• Nenhum resultado encontrado

Princípio da Equidade

No documento Download/Open (páginas 82-87)

CAPÍTULO 2. A PARTICULARIDADE DOS PRINCÍPIOS DO SUS

2.2. Princípios de acesso, universalidade e equidade: direitos

2.2.3. Princípio da Equidade

O princípio da equidade está disposto no Capítulo II § 4º da Lei nº 8.080 de 1990: igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de

qualquer espécie.

O termo equidade foi incorporado posteriormente à promulgação da Constituição de 1988 e se refere ao direito de todos e dever do Estado em assegurar o “acesso universal e igualitário às ações e serviços de saúde”.

A equidade para Souza et. al. (2002), está diretamente associada a descentralização27 do sistema de saúde, pois, se cada município torna-se um participe do processo com a devida autonomia e com os recursos necessários, surgem daí novos atores com visibilidade e capacidade para oferecer serviços de maneira igual e com qualidade para a população.

Cohn et. al., (1999) cita que a equidade será efetiva a todos na medida em que a saúde se tornar de fato um direito de todos e dever do Estado, implicando no enfrentamento das questões burocráticas que impedem o igual acesso das pessoas aos serviços de saúde.

A equidade inserida no contexto da teoria da justiça seria então no contexto do SUS o direito que todo cidadão teria a um sistema de saúde digno no qual ele conseguisse pleno atendimento para o tratamento que necessita.

Assim como o conceito de acesso, o de equidade também parece indicar múltiplos sentidos o que dificulta muitas vezes uma conceituação pautada nos interesses coletivos quando se trata de saúde.

De acordo com, Duarte (2011) o nível de equidade de um sistema de saúde deve ser compreendido sob diferentes fatores, sendo que o mais importante deve ser a maneira de distribuir os recursos financeiros. Para ela, é necessário considerar, ainda, a proximidade ou distância entre o que é instituído na legislação de saúde e o que é vivenciado pelas pessoas no cotidiano quando necessitam de serviços de saúde.

De acordo com Zoboli et. al., (2010):

A despeito da polissemia de sentidos atribuídos à equidade nos discursos, há em comum a preocupação e a busca de atender às necessidades de saúde. Há um clamor por justiça na saúde, expresso como um requerimento

27 A descentralização em saúde, segundo o artigo198 da Constituição Federal de 1988 significa a unicidade dos serviços, no qual cada estado ou município atue numa perspectiva regionalizada e hierarquizada, constituindo um sistema único “A descentralização, assim, junto com a integralidade e universalidade, representa o processo de consolidação de conquistas do direito à saúde como uma questão de cidadania” (PINHEIRO, 2012, p.12).

formal mínimo, comum nas teorias de justiça: os iguais devem ser tratados igualmente e os desiguais devem ser tratados desigualmente. Esse requerimento é formal porque não identifica um aspecto particular no qual os iguais devem ser tratados igualmente e não provê critério para determinar se dois ou mais indivíduos são de fato iguais. Meramente afirma que sejam quais forem os aspectos relevantes, as pessoas iguais nesses aspectos devem ser tratadas igualmente. Assim, um problema óbvio do princípio formal de justiça é sua falta de materialidade (p. 183).

A afirmação de Zoboli et. al. (2010), acerca da falta de materialidade (efetividade) em relação a questão da equidade nos remete a uma pergunta: o SUS oferta aos brasileiros atenção à saúde digna de um cidadão e lhes permite exercer sua cidadania em outras esferas da vida?

Desse modo, a ideia de equidade não é apenas privilegiar os desfavorecidos, mesmo sendo necessário na conjuntura brasileira, mas conduzir a sociedade e suas instituições no sentido de que os cidadãos possam encarar suas necessidades com apropriada igualdade social e econômica.

A equidade no sistema público de saúde de acordo com Machado (2006) está na redução das desigualdades neste setor. Ao considerar os princípios elencados no SUS a autora enfatiza que o mesmo se tornou desde o seu surgimento, um dos sistemas de saúde com maior cobertura do mundo e sua efetivação implicou na organização de uma ampla rede de serviços e ações de saúde abrangendo todos os níveis de complexidade.

Contudo, o sucesso de implementação da descentralização e municipalização, princípios organizacionais desde o início do Sistema, não fez desaparecer as desigualdades e iniquidades nos serviços ambulatoriais de média e alta complexidade, sendo que esta dificuldade pode ser observada cotidianamente nos hospitais e centros de saúde de todo o país.

Zoboli et. al. (2010), ressalta que na equidade a ideia não é simplesmente atender aqueles que mais necessitam dos serviços em termos econômicos. Pelo contrário, é necessário garantir os serviços a todos sem distinção.

Para Machado (2006) uma das perspectivas para a redução desta concepção seria “o aperfeiçoamento do planejamento regional de saúde, que possa atender às especificidades de cada região” (p. 21). Além disso, é preciso romper com o discurso técnico-burocrático que pouco contribui para a redução das desigualdades em saúde.

A elaboração de um planejamento regional focado para cada realidade supõe o cumprimento da legislação, já que teoricamente as ações já foram propostas no próprio escopo do documento que institui o Sistema Único de Saúde do Brasil.

Em seus artigos 2º e 3º das disposições gerais da lei 8.080, este direito é reafirmado, admitindo a existência dos fatores sociais determinantes e condicionantes da saúde, explicitando que os níveis de saúde expressam a organização econômica e social do país e inclui, como relacionadas com a saúde, todas as ações e medidas que interferem nestes fatores.

Assim, a legislação sanitária brasileira atual é avançada no conceito de equidade que incorpora, pelo menos no que se refere a dois eixos: o acesso universal e igualitário (equidade de oportunidade) e a ação sobre os determinantes dos níveis de saúde (equidade de condições). O Sistema Único de Saúde desenhado, em linhas gerais, na Constituição de 1988, nas leis 8.080 e 8.142, abrange uma rede regionalizada e hierarquizada de saúde, constituída por serviços públicos e “complementarmente” privados, descentralizada, com atendimento integral e com participação da comunidade (DUARTE, 2011, p. 447).

Nota-se que a legislação pátria traz como garantia o pleno acesso de maneira equitativa ressaltando tanto as oportunidades quanto as condições desse acesso. Para viabilizar a implementação de uma política universalista e equitativa a distribuição de recursos precisa ser considerada.

Uma saída seria o repasse de verbas do nível federal para os estaduais e municipais, sendo este um meio de reduzir os níveis de morbi-mortalidade e a melhoria da qualidade de saúde da população.

Vale por último ressaltar que mesmo diante de todo esse aparato legal e das oportunidades postas para cada Estado ou Município os princípios destacados

neste capítulo encontram-se atualmente em dissonância, já que a realidade vivenciada nas unidades de saúde pública do Brasil aponta para uma urgente reflexão, e tal discussão desembocaria para campos mais complexos em destaque no país que estão levando para as ruas inúmeras vozes em busca de um sistema de saúde que realmente atenda às necessidades da população. Estas somente poderão ser atendidas se houver esforço dos governos em implementar projetos que já existem, mas que por diferentes motivos ainda não contribuíram para que a universalidade e equidade dos serviços em saúde seja um bem comum a todos.

Pelo exposto, a efetivação dos princípios de equidade, universalidade e acesso, conforme destacado neste item, supõem uma reorganização das políticas de saúde, pressupondo que a eficácia destes, depende da implementação dessas políticas de maneira descentralizada, com distribuição equânime dos recursos financeiros, em que cada Estado e município desempenhem gestões comprometidas, disponibilizando recursos materiais e humanos para que os serviços sejam ofertados com qualidade à população, obedecendo a esses princípios.

No próximo capítulo apresentaremos a evolução do processo saúde- doença, como se dá a promoção e prevenção em saúde no Brasil, situando o glaucoma como doença crônica e os desafios a serem enfrentados pela população portadora da doença em relação ao tratamento na rede pública de saúde.

CAPÍTULO 3. A DETERMINAÇÃO SOCIAL DO PROCESSO SAÚDE-

No documento Download/Open (páginas 82-87)