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ANEXO A – ORGANOGRAMA ANO: 2009 284 ANEXO B – ORGANOGRAMA ANO: 2011

3.1 PRIMEIRA INICIATIVA

O Museu do Trem de São Leopoldo não é um fato isolado. O cenário museal e cultural apresenta, por um lado, a criação de museus ferroviários nos estados de São Paulo e Pernambuco; por outro a inauguração na cidade de São Leopoldo, da Biblioteca Pública Municipal, em 1941; do Museu Histórico Visconde de São Leopoldo (MHVSL), em 1959; e do Museu de Arqueologia e Etnologia35, em 1983-4.

A história da criação do Museu do Trem de São Leopoldo não é linear, a começar pelos interesses simultâneos em pontos diferentes. A inquietação frente ao acúmulo do patrimônio, incluindo estações desativadas, despertou atenção da população e do poder público. Algumas ideias convergiam em iniciativas positivas, outras em discursos pesarosos e derrotistas, sem qualquer ação. Tanto nas cidades do interior, como na capital gaúcha, a RFFSA agrupa em almoxarifados máquinas, relógios, bancos, mobiliários, telégrafos, peças de toda ordem, principalmente da antiga VFRGS, que eram substituídas por outras mais modernas. Já as estações erradicadas, ficavam perdidas muitas vezes em pontos geográficos inacessíveis, passando a serem vistas como monumentos, que rememoravam um passado nostálgico, porém de difícil acesso, ficando abandonadas.

Em São Leopoldo, a comunidade participa na formalização do museu ferroviário, porém havia planos de um complexo museológico para a cidade, agrupando os museus já existentes, Museu Histórico Visconde de São Leopoldo (MHVSL) e a Casa do Imigrante, e o futuro Museu do Trem, (PRIETO, 2011; MOEHLECKE, 2011; BEMVENUTI, 2012a). Em paralelo, se verifica as preocupações com patrimônio ferroviário pela RFFSA, que mais tarde vai ao encontro a iniciativa da cidade.

A escolha para a formalização do Museu do Trem em São Leopoldo perpassa diversas questões: (1) a Antiga Estação de São Leopoldo obter uma área ferroviária generosa com patrimônio histórico edificado; (2) ser o primeiro trecho ferroviário inaugurado no RS; (3) Estação São Leopoldo da Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre (TRENSURB) ao lado; (4) interesse e organização da cidade na implantação do Museu do Trem. Outro fator apontado pelo engenheiro Roberto Guedes Albuquerque da Luz36, é o fato da Estação de Santa Maria, importante entroncamento ferroviário, também

35 Segundo Pe. Ignácio Schimitz, herdou do Seminário Nossa Senhora da Conceição o acervo que já vinha agregando objetos há décadas, inaugurado na cidade, aos cuidados do Instituto Anchietano de Pesquisa. 36 Engenheiro Roberto Guedes Albuquerque da Luz é admitido na RFFSA em dezembro de 1978 e permanece até a liquidação em fevereiro de 2007, tendo sido um dos poucos ferroviários a ser realocado para a empregadora VALEC Engenharia, Construções e Ferrovias S.A., passando a realizar atividades na

cogitado para abrigar o Museu do Trem do RS, estar com o ramal em pleno funcionamento com atividades da ALL, que é a concessionária.

Conforme ata de reunião da diretoria do MHVSL, de abril de 1975, consta o pedido de permissão de uso da antiga estação de São Leopoldo, para diretoria da SR6; solicitação ao Prefeito Municipal, da cedência de uma professora para trabalhar no futuro Museu do Trem (MOEHLECKE, 2011). Mais tarde, sob a responsabilidade do MHVSL, confirma-se a ida da professora Eliane Klumb37, designada para a função de abrir o Museu para o público, receber escolas e zelar pelo local.

A RFFSA fez-se presente, através do representante Dr. Plauto Adroaldo dos Santos Facin, Superintendente da SR6, no dia 26 de novembro de 1976, no ato de inauguração do Museu do Trem de São Leopoldo, com parceria entre o MHVSL, a Prefeitura de São Leopoldo e a RFFSA. A data escolhida para o ato de inauguração do Museu do Trem de São Leopoldo foi especialmente por ser o aniversário de cem anos do lançamento da pedra fundamental, que marca para a construção da ferrovia no século XIX, no mesmo local.

O último trem de passageiro a trafegar em São Leopoldo foi o trem operário, sendo que, na ocasião da criação do Museu circulavam apenas trens de carga. A Estação de São Leopoldo foi desativada por completo apenas na década de 1980. Para comportar o Museu, o prédio, que ainda era usado para a função de controle de passagem dos trens de carga e moradia do Agente de Estação, foi subdividido. Uma parte para organização do espaço do Museu, com exposição de objetos; a outra parte, para uso da ferrovia (PRIETO, 2011). Organizou-se uma mostra com peças emprestadas do acervo do MHVSL e outras trazidas da SR6, de Porto Alegre, e abriu-se um livro38 para registros de assinaturas com texto inicial assinado pelo Prof. Telmo Lauro Müller.

No referido livro de registros constam 63 assinaturas39 de visitantes presentes, entre elas: Carlos Mac Ginity40, Ana Maria Cabral e Maria Margarida Lemos de Carvalho (Museu Júlio de Castilhos - Porto Alegre), Professor Arnildo Hoppen (Colégio Sinodal –

Inventariança da Extinta RFFSA até janeiro de 2013, quando cedido para o DNIT, onde ainda hoje realiza atividades vinculadas aos inventários.

37 Filha do Prof. Telmo Lauro Muller, então diretor do MHVSL.

38 Também se lê uma anotação de autoria do Prof.Telmo Lauro Muller ao final do texto, entre parênteses, registrando que, na ocasião, o dia estava ensolarado com céu azul.

39 Entre as pessoas presentes foi possível localizar nome para as entrevistas relativas a busca de dados históricos no Projeto de 35 anos do Museu do Trem, em 2011.

São Leopoldo), Astrogildo Fernandes (UFRGS – Porto Alegre), Hélio Bueno da Silveira (Ferroviário), Ana Winter (TV Gaúcha) (BEMVENUTI, 2012a). Havia representantes do poder público, instituições museológicas e da própria RFFSA, sendo possível verificar o volume expressivo de pessoas presentes no evento (ver figura 19).

Figuras 18 e 19 – Entrada do prédio e vista da Plataforma da Estação de São Leopoldo. Inauguração do Museu do Trem Data: 26.11.1976.

Fonte: Museu do Trem de São Leopoldo. No discurso41 proferido pelo Prof. Telmo Lauro Müller, então diretor do MHVSL, são

mencionados: fatos históricos da ferrovia; trechos da passagem do viajante inglês Michael George Mulhall, em 1871, quando no lançamento da pedra fundamental; a edificação pré- fabricada trazida da Inglaterra com uma proteção de zinco42; cita personagens e políticos importantes que chegaram a São Leopoldo de trem; e por fim, faz referência ao trem do futuro, o trem elétrico. Müller destaca também as parcerias entre a Prefeitura Municipal, MHVSL e a SR-6 e encerra o discurso com as mudanças do transporte de massa e a necessidade da nova tecnologia modernizada pelo trem elétrico e, finaliza anunciando projetos do complexo museológico para a cidade, a citar:

Pelo comodato assinado com a RFF, o Museu Histórico “Visconde de São Leopoldo” será responsável pelo Museu do Trem que hoje entregamos ao público apenas parte, pois o aproveitamento total da estação depende da implantação do novo sistema de trens elétricos. É o começo. Um grande e animador começo (MULLER,1976:09).

Estudos desenvolvidos pelo Grupo Executivo de Integração das Políticas de Transportes da Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes (GEIPOT) também marcam o ano de 1976 no setor do transporte ferroviário, pois apontam para a criação da empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre (TRENSURB). Fato que iriam gerar grandes

41 Publicado na integra pela Revista Rua Grande, de São Leopoldo, em 26 fev. 1985.

42 A Estação pré-moldada recoberta de zinco que tinha função de proteger de possíveis ataques de indígenas e de flechas incendiárias. Este é um aspecto repetido pela população da cidade.

mudanças no cenário gaúcho, mas que ainda não era possível dimensionar os desdobramentos e, sobretudo, quais poderiam atingir o Museu do Trem.

Nos primeiros anos43 o Museu do Trem recebe escolas no turno da tarde, das 14h às 17h30min, de terças-feiras a sábados, oferecendo exposição com objetos em duas salas. A professora responsável Eliane Klumb permanece no Museu por um período aproximado de dois anos (KLUMB, 2011).