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ANEXO A – ORGANOGRAMA ANO: 2009 284 ANEXO B – ORGANOGRAMA ANO: 2011

3.5 TERCEIRA INAUGURAÇÃO

A década de 1990 foi marcada por uma nova luta para a preservação do patrimônio ferroviário em São Leopoldo. A situação envolvia outros fatores, além daqueles gerados pelo fechamento do Museu. O que estava em discussão agora era a permanência do Museu

51 A cidade de São Leopoldo vive um luto duplo com o fechamento do Museu e falecimento da funcionária Clarissa Oliveira de Carvalho.

no local, em virtude da construção da nova Estação de São Leopoldo, pela empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre S.A (TRENSURB). A proposta inicialmente era ocupar o sítio do Museu para a Estação nova, neste caso, sendo necessário derrubar o mesmo.

A comunidade participava na defesa e permanência do Museu na cidade. Segundo o historiador Márcio Linck52, um grupo de estudantes do Curso de História da Universidade do Vale dos Sinos (UNISINOS), por exemplo, propunha que a nova estação fosse construída na Av. Mauá, em frente ao Colégio São José e ao BIG, pois, além da preocupação com a possível transferência do Museu para outra localidade, caso a TRENSURB seguisse o projeto original que planejava utilizar exatamente o espaço do Museu para construir suas instalações; chamavam a atenção para os impactos ambientais que poderia atingir o Sítio Histórico, caso a Estação da TRENSURB fosse construída próxima do Museu, como ocorreu. A proposta não vingou, mas gerou resultados, pois

o Ministério Público então chamou o TRENSURB, nos chamou, enquanto sociedade civil, [a Prefeitura Municipal e a RFFSA] para fazer então um acordo, um termo de ajustamento, onde como forma de compensação ao impacto da obra do TRENSURB, conseguiu-se: o recuo da Estação, em 52 metros; a cobertura dos vagões, em termos de proteção; e a própria reforma, das dependências do Museu do Trem e das locomotivas, que elas receberam pintura nova, tratamento para ferrugem, e o estofamento. Tudo, mais ou menos restaurado. Foi o último grande investimento que ocorreu em função da conservação e recuperação deste patrimônio (LINCK, 2011). Outro grupo reunia os moradores do Bairro São José, ao lado do Museu (PRIETO, 2011; ROESLLER, 2011). Estes criaram uma Associação para defender a manutenção do Museu no local. A organização, a presença constante nas recorrentes reuniões, ou seja, a pressão exercida pela comunidade, de algum modo, acelerou (RAMOS: 2011) atitude do poder público na solução do problema.

Quando a comunidade de São Leopoldo começa a se reunir em vários locais. Eu ia com a Profa. Mirian Blauth Rossi, Dona Lilian Rossi. Paulo Koch. Henrique Prieto, em alguns momentos. Prof.Telmo Lauro Muller. E muitas outras pessoas. Nós nos reunimos pra pensar o que fazer, porque a comunidade queria a reabertura do Museu do Trem. A comunidade pedia. A comunidade se reunia e indicava ao Prefeito da época, Olimpio Albrecht, que queria essa reabertura. Houve uma mobilização, foi crescente (RAMOS, 2011).

Segundo reportagem53 veiculada em jornal local na época, também fora organizada um Comissão pró-permanência do Museu, com finalidade de buscar recursos para o Museu do Trem, com reuniões nas dependências da Associação Comercial e Industrial de

52 No qual ele mesmo era um dos estudantes do Curso de História na ocasião. 53 Jornal Vale dos Sinos, 19 de setembro de 1990.

São Leopoldo (ACI-SL), com coordenação de Paulo Koch (Paulão) e relator, Prof. Léo Verbist, representante da Fundação Cultural.

A Prefeitura Municipal de São Leopoldo encaminha para o IPHAE o pedido de Tombamento do Sítio Histórico Museu do Trem, que foi realizado através da portaria nº 17/90, datada de 02 de outubro de 1990.

Segundo o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (IPHAE) na Rua Lindolfo Collor, onde se situa a entrada do Museu, possui casa com características do início do Século XX, que estavam incluídas na Listagem de Bens de Interesse Histórico de São Leopoldo. Com o Tombamento do Sítio Histórico, as construções que estiverem incluídas na poligonal de entorno (ver figura 76) do Museu passariam a ser incluídas nas diretrizes estipuladas pelo IPHAE desde as novas construções, reformas, demolições, assim como quaisquer outras intervenções em edificações. O que incluía a construção da nova Estação pela TRENSURB, que precisou ser avaliada quanto ao impacto de vizinhança.

Figura 76 – Sitio Histórico Museu do Trem, delimitação do entorno pelo IPHAE. Ano: 2002. Fonte: IPHAE.

Segundo parecer do IPHAE, a implantação da Estação São Leopoldo, da TRENSURB, junto ao Museu do Trem, onde está localizada à Antiga Estação ferroviária e instalações afins, “causa impacto no local, devido às escalas das estruturas da TRENSURB, assim como a proximidade às edificações ferroviárias do Século XIX” (IPHAE, 2002).

Ao final, foi realizado um acordo entre Ministério Público, RFFSA, TRENSURB, Prefeitura Municipal e apoio da comunidade54 garantindo a permanência do Museu do Trem em São Leopoldo.

Em janeiro de 1991, é assinado o Termo de Permissão de Uso entre a RFFSA, através da SR6, e a Prefeitura de São Leopoldo, selando acordo na administração, manutenção e preservação do acervo deste Museu. Neste acordo também estava o ônus do aluguel de 100BTN mensais, pagos para a Rede55.

O Decreto Municipal delegava a responsabilidade da gestão à Fundação Cultural que contava com Marlene Petersen, como Presidente; Maria Luiza Roessler, como Diretora Cultural; Antenor Dutra, Diretor Administrativo, e Prof. Léo Verbist, como Presidente do Conselho.

Figuras 77 e 78 – Reinauguração do Museu do Trem, solenidade em 18 de maio de 1991 Fonte: Museu do Trem de São Leopoldo.

O Museu do Trem é reinaugurado pela terceira vez na manhã de 18 de maio de 1991.

É possível encontrar reportagens do período em tom comemorativo com a reabertura. A Revista Rua Grande e o Jornal VS noticiam os esforços da Fundação para receber a população abrindo em finais de semanas alternados, assim como em readequar o Museu às necessidades básicas de limpeza e manutenção, uma vez que a Prefeitura alegava não poder despender recursos. Nos meses de junho e julho foram inúmeras atividades envolvendo exposição de fotos, oficina de teatro e de máscara, coral, Escoteiros do Grupo Cruzeiro do Sul em atividade colaborativa e também atividades com os artistas Fábio Fansere e Luis Brasil (BEMVENUTI, 2012c).

54 Moradores do Bairro São José, que faz divisa com o Museu do Trem, criaram uma Associação de Amigos do Bairro com intuito de lutar pela permanência do Museu em São Leopoldo. Também houve um movimento organizado de estudantes em defesa da mesma causa.

55 Sergio Santos Morais e Roberto Albuquerque Guedes da Luz, entrevistados em diferentes momentos, falam de momentos em que a RFFSA buscava alternativas de captação de recursos, entre ele o aluguel dos locais para as Prefeituras, que tinham o ônus dobrado, considerando que passavam a administrar o local também.

No período a professora e historiadora Eloisa Helena Capovilla da Luz Ramos56, cedida pela Secretaria de Estado da Educação, integrou como coordenadora do Museu do Trem, tendo realizado diferentes atividades, entre elas as de atendimento as escolas e ao público espontâneo, juntamente com Dona Maria Mercker. Ramos também estabelece uma importante parceria com o Curso de História da Universidade do Vale dos Sinos (UNISINOS), através da Professora Marluza Harres, para fins de inventariar o acervo documental, pois conforme Ramos, o Tombo realizado pelo PRESERVE estava concentrado nas peças tridimensionais. Os documentos, apesar de organizados em mapotecas e em armários por grupos, não haviam sido arranjados através de inventário (RAMOS, 2011).

O projeto museográfico, estruturado pelo PRESERVE, permanece quase intacto no local.

[...] momento em que houve a inauguração. A exposição foi rearranjada, mas no mesmo modelo que havia antes. Foi limpa. A exposição se manteve a mesma exposição, que o pessoal da Rede, que tinha vindo do Rio de Janeiro, o Claudio Bacalhau e um pessoal, tinha vindo e montado. A exposição era deles, nós não fizemos trabalho de museografia. Não houve. Isso estava pronto e montado pelo pessoal da Rede e permaneceu (RAMOS, 2011).

O contexto apresentava-se contraditório. Por um lado, a preservação da história ferroviária e, por outro, o abandono da mesma. No mesmo ano que o Governo Federal promove o leilão da RFFSA e vende o patrimônio, o Museu do Trem de São Leopoldo consegue sensibilizar a TRENSURB e, através do Ministério dos Transportes, recebe verba para o restauro dos carros de passageiros.

Figuras 79 e 80 – Restauro dos Vagões e Carros de Passageiros. Ano: 1996. Fonte: Museu do Trem de São Leopoldo.

Figuras 81 e 82 – Restauro dos Vagões e Carros de Passageiros (parte superior). Ano: 1996. Fonte: Museu do Trem de São Leopoldo.

Não conseguindo manter a Fundação Cultural, a mesma é encerrada e tempo após o Governo Municipal cria um Departamento de Cultura, vinculado à Secretaria Municipal de Educação, da mesma forma como ocorre em muitas cidades pequenas no interior.

O ex-presidente do MHVSL e um dos fundadores do Museu do Trem, Germano Oscar Moehlecke57, aos 70 anos de idade, aceita o convite de trabalhar no Museu do Trem, passando a desenvolver atividades diversas: pesquisa da ferrovia e do acervo do Museu de São Leopoldo; atendimento as escolas e pesquisadores; organização de exposições itinerantes (MOEHLECKE, 2011). Neste período também foram desenvolvidos projetos em parceria com o ator Marcelo Schneider, com o Grupo Teatro Geração Bugiganga (TGB) que realizava atividades nas escolas onde as exposições itinerantes eram levadas.

Em 1999 foi realizada nova reunião entre a Prefeitura Municipal, a Construtora SULTEPA, a TRENSURB e a RFFSA, a fim de realizar a adaptação de três carros musealizados para a realização de atividades culturais. No ano seguinte foram adaptados os carros de 2ª classe em: Vagão Biblioteca Infantil, Vagão Arquivo e Vagão Atelier.

Em abril de 1999, o Jornal Zero Hora, de Porto Alegre, informa sobre as coberturas para o acervo ao ar livre do Museu do Trem e, em 2000, é inaugurada a cobertura na mesma data que a Estação São Leopoldo da TRENSURB é aberta ao público usuário, inaugurando o novo trecho até Sapucaia do Sul, da linha originária de Porto Alegre.

57 Comerciante aposentado.

Figuras 83 e 84 – Museu do Trem. Ano: 1985. Museu do Trem com Estação de São Leopoldo, da TRENSURB, ao fundo. s/data.

Fonte: Museu do Trem de São Leopoldo.

Figuras 85 e 86 – Museu do Trem, vista de cima do telhado, sem a Estação de São Leopoldo da TRENSURB. Ano: 1985. Foto à direita: Estação de São Leopoldo

TRENSURB e Museu do Trem de São Leopoldo. Ano: 2009. Fonte: Museu do Trem de São Leopoldo

Sobre a paisagem da cidade, cabe destacar o contraste arquitetônico gerado pelas construções de séculos e estilos formais diferentes: a Antiga Estação, ao lado do moderno prédio da Estação São Leopoldo da TRENSURB, no mínimo chama a atenção para quem passa.

[...] é interessante também eles terem essa estação moderna deles aqui, ao lado dessa estação antiga. É um referencial muito importante para a história da Viação Férrea, que culmina com essa questão do antigo com o trem moderno, que está se expandindo, está indo até Novo Hamburgo, enfim. Meio que, de certa forma, repetindo o que no passado ocorreu quando o trem se instalou em São Leopoldo e, dois anos após ter se instalado, chegou a Novo Hamburgo, permitindo ali o desenvolvimento da cidade, [...] (LINCK, 2011).

Desde meados da década de 1990 até o ano de 2004, o Departamento de Cultura manteve sua sede nas dependências do Museu do Trem. Em meados dos anos 1990, Rose Miranda esteve responsável pelo Museu. Após assume o Museu, a convite do Prefeito Ronaldo Ribas, o jornalista Alejandro Mallo. Também estavam no Museu os funcionários:

Alcemir Lopes Fogaça, Gilberto Antônio Ferreira, além de Germano Moehlecke. Período em que foram desenvolvidas atividades de Exposição Itinerante em cidade da Serra e a Exposição de 125 anos da Viação no Shopping Iguatemi, na capital gaúcha. Os primeiros anos do século XXI, o Departamento de Cultura ficou sob a direção de Andréa Guedes, juntamente com Marta Regina Vargas de Farias e as professoras Lisiane Bauermann e Zuleika Pinheiro, cedidas pela Secretaria Municipal de Educação.

Da gestão de Guedes há registros sistematizados e relatórios anuais com dados de frequência de público escolar, pesquisadores, visitas programadas, entre outros dados. É possível verificar a realização de atividades com participação de comunidade local e com parceiros, como o SESC de São Leopoldo e o 19º Batalhão de Infantaria Motorizada, o Passeio Ciclístico e o Projeto Estação da Cultura, desenvolvido em bairros e escolas.

Figuras 87 e 88 – Atividades no Sítio Histórico em parceria. Ano atribuído: 2000-1. Fonte: Museu do Trem de São Leopoldo.

Figuras 89 e 90 – Atividade cultural com passeio ciclístico. Ano: 2000. Fonte: Museu do Trem de São Leopoldo.

Mesmo já extinto o Setor PRESERVE, foram localizados no Museu do Trem formulários intitulados Relatório Mensal do Centro de Preservação da História Ferroviária – PRESERVE. Os mesmos estavam preenchidos demonstrando terem sido encaminhados à RFFSA. O formulário, de papel timbrado, possuía campos para serem preenchidos com: Situação do prédio (troca de lâmpadas, pintura interna, pintura

externa, áreas e jardins); Situação do Acervo (estado das peças, limpeza, estado dos painéis fotográficos); Novas aquisições e doações (tipo do objeto, doador, como foi adquirido); Estatística Mensal: Visitação (número de pessoas, maior fluxo, dia e horário), Visitação Programadas (número de ordem, número de pessoas, entidade que solicitou); Venda de material de divulgação (cartazes e catálogos); Pessoal lotado no Museu (nome, classe, função); Ocorrências (roubo, acidentes, quebra de peças, etc.); divulgação (pela imprensa local ou área de comunicação social); Programação extra; Reclamações; Observações; Data; Assinatura do Responsável; Responsável pelo PRESERVE.