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4. Objetivos do Estudo e Metodologia

4.4. Princípios metodológicos e éticos

Segundo Meyrick (2006), a investigação qualitativa deve observar dois princípios, de modo a garantir a produção de conhecimento científico rigoroso:

 Transparência: apresentação em detalhe de todos os procedimentos adotados, nomeadamente nas fases de construção do protocolo de entrevistas e de categorização e codificação do conteúdo;

 Sistematicidade: demonstração de que todas as entrevistas mereceram a aplicação do mesmo procedimento de análise, desde o protocolo e condições de realização aos procedimentos de codificação e análise de conteúdo, mesmo quando durante o processo foi preciso alterar a estrutura ou denominação das categorias de codificação.

O investigador qualitativo, apostado em perseguir os princípios da sistematicidade e transparência, obriga-se a verificar todas as suas escolhas, incluindo os principais tópicos de investigação, o processo e análise epistemológica e teórica do pesquisador (métodos, amostragem, coleta de dados, análise) e resultados e conclusões (aplicabilidade) (Myerick, 2006). O investigador tem deveres de transparência quanto às suas escolhas, pois só assim permitirá que a comunidade científica compare os resultados do seu trabalho com outros estudos sobre esse mesmo tema (Attride-Stirling, 2001). O estudo qualitativo não procura a generalização (Matthews et al., 2018), mas o conhecimento produzido é passível de transferência, o que obriga a total transparência quanto às questões de contexto e recolha e tratamento de informação (Gioia et al., 2013). A clareza na apresentação de todo o percurso metodológico é obrigatória para o investigador (Braun & Clarke, 2006). O investigador deve evidenciar diplomacia, discrição e transparência durante todo o curso da investigação (Gioia et al., 2013).

O presente projeto de investigação desenvolveu-se com uma “equipa” de investigação composta por um só investigador, a quem competia adotar uma postura totalmente neutral nas várias fases da investigação (Khan, 2014). A aplicação dos princípios de transparência e sistematicidade são, neste contexto de investigador único, mais relevantes e necessárias para garantir uma verificação efetiva da racionalidade associada às diversas escolhas

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realizadas ao longo do projeto de investigação, por vezes decididas na solidão do pensamento e da decisão do investigador.

A postura do investigador perante o objeto de estudo deve ser clara, garantindo distância para preservar objetividade e evitar o fenómeno de reflexividade (Meyrick, 2006). Em consequência, por exemplo, foram excluídas das empresas elegíveis para seleção de entrevistados as empresas com as quais o investigador tinha desenvolvido uma relação de trabalho direta.

O investigador, com experiência profissional de quase duas décadas na gestão de sistemas de recursos humanos, fez esforços deliberados para manter “mente aberta” (Gauche et al., 2017), e não permitir que as suas próprias crenças, valores e experiências condicionassem os contributos dos entrevistados ou as atividades posteriores de codificação de conteúdo e apuramento de resultados (Creswell, 2013). Se o investigador não preservar certo nível de distanciamento do objeto de estudo corre o risco de “going native” (Gioia et al., 2013) perdendo a possibilidade de enquadrar teoricamente as diversas informações que vai recolhendo.

Do ponto de vista ético, e de modo a garantir a preservação da dignidade, os direitos e o bem-estar de todos os envolvidos (Gauche et al., 2017), o projeto de investigação foi orientado pelos seguintes princípios: consentimento informado, participação voluntária, privacidade e confidencialidade, proteção dos envolvidos e segurança da informação. Como refere Neuman (2011, p. 143), "é obrigação moral e profissional do investigador individual ser ético, mesmo quando os participantes da pesquisa não estão conscientes ou não estão preocupados com a ética".

Sendo o tema das entrevistas o bem-estar dos empregados, no âmbito do qual seria expectável a recolha de depoimentos emotivos, possivelmente associado a desilusões emocionais no trabalho, competia ao investigador não “carregar na ferida”, abordar o assunto somente quanto necessário para colher a informação relevante para a investigação e proteger os entrevistados. Não pode o investigador assumir-se como um elefante numa loja de porcelana (Gioia et al., 2013). A colaboração voluntária do entrevistado pressupõe uma postura de não agressão do entrevistador: "Vou-lhe dizer qualquer coisa que você queira saber, desde que você não me envergonhe." (Gioia et al., 2013, p. 19).

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No início de cada entrevista, e ainda antes de iniciar a gravação, o investigador explicou os propósitos académicos da entrevista a cada empregado e solicitou o preenchimento de uma declaração de consentimento que o autorizasse a proceder à gravação áudio da conversa e posterior transcrição do seu conteúdo. Foi, também, comunicado o caráter totalmente voluntário da entrevista, o seu propósito exclusivamente académico e a total garantia de confidencialidade do conteúdo e preservação do anonimato dos empregados. Cada participante assinou uma Declaração de Consentimento RGPD (Regulamento Geral de Proteção de Dados), nos termos da minuta constante do anexo 2, sem qualquer resistência ou demonstração de embaraço ou desconforto. O protocolo de entrevista tem redação que obrigava à formalização prévia do consentimento do empregado, o que foi integralmente assegurado. As declarações assinadas foram digitalizadas pelo investigador e remetidas posteriormente para arquivo dos entrevistados através dos recursos humanos de cada empresa. O recurso a formalização do consentimento através de uma declaração assinada pelo entrevistado, se por um lado decorre de prática comum na literatura (e.g. Persson et al., 2018; Jachens et al., 2018), por outro assegura o cumprimento do RGPD – Regulamento Geral de Proteção de Dados Pessoais. A técnica contratada para realizar os serviços de transcrição das entrevistas, também, assinou uma Declaração de Consentimento RGPD.

A garantia de confidencialidade para os entrevistados perpassa os diversos estudos qualitativos disponíveis na literatura, como instrumento para garantir uma adesão mais completa do entrevistado para o exercício de reflexão e verbalização sobre o tema em análise (e.g. Vidman & Stromberg, 2018; Graça & Passos 2015). A garantia de anonimato está assegurada através da utilização de nomes fictícios para os entrevistados, quer nos relatórios de transcrição das entrevistas, quer quando apresentados ou referenciados no presente relatório. Nomes femininos foram atribuídos a participantes femininos e nomes masculinos a participantes masculinos. Nos relatórios de transcrição das entrevistas, os dados relatados que permitiriam a identificação do entrevistado ou de outras pessoas da organização foram, conforme sugerido por Khan (2014), substituídos por nomes fictícios (Matthews et al., 2018; Vidman & Stromberg, 2018). Com o mesmo propósito de preservação do anonimato, as organizações envolvidas no estudo são referenciadas com nomes fictícios.

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Para preservação do anonimato dos entrevistados e das organizações, os registos de gravações áudio, as transcrições das entrevistas e as declarações de consentimento RGPD assinadas não são parte integrante deste relatório, mas encontram-se na posse do investigador e disponíveis para apresentação no âmbito de eventuais atividades de validação de informação.

O investigador declara, ainda:

 Conflito de Interesses: não existe nenhuma situação de conflito de interesse entre o investigador e o tema em estudo no presente projeto de investigação. A única situação a assinalar tem que ver com o facto de o investigador ter exercido atividade profissional no grupo de empresas em que realizou as entrevistas, tendo adotado diversas ações para mitigar o risco associado a essa situação, conforme detalhadamente referido nesta dissertação;

 Financiamento: todos os encargos associados à investigação foram exclusiva e integralmente suportados pelo investigador. O projeto de investigação não beneficiou de qualquer ação de financiamento ou comparticipação.

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