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Primeiro inesperado: de classe média burguesa à trabalhadora da educação

É vista quando há vento e grande vaga. Ela faz um ninho no enrolar da fúria e voa firme e certa como bala. As suas asas empresta à

tempestade. Quando os leões do mar rugem nas grutas. Sobre os abismos, passa e vai em frente.

Ela não busca a rocha, o cabo, o cais. Mas faz da insegurança a sua força e do risco de morrer, seu alimento. Por isso me parece imagem e justa. Para quem vive e canta num mau tempo.

Paulo Cézar Pinheiro e Pedro Caminha e Dorival Cayme 19

Nasci em 10 de abril de 1966, outono no Brasil. Estávamos no começo da ditadura militar, mas já tínhamos editados

19 Música O Vento - Procelaria - A Dona do raio e do vento, cantada/recitada por Maria Bethânia em seu disco Carta de Amor – Ato I. 2006.

os Atos Constitucionais 1, 2 e 3. Só vim a saber o que isso significava muitos anos depois. Primeira filha de um casal, para época já balzaquiano, minha mãe tinha 30 e meu pai 35 anos; depois de mim vieram minha irmã e meu irmão.

Nasci em tempos de ventania! Fui batizada aos três meses, em nome de Nossa Senhora das Graças, aquela que pisa em uma serpente e emana raios de graças pelas mãos. Era um costume na época, mas se deu devido a um encontro entre ela (uma pequena imagem que tenho até hoje) e minha mãe, na praia do Rio Vermelho, no dia de Yemanjá, quando ainda grávida de mim. Só em 2015, ao arrumar caixas de fotografias para mais uma mudança, foi que me dei conta que era esperado um menino, pelas roupas azuis das primeiras fotos. Engraçado, isso nunca me foi uma questão problemática.

Família de classe média, ambos migrantes do interior do estado da Bahia para a capital. Minha mãe era dona de casa, ‘do lar’, como se dizia. Era apaixonada por livros e por estudos, mas fez apenas até o início do secundário, pois meu avô, coronel da polícia militar, entendia que mulheres não precisavam de estudos. Meu avô era um caboclo, filho de índia com mestiço, que ascendeu socialmente graças à entrada precoce na Polícia Militar ainda na região de Itabuna (Velha Boipeba) e seu tino para negociações. Casou-se com minha vó, uma branca loura, filha de portugueses. Produto das relações

mestiças, elitistas e paradoxais do Brasil. Minha mãe nasceu em Ilhéus, penso que devido ao trabalho de meu avô no quartel; foi a segunda filha (o primeiro foi homem). Vieram para Salvador depois que meu avô entrou para reforma.

Meu pai, filho de uma batista ortodoxa e comerciante de secos e molhados (como se dizia), da cidade de Vitória da Conquista, arrimo da família desde muito jovem, veio para Salvador quando seus irmãos mais novos precisaram fazer faculdade. Meu pai não fez, se tornou um administrador por intuição e foi cuidar de uma empresa de construção civil da família, pois seu irmão caçula se formou em engenheiro civil.

Não sei bem como se conheceram. Alguns familiares dizem que foi em uma festa de clube, na qual minha mãe foi escondida de meu avô, sob a proteção de uma madrinha. Aí começou uma desavença entre as famílias. O casamento foi muito tenso. Só quando eu nasci (10 meses após a cerimô-nia) as coisas se acalmaram. Cresci nesse ambiente familiar onde parecia estar tudo perfeito. Apesar de sempre termos morado de aluguel, tínhamos conforto, colégio particular, frequentávamos clubes, meus pais faziam parte do Lions Club. Só muito mais tarde, eu descobri que não tínhamos casa própria porque meu pai pagava os desfalques que seu irmão engenheiro dava na empresa e nada dizia para não perturbar minha vó; que meu avô praticou por muito tempo agiotagem

e quase foi expulso da corporação correndo o risco de perder os rendimentos. Uma família perfeita de classe média em plena ditadura.

O período mais difícil para mim foi o final da década de 1970 e início de 1980. Em 1978, descobrimos que minha mãe tinha câncer e toda a economia possível da família foi empregada em seu tratamento, mas com a morte de meu pai, em junho de 1979 (no dia de seu aniversário de casamento), de um enfarte fulminante, a doença se agravou e ela também se foi, em dezembro de 1980. Penso que o sofrimento com o com-portamento do irmão e o fato de ser um fumante contumaz desde os 13 anos o levou ao infarto, e isso abalou fortemente a minha mãe, fragilizando-a. Era um casal extremamente unido. É aqui que tudo muda!

Eu com 14 anos, quase 15, agora em 1981, junto com minha irmã, morávamos com minha vó paterna batista. Eu, católica, criada por minha mãe muito próxima do ecumenismo religioso, como dizíamos na Bahia. Meu pai não se metia nessa questão, acho que não se indisporia nem com minha mãe, nem como minha vó. Esta, por sua vez, muito ferida por ter perdido o filho mais velho, seu companheiro de vida (é uma leitura que faço hoje depois de muita terapia). Ela própria enviuvou aos 27 anos e nunca se casou de novo. Eu e minha irmã mudamos de escola. Já havíamos saído do Colégio

Antônio Vieira, confessional jesuíta, no qual estudamos desde o ensino fundamental; naquela época chamava-se ensino primário, devido a um aborrecimento entre o padre diretor e minha mãe, pois ele não aceitava nossa queda de rendimento mesmo com a morte de meu pai e a doença materna.

Fomos para escolas de bairro, com baixa qualidade20, mas era o possível naquele momento, além de que havia muita confusão familiar devido ao tratamento difícil a que minha mãe se submetia, indo e voltando de São Paulo para cirurgias e orientações. Até então, vivíamos em um mundo extremamente cercado, sem nenhuma agrura e desfrutando de fazer parte de um grupo privilegiado em nosso país. Apesar de não sermos ricos, hoje entendo, fazíamos parte de um grupo de classe média que se sentia em ascensão por desfrutar de algumas benesses das elites, mas que vivia do seu trabalho e sem ele, não se adequava mais à vida da classe média (SOUZA, 2019).

Ao entrar nessa nova escola, Nossa Senhora de Lourdes, o Lourdinha, que nada tinha de católico a não ser o nome, tive o primeiro impacto desse abismo social. Agora eu já estava no Ensino Médio, naquela época ainda Segundo Grau.

20 Mesmo entendendo que esse termo, qualidade, seja polissêmico, o usamos aqui para nos referir a uma escola com pouca atenção aos processos de aprendizagem dos estudantes, muito mais preocupada com o lucro que eles davam. Infelizmente ainda temos essa realidade no país.

Era uma escola privada, de certo, mas apenas voltada para a certificação dos que ali ingressavam. Praticamente não tínhamos aulas de verdade. Pessoalmente, foi uma experiência bastante interessante. Ninguém controlava nossa frequência e é claro que ganhávamos a rua. Foi um ano improdutivo escolarmente, mas absolutamente rico de aprendizagens.

Sempre fui uma criança calma, mas não tímida, sempre fui ousada, mas nunca me meti em nada sem avaliar os riscos.

Tendo ido morar com minha vó, não poderia mais ficar nessa escola, era demais para ela. Ela nos queria sob seu olhar atento. Então fomos para outra escola, Colégio São Paulo, cujo dono/diretor era um reverendo da Igreja Presbiteriana. Era uma escola mais laica, é verdade. Melhor conceituada que o Lourdinha e não era católica, além de ser na mesma rua em que morávamos. Acho que isso atendia aos requisitos.

Esse ano de 1981 foi riquíssimo em descobertas! Além das desconfianças de que o que estávamos passando não era apenas um infortúnio familiar, embora também o fosse, ao entrar na nova escola conheci um novo mundo de amizades.

Aquelas do Lourdinha não perduraram. As amizades da infância, com tantas altercações socioeconômicas, não vin-garam. Embora fossem todos estranhos, fiz queridos amigos, relevantes para minha vida até hoje. Nunca fui de muitos, é verdade, acho que sempre pude contar como amigos próximos,

um número que cabe numa mão. Mas nunca fui inibida ou fechada. Apenas era assim. Um desses amigos, Iúri, se tornará mais tarde meu marido, um pequeno inesperado.

Também nesse momento conheço alguém fundamental para minha formação. Nem sei se um dia ele soube do impacto que teve em mim. O professor Zé Carlos, de história. Militante contra a ditadura militar, participou de diversos movimentos, foi preso e torturado. Sinceramente, acho que ele conseguiu aquela vaga de professor com ajuda de alguém que o queria proteger. Acho que minha vó também não conhecia muito bem o Reverendo, diretor da escola. Em suas aulas ele nos falou de uma história que nunca havíamos escutado, e de forma lúdica e verdadeira, mas sem se expor demais. Ele nos falava do que de fato havia acontecido em nosso país nessas duas décadas; que a ditadura era uma constante em nossa história e a defesa da democracia era muito difícil, pois, no Brasil, ela tinha uma marca muito forte da tradição escravocrata.

Zé Carlos foi responsável pela leitura de dois livros que me fizeram mudar a forma de ver o mundo: As veias abertas da América Latina (GALEANO, 1978) e Se me deixam falar... Domitilla: depoimento de uma mineira boliviana (VIEZZER, 1981). O primeiro desvelou a realidade da América Latina, incluindo o Brasil, na dolorida história de violên-cias a que seu povo foi submetido e o segundo, através do

depoimento dessa corajosa boliviana, me apresentou não só a dimensão da luta de classes, mas o lugar assumido pelas mulheres e imposto a elas, principalmente trabalhadoras, nesse contexto. Foi como se uma bomba caísse em minha frente e tudo se tornasse outra coisa. Onde eu estava que nada disso vi? Na bolha!

Eu, que sempre fui uma criança gordinha e de óculos, agora já enfrentava uma obesidade mais severa. Juntando as turbulências e novas aprendizagens desses anos, as mudanças hormonais decorrentes da puberdade e adolescência, tudo se descontrolou. Ventania de novo. Mas agora eu queria ser protagonista. Nesse período, comecei a buscar alternativas de como ajudar as pessoas. Conheci alguns colegas católicos que faziam parte de grupos de jovens e comecei a participar de alguns eventos, muito mais de louvação que de ação e isso me incomodava. Até que conheci um grupo que se reunia na casa pastoral da Igreja de Nossa Senhora da Vitória, na qual fui batizada, para reflexões sobre a bíblia, mais especificamente sobre o novo testamento e organização de ações comunitárias, como atendimento médico/odontológico por voluntários para as comunidades carentes em torno. Me entusiasmou.

Quem conhece Salvador sabe que sua organização urbana é muito peculiar. Embora a Vitória seja um bairro de classe média/alta, em seus entremeios se configuram comunidades

carentes, e em bairros circundantes também. Essa é uma configuração comum em Salvador. Embora esse trabalho e o conhecimento mais aprofundado da Bíblia tenham sido importantes para minha formação e compreensão do papel da religião na vida das pessoas, por si só, esse assistencia-lismo não me parecia ajudar muito, serviam como unguento num momento de emergência, mas não resolvia. Ainda não sabia nada sobre a Teologia da Libertação e suas ações nas comunidades.

Salvador é uma cidade cheia de credos que vão se ema-ranhando uns nos outros. Naquela época, não tínhamos ainda o movimento negro tão sistematizado e forte, então as religiões de origem africana existiam meio que submer-sas, mas vibrantes na cidade. Também não tínhamos ainda a ascendência das religiões pentecostais e neopentecostais como hoje, nem os movimentos católicos carismáticos eram tão fortes. Chamo a atenção sobre esse aspecto, pois com o contato com as comunidades mais carentes, de maioria negra e com muitas referências no candomblé ou umbanda, passei a me interessar em conhecê-las melhor. Por outro lado, minha mãe, de certa forma, já havia nos aproximado do sincretismo, com seu pequeno altar doméstico, onde era possível encontrar as imagens católicas de São Francisco, Sagrada Família e Santa Bárbara (no sincretismo, Iansã) e

os cordões e guias de proteção preparados por algum pai ou mãe de santo, os búzios e incensos. Herdei a maioria, aliás essa foi minha herança física, junto com algumas xícaras e pratos de seu enxoval de casamento.

Hoje reflito que essa busca pelo religioso e sagrado, se deu como forma de manter viva a memória de minha mãe, mas também foi tentativa de achar respostas para tantas perdas e fraturas dessa época. Não me tornei uma religiosa, mas uma pessoa que entende que existem muitos mistérios na vida e que, enquanto a ciência não dá conta de respondê-los, a religiosidade e a fé podem ajudar as pessoas. Não só elas, mas as ideologias, os valores e os afetos, junto com a religiosidade e a fé, se tornam um amálgama simbólico que nos ajuda a compreender o mundo, andar por ele e pertencer a alguns grupos, e não a outros (MOSCOVICI, 1978; 2012); criamos, assim, as Representações Sociais. Essa forma de conhecimento cotidiana, que constrói e é construída na comunicação entre as pessoas pertencentes a determinados grupos, lhes possibilita uma forma de engendrar seu mundo (JODELET, 2001), mais ainda, sentir-se pertencentes.

Foi nesse ano, com a aproximação com o candomblé, que descobri, num jogo de búzio com um pai de santo, que sou filha de Iansã, aquela que “Sobre os abismos, passa e vai em frente. Ela não busca a rocha, o cabo, o cais. Mas faz da

insegurança a sua força e do risco de morrer, seu alimento”, como anunciei na epígrafe dessa parte. “Non creo el las brujas, mas que las hai, las hai”. A descoberta de Iansã me inspira na vida, Ela parece comigo, ou eu com Ela... Passei a ter como hobby a leitura sobre religiões, em especial o candomblé.

Em 1984, termino o segundo grau (reprovei no primeiro ano e tive que repetir) e no final desse ano, fiz meu primeiro vestibular, sendo aprovada para a Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal da Bahia e, paralelamente, para a Faculdade de Jornalismo da Universidade Católica do Salvador.

Passei a frequentar ambos os cursos no ano de 1985. A partir daí a inquietação começou a tomar conta de minha vida intelectual. O curso de Ciências Sociais se distribuía ao longo de toda a semana nos três turnos, configuração comum nos cursos das universidades federais na época, impossí-vel para quem, como eu, precisava trabalhar. O Curso de Jornalismo, embora fosse em turno único, era muito caro e não vinha me dando as respostas que eu vinha buscando para a vida. Hoje, orientando tese de doutoramento que trata sobre mudança de curso por estudantes e as Representações Sociais de universidade, da doutoranda Telma Elita da Silva, reflito com ela sobre os dilemas do ingresso na universidade,

as questões socioeconômicas e identitárias que se articulam nesse importante momento, decisório para a vida.

Em 1986, a minha relação com meu corpo devido à obe-sidade, já era bem difícil. Meu avô, que tinha falecido nesse ano, havia me deixado uma poupança e, novidade na época, se consolidavam modelos de tratamento da obesidade por internamento e redução drástica da ingestão de calorias. No entanto, essas clínicas não existiam em todo lugar, como acontece hoje, mas principalmente a partir do final da década de 1990, se concentravam no sudeste. Resolvi que entre o anúncio da aprovação no vestibular, final de novembro e o começo das aulas em março, me internaria em uma clínica conceituada que funcionava em Sorocaba. Funcionou, perdi 32 kg entre dezembro e fevereiro, mas voltei grávida. Não havia restrições de relacionamentos e com alterações no metabolismo devido ao modelo de emagrecimento e aos 20 anos de idade, aconteceu. O único problema, porém, era que o pai não queria ser pai. Então, voltei para Salvador, para a casa da minha vó batista, mãe, solo e magra.

Um misto de insatisfação e idealismo se efetivou no final desse mesmo ano com a inscrição em novo concurso de vestibular, desta vez para a Faculdade de Educação da Bahia - FEBA (hoje mais conhecida como Faculdades Olga Mettig). A opção por um curso de Pedagogia veio por idealismo, achava

que poderia mudar algo numa sociedade tão desigual, que me foi apresentada pelas disciplinas de fundamentos do curso de Ciências Sociais, mas também para encorajar uma amiga que tinha medo de fazer o vestibular. Me preocupava em fazer um curso que me possibilitasse mudar essa organização social.

Uma visão ingênua, no mínimo, mas era minha reflexão sobre o meu papel enquanto sujeito nessa história.

Escolher uma faculdade isolada21, numa fundação, na qual o curso era pago, se deveu à necessidade, já premente, agora mais que nunca, de sobrevivência. Precisava trabalhar para viver, coisa que não era possível na Federal pela característica organizacional do curso, nem na Católica, em função dos valores cobrados. Ingressei no curso de Pedagogia em 1987 e, não tenho medo de dizer que me apaixonei pela área, mas, como em toda paixão, os medos também surgiram: medo de não ser boa professora, medo de não dar conta da amplitude de conhecimentos para a atuação profissional. O ano de 1987 foi de gestação de Sarah e da Pedagogia. A primeira, nasceu em agosto e a segunda tem nascido em/de mim de formas diferentes ao longo desses anos.

21 Chama-se faculdade isolada aquelas instituições que não se integram a nenhum sistema universitário e que têm como missão a formação de profissionais em áreas específicas para atuação no mercado de trabalho. No caso da FEBA, na época, oferecia os cursos de Pedagogia e Administração. Não há estrutura acadêmica de extensão e pesquisa.

A partir do contato com as colegas de curso, comecei a conhecer o universo dos professores de redes públicas e privadas, pois a maioria já atuava profissionalmente, como era comum na época; a maioria já tinha o curso de magistério, de nível médio/profissionalizante. Conforme mais tarde, estudamos na disciplina de História da Educação, a partir da análise feita por um texto das professoras Ribeiro (1989) e Romanelli (1991), o curso de magistério é uma evolução das escolas normais, criadas em alguns estados entre 1890 e 1893, que visava à formação para o magistério primário e que vai passar por diferentes configurações ao longo da história legislativa educacional do país. Nesse momento, se configurava em um curso de nível médio profissionalizante, com o objetivo de inserção no mercado de trabalho das jovens, em sua maioria das camadas populares, que queriam ter uma formação que lhes permitisse uma profissão com renda.

Lembremos que, embora a década de 1980, seja reconhecida como de abertura política, ainda estamos sobre a influência do pensamento ditatorial, conservador e militar, no caso da educação, sob a égide da LDB 562/71.

Me iniciei nas aprendizagens sobre maternidade (coisa que nunca havia me passado antes pela cabeça) através da leitura. Minha vó ainda não aceitava a ideia, então me tratava como se não estivesse grávida; não tinha primas ou irmãs com

filhos, nem nenhuma tia próxima. Mais uma vez a influência do gosto por ler e por buscar soluções nos livros, deixada por minha mãe, me salvou. Então, além dos textos das discipli-nas introdutórias da pedagogia, me apeguei à revista Pais

& Filhos e a um livro antigo sobre puericultura, Meu filho, Meu tesouro22. A revista, mais atualizada, salvou Sarah de ser afogada na banheira ou superalimentada com farináceos, além de me tranquilizar nesse desafio.

Foi em 1988 que consegui meu primeiro trabalho em educação, como professora de segunda série numa escola de subúrbio de Salvador, no Centro Educacional Santa Rita no bairro de Roma, graças à confiança de minha tia Magna, que me indicou para sua irmã, dona da escola. Essa escola tinha uma característica interessante: apesar de ser privada, era conveniada com uma fábrica de chocolates, Chadler, instalada em suas vizinhanças23. Sua clientela era, na maioria, filhos de funcionários desta empresa, pobres e negros, como é comum na periferia de Salvador.

22 Perdi meu exemplar em alguma das mudanças ou foi devorado pelas batalhas que tive com os cupins de Natal. Recuperei, pela internet, o ano de sua publicação, 1946, e sua autoria, Dr. Benjamim Spock, pela Editora Record.

22 Perdi meu exemplar em alguma das mudanças ou foi devorado pelas batalhas que tive com os cupins de Natal. Recuperei, pela internet, o ano de sua publicação, 1946, e sua autoria, Dr. Benjamim Spock, pela Editora Record.