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Primeiro carro, primeira armadilha

o caminho indicando o que fazer surgiria da forma mais inesperada possível. Foi logo depois dela conseguir comprar seu primeiro carro, um veículo usado.

aconselhada por amigos a fazer uma revisão. Para ela, leiga no assunto, comprar um carro limitava-se a colocar gasolina nele e “ser feliz para o resto da vida”. Não entendia nada sobre manutenção, muito menos sobre mecânicos desonestos – uma categoria relativamente abundante no país... “Como não havia necessidade de levar em uma autorizada, eu escolhi a oficina mecânica dessa forma: ‘É neeessa!’” E entrou.

lá, agda seria enganada miseravelmente. Pagou até por peças inexistentes, como um filtro de ar-condicionado que seu carro não precisava (porque não tinha o equipamento!). “Eu fiquei muito chateada. Nessa época estava em uma correria, terminando minha graduação

de Gestão Empresarial, meu pai tinha acabado de falecer, meu filho acabado de nascer, eu tinha sido promovida no banco, estava cheia de coisa na cabeça e fui enganada nessa oficina. Muitas pessoas me falaram para eu entrar na Justiça que eu ganharia, mas eu não queria isso, nem tinha tempo de ir ao fórum”, conta.

No pouco tempo vago entre as fraldas, os relatórios do banco e a faculdade, agda decidiu entender melhor como funcionava o seu carro. Baixou o manual do proprietário pela internet e começou a estudar o funcionamento da máquina que usava todos os dias. E a gostar do que aprendia. “Foi daí que pensei: vou procurar um curso de mecânica porque ninguém vai me enganar mais! Pode até me enganar, mas vai dar um pouquinho mais de trabalho”, decidiu.

agda tinha em mente fazer algum curso breve sobre mecânica de autos, mas não encontrou nada além do tradicional curso oferecido pelo senai (serviço Nacional de apoio à indústria), muito concorrido, mas bastante conceituado, por ser a mais consagrada porta de entrada para quem quer se tornar mecânico profissional. Com gosto por novos desafios, terminada a pós-graduação em Marketing e Vendas, a ex-contadora, ex-chefe de seção de supermercados e atual bancária foi fazer o curso de Mecânico de Manutenção em automóveis do senai. “o que mais me motivou a fazer esse curso foi eu ter sido

enganada nessa oficina. E eu percebi que não era só eu, agda, que passava por aquela frustração. Eram quase todas as mulheres.”

Com seu olhar aguçado pela especialização em Marketing e Vendas, agda percebeu que, sem querer, havia

encontrado um nicho de mercado pouco explorado ainda:

uma oficina mecânica especializada em atender o público feminino não existia, pelo menos que ela soubesse.

“Pesquisei se aqui em Brasília havia uma oficina voltada para mulheres, não encontrei nada. Comecei a imaginar:

‘E se eu montasse essa oficina? Eu quero empreender, não sei o que fazer, quem sabe uma mecânica para mulheres?’” a única oficina mecânica que encontrou com atendimento especializado no público feminino era de são Paulo; portanto, na região do dF, as mulheres motoristas dependiam das mesmas oficinas mecânicas tocadas e usadas pelos homens. aquele era um universo intrinsecamente masculino, ainda.

as resistências à ideia não demoraram a aparecer, entre familiares e amigos. Para a maioria, aquilo parecia loucura, já que o trabalho no banco ia tão bem. outros achavam a ideia bacana, mas não para ela. E os que achavam que o plano era viável, aconselhavam: “agda, não fala isso para as pessoas, porque é uma ideia muito legal, mas é um negócio que não existe ainda. Escreve isso, fica só pra você.”

Mas a futura empresária pensava diferente: “Eu aprendi nessas minhas reuniões que as melhores ideias são as que fluem. as ideias que você escreve, ficam ali guardadas. Eu realmente falava pra todo mundo. E pensava: ‘se alguém tem um dinheiro guardado, ele não vai dispor daquele dinheiro pra montar uma oficina mecânica. Não é assim que as pessoas roubam a sua ideia.’

Falar sobre o desejo de um negócio era, de certa forma, me motivar com ele. se a ideia era boa, por que eu não podia?”, insistia.

o casal tinha um dinheiro guardado e agda dependia daquele capital para iniciar seu negócio. Tentou convencer o marido a criarem juntos a oficina, mas ela própria também tinha medo de se lançar em uma aventura. “aquela era a reserva pra comprar o nosso apartamento, eu também tinha medo de arriscar o nosso dinheiro e perder. Não podia me dar ao luxo de perder”, resumiu o dilema vivido na época.

o impasse continuou até que o marido propôs que ela pedisse a opinião de um especialista: “Procura o sebrae, passa o seu projeto pra eles. se o sebrae te apoiar, eu apoio. se o sebrae não te apoiar, você desiste dessa ideia e segue sua carreira bancária.” “Era o que ele e a minha família queriam, que eu desistisse”, explica agda.

imaginavam que, ao constatar os desafios que teria pela frente ao se aventurar em um caminho totalmente novo,

ela finalmente tomasse juízo... E, dessa forma, agda foi consultar o sebrae, o serviço social

especializado em ajudar micro e pequenos empresários a tirarem seus projetos do mundo dos sonhos e trazê-los para a realidade.

Clique aqui para saber o que os especialistas do Sebrae acharam da ideia da Magda de criar uma oficina mecânica voltada ao público feminino.

A história de André Luiz da Silva Martins, que por conta de um namoro descobriu a Rocinha, adotou-a como sua comunidade e montou ali uma lanchonete que não para nem de madrugada.