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Prevenção e controlo

No documento Reflexões sobre o percurso profissional (páginas 78-83)

DR RAINER VAN AERSSEN

SEROTIPO 8 DO VÍRUS DA LÍNGUA AZUL

9. Prevenção e controlo

9.1 Vigilância

À luz da recente progressão geográfica do BTV na Europa, nomeadamente dos serotipos 1 e 8, o Regulamento (CE) Nº 1266/ 2007 de 26 de Outubro de 2007 obriga à execução de vigilância clínica, serológica e entomológica em todos os Estados-Membros da Comunidade Europeia39. Este programa de vigilância deve ser da responsabilidade das autoridades veterinárias do território e o seu resultado define o estatuto sanitário desse território para a BT37.

Vigilância clínica: consiste no sistema de notificação imediata das autoridades mediante uma suspeita clínica de BT, já descrito no ponto 6.137,39.

Vigilância serológica: consiste na realização de testes serológicos e/ ou virológicos numa amostra aleatória ou orientada de ruminantes domésticos, para detectar indícios de circulação do BTV na população susceptível. Perante um resultado serológico positivo, o sistema de vigilância deve investigar se este é consequente de infecção natural, de vacinação, de anticorpos maternais ou da falta de especificidade do teste utilizado. Para isso deve realizar testes suplementares e acções de acompanhamento com colheita de mais amostras desse animal e de outros que com ele se relacionam. A interpretação destes resultados também deve ter em conta se o animal não tem história de movimentação37. O uso de sentinelas é uma forma de amostragem orientada e representa a estratégia preferida para a vigilância do BTV em populações de alto risco. Os sentinelas são grupos de animais seronegativos com origem conhecida (preferencialmente bovinos por serem mais predispostos à picada pelo vector), que se localizam em áreas estratégicas e são sujeitos à colheita de amostras com a regularidade descrita no anexo I do Regulamento (CE) Nº 1266/ 2007 de 26 de Outubro de 200737,39.

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Figura 15 – Aplicação dos testes laboratoriais à vigilância serológica37.

Vigilância entomológica: deve ser implementada nas zonas de vigilância e de restrição, particularmente nos locais onde se encontram os sentinelas37,39. Consiste na colocação de armadilhas de sucção de Culicoides com luz ultravioleta (figura 16) para identificar as espécies locais, estudar as suas características biológicas, comportamentais e a dinâmica populacional. O resultado prático desta monitorização é a definição de áreas de alto, médio e baixo risco, e respectivas sazonalidades. A monitorização de vectores não deve ser encarada como rotina para a detecção da circulação viral pois a taxa de infecção dos vectores é geralmente baixa. Para esta finalidade deve ser usada a vigilância dos ruminantes anteriormente desenvolvida37.

Figura 16 – Armadilhas de sucção para Culicoides com luz ultravioleta5.

Vigilância serológica

-

+

Vacinados Não vacinados

Determinação do serotipo por soroneutralização RT-PCR Análise genotípica

+

-

80 9.2. Definição de caso e de foco de língua azul

O Regulamento (CE) N.º 1266/ 2007 de 26 de Outubro de 2007 define um caso de BT como um animal que apresenta sinais clínicos compatíveis com a doença e/ ou apresenta resultados positivos aos testes de diagnóstico oficiais. A definição de foco de BT, segundo o mesmo regulamento, corresponde à exploração ou local situado num território comunitário, onde os animais são agrupados e onde um ou mais casos foram oficialmente confirmados53.

9.3. Zona submetida a restrições e acompanhamento, segundo a Directiva 2000/75/CE de 20 de Novembro de 2000 e o Regulamento (CE) N.º 1266/ 2007 de 26 de Outubro de 2007 Sempre que a presença do BTV seja oficialmente confirmada numa exploração, as autoridades são obrigadas a actuar imediatamente no local e delimitar uma zona submetida a restrições, definida por um raio de 150 km ao redor desse foco, a não ser que as condições ambientais específicas justifiquem outra dimensão.

Nas zonas de restrição é permitida a deslocação de animais se no seu interior circularem os mesmos serotipos do BTV. A deslocação de animais de uma zona de protecção para uma zona de vigilância só é autorizada se forem cumpridas as regras de tráfego de ruminantes resumidamente descritas no ponto 9.4., as quais também têm de ser aplicadas aos animais para abate imediato.

Nas zonas de restrição tem de ser implementado um programa de acompanhamento que no mínimo deve incluir a vigilância entomológica e serológica com animais-sentinela.

O levantamento das zonas de restrição só pode ser feito quando demonstrada a ausência de circulação do BTV nesse território durante um período de 2 anos a partir da implementação do programa de acompanhamento9,39.

9.4. Controlo de vectores

A estratégia para o controlo de vectores da BT deve ser delineada de acordo com o ciclo de vida, a biologia e o comportamento do insecto, assim como do risco que este representa nos diferentes locais ao longo do ano, devendo ter por base, sempre que possível, os resultados da vigilância entomológica.

Com vista a actuar nas fêmeas adultas, os ruminantes devem ser estabulados antes do pôr-do-sol até depois do amanhecer e submetidos à aplicação de insecticidas, tal como as suas instalações e o entorno das mesmas, sem esquecer os locais de quarentena. Estes insecticidas devem ter capacidade repelente, espectro adulticida, baixa toxicidade para mamíferos (ex: piretróides) e longa acção46.

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A actuação sobre as larvas é geralmente mais difícil. Implica o uso de larvicidas no habitat e a realização de alterações deste, como a secagem de charcos, manutenção das instalações limpas e secas, e impedimento do contacto entre a fossa e os animais.

O Código Sanitário para os Animais Terrestres (OIE, 2008) e o Regulamento (CE) N.º 1266/ 2007 de 26 de Outubro de 2007 também prevêm o controlo de vectores no transporte de ruminantes através de zonas de vigilância e descrevem quais as medidas a aplicar em cada caso e de que modo devem ser aplicadas. De um modo geral essas medidas consistem em:

• desinsectização dos animais antes e durante o transporte;

• carregamento, transporte e descarregamento dos animais nos períodos de menor actividade do vector (durante o dia e a baixas temperaturas);

• garantir que o veículo não pára entre o pôr-do-sol e o amanhecer, excepto se os animais forem protegidos com uma rede mosquiteira eficaz;

• escurecimento do interior do veículo;

• vigilância dos vectores nas paragens e descarregamento;

• selecção do trajecto e dos locais de paragem que representem menor risco37. 9.5. Tráfego de ruminantes, sémen, embriões/ oócitos

Segundo o Código Sanitário para os Animais Terrestres (OIE, 2008) e o Regulamento (CE) N.º 1266/ 2007 de 26 de Outubro de 2007, para prevenir a entrada do BTV numa zona de vigilância através do tráfego de ruminantes, sémen, embriões/ oócitos de ruminantes, as autoridades veterinárias desse mesmo território devem exigir a apresentação de um certificado sanitário que ateste a origem, o estatuto sanitário dessa origem, o tempo em que o animal importado ou dador permaneceu nessa origem e o cumprimento atempado das medidas preventivas legisladas para cada um desses casos, que podem passar pela:

• realização de testes oficiais serológicos/ identificação viral com resultados negativos;

protecção do ataque pelo vector Culicoides;

• vacinação (de acordo com o Código Sanitário para os Animais Terrestres) contra todos os serotipos presentes na população de origem;

• demonstração que o transporte dos animais foi efectuado sem atravessar uma zona de restrição e com a aplicação das medidas de controlo de vectores;

• aplicação de um período de quarentena;

• demonstração que o sémen/ embriões/ oócitos foram colhidos, processados e armazenados em conformidade com o Código Sanitário para os Animais Terrestres2,51.

À luz da nova informação científica sobre a possível transmissão transplacentária do BTV, o Regulamento (CE) N.º 1266/ 2007 de 26 de Outubro de 2007 foi alterado nalguns

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pontos pelo Regulamento (CE) N.º 384/ 2008 de 29 de Abril de 2008 no sentido de se tomarem medidas cautelares para evitar a possível propagação da doença através de fêmeas prenhes ou animais recém-nascidos41.

9.6 Vacinação

A vacinação é usada em várias regiões para limitar as perdas directas resultantes da infecção, minimizar a circulação do BTV e aumentar a segurança do tráfego animal36. Com base na epidemiologia do BTV cada país ou zona pode decidir vacinar apenas determinadas espécies ou outras subpopulações37.

As vacinas vivas atenuadas estão disponíveis para a maior parte dos serotipos, incluindo o serotipo 8 desde de 2008. Este tipo de vacinas é barato, gera imunidade protectora e duradoura após uma única inoculação e tem provado ser eficaz na prevenção da doença clínica. No entanto a intensidade de resposta imunitária e consequente produção de anticorpos depende da capacidade do vírus vacinal se replicar no hospedeiro. Os efeitos adversos decorrentes do seu uso são a diminuição da produção de leite dos animais vacinados, e no caso das fêmeas prenhas pode provocar morte embrionária, aborto, nados-mortos e malformações congénitas. Outro problema associado ao uso de vacinas vivas atenuadas é a dispersão do vírus vacinal por vectores, já documentada na Europa. A possibilidade de reversão da virulência durante a replicação nos animais e/ ou a recombinação do material genético com o das estirpes de campo são situações que apesar de não estarem descritas merecem ser estudadas e justificam que se recomende vacinar durante as épocas frias em que existem menos vectores. Outro assunto que merece atenção é a possível transmissão venérea do vírus vacinal, uma vez que ele pode ser detectado no sémen36.

As vacinas inactivadas são preferíveis pela segurança mas são mais dispendiosas, além de gerarem uma imunidade protectora com menor duração. A disponibilidade destas vacinas está limitada apenas a alguns serotipos, como o 1 e o 436,43.

Os níveis de protecção cruzada entre os vários serotipos de BTV são baixos, o que complica as estratégias de vacinação, pelo que a criação de uma vacinação recombinante facilitaria o controlo e prevenção desta doença36.

Para assegurar que numa população vacinada não existe vírus em circulação, que o programa vacinal inclui todos os serotipos em circulação e que não há recombinação do vírus vacinal com o de campo, devem-se testar subpopulações não vacinadas ou sentinelas com frequência apropriada37.

A União Europeia tem apoiado a opção vacinal quando as autoridades de cada estado- Membro optam por esta medida. Recentemente, a Decisão da Comissão de 24 de Julho de 2008 (2008/655/CE) considera que a BT ao ser uma doença vectorial não é devidamente

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controlada pelo abate dos animais infectados, apresentando a vacinação em massa como a medida mais eficaz para combater a BT face aos recentes surtos de BTV-8 e BTV-1 na Europa. Nesse sentido, a mesma decisão aprova os planos de vacinação de emergência para o período compreendido entre 1 de Novembro de 2007 e 31 de Dezembro de 2008 apresentados por alguns países, incluindo a Alemanha, a Espanha e Portugal, para o que a Comunidade Europeia concede uma participação financeira.

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