• Nenhum resultado encontrado

Pressupostos objetivos (motivo e requisitos procedimentais)

4.3 Pressupostos de validade

4.3.2 Pressupostos objetivos (motivo e requisitos procedimentais)

O motivo é o fato que justifica a prática do ato administrativo, em outras palavras, o fato é o acontecimento, ou evento hipotético previsto na norma jurídica, necessário e suficiente para fazer nascer a obrigação de o Estado agir por meio da prática de um ato jurídico, gerador de consequências de direito. Esta relação da ação do Estado com a norma jurídica, por meio de seus atos, já foi ressaltada anteriormente, mas não nos cansamos de repetir isto, pela sua importância, especialmente para o presente estudo. A Administração Pública está submissa a um regime jurídico que homenageia o Estado de Direito, adotando, como um de seus princípios mais importantes, o da estrita legalidade.

Então, para que a Administração Pública possa agir, é necessário que a hipótese fática da norma jurídica legal ou, excepcionalmente constitucional, na verdada aconteça

no mundo fenomênico, pois, deste modo, ocorre o que chamamos de subsunção do fato à norma, gerando uma consequência de direito, que obrigará ou permitirá uma ação jurídica da Administração Pública e, esta, por via de consequência, acarretará também um efeito de Direito a outrem, com quem o Estado estiver se relacionando.

É importante deixar claro que o regime de estrita legalidade não exige apenas que ocorra um fato qualquer, para se ter como cumprido este pressuposto de validade do ato administrativo, sendo necessário que o evento acontecido seja exatamente o mesmo previsto na hipótese normativa e que o ato guarde pertinência lógica com ele, para vincular a conduta do administrador público, como bem estabelece a Teoria dos motivos determinantes39.

Há que se fazer uma ressalva, não se pode confundir o motivo com a motivação, esta diz respeito à necessidade de formalização do motivo quando da prática do ato administrativo. É evidente (salvo apenas os casos em que a lei expressamente dispensar esta formalização, como se vê na exoneração de agente público de cargo em comissão40), a obrigatoriedade de motivação dos atos, pois assim se retira qualquer dúvida quanto ao cumprimento da lei pelo Estado.

Neste sentido, todo ato administrativo deve trazer consigo, exposto, o motivo de fato que ensejou, obrigou ou autorizou a sua realização, sob pena de vício de formalização41. Assim, o vício decorrente da ausência de descrição do motivo do ato administrativo pode ser considerado como leve, de rejeição branda pelo ordenamento

39 Sobre a Teoria dos motivos determinantes, explica Celso Antônio Bandeira de Mello: "os motivos que determinaram a vontade do agente, isto é, os fatos que serviram de suporte à sua decisão, integram a validade do ato. Sendo assim, a invocação de 'motivo de fato' falsos, inexistentes ou incorretamente qualificados vicia o ato mesmo quando, conforme já se disse, a lei não haja estabelecido, antecipadamente, os motivos que ensejariam a prática do ato. Uma vez enunciados pelo agente os motivos em que se calçou, ainda quando a lei não haja expressamente imposto a obrigação de enunciá-los, o ato só será válido se estes realmente ocorreram e o justificavam. (BANDEIRA DE MELLO, 2009, p. 404) 40 A Lei dos Servidores Civis da União nº. 8.112/90, diz em seu artigo 35. " A exoneração de cargo em comissão e a dispensa de função de confiança dar-se-á: (Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)" I - a juízo da autoridade competente;

41 A Lei do Processo Administrativo Federal não deixa dúvidas sobre esta obrigatoriedade: Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando: I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses; II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções; III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção pública; IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitatório; V - decidam recursos administrativos; VI - decorram de reexame de ofício; VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais; VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou convalidação de ato administrativo.

jurídico, se se tratar apenas de uma omissão ou simples falta de alegação do fato. Neste caso, deverá o administrador consertá-lo o quanto antes, pois a restauração da ordem jurídica é condição necessária ao cumprimento do regime de Estado de Direito.

Apesar de admitirmos o conserto destes atos omissos quanto ao motivo, isto não quer dizer que menosprezemos este defeito, pelo contrário, entendemos que a sua exposição é dever da autoridade administrativa, sobretudo nos atos realizados segundo competências discricionárias que, por vezes, obrigam o administrador a apresentar o motivo pelo qual optou por agir de tal ou qual maneira. Cita-se, como exemplo, o ato de dispensa do procedimento licitatório por motivo de emergência42.

Retornando ao pressuposto do motivo, ressalta-se que o mesmo pode apresentar vício insanável pela convalidação, e um deles ocorre quando o fato não existir, ou seja, quando o fato necessário para subsunção da norma efetivamente não acontecer. Neste caso, não há que se falar em ato válido, nem tampouco em conserto. O mesmo acontece quando o fato não guardar pertinência lógica com o ato administrativo realizado. Assim, conclui-se que, nestes casos, é dever do Estado aplicar o instituto da invalidação.

Já quanto aos requisitos procedimentais, podemos conceituá-los como os procedimentos solenes previstos em lei, como necessários à realização de um determinado ato administrativo. Trata-se, portanto, de uma sucessão de atos jurídicos, praticados pela própria administração ou, excepcionalmente, pelo administrado, que devem acontecer antes da realização do ato administrativo final.

São bons exemplos de procedimentos administrativos, as licitações e concursos públicos; no primeiro caso evidencia-se a realização de diversos atos jurídicos precedentes ao ato final de adjudicação da licitação. O mesmo ocorre com a nomeação de um servidor público, que para tanto há que ocorrer uma série de atos jurídicos precedentes e necessários.

42 Lei nº. 8.666/93 em seu artigo 24, inciso VI: "Art. 24. É dispensável a licitação: [...] IV - nos casos de emergência ou de calamidade pública, quando caracterizada urgência de atendimento de situação que possa ocasionar prejuízo ou comprometer a segurança de pessoas, obras, serviços, equipamentos e outros bens, públicos ou particulares, e somente para os bens necessários ao atendimento da situação emergencial ou calamitosa e para as parcelas de obras e serviços que possam ser concluídas no prazo máximo de 180 (cento e oitenta) dias consecutivos e ininterruptos, contados da ocorrência da emergência ou calamidade, vedada a prorrogação dos respectivos contratos;" (BRASIL, 1993).

Assim, para a perfeita decisão administrativa, todos os atos do procedimento devem ser respeitados, mas convém ressaltar que, excepcionalmente, caso o desrespeito a algum ato do procedimento administrativo não desvirtue a sua decisão final, obriga o administrador a convalidar o ato desrespeitoso. No entanto, em caso contrário, quando um ato do procedimento desvirtuá-lo, não há que se falar em conserto, devendo-se proceder com a invalidação do ato ilegal e de seus sucessores.

Documentos relacionados