• Nenhum resultado encontrado

III. PRESSUPOSTOS NECESSÁRIOS À ADMISSIBILIDADE DA AÇÃO

3.1. Pressupostos genéricos da ação rescisória – condições da ação e

Como ação que é, a ação rescisória deve se submeter às condições da

ação civil em geral. Sendo assim, para que a ação rescisória seja admitida,

devem estar presentes as condições da ação, exigidas para qualquer ação, quais sejam: legitimidade ad causam, interesse de agir e possibilidade jurídica do pedido. Presentes as referidas condições, chegar-se-á a um julgamento do mérito da causa. A ausência de uma dessas condições, por sua vez, desemboca no fenômeno designado de carência de ação, o que leva à prolação de uma sentença terminativa, que extingue o processo sem julgamento de mérito.

A legitimidade ad causam é delineada na correspondência subjetiva que deve haver entre o titular da relação jurídica material e o sujeito que vem a juízo a fim de pleitear proteção para tal relação. Assim, têm legitimidade para a causa os titulares da relação jurídica material deduzida em juízo. Essa é a regra: aquele que se diz titular do direito material é quem pode postular em juízo. Pode haver, todavia, descoincidência entre a titularidade do direito material e a legitimação para a causa. Nesse caso, o ordenamento jurídico confere a outrem a legitimidade para estar no processo como parte, defendendo não pretensão sua, mas do titular do direito material.

Na demanda rescisória, a regra da legitimação para a causa não cai como uma luva. Tendo em vista ser a rescisória uma ação especial, com o fim

de impugnar uma sentença proferida numa ação anterior, a relação jurídica cujo titular tem legitimidade para postular em juízo é aquela já deduzida em juízo, é a relação jurídica processual. Por isso, a legitimatio ad causam é delimitada pela lei, no artigo 487 do CPC. Os legitimados ativos para propor a ação rescisória estão previstos nos incisos do referido dispositivo. São eles: a) quem foi parte no processo ou o seu sucessor a título universal e singular; b) o terceiro juridicamente interessado; c) o Ministério Público, se não foi ouvido no processo em que lhe era obrigatória a intervenção ou quando a sentença é o efeito de colusão das partes, a fim de fraudar a lei.

Para que a parte possa ajuizar determinada ação, é preciso que tenha interesse de agir ou interesse processual. Essa condição da ação se traduz na

necessidade de acionar o aparato judiciário para a resolução da lide e na utilidade do provimento jurisdicional pleiteado pelo autor, que também deve ser

adequado. Para Alexandre Freitas Câmara, “terá interesse de agir aquele que apresentar necessidade da tutela jurisdicional, tendo pleiteado um provimento que se revele adequado para a tutela da posição jurídica de vantagem afirmada na demanda”.85

A possibilidade jurídica do pedido é a condição da ação que mais celeuma gera em torno do seu alcance e definição. Até a sua natureza de condição da ação não é tranqüila.86

Incorre em impossibilidade jurídica do pedido o autor que faz pedido vedado pelo ordenamento jurídico, como o pedido de prisão civil por dívida, excetuados os casos permitidos (devedor de alimentos e depositário infiel).

85 Lições de direito processual civil, p. 127.

86 “A tendência mais moderna parece ser a de não se considerar a possibilidade jurídica do pedido como condição da ação. Mesmo autores que chegaram a adotar posição contrária acabaram por não mais vir a considerá-la como tal” (Teresa Arruda Alvim Wambier,

Logo, para que reste preenchida tal condição da ação, o demandante deve formular pedido juridicamente possível, ou seja, pedido concreto admissível in

abstracto. Ensina a professora Teresa Arruda Alvim Wambier: “A pretensão há

de ser albergada pelo sistema, seja explícita, seja implicitamente”.87

Não se deve exigir, todavia, que apenas o pedido seja juridicamente possível, a causa de pedir também o deve ser. Tomemos como exemplo para análise ação em que se pede condenação do réu ao pagamento de dívida de jogo. O pedido de pagamento de certa quantia em dinheiro é possível em nosso ordenamento, o que se veda é a cobrança judicial de dívida oriunda de jogo ou aposta. Logo, o fundamento do pedido também deve ser admissível abstratamente, assim como o pedido.88

Ocorre que, numa análise mais apurada, verifica-se que a possibilidade jurídica do pedido está inserida no próprio interesse de agir, não constituindo, portanto, condição autônoma. Isso porque, se a parte faz pedido juridicamente impossível, não pode esperar que o provimento jurisdicional concedido lhe seja útil, faltando-lhe, portanto, interesse processual. O próprio Liebman abandonou tal condição da ação nos seus últimos pronunciamentos. Mas o ordenamento processual pátrio prevê as três condições já referidas no artigo 267, VI, e é por isso que a doutrina nacional as considera, sendo tal fato motivo suficiente para que também consideremos a possibilidade jurídica do pedido como uma das condições da ação.

87 Nulidades do processo e da sentença, p. 53

88 Para Cândido Rangel Dinamarco, “é sistematicamente correto, portanto, pensar na demanda como um todo e não apenas em um de seus componentes, como sede do obstáculo que se caracterizará como impossibilidade jurídica e carência de ação. Falemos, portanto, em impossibilidade jurídica da demanda e não apenas do pedido. Isso permite que se compreenda por que às vezes é algo referente ao próprio petitum que exclui a ação e impede o exercício consumado da jurisdição, outras vezes é algo situado na causa petendi (dívida de jogo), outras é alguma especial condição da pessoa (não se faz execução contra pessoa jurídica de direito público)” (Execução civil, p. 387).

Em se tratando de ação rescisória, o interesse de agir e a possibilidade jurídica do pedido são de fácil verificação, já que a rescisória é o meio processual típico previsto em lei para a rescisão da sentença transitada em julgado e, então, só por meio dela se pode alcançar tal fim. Restam preenchidos, destarte, os requisitos da necessidade, utilidade, adequação e previsão legal, se a parte só dispõe da ação rescisória para obter o provimento jurisdicional que servirá a sua pretensão. Em verdade, a existência da sentença transitada em julgado com vício que a torna rescindível já denuncia o interesse processual para o ajuizamento da ação rescisória, o que demonstra a sobreposição entre um pressuposto geral (interesse de agir) e um pressuposto específico (sentença transitada em julgado).

Para que o processo que abriga a demanda rescisória se constitua e prossiga válido e regular rumo ao julgamento de mérito, devem se fazer presentes os chamados pressupostos processuais de existência e de validade. São eles os requisitos de existência e validade da relação processual. Juntamente com as condições da ação, os pressupostos processuais estão inseridos na categoria dos requisitos de admissibilidade do julgamento do mérito.89 Isso significa que, faltante uma das condições ou um dos pressupostos, ou presente um dos pressupostos negativos, não se alcançará a apreciação do mérito da causa, devendo o processo ser extinto prematuramente, sem julgamento de mérito (art. 267, IV, V, VI, do CPC).

89 Ensina o professor potiguar Marcelo Navarro Ribeiro Dantas que “juízo de admissibilidade impõe-se como uma espécie de ‘mecanismo de filtragem’, separando, dentre os pedidos que batem às portas do Judiciário, aqueles que se apresentam como passíveis de exame substancial do que podem, de pronto, ser descartados, já por questões respeitantes à existência e validade do processo, através do qual se desenvolve a ação, já por motivos que prenunciam ser esta mesma insuscetível de levar a uma decisão substancial sobre o direito invocado” (Mandado de segurança coletivo: legitimação ativa, p. 60-61).

Humberto Theodoro Junior, acertadamente, assim distingue as condições da ação dos pressupostos processuais:

Não se confundem os pressupostos processuais com as condições da ação. Os pressupostos são aquelas exigências legais sem cujo atendimento o processo, como relação jurídica, não se estabelece ou não se desenvolve validamente. E, em conseqüência, não atinge a sentença que deveria apreciar o mérito da causa. São, em suma, requisitos jurídicos para a validade e eficácia da relação processual. Já as condições da ação são requisitos a observar, depois de estabelecida regularmente a relação processual, para que o juiz possa solucionar a lide (mérito).

Os pressupostos, portanto, são dados reclamados para análise de viabilidade do exercício do direito de ação sob o ponto de vista estritamente processual. Já as condições da ação importam o cotejo do direito de ação concretamente exercido com a viabilidade abstrata da pretensão de direito material.90

Passemos à análise dos pressupostos processuais de existência.

Em primeiro lugar, para que haja processo, é preciso que haja um juiz investido de jurisdição. É cediço que a jurisdição constitui atividade e função estatal que substitui a vontade dos sujeitos com interesses conflitantes. E é por meio do processo que a jurisdição atua. Isso quer dizer que só existe processo se ele se desenvolve perante órgão do Estado apto a exercer a função jurisdicional.

Há que haver, outrossim, pedido, para a existência do processo. É por meio da petição inicial que o autor exerce o seu direito de ação e aciona a máquina judiciária estatal para que solucione a lide que ora lhe é submetida à apreciação. Isso porque a jurisdição é inerte e só atua mediante provocação (art. 2º, CPC), não obstante se desenvolva por impulso oficial (art. 262, CPC).

O pressuposto processual de existência é a petição inicial, mesmo que seja ela inepta. A sua aptidão constitui pressuposto de validade.

Por meio da citação, o réu (ou interessado) toma conhecimento da demanda ajuizada e é chamado a integrar a relação jurídica processual. Esta somente se triangulariza (autor – Estado-juiz – réu) e completa a sua formação com o ingresso do réu. Segundo o artigo 213 do CPC, “citação é o ato pelo qual se chama a juízo o réu ou o interessado, a fim de se defender”. De fato, a citação é o ato de comunicação processual que se destina a dar conhecimento ao sujeito passivo da relação processual de que em face dele foi ajuizada ação ou procedimento de jurisdição voluntária, para que ele possa, querendo, defender-se ou se manifestar. Trata-se de ato complexo que somente se perfaz com a ocorrência de dois momentos distintos: a expedição do instrumento (carta, mandado etc.) e o efetivo conhecimento da demanda ou procedimento por parte do sujeito passivo da relação. Se a citação for nula ou inexistente, mas o demandado comparecer a juízo espontaneamente, restará sanada toda e qualquer nulidade. A citação nula aliada à revelia equivale à inexistência de citação, já que a informação não chegou ao destinatário efetivamente. A função essencial do ato citatório é informar.

Registra Vicente Greco Filho que

a citação é a primeira e fundamental garantia de um processo livre e democrático, porque por seu intermédio se leva ao réu o conhecimento da demanda e o que pretende o autor. Sem citação não se completa o actum trium personarum, a relação jurídica processual, não podendo de um simulacro de processo se extrair qualquer efeito.

A rigor, não há processo sem citação, pois a citação é pressuposto processual de existência, logo, sem citação, o processo não existe. Mas há uma situação que pode gerar alguma dúvida: o indeferimento liminar da petição inicial. É cediço que, mesmo sem a participação do réu, o juiz pode extinguir o processo sem julgamento de mérito ao indeferir a petição inicial liminarmente

(art. 267, I, CPC). Da decisão que indefere a inicial, cabe apelação, facultando- se ao juiz a retratação, no prazo de 48 horas, como reza o artigo 296 do CPC. Sendo assim, fica difícil dizer que não há processo, nesse momento inicial, mesmo sem o conhecimento do réu, muito embora a relação jurídica processual não tenha, ainda, tomado a forma triangular, entre autor, réu e Estado-juiz. É que, ensina o mestre Arruda Alvim, “verifica-se, aliás, defluir do sistema, nitidamente, que há processo antes mesmo da citação do réu, embora somente havendo relação jurídica existente entre autor e juiz, e não em relação jurídica triangular”.91

O indeferimento da petição inicial somente pode ocorrer no início do procedimento, pois implica o trancamento liminar da inicial, impedindo o prosseguimento do processo. Dessa forma, tal indeferimento deve ocorrer necessariamente antes da citação do réu. O autor poderá apelar da decisão indeferitória, facultando-se ao juiz a retratação, reza o art. 296 do CPC. Em não havendo retratação, os autos serão imediatamente encaminhados ao tribunal competente. O réu só será citado se o recurso for provido. A nova redação do referido dispositivo legal, que antes impunha a citação do réu para “acompanhar” o recurso, reforça a tese de que o indeferimento se dá mesmo antes da citação do réu.

Para acionar o aparato judiciário, o autor deve estar devidamente representado por profissional legalmente habilitado para tal encargo. Logo, só por meio de advogado o autor pode instaurar processo, isto é, só por intermédio de advogado regularmente inscrito na OAB o autor terá capacidade de postular em juízo ou capacidade postulatória. Essa é a regra vigente, mas o sistema admite exceções, como na justiça trabalhista (art. 791, caput, CLT) e

nos juizados especiais (art. 9º, caput, Lei 9.099/95), em que se atribui à parte, excepcionalmente, a referida capacidade.92 Também não se exige capacidade postulatória para a impetração de habeas corpus (art. 654, caput, CPP; art. 1º, § 1º, Estatuto da OAB). O membro do Ministério Público, outrossim, detém capacidade para mover ações em juízo, dentro das suas funções institucionais previstas em lei.

Nesse ponto, urge se fazer a distinção entre capacidade e legitimidade. A capacidade induz conceito genérico, pode-se dizer, intransitivo (prescinde de complemento). A legitimidade, ao contrário, traduz noção de algo em face de uma realidade concreta. Dessa forma, “A é capaz” traz idéia completa; “A é legitimado” impõe que se formule complemento, diante da inevitável questão: “legitimado para quê?” Nesse sentido, o insigne Arruda Alvim aduz: “A capacidade é um atributo ou uma qualidade imanente à pessoa, ao passo que a legitimidade conduz ao estabelecimento de uma relação, inserida numa realidade concreta”.93

No campo processual, o advogado legalmente habilitado tem capacidade (aptidão genérica) para agir em juízo, em qualquer processo. Em se tratando de um determinado processo, terá ele capacidade se a parte lhe outorgar os poderes necessários, por meio de uma procuração. Isso significa que, além da capacidade postulatória, ele precisa ter legitimidade postulatória para agir naquele determinado processo. Essa a inteligência da professora

92 “Advogado. Participação facultativa. Constitucionalidade. ‘Afastando a alegada violação à CF 133, o STF julgou improcedente o pedido formulado em ação direta ajuizada pelo Conselho Federal da OAB e declarou a constitucionalidade da primeira parte da LJE 9º. Considerou-se que a assistência compulsória dos advogados não é absoluta, podendo a lei conferir às partes, em situações excepcionais, o exercício do ius postulandi perante o Poder Judiciário. Precedentes citados: ADIn (MC) 1127-DF (RTJ 178/67); RvC 4886-SP (RTJ 146/49); HC 67390-PR (RTJ 131/610).’ (STF, Pleno, ADIn 1539-7-DF, rel. Min. Maurício Corrêa, j. 24.04.2003, v.u., DJU 14.5.2003)” (Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery, Código de processo civil comentado e legislação extravagante, 8. ed., p. 1.653). 93 Manual de direito processual civil, v. 2, p. 27.

Teresa Arruda Alvim Wambier: “Isto porque não basta haver um advogado,

genericamente habilitado para o exercício da advocacia, atuando no processo.

É necessário que seja procurador do autor, portanto, legitimado em face da

situação concreta”.94

Há que se acrescer, então, à capacidade postulatória, a legitimidade postulatória, para que reste configurado o pressuposto processual de existência. Em verdade, melhor pensado, seria a legitimidade postulatória o pressuposto processual de existência, já que ela pressupõe a capacidade.

Podemos enumerar, nesse ponto, os pressupostos processuais de existência, quais sejam:

a) Jurisdição;

b) Petição inicial (pedido); c) Citação;

d) Legitimidade postulatória (quanto ao autor).95

À jurisdição correspondem os pressupostos processuais de validade

competência e imparcialidade. O primeiro se aplica ao juízo; o segundo, ao juiz.

Deve o juízo ser competente para a causa e o juiz, imparcial. Sobre a

94 Nulidades do processo e da sentença, p. 44.

95 É bom ressaltar que a enumeração dos pressupostos processuais não é pacífica na doutrina, havendo dissenso considerável. Há corrente mais restritiva que os sintetiza em: a) uma demanda regularmente formulada; b) a capacidade de quem a formula; c) a investidura do destinatário da demanda, ou seja, a qualidade de juiz (Ada Pellegrini Grinover, Antonio Carlos de Araújo Cintra e Cândido Rangel Dinamarco, Teoria geral do processo, 12. ed., p. 292). Alexandre Freitas Câmara formula elenco similar (Lições de direito processual civil, 11. ed., v. I, p. 232). Vicente Greco Filho classifica os pressupostos processuais em pressupostos subjetivos, relativos às partes e ao juiz, e pressupostos objetivos. São pressupostos objetivos: a) um pedido formulado ao juiz; b) a citação do réu; c) a inexistência de fato impeditivo, como a litispendência ou a coisa julgada, o compromisso arbitral ou o pacto de non petendo. São pressupostos subjetivos: a) relativos ao juiz, a jurisdição, a competência e a capacidade subjetiva (imparcialidade); b) relativos às partes, a tríplice capacidade: de ser parte, de estar em juízo e postulatória (Direito processual civil brasileiro, 11. ed., v. II, p. 62).

imparcialidade do juiz, ensinam os professores Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery:

A imparcialidade do juiz é atributo necessário para que possa julgar, sendo manifestação do princípio constitucional do estado democrático de direito (CF 1º caput) e um dos elementos integradores do princípio constitucional do juiz natural (CF 5º XXXVII e LIII). Daí a razão pela qual o juiz tem de ser sempre imparcial, independentemente da natureza do processo ou procedimento que vai ser por ele decidido.96

As hipóteses que caracterizam o impedimento do juiz, relacionadas no artigo 134 do CPC, constituem presunção juris et de jure (absoluta) de parcialidade do julgador. Provada a causa do impedimento, de forma objetiva, não cabe perquirir acerca do elemento subjetivo do juiz, deve ele ser afastado, imediatamente, do processo. A ocorrência de impedimento judicial afeta o pressuposto processual da imparcialidade do juiz, sendo, portanto, matéria que não preclui e podendo servir, inclusive, de fundamento para o ajuizamento de ação rescisória (art. 485, I, CPC).

Os motivos de suspeição do juiz, previstos no artigo 135 do CPC, indicam presunção relativa de parcialidade, logo, podem ser afastados mediante prova em contrário. São causas de ordem subjetiva que, não argüidas pela parte no momento oportuno, precluem, passando o juiz a ser considerado imparcial. A suspeição, pois, não constitui pressuposto processual, convalidando-se diante da inércia da parte.

Exige-se, para a validez e continuidade do processo, que a petição inicial seja apta. Para que seja deferido o processamento da petição inicial, devem estar preenchidos os requisitos dos artigos 282 e 39, I, do CPC. A falta de um desses requisitos acarreta sua inaptidão e, conseqüentemente,

indeferimento (art. 295), caso não haja emenda (art. 284). A petição inicial será considerada inepta quando: I – lhe faltar pedido ou causa de pedir; II – da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão; III – o pedido for juridicamente impossível; IV – contiver pedidos incompatíveis entre si (art. 295, parágrafo único).

Quanto à citação, não basta que tenha sido realizada, ela tem ser válida, tem que preencher as condições legais e cumprir a missão de dar ciência ao demandado da ação ajuizada contra ele, ordinariamente assim é a lição da doutrina. Se a citação foi feita, mas eivada de nulidade, a ocorrência de revelia indica que a informação não chegou ao réu e, por isso, equivale à inexistência de citação.97 Havendo o comparecimento espontâneo do réu, contudo, em qualquer hipótese, resta sanada qualquer nulidade.

Observemos, todavia, que, se a citação nula aliada à revelia equivale à inexistência de citação, citação inexistente e citação inválida produziriam o mesmo efeito, não havendo como distinguir os pressupostos processuais como sendo um de existência e outro de validade. Sendo assim, existiria mesmo o pressuposto processual de validade citação válida? Para fins didáticos, preferimos mantê-lo no rol dos pressupostos processuais de validade, porém deixando registrada a ressalva.

Segundo a teoria da aparência, se a citação for realizada na pessoa que,

aparentemente, tinha poderes de representação da parte ré, considera-se

validamente feita a citação. Sendo o réu pessoa jurídica, será válida a entrega da carta de citação a pessoa com poderes de gerência geral ou de

97 Para Teresa Arruda Alvim Wambier, “o vício de citação gera ação, processo e sentença inexistentes, já que a relação processual, sem a citação, não se triangulariza e, portanto, não se constitui em sua plenitude” (Nulidades do processo e da sentença, p. 365-366).

administração (art. 223, par. único, parte final, do CPC).98 A questão é objeto de acirrada controvérsia em sede jurisprudencial, já que a regra não abrange todas as situações possíveis, e os nossos tribunais vêm decidindo, caso a caso, se a citação feita pode ser tida por válida ou não.99

98 Teresa Arruda Alvim Wambier, considerando o vício de citação de imensa gravidade, propugna pela não aplicação da teoria da aparência para que se o considere “sanado”. Em prol da ampla defesa, “significaria perigoso precedente considerar sanado o vício de citação, porque esta se teria realizado em pessoa que aparentaria ser quem deveria efetivamente ter recebido a citação”, assevera a professora (ibidem, mesma página).

99 Vejamos alguns julgados do STJ, ora admitindo a aplicação da teoria da aparência, ora inadmitindo-a:

“PROCESSUAL CIVIL – EXECUÇÃO FISCAL – TEORIA DA APARÊNCIA – CITAÇÃO FEITA NA PESSOA DO FILHO (PARENTE) – NULIDADE – PRESSUPOSTO DE