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A problemática dos colírios de uso contínuo para a pessoa com

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CAPÍTULO 3. A DETERMINAÇÃO SOCIAL DO PROCESSO SAÚDE-DOENÇA:

3.3. A problemática dos colírios de uso contínuo para a pessoa com

As pessoas com glaucoma necessitam de tratamento que envolve acompanhamento periódico, orientação e prescrição de colírios de uso contínuo. Neste item se discutirá a problemática que envolve o uso destes colírios, no qual se ressalta a importância desses medicamentos e a dificuldade de acesso das pessoas que necessitam dos mesmos para o tratamento clínico desta patologia.

O governo federal implantou no Brasil a Política Nacional de Medicamentos (2001), que institui demanda de medicamentos destinados ao tratamento das doenças crônico-degenerativas, além de novos procedimentos terapêuticos com utilização de medicamentos de alto custo. Dentre as doenças que fazem parte deste grupo está o glaucoma.

Segundo dados da OMS existem aproximadamente 285 milhões de deficientes visuais no mundo, destes 246 milhões tem baixa visão e 39 milhões são cegos. Os países em desenvolvimento ficam com 90% da carga global de deficiência visual. Entre as principais causas de deficiência visual destacam-se: 43% decorrentes dos erros refrativos (miopia, hipermetropia ou astigmatismo); 33% da catarata e 2% do glaucoma. Dados da OMS revelam que cerca de 900 mil brasileiros são portadores de glaucoma (WHO, 2011).

O glaucoma representa uma das principais causas de cegueira irreversível no mundo, sendo a terceira maior causa e responsável por 2,4 milhões de novos casos ao ano. Cerca de 2% da população mundial acima de 40 anos sofre de glaucoma (RAMALHO, et. al., 2007).

Segundo Susanna e Weinreb (2005), o glaucoma é classificado como uma doença crônica. A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) assinala que as doenças crônicas são devastadoras para indivíduos, famílias e comunidades, particularmente nas populações pobres, e são uma ameaça crescente ao desenvolvimento econômico.

A neuropatia encontrada no glaucoma ainda é desconhecida, segundo Nogueira et. al., 2003:

Supõem-se que a hipertensão ocular prejudica o fluxo sanguíneo retiniano, causando prejuízo gradual a células ganglionarese axônios da retina com progressiva perda do campo visual (CV), podendo ter como resultado final cegueira. O humor aquoso está em constante produção pelo corpo ciliar na câmara posterior. Através da pupila, escoa para a câmara anterior até alcançar a rede trabecular, localizada no ângulo iridocorneano, seguindo para o canal de Schlemm e para o sistema venoso (via convencional). Há ainda uma via acessória através de canais na íris e nos corpos ciliares, responsável por 10-20% do processo de drenagem do humor aquoso (uveoescleral). O desequilíbrio entre a produção do humor aquoso pelos processos ciliares e a drenagem trabecular eleva a pressão intraocular (p.1).

O glaucoma crônico é uma doença insidiosa, inicialmente assintomática e decorrente do aumento da pressão intraocular, que danifica o nervo óptico, frequentemente acompanhada por um tipo específico de defeito de campo visual, podendo levar à cegueira (SAKATA, 2002). Portanto, pessoas com histórico de glaucoma na família devem se submeter a avaliações oftalmológicas periódicas à partir dos 40 anos de idade.

O tratamento do glaucoma é usualmente realizado com a prescrição de medicação em forma de colírios para o controle da pressão intraocular (PIO). Segundo Azura-Blanco (2002), a intervenção cirúrgica nos últimos anos vem sendo postergada, sendo utilizada apenas quando a medicação se torna ineficaz para o controle da PIO. O custo do tratamento do glaucoma é alto, tanto para os cofres públicos, quanto para as pessoas acometidas pela doença, isto devido a compra de medicamentos (colírios) de uso contínuo ou se submetendo às intervenções cirúrgicas.

Neste sentido, torna-se necessário pautar a discussão em torno da Política Nacional de Medicamentos que é parte integrante da Política Nacional de Saúde. Esta política constitui um dos elementos essenciais para a implementação de ações que viabilizem a melhoria das condições da assistência à saúde da população.

O artigo 6.º da Lei n.º 8.080/90, estabelece atuação do SUS na formulação da política de medicamentos, devendo esta ser de interesse para a saúde. O principal objetivo desta política é garantir a segurança, eficácia e qualidade dos medicamentos, visando a promoção do uso racional, garantindo que a população tenha acesso aos medicamentos considerados essenciais. De acordo com o Documento - Política Nacional de Medicamentos (2001) “os medicamentos essenciais são aqueles produtos considerados básicos e indispensáveis para atender a maioria dos problemas de saúde da população” (BRASIL, 2001, p. 25).

O Ministério da Saúde orienta quanto ao perigo do uso indiscriminado de medicamentos via automedicação, prevê o desenvolvimento de um processo educativo sobre o uso racional destas substâncias tanto para a equipe de saúde quanto para o usuário. Em relação a essa questão:

O Ministério da Saúde estabelecerá mecanismos que permitam a contínua atualização da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME), imprescindível instrumento de ação do SUS, na medida em que contempla um elenco de produtos necessários ao tratamento e controle da maioria das patologias prevalentes no País. A Relação Nacional, conforme assinalado acima, deverá ser a base para a organização das listas estaduais e municipais e favorecerá o processo de descentralização da gestão, visto que estas instâncias são, com a participação financeira e técnica do Ministério da Saúde, responsáveis pelo suprimento de suas redes de serviços (BRASIL, 2001, p. 12).

O colírio utilizado no tratamento do glaucoma é de uso contínuo. O item 32 do quadro Terminologia da Política Nacional de Medicamentos assim define este tipo de medicamento “são aqueles empregados no tratamento de doenças crônicas ou degenerativas, utilizados continuamente” (BRASIL, 2001, p.15).

Apesar disso, os colírios de uso continuo, necessários ao tratamento do glaucoma, não são disponibilizados pelo SUS através desta Política de Medicamentos, dificultado assim o acesso ao tratamento para os portadores desta patologia.

O mercado farmacêutico tem apresentado novos colírios para o tratamento desta doença, sempre envoltos em alta tecnologia e a um custo muito

alto, porém, fora do alcance da maioria da população usuária do SUS, devido a falta de condições financeiras para adquiri-los.

A pessoa com glaucoma, muitas vezes, não compreende e/ou desconhece o significado desta condição crônica, seus sintomas e, principalmente, a importância do tratamento contínuo para evitar a progressão da doença e consequentemente a cegueira (CARVALHO, et. al. 2010; SAKATA, et. al., 2002; SILVA, et. al., 2004). Somado a estes aspectos é preciso considerar que o Brasil ainda carece de melhorias significativas nos cuidados de prevenção e promoção da saúde ocular (CASTAGNO, et. al., 2009; TEMPORINI e KARA, 2004).

Entre as dificuldades vivenciadas por pessoas com glaucoma, os pesquisadores referem à adesão ao tratamento devido ao alto custo de colírios de uso contínuo e o impacto socioeconômico decorrente, principalmente, das limitações para o trabalho e atividades sociais (FILHO et. al. 2003; PEDROSO et. al. 1999; RAMALHO, et. al., 2007; ROIZENBLATT, et. al., 2010; SILVA, et. al., 2002). Acredita-se que as pessoas com esta condição crônica vivenciem perdas importantes relacionadas às restrições ocupacionais, sociais, econômicas e psicológicas.

Embora o tratamento desta e de outras doenças encontra-se garantido na Constituição Federal de 1988, a realidade na maioria dos hospitais brasileiros revela que o acesso aos serviços de saúde nem sempre é fácil.

Não é possível compreender ou definir as necessidades de saúde sem levar em consideração que são produto das relações sociais e destas com o meio físico, social e cultural. Dentre os diversos fatores determinantes das condições de saúde incluem-se os condicionantes biológicos (idade, sexo, características herdadas pela herança genética), o meio físico (condições geográficas, características da ocupação humana, disponibilidade e qualidade de alimento, condições de habitação), assim como os meios socioeconômicos e culturais, que expressão os níveis de ocupação, renda, acesso à educação formal e ao lazer, os

graus de liberdade, a possibilidade de acesso a serviços e outros (MOTA et. al., 2007, p.229).

A definição de saúde ampliou-se e se estendeu para o bem estar físico, mental e social, pois a saúde só poderia ser atingida a partir de um contexto de forças e influências sociais, culturais, emocionais e físicas favoráveis, cujos determinantes estão interligados e que devem ser pensados por qualquer ação que se destine solucioná-los (HERRERA, 2008).

Desta forma, para delinear a determinação social do processo saúde- doença, deve-se buscar a explicação não na biologia ou na técnica médica, mas nas características das formações sociais em cada um dos momentos históricos e para melhor aprofundamento dos determinantes sociais dos perfis patológicos, deve-se ater a análise das condições coletivas de saúde em diferentes sociedades no mesmo momento histórico.

No bojo desse processo inclui-se a população acometida por doenças crônicas, dentre elas, as que apresentam glaucoma, pois necessitam de atenção especial no que tange a cobertura do atendimento integral ao tratamento e na busca da efetivação deste direito.

A pessoa com glaucoma vivencia este processo e desafia os profissionais de Serviço Social a apresentarem alternativas que possibilitem o enfrentamento desta condição.

Os principais desafios para o profissional assistente social em relação ao paciente com glaucoma é atuar junto a essas pessoas, viabilizando os meios necessários que lhes garantam o direito ao tratamento integral e ininterrupto, buscando o atendimento das prioridades, dentre estas, a disponibilização do colírio de uso contínuo, os retornos periódicos às consultas, dentre outros, sendo que as principais implicações sociais para a efetivação deste direito serão apontadas no próximo capítulo.

CAPÍTULO 4. AS CONDIÇÕES DE VIDA DA PESSOA COM GLAUCOMA NO

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