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Até 1981, foram realizadas cerca de vinte pesquisas na pós- graduação nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro que podemos considerar fundadoras de um campo de estudos acadêmicos. Essas pesquisas estavam concentradas nas áreas de Sociologia, em São Paulo, e Letras e Comunicação, no Rio de Janeiro. Nesse período, temos também em São Paulo dois trabalhos na área de Letras, um em Filoso ia e um em História. No Rio de Janeiro, foram realizados também um trabalho em Filoso ia e outro em Antropologia, área na qual se produziram também estudos das sociabilidades em torno do samba. Ou seja, o estudo da música popular já se con igurava como multidisciplinar, abrangendo as Ciências Sociais e Humanidades de uma maneira ampla. Pode-se dizer que, em São Paulo, as pesquisas

58 PEREIRA, 1967. 59 PEREIRA, 1967, p.225.

estiveram em sua maioria motivadas por acontecimentos recentes: a presença e o impacto da indústria e dos meios de comunicação na produção e consumo musical, e o advento da bossa nova, da MPB e da tropicália. No Rio de Janeiro, foram predominantes os temas relacionados ao samba carioca: origens, questões étnicas, ascensão social do sambista, padrão de música nacional e malandragem. De uma maneira geral, três questões estiveram mais presentes, como problemas para as pesquisas do período, explícitos ou de forma latente: a. as questões envolvendo a letra das canções, suas relações com a poesia literária e suas interações com o texto musical;

b. as relações da produção musical com a indústria e o mercado;

c. as relações entre a música popular e a questão étnica no Brasil.

Especialmente no Rio de Janeiro e na área de Letras, mas também em São Paulo e em outras áreas, d esenvolveu-se uma linha de pesquisa baseada na análise do discurso do texto literário das canções, estudos que focalizavam apenas o plano discursivo das letras das canções. Essas pesquisas tiveram um grande impulso nos eventos dos anos 1960 que consolidaram o status da canção popular como produto artístico com espaço privilegiado na cultura nacional. Foram constituintes do campo de estudos propriamente acadêmico, ao lado das pesquisas antropológicas acerca das sociabilidades em torno do samba. Conforme discutido anteriormente, as letras das canções passaram a ser valorizadas como texto literário. Foi um lugar-comum na época considerar-se a música popular como a poesia cantada. Por essa via, também a música popular encontrava legitimação como objeto válido no campo cientí ico. Se o texto musical era ainda visto como pobre e indigno de estudos sérios na área de Música, na área de Letras o texto literário das canções era admitido como uma peça de análise

perfeitamente justi icável e utilizado como material de estudo nos cursos secundários e de graduação. Contribuiu nesse processo o enriquecimento semântico das letras das canções e a aproximação com a poesia literária e a cultura erudita a partir dos anos 1960. Mas também contribuiu o fato de que intelectuais ligados ao estudo e à produção literária tenham se ocupado da música popular, seja como ensaístas ou orientadores de trabalhos acadêmicos, dentre os quais Affonso Romano de Sant’Anna, Afrânio Coutinho, Antônio Risério, Augusto de Campos, Antonio Candido, Heloisa Buarque de Hollanda, Haroldo de Campos, Luiz Costa Lima, Silviano Santiago e Walnice Nogueira Galvão.

De uma maneira geral, os pesquisadores eram conscientes de que algo na formação do sentido na canção estava se perdendo nessa linha de abordagem, mas, naquele estágio do desenvolvimento das pesquisas, não encontravam outro caminho. Praticamente todas as pesquisas continham algum comentário explicativo ou justi icativo para esta opção metodológica de se trabalhar apenas com o texto literário, mesmo que isso se limitasse a apenas um parágrafo. Ou seja, a questão da interação texto e melodia nas canções era um problema que estava no ar. Alguns trabalhos, inclusive, apresentam elaborações a esse respeito, como veremos mais adiante. Essa questão era de fato importante na medida em que esses trabalhos não se propunham apenas a análises literárias do componente linguístico das canções, mas também a derivar elaborações históricas e sociológicas a partir da análise do discurso. As pesquisas produzidas nessa linha formam o conjunto mais homogêneo de trabalhos do período, tendo marcado fortemente os estudos sobre música popular.

A questão das relações entre texto literário e melodia era um desa io teórico metodológico para o campo em formação. Além das elaborações mais super iciais que podemos encontrar em diversos trabalhos do período, alguns pesquisadores enfrentaram de maneira mais direta essa questão, que estava no ar, como um

“espírito do tempo”. Um exemplo é Fonemas e vocábulos musicais

no comportamento psico-social,60 um dos primeiros trabalhos

realizados sobre música popular no Brasil, o segundo realizado em São Paulo. Nesse trabalho, Sebastião Jorge Chammé desenvolve um raciocínio a partir da percepção das relações da música, em especial da canção popular, com a linguagem falada. O autor procura aproximar informações musicais com a linguística e a semiótica de Saussure, mas não logra apresentar um sistema articulado e convincente. Podemos considerar o trabalho como um exemplo do momento de formatação do objeto e busca de metodologias para analisá-lo. Embora o objeto seja a música popular, isso não é assumido claramente. Inclui umas poucas partituras, mas a maioria das citações musicais são letras de canções. En im, trata-se de um caso à parte, que não teve continuidade, não apresenta nenhuma formulação a ser recuperada, mas é indicativo de que se fazia necessária uma elaboração sobre essa relação texto-melodia.

Outra investida nessa direção foi a dissertação de mestrado de Marilena Esberard de Lauro Montanari, O poema-canto

gerado na dialética: música x texto literário,61 trabalho que teve a

orientação de Haroldo de Campos. A autora de ine o campo de sua pesquisa como sendo a Música Popular Brasileira Contemporânea (com maiúsculas) e, dentro dela, a faixa dos inventores.62 A irma

procurar uma nova forma de atitude estética, o poema-canto, a letra vinculada à melodia. Entende que não se deve abordar de maneira isolada a poesia contida nas canções então contemporâneas e procura realçar a indissolubilidade dos processos do fazer poético e

60 CHAMMÉ, Sebastião Jorge. Fonemas e vocábulos musicais no comporta- mento psico-social. Dissertação (Mestrado em Sociologia) – Escola de Sociologia e Política, São Paulo, 1973.

61 MONTANARI, Marilena Esberard de Lauro. O poema canto gerado na dialética: musica popular x texto literário. Dissertação (Mestrado em Comunicação) – Ponti ícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 1980.

62 Inventores aqui se refere à classi icação dos escritores feita por Ezra Pound em ABC da Literatura. Ver nota 18 na p.70.

o do fazer musical na canção. A autora vê o canto-poema como uma nova expressão estética brasileira que oscila entre canto e poesia:

Toda e qualquer canção popular, desde que cantada, é um signo composto de letra + melodia. A novidade que buscamos é a canção que faça da união letra-melodia um laço indissolúvel e que procure transcender à pura referencialidade da mensagem. O engendramento da letra com a melodia se traduz dialeticamente. A letra para a melodia e a melodia servindo à letra. Poema cantado. Música trançada poeticamente.63

Embora caminhando na direção da percepção da relação texto-melodia como um conjunto semiótico, a elaboração ica comprometida na medida em que parte do pressuposto de um status diferenciado para uma parcela da produção que ela identi icou como a faixa dos inventores – bossa-MPB-tropicália –, e apenas para esse segmento seriam válidas suas formulações. Além da proposição não ter validade universal, o trabalho não faz a prometida análise texto-melodia como unidade indissociável. En im, também não apresentou uma formulação consistente para a questão da interação texto-melodia.

Durante os anos 1980, as pesquisas semióticas de Luiz Tatit ofereceram um novo quadro teórico para se abordar as relações entre texto literário e melodia nas canções brasileiras. Suas elaborações constituem a mais original contribuição metodológica aos estudos sobre a canção popular desenvolvida no Brasil. A originalidade e a relevância dos estudos de Tatit residem na construção de um modelo teórico para compreender a compatibilização entre texto melódico e texto literário na formação do sentido nas canções, que se apresenta como importante ferramenta para análise do objeto. Na construção de seu modelo para uma semiótica da canção brasileira, Tatit tem como referência a semiótica francesa

da Escola de Paris, partindo de alguns princípios fundadores de Saussure e Hjelmslev e das revisões críticas do modelo de Greimas realizadas por Claude Zilberberg. Entretanto, esse modelo teórico se tornaria uma das principais referências nos estudos da canção popular apenas a partir dos anos 1990, quando o autor publica O

Cancionista64 e outros textos, nos quais apresenta seu modelo de

uma maneira acessível para não iniciados em semiótica, oferecendo um marco teórico para se pensar a questão da análise do discurso literário no contexto do conjunto semiótico a que se chama canção. De um modo geral, o estilo dos trabalhos era ensaístico, num momento de construção de metodologias para o estudo de um objeto novo para o qual essas pesquisas estavam abrindo o caminho no campo cientí ico, tanto mais que as pesquisas se desenvolviam sem contato com a musicologia, em sua maioria por pesquisadores sem treinamento técnico em música. Por vezes, essa ausência de um quadro teórico-metodológico estabelecido era contornada com a proposta de se evitar a utilização de metodologias rígidas para não engessar o objeto, para “deixar falar o objeto”.

Do ponto de vista do trabalho com as fontes, encontramos duas situações: para aquelas pesquisas que abordavam eventos recentes ou contemporâneos, como os primeiros trabalhos realizados em São Paulo, as fontes não eram um problema, os dados estavam, em geral, disponíveis; já os trabalhos com uma perspectiva temporal mais ampla, como os realizados no Rio, as fontes eram as gravações, as letras das canções, o trabalho de memorialistas, a historiogra ia não acadêmica e depoimentos disponíveis dos personagens.65 Aqui já aparecem as di iculdades de acesso às

fontes, a ausência de acervos, bem como as primeiras citações de fontes que se tornaram canônicas. Embora no período apenas um trabalho tenha sido realizado na área de História, podemos localizar

64 TATIT, Luiz. O cancionista: composição de canções no Brasil. São Paulo: Edusp, 1995.

neste momento o surgimento de uma historiogra ia acadêmica da música popular, uma vez que muitos desses trabalhos construíram narrativas históricas acerca da música popular no Brasil ou de eventos socioculturais a ela relacionados.

Inicialmente, seria importante rea irmar que a produção realizada nas áreas de Letras, Comunicação e Sociologia, durante os anos 1970 e início dos 1980, contribuiu, além da formatação de um objeto de estudos acadêmicos, para a construção de uma visão da história da música popular no Brasil, constituindo-se, assim, num ponto de partida, um “marco zero” da historiogra ia acadêmica. Dois dos trabalhos mais emblemáticos realizados na área de Letras são O malandro no samba: uma linguagem de fronteira,66 de

Cláudia Neiva Matos, e Desenho Mágico: poesia e política em Chico

Buarque, de Adélia Bezerra de Menezes.67 Essas pesquisas, ambas

publicadas num momento em que ainda não existia o atual boom editorial sobre música popular, contribuíram para apresentar um modelo de pesquisa para a área de Letras, também incorporado por outras áreas. Mais do que isso, apresentaram duas visões, em certo sentido complementares, sobre dois momentos importantes da música popular no Brasil: a visão da malandragem no samba como uma resistência popular à dominação e a valorização da MPB, e mais particularmente da produção de Chico Buarque, como resistência possível e necessária ao regime militar. As autoras, e os

66 MATOS, Cláudia Neiva de. O malandro no samba: uma linguagem de fronteira. 1981. Dissertação (Mestrado em Letras) – Ponti ícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1981. Essa dissertação teve a orientação de Silviano Santiago e foi publicada em 1982 com o título de

Acertei no Milhar: samba e malandragem no tempo de Getúlio, no Rio de Janeiro, pela editora Paz e Terra.

67 MENESES, Adélia Bezerra de. Desenho mágico: estudo quase acadêmico sobre Francisco Buarque de Hollanda, dito Chico. Tese (Doutorado em Letras) – Faculdade de Filoso ia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1980. Essa tese teve a orientação de Antonio Candido e também foi publicada em 1982, com o título de Desenho mágico: poesia e política em Chico Buarque, em São Paulo, pela editora Hucitec.

pesquisadores do período de um modo geral, eram conscientes que, por meio da metodologia de análise do discurso do texto literário das canções, estavam também discutindo a história da música popular e a própria história do Brasil. Esse duplo aspecto dessas pesquisas está explicitado com clareza e concisão por Silviano Santiago na apresentação de Acertei no milhar, na orelha do livro:

O estudioso das Letras possui hoje um arsenal de análise de discurso que o torna privilegiado no presente estágio dos estudos históricos. Este arsenal – constituído e aperfeiçoado nos estudos das chamadas “belles lettres” – tem sido dirigido para outras formas discursivas, que não tiveram a nobreza artística da literatura na sociedade ocidental. Nomeá-las e estudá-las passou a ser a maneira como as Letras colaboram com as Ciências Sociais, seguindo de perto as diretrizes mais instigantes das modernas correntes da historiogra ia européia.68

Também Adélia Bezerra de Menezes escreve na introdução de Desenho Mágico:

A proposta do estudo dessa obra, circunscrita a duas décadas de produção de Chico Buarque, é a de estabelecer um paralelo com a História recente do Brasil, dos anos marcados pela Ditadura Militar: mais especi icamente, de 1964 a 1980.69

Outra vertente, nessas primeiras pesquisas, era a sociologia da comunicação, estudos voltados para as questões da produção, recepção e consumo da música popular, vertente essa que teria certa descontinuidade até ser retomada mais recentemente num

68 MATOS, Cláudia Neiva de. Acertei no Milhar: samba e malandragem no tempo de Getúlio, no Rio de Janeiro, pela editora Paz e Terra, 1982. Trecho retirado da orelha do livro.

69 MENESES, Adélia Bezerra de. Desenho mágico: poesia e política em Chico Buarque. 2.ed.. São Paulo: Ateliê Editorial, 2000, p.17.

momento em que os estudos sobre música popular já se encontravam consolidados no campo acadêmico. Nessa linha, se situam as duas primeiras dissertações de mestrado realizadas em São Paulo que tiveram como tema central de estudo a música popular: Canção

popular e indústria cultural,70 de Othon Jambeiro e Acorde na Aurora:

música sertaneja e indústria cultural,71 de Waldenyr Caldas, ambas

publicadas nos anos 1970.72 O livro de Waldenyr Caldas, sobre um

gênero ainda hoje relativamente marginalizado nos estudos sobre a música popular, teve grande repercussão. Observe-se, entretanto, que esse estudo, que faz uma distinção entre música caipira, ligada ao folclore rural e música sertaneja, como produto da urbanização da música caipira em estreita ligação com o mercado, apresenta uma perspectiva muito crítica à música sertaneja, entendida como produto de uma “indústria cultural”.

Esses primeiros estudos da sociologia da comunicação, com o foco na produção e consumo da canção urbana, estavam sintonizados com um processo em curso, de transformações no mercado musical, nas tecnologias de produção e reprodução sonora e suas repercussões na música popular. Se todos os estudos em foco neste livro estão sendo analisados em relação ao momento de sua produção, isso se torna ainda mais relevante para as discussões acerca das questões do mercado e das novas tecnologias. Talvez a melhor forma de ressaltar isso para leitores que não viveram os anos 1970 seja por meio da passagem de Othon Jambeiro sobre a mixagem. Ao discorrer sobre as então modernas técnicas de gravação, o autor a irma que elas podem levar a um aperfeiçoamento, quando usadas “honestamente”, considerando

70 JAMBEIRO, Othon. Canção popular e indústria cultural. Dissertação (Mestrado em Sociologia) – Faculdade de Filoso ia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1971.

71 CALDAS, 1976.

72 JAMBEIRO, Othon. Canção de massa: as condições da produção. São Paulo: Pioneira, 1975; CALDAS, Waldenyr. Acorde na aurora: música sertaneja e indústria cultural. São Paulo: Editora Nacional, 1977.

a mixagem, em geral, um engodo. Aqui temos de pensar que ele estava falando de um fenômeno muito novo e ainda “acontecendo”. O autor menciona que, em outros países, já se gravava em até 24 canais, enquanto, no Brasil, o equipamento existente permitia apenas a divisão em seis pistas independentes.73 Atualmente,

qualquer pessoa que possua um computador pode gravar no seu quarto, rodando um programa bastante amigável e repleto de recursos de edição, uma in inidade de canais, tendo como único limite o tamanho da memória e a capacidade de processamento do seu hardware. Porém, esses primeiros estudos da sociologia da comunicação tinham uma visão bastante pessimista e crítica em relação ao mercado. Nos trabalhos de Jambeiro e Caldas, e na maior parte das pesquisas dos anos 1970 e 1980, é forte a in luência das ideias de Adorno, especialmente o conceito de indústria cultural.74

Em Acorde na aurora, o conceito de indústria cultural é utilizado no sentido forte, radical, explicitando a ideia do consumidor passivo, vítima indefesa dos interesses comerciais da indústria que lhe determinariam o gosto estético:

Hoje, entretanto, com a Indústria Cultural agindo no gosto estético das massas e determinando o que elas devem consumir, esse problema [de discutir as implicações que determinam o gosto estético] ganha maior complexidade na medida em que o consumidor, independentemente da classe social a qual pertence, já não possui autonomia su iciente para determinar seu gosto estético. 73 JAMBEIRO, 1971.

74 Os textos de Adorno em debate eram principalmente aqueles que haviam sido traduzidos até então: os constantes de Os Pensadores, volume XLVIII, da Editora Abril, cuja 1ª edição foi publicada em 1975; Indústria cultural:

o Iluminismo como Mistiϔicação das Massas, com Horkheimer, em Teoria da Cultura de Massas, 1969; e Indústria Cultura in: Comunicação e Indústria

Cultural, organizado por Gabriel Cohn, 1971. Em 1986 o nº 54 da coleção Grandes Cientistas Sociais (organizada por Gabriel Cohn), oferece outros textos em português, dentre eles, Sobre música popular.

Ao contrário, essa função individual ou de classe, desaparece com o advento da Indústria Cultural. Esta sim, é que determina o gosto estético do consumo.75

No caso especí ico do Brasil dos anos 1970, é necessário considerar que essa leitura do papel da chamada indústria cultural icava facilitada num contexto de apoio de importantes veículos de comunicação de massa ao regime militar. A repressão da ditadura não era apenas política, mas também cultural e comportamental. Acrescente-se a isso o controle da indústria fonográ ica no Brasil por companhias multinacionais e a política dos Estados Unidos de apoio aos regimes autoritários no Brasil e na América Latina. A posição que esses trabalhos expressam acerca do mercado de bens culturais é representativa de uma postura de hostilidade à indústria do entretenimento, que era compartilhada por todos os setores da sociedade permeáveis às ideias de esquerda e por grande parte de setores mais amplos insatisfeitos com a conjuntura política.

De fato, é grande a presença do marxismo na maioria dos trabalhos do período, re letindo o ambiente da universidade brasileira naquele momento. Uma hipótese que se poderia levantar é que o marxismo nesses estudos entrava pela via da Escola de Frankfurt. Mas parece que não. Talvez a tendência fosse inversa: a assimilação das elaborações adornianas, como o conceito de

indústria cultural, seriam mais uma decorrência da força do pensamento marxista. A grande profusão com que é utilizado o jargão marxista – luta de classes, proletariado, pequena-burguesia,

burguesia, lumpemproletariado, valor de uso, valor de troca, mais