, 5% de grãos de pólen e 5% de materiais orgânicos e inorgânicos diversos (AZEVEDO et

al., 1986).

No que tange à composição química da própolis Torres et al. (2000) comentam que até o momento já foram identificados mais de 160 compostos na própolis, sendo que mais de 50% representam componentes fenólicos, dentre eles os flavonóides, que estão relacionados com suas principais propriedades farmacológicas.

A flavina ou flavonóide é um pigmento amarelo, obtido de árvores e plantas com variadas proporções de quercetina e quercitina. Entre as inúmeras influências curativas dos flavonóides estão a de estabilizar os vasos sanguíneos, combatendo a hemorragia; reduzir a circulação das vias periféricas, agindo sobre as vias hemostáticas; potencializar as enzimas; exercer capacidade antiinflamatória em tecidos, juntas ósseas, membranas e mucosas e proteger a vitamina C contra oxidação (BREYER, 1982).

A propalina, extrato da própolis, tem origem das flavinas ou flavonóides. Foi constatado que a propalina estimula a produção de anticorpos no organismo, ativa a fagocitose e formação de proteínas no sangue, além de estimular consideravelmente a regeneração tecidual (AZEVEDO et al., 1986).

Outros componentes importantes presentes na própolis são os ácidos, álcoois, vitaminas e sais minerais.

Os pesquisadores, Koo e Park (1996) confirmaram a composição da própolis e identificaram microelementos como alumínio, cálcio, estrôncio, ferro, cobre, manganês, vitaminas B1, B2, B6, C e E, e compostos fenólicos isolados pertencentes a três grupos: flavonóides, ácidos fenólicos e ésteres fenólicos.

De acordo com Borreli et al. (2002) é exatamente um éster fenólico, o ester fenotil ácido caféico, o componente responsável pela ação antiinflamatória da própolis. Muitos estudos têm sido realizados para identificar qual a melhor própolis em termos farmacológicos, entretanto poucos estudos têm alguma concordância em relação à melhor procedência da substância.

Koo e Park (1996) constataram que vegetação densa e mata virgem alta oferecem à própolis maior teor de flavonóides totais em mg/g do produto. Entretanto, os próprios autores salientam que a análise quantitativa de flavonóides não é suficiente para definir se uma amostra de própolis é melhor que outra, pois o mais importante é analisar os diferentes tipos de flavonóides.

Baseados nisso, Park et al. (1997) e Park et al. (1998) em relação as espécies brasileiras identificaram na própolis gaúcha, altas concentrações de pinocembrin e

galangin, potentes flavonóides e consideraram, em relação à capacidade

antibacteriana, a própolis obtida do Rio Grande do Sul como sendo a mais eficaz, seguida pela mineira.

Kujumgiev et al. (1999) comprovaram que a própolis que apresenta maiores concentrações de flavonóides, ésteres fenólicos e ácidos aromáticos é extraída das regiões da Bulgária, Mongólia, Albânia e Egito.

Enfim, é esta complexa composição que confere à própolis propriedades farmacológicas de grande importância. Entretanto, a composição e a concentração dos componentes da própolis dependem da ecoflora da região em que a substância foi coletada.

A principal e mais pesquisada de suas propriedades é a ação antrimicrobiana, demonstrada claramente nos estudos de Azevedo et al. (1986), Bone (1994), Morales (1994) e Kujumgiev et al. (1999).

Além desse efeito, outras pesquisas revelam variadas propriedades da própolis, como:

• potencialização dos efeitos de antibióticos (BERNARDO, et al, 1990; KROL

et al., 1993; MORALES, 1994);

• antiviral (MORALES, 1994; BONE, 1994; AMOROS et al., 1994; MARCUCCI, 1995; KUJUMGIEV et al., 1999);

• antifúngica (DOBROWOLSKI, 1991; KUJUMGIEV et al., 1999);

• antiprotozoária (FEEBURG, 1986; SCHELLER, et al., 1990; TORRES, et al., 1990; BONE, 1994);

• imunoestimulante (KIVALKINA, 1975; NEYCHEV, 1988; GUTIERREZ, 1991; PÉRES, 1991);

• anestésica local (TSANKOFF, 1975; CHÉZERIES, 1984; BONE, 1994); • antioxidante (MELLO, 1989; MORALES, 1994; BONE, 1994);

• ação sobre radicais livres (DEREVECI, 1976; BERNARD, 1990; WALTHER, 1990);

• antiinflamatória, cicatrizante e estimulante do crescimento celular (AZEVEDO et al., 1986; RAMIREZ, 1989; BERNARDO et al, 1990; PONCE, 1991; BONE, 1994).

Apesar de relacionados os benefícios do uso da própolis, deve-se levar em consideração os possíveis efeitos adversos envolvendo a própolis, como, por exemplo, a dermatite de contato, provocada pelo uso tópico de própolis.

Em 1987, Hansen et al., descreveram o relato de 200 casos de dermatite alérgica de contato à própolis. Nesta pesquisa, foi identificada como responsável pela alergia a substância 1-1 dimetilalil ácido caféico. Esta substância, que existe em diversas amostras de própolis, foi comprovada ser o primeiro sensibilizador da própolis.

Quadros de alergia à própolis também foram observados por Machacková (1988), Schuler e Frosch (1988) e Raton et al. (1990), relacionando a alergia à presença de grãos de pólen na solução à base de própolis. A dermatite de contato eczematosa alérgica em pacientes expostos a medicamentos contendo própolis também foi verificada por Hay e Greig (1990).

Entretanto, estas propriedades alérgicas não têm sido relacionadas com extratos aquosos e alcoólicos de própolis por não induzir à irritação do tecido e não parecerem tóxicos (MANARA et al., 1999). Estes mesmos autores salientam que nem sempre é possível estabelecer a relação entre a alergia e a real causa de sua manifestação clínica. Portanto, estudos sobre as reais causas de alergia à própolis são necessários, já que não se conhecem todos os seus componentes, conseqüentemente, sua área de atuação também é desconhecida, e sabe-se que pessoas alérgicas a outras substâncias e/ou drogas estão mais propensas a ter alergia à própolis.

A PROPOLIS NA ODONTOLOGIA

Devido a todas essas propriedades e outras não relatadas claramente na literatura, esse produto natural vem despertando interesse na área da saúde. Na Odontologia, vários estudos foram realizados para observar a aplicação e o uso da própolis nas seguintes áreas: Cariologia, Prevenção Oral, Anestesiologia, Dentística, Endodontia, Cirurgia, Periodontia, Patologia Bucal e Implantodontia. Dentre eles, aqueles que demonstraram que a própolis tem um relevante poder anestésico quando testado em córnea de coelhos (PROKOPOVICH et al., 1956), ou ainda, trabalhos como o de Magro Filho e Carvalho (1990), observaram que a aplicação da solução hidroalcoólica de própolis, para irrigar o alvéolo após extrações dentárias, acelerou a epitelização das feridas e proporcionou um efeito antiinflamatório e analgésico.

Em uma revisão de estudos que analisavam diferentes substâncias naturais utilizadas na Odontologia, Torres et al. (2000) observaram que a propriedade da própolis mais pesquisada é a sua atividade antimicrobiana.

Dentro desta linha de pesquisa, Ikeno et al. (1991) e Gebara et al. (1996) demonstraram a ação antimicrobiana do extrato de própolis sobre cepas de S. mutans,

S. sobrinus e S. cricetus, e sugeriram a possibilidade do emprego desse agente no

controle de microrganismos do biofilme oral.

Por sua vez, Park et al. (1998) e Koo et al. (2000A) comprovaram a atividade antimicrobiana da própolis contra o S. mutans e Actinomyces sp, assim como a inibição de glicosil transferase, enzima responsável pela formação da placa bacteriana. A aderência celular e a formação de glucano insolúvel em água foram quase que completamente inibidos pelo extrato de própolis na concentração final de 400µg/mL e 500µg/mL (PINHEIRO et al., 2003).

No mesmo ano, novamente Koo et al. (2000B) observaram, através do método de difusão em ágar, que a própolis foi capaz de inibir significantemente os seguintes microorganismos: candida albicans, staphylococcus aureus, enterococcus faecalis,

streptococcus sobrinus, streptococcus sanguis, streptococcus cricetus, streptococcus mutans, actinomyces naeslundii, porphyromonas gingivalis, porphyromonas endodontalis e provotella denticula, mostrando a maior zona de inibição para o actinomyces spp.

Figueiredo et al. (1999) avaliaram os efeitos de um enxaguatório oral a base de própolis frente a 15 microorganismos e observaram à atividade antimicrobiana in vitro quanto a todos os microorganismos indicadores. Em consoância com o autor anterior, Koo et al. (2002) observaram que este tipo de enxaguatório reduz o acúmulo de placa bacteriana e diminui em até 61,7% a concentração de polissacarídeos na placa dental. A atividade antimicrobina também foi estudada quando a própolis foi associada a material restaurador como o ionômero de vidro. Quanto à capacidade de inibir o S.

Mutans, este cimento associado à própolis se mostrou mais eficiente que o cimento

desprovido da substância testada, entretanto, com atividade antimicrobiana inferior ao cimento associado a antibióticos (PINHEIRO et al. 2003).

Assim como há uma constante preocupação com o controle do biofilme oral, existem questionamentos com relação à real influência da própolis sobre a cárie dental. Por causa desta preocupação, Koo et al. (1999) pesquisaram e confirmaram o efeito cariostático do extrato de própolis extraído da região do Rio Grande do Sul, sobre dentes de ratos, entretanto, os autores alertam para extrapolação dos

resultados, visto que as propriedades farmacológicas desta substância variam de acordo com a região em que a substância foi coletada, e que ainda não há um controle da estandardização da própolis no mundo.

Em um estudo prévio, Ikeno et al. (1991) já haviam observado que a adição da própolis na água de beber tem a capacidade de reduzir a cárie dental em ratos inoculados com S. sobrinus em níveis entre 56,2 e 62,2%, comparados com o grupo controle. Os autores explicam que esta ação se dá possivelmente pela preseça de ácido cinânico, substância capaz de inibir a atividade de glicosil tranferase, portegendo os ratos contra a cárie dental.

Anauate-Netto et. al. (2013) em estudo randomizado, duplo-cego, placebo- controlado para avaliar os efeitos da própolis tipificada e clorexidina sobre os níveis salivares de estreptococos do grupo mutans (EM) e lactobacilos em indivíduos adultos com 18-55 anos de idade, utilizando um enxaguatório á base de própolis tipificada a 2% (n = 20), bochecho de clorexidina 0,12%, e bochecho com grupo placebo, durante 28 dias , verificaram que a supressão dos níveis salivares de SM (p < 0,05).Própolis foi superior ao grupo placebo em todas as visitas (p < 0,01). Os efeitos residuais de Própolis na supressão dos níveis salivares de MS ainda foi observado na visita de 45 dias, onde diferenças significativas entre PROP e CHX (p < 0,05) foram demonstradas.Própolis foi significativamente superior a CHX na supressão dos níveis salivares de lactobacilus na visita de 28 dias (p < 0,05).Os autores concluíram que o enxaguatório de própolis tipificada foi eficaz na supressão de infecções cariogênicas em pacientes com atividade de cárie quando comparado a terapias existentes e ao placebo.

Na área da Periodontia, o efeito da própolis sobre a doença periodontal foi observado em estudo efetuado por Martinez Silveira et al. (1988), que demonstraram os efeitos antimicrobianos, cicatrizantes, anestésicos e de incremento da resposta imune local em 72 pacientes com gengivite, que utilizaram solução alcoólica de própolis para bochecho.

Em estudo posterior (1992), os mesmos autores concluíram que houve uma melhora satisfatória no estado gengival de 60 pacientes que utilizaram solução hidroalcóolica de própolis à 1,5%.

Somado aos resultados das pesquisas anteriores, Panzeri et al. (1999) confirmaram que a utilização de um dentifrício contendo própolis à 3% foi mais efetivo no controle do índice de placa e sangramento gengival do que aquele destituído do agente terapêutico. Sendo assim, autores sugerem a utilização desta substância como um agente preventivo ou terapêutico da doença periodontal. Esta afirmativa se baseia nas conclusões do estudo que revelam condições ideais para o emprego do produto com própolis como agente terapêutico: pH levemente ácido, baixa abrasividade, teor de flúor em concentração ideal, e densidade, comportamento de fluxo e viscosidade também adequados. Além disso, o produto se mostrou eficiente contra os cocos gram- positivos, enterococcus faecalis e bastonetes gran-negativos, com sugestiva liberação do princípio ativo durante o uso.

Em contrapartida, Duarte e Kfouri (1999) observaram que a própolis a 0,84%, sob a forma de bochecho, utilizada 3 vezes ao dia após a higiene oral, não foi capaz de alterar o índice de placa e de gengivite.

Anauate-Netto,et.al. (2014) compararam os efeitos de enxaguatórios a base de própolis tipificada e clorexidina na saúde gengival, empregando-se um ensaio clínico duplo-cego, randomizado e placebo-controlado.Sessenta participantes foram randomizados nos 3 grupos de enxaguatórios, a saber: própolis tipificada 2% (n = 20), clorexidina 0,12% (n = 20) e placebo (n = 20). Os participantes de cada grupo bochecharam duas vezes ao dia por 28 dias os respectivos enxaguatórios. Medidas do índice de sangramento papilar (PBS) foram feitas na superfície mésio bucal de todos os dentes dos participantes no tempo basal e após 28 dias. Análise de co- variância foi empregada permitindo comparações entre os grupos das médias do PBS e do número de sítios ≥ 2. Análise de sub-grupo foi efetuada em participantes com idade < 40 anos.Constataram-se os efeitos positivos do enxaguatório de própolis a 2% na redução da inflamação gengival após uso não supervisionado por 28 dias. Análise no sub-grupo de parcipantes com idade < 40 anos constatou superioridade do enxaguatório de própolis quando comparado com o enxaguatório de clorexidina a 0,12%. Estes resultados necessitam ser duplicados por outros investigadores.

Buscando descobrir os efeitos (as propriedades terapêuticas) da própolis sobre a estomatite aftosa, Matinez Silveira et al. (1988), Garcia e Garguera (1993) e Cabarrocas e Gomes (1994) observaram a sua efetividade no tratamento desta

patologia através da diminuição da dor, pronta epitelização clínica e, em alguns casos, a cura completa em 24 horas.

Acreditando que a própolis atua na regeneração dos tecidos, na camada protetora das cicatrizes e no tecido de granulação, Silva et al. (2000) concluíram que a própolis pode ser indicada no tratamento e reparação de feridas abertas por segunda intenção em mucosa oral, pois ela não provoca reação antiinflamatória e induz a formação epitelial, bem como a neoformação vascular e fibroblástica do tecido conjuntivo subjacente. Neste mesmo estudo, os autores observaram que a aplicação da própolis sobre a mucosa proporcionou uma velocidade maior na concentração das células e, assim, promoveu uma cicatrização mais rápida, pois aumentou os efeitos favoráveis da inflamação, controlando os seus efeitos nocivos.

De forma semelhante Agostini et al. (1997) já haviam observado uma correlação positiva entre o desenvolvimento do processo cicatricial e o uso da própolis através da sua utilização na cicatrização da mucosa após extração dental.

Assim como nos estudos supracitados, Quintana Diaz (1992) estudou dois grupos de pacientes com alveolíte pós extração dental. Em um grupo utilizou propalina 8% e no outro, o controle, Alvogyl®. O autor concluiu que a propalian 8% mostrou uma boa eficácia na cura da alveolite e que os resultados obtidos foram ligeiramente melhores que no grupo controle.

Nos estudos desenvolvidos por Magro Filho e Carvalho (1990), as soluções de própolis aceleraram a regeneração epitelial após a avulsão dentária, bem como a cicatrização de úlceras mucocutâneas.

De igual maneira, a hipersensibilidade dentinária foi relacionada com a própolis. Os autores Mahmound et al. (1999) observaram que pacientes que apresentavam hipersensibilidade dentinária e que utilizaram a solução de própolis no seu tratamento, tiveram uma melhora significante do quadro álgico, apresentando alto nível de satisfação em relação à utilização desse produto. Esta assertiva foi possivelmente explicada no estudo de Geraldini et al. (2000), que constataram a presença de uma camada de própolis aderida sobre a dentina após preparo cavitário, obliterando a entrada dos túbulos dentinários.

A PRÓPOLIS NA ENDODONTIA

Visto as inúmeras aplicações da própolis nas mais diversas áreas da saúde, deu-se início a recentes pesquisas relacionando a própolis com a área da Endodontia.

Em 1998, Bretz et al. obtiveram bons resultados após investigar o efeito da aplicação de própolis e de hidróxido de cálcio sobre exposições pulpares (capeamentos diretos). Os autores verificaram que, em relação à resposta pulpar, não houve nenhuma diferença significativa entre os dois materiais. Ambas as substâncias exibiram reorganização normal do tecido pulpar exposto, sem aumento vascular e ainda, foram igualmente eficazes na manutenção de níveis baixos de inflamação e de formação de dentina reparadora. Tal efeito poderia ajudar a preservação do tecido pulpar em detrimento do tratamento endodôntico convêncional.

Recordando uma das mais antigas aplicações da própolis, a de mumificação, Matos (1989) deu início a experimentações empregando própolis em diferentes concentrações em dentes de cães, para avaliar, a partir de qual concentração a produto provocaria a mumificação pulpar. O autor salientou nesta nota prévia do estudo que, caso se comprove esta propriedade da própolis, seria possível reduzir o índice de exodontias, especialmente dos primeiros molares permanentes de crianças da rede pública de ensino.

Diferentemente da utilização anterior, Arruda et al. (2004) realizaram um estudo buscando verificar a superfície do canal radicular em relação à coloração (análise macroscópica) e à presença de smear layer (análise em microscopia eletrônica de varredura), após a utilização do extrato de própolis a 0,25% como irrigante do canal radicular em comparação com o hipoclorito de sódio a 1%. Puderam concluir que não houve diferença de coloração entre o controle e o fragmento submetido à irrigação para ambas as substâncias. Para a análise da presença de smear layer, houve presença desta camada de esfregaço em ambas as soluções quando utilizadas isoladas. Quando associado ao EDTA a 17%, houve a remoção da smear layer sem haver diferença estistícamente significante entre as soluções testadas. Porém, apesar de não haver diferença, o extrato de própolis 0,25% permitiu a presença de smear

A capacidade da própolis de reparar um tecido injuriado também faz valer a hipótese de aplicação endodôntica desta substância. Nete sentido, Perin e Souza (2004) utilizaram espumas de poliuretano no interior de tubos de polietileno para avaliar o extrato de própolis à 0,25% por longos períodos em contato com o tecido conjuntivo subcutâneo de rato. Observaram que as espumas produziram uma severa inflamação, porém, a solução de própolis presente na mesma foi capaz de reduzir o número de neutrófilos no tempo de 21 para 30 dias. No mesmo estudo, verificaram que associado ao hidróxido de cálcio, os resultados foram satisfatórios tanto quanto a associação do hidróxido de cálcio com solução salina à 0,9%, sugerindo uma possibilidade de utilização como veículo deste.

Utilizando metodologia semelhante, Silva et al. (2004) avaliaram o potencial irritativo da própolis, Casearia sylvestris, otosporin e solução salina quando aplicados intradermicamente em ratos Wistar. Os autores puderam concluir que a própolis apresentou os menores valores de exudato inflamatório, sendo considerada um promissor antiinflamatório de uso endodôntico.

Mais especificamente, Al-Shahed et al. (2004) examinaram a tolerância de fibroblastos do ligamento periodontal e da polpa à aplicação de própolis comparando com a aplicação do hidróxido de cálcio. Os dados do estudo mostraram que quando aplicado própolis sobre os fibroblastos resultou em uma viabilidade celular de mais de 75%. Ao contrário, o hidróxido de cálcio se mostrou citotóxico, permanecendo menos de 25% das células viáveis.

De forma diferenciada, Arruda e Souza (2004) avaliaram, em tecido conjuntivo subcutâneo de rato, a histocompatibilidade de um cimento endodôntico de própolis em comparação ao comumente utilizado Endofill®. Ambos os cimentos possuíam em sua composição o pó de óxido de zinco, porém, o Endofill® foi utilizado de forma convencional, tendo como veículo o eugenol, enquanto que para o de própolis foi utilizado um estrato viscoso de própolis. Os autores verificaram que o cimento Endofill® produziu resposta inflamatória intensa com presença de neutrófilos, linfócitos, plasmócitos e macrófagos, os quais se mantiveram ao longo de todo o tempo experimental, enquanto que o cimento de própolis produziu resposta inflamatória leve, com presença de neutrófilos, linfócitos e plasmócitos, havendo uma

redução destes eventos de forma significativa durante os tempos experimentais (7, 15 e 30 dias). Desta forma, concluíram que o cimento de própolis apresentou-se favorável ao processo de reparo.

Deve-se ainda lembrar que a própolis é um antibiótico potente e deve ser tratado como tal. O uso indiscriminado da própolis pode levar a resistência microbiana, assim como todo e qualquer antibiótico. Além disso, existem algumas suspeitas que na presença de uma predisposição genética, ela poderia possuir algum componente com efeito co-carcinogênico. Por isso, a própolis tem sido alvo de muitos estudos em todo o mundo, na tentativa de descobrir suas potencialidades, tanto positivas como negativas.

Conforme já relatado anteriormente, assim como a associação corticosteróide- antibiótico, a própolis possui propriedades antiinflamatória e antimicrobiana, além de