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PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA

CAPÍTULO III: A FORMAÇÃO DO PENSAMENTO CONSTITUCIONAL ATRAVÉS DO

3. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS E A QUESTÃO DA

3.2 PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA

O art. 5º, LV da Constituição Federal assegura aos litigantes o direito ao contraditório e à ampla defesa. É certo que o respeito ao estado de direito, inspirou o legislador a conferir juntamente com o direito de defesa, o direito à ação.

O contraditório, considerado subprincípio do devido processo legal, interessa de perto ao tema da necessária produção de prova, e faz-se indispensável vê-lo como essencial à formação de um processo democrático. Afinal, o Estado Democrático reclama essa participação efetiva no processo, que é o instrumento posto à disposição da sociedade, para garantia dos seus direitos lesados ou ameaçados de lesão. Para Rui Portanova, “o contraditório assenta-se em fundamentos lógico e político. A bilateralidade da ação (e da

124 NERY JUNIOR, Nelson. Princípios do Processo Civil na Constituição Federal. São Paulo: Revista dos Tribunais. 8ª edição. 2004. Pág. 65.

pretensão) que gera a bilateralidade do processo (e a contradição recíproca) é o fundamento lógico. O sentido de que ninguém pode ser julgado sem ser ouvido é o fundamento político”.125

Dinamarco chama a atenção para dois momentos do processo, em se tratando do contraditório: a informação e a participação.

O primeiro, como chamamento, em que se expressa a necessidade de comunicação dos atos processuais. O segundo momento, representando a efetiva participação dos atos do processo. “Participar, (...), é viver o processo.”126 E viver é estar presente, vivenciando as experiências.

Outro não é o entendimento de Nery Jr.: “Por contraditório deve entender-se, de um lado, a necessidade de dar conhecimento da existência da ação e de todos os atos do processo às partes, e, de outro, a possibilidade de as partes reagirem aos atos que lhe sejam desfavoráveis. Os contendores têm direito de deduzir suas pretensões e defesas, de realizar as provas que requereram para demonstrar a existência de seu direito, em suma, direito de serem ouvidos paritariamente no processo em todos os seus termos.”127

Muito além, no entanto, de o contraditório ser apenas observado como a possibilidade de manifestação das partes no processo, urge a consideração de tal princípio desembocar no convencimento do magistrado. Com efeito, à luz da Constituição Federal, em seu art. 5º LV: “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.

“O contraditório é a paridade de armas entre os litigantes, significa dar igual oportunidade de informação, ação e reação, enquanto a ampla defesa consiste em permitir a apresentação em juízo de todas as alegações,

125

PORTANOVA, Rui. Princípios do Processo Civil. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1997. 126 DINAMARCO, Cândido Rangel. Fundamentos do Processo Civil Moderno. São Paulo: RT. 1986. Pág. 94.

127 NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios do Processo Civil da Constituição Federal. São Paulo: RT. 8ª edição. 2004. Pág. 172.

disponibilizando-se às partes todos os meios de prova lícitos para a concretização da defesa de seus interesses”.128

O legislador infraconstitucional, no art. 7º do CPC (Lei nº13.105/2015) assegura aos litigantes: “paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório.”

Falar em contraditório significa falar da influência que as partes contendoras possuem na formação do convencimento do juiz. Um convencimento que há de ser livre na sua formação e formulação, donde se falar em livre convicção motivada. A garantia ao contraditório não se limita à esfera procedimental, pois é considerada uma verdadeira condição de validade dos atos processuais e até mesmo da sentença.

A partir do instante em que o Estado assumiu a função jurisdicional, passando a resolver os conflitos de interesses que lhe fossem submetidos à apreciação, longe da antiga justiça privada, ao autor da demanda foi incumbido o ônus de provar os fatos constitutivos do seu direito, ao passo que ao réu, o de provar os fatos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito do autor. Depois da análise do conjunto de argumentação o magistrado deverá então julgar, expondo os motivos que o convenceram na tomada de decisão.

Todo o procedimento probatório há de alicerçar-se nos princípios constitucionais norteadores da atividade jurisdicional democrática. O juiz não é apenas a boca da lei, mas, também, e, sobretudo, o grande artífice a quem foi confiada a missão de ouvir as partes e suas provas e assegurar um resultado que seja o elemento pacificador da sociedade.

A ampla defesa assegurada aos litigantes, é consequência do contraditório, pois as partes têm a liberdade de alegar os fatos que constituem o objeto de sua lide, e as provas com que pretendem assegurar a veracidade daqueles fatos.

128 HOFFMAN. Paulo. A Atuação Probatória do Réu Revel, sob o Aspecto Constitucional da Ampla De- fesa. In: O Processo na Constituição. Coordenação Ives Gandra da Silva Martins e Eduardo Jobim. São Paulo: Quartier Latin, 2008. Pág. 385.

“A defesa não é uma generosidade, mas um interesse público. Para além de uma garantia constitucional de qualquer país, o direito de defender-se é essencial a todo e qualquer Estado que se pretenda minimamente democrático.”129

A ampla defesa caminha de mãos dadas com o contraditório, razão pela qual, os dois momentos acima referidos: de informação (ou conhecimento) e participação, são tomados novamente. As partes têm o direito de informação, participando, livre e eficazmente de todos os atos do processo; bem como o direito de alegar e provar aquilo que alega. A garantia de uma citação válida, nomeação de defensor, intimação dos atos processuais, são exemplos que ilustram a hipótese em comento. Essa liberdade de participar ativamente do processo, exercendo seu direito de ação, confere não apenas a reação às alegações, mas também abrem a possibilidade de não ser utilizada nenhuma técnica de defesa. Daí pensar-se numa busca efetiva da garantia do princípio da ampla defesa, para que sejam atendidos os ditames constitucionais, não é suficiente a apresentação de uma defesa formal, mas uma defesa plena, com a utilização dos meios postos à disposição do magistrado para exercer seu munus, com a responsabilidade que lhe é exigida na condução do processo.