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Principais aplicações da Análise de Ciclo de Vida (ACV)

No documento tese zeila c piotto (páginas 80-90)

3 A QUESTÃO AMBIENTAL

3.4 D ESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E ECO EFICIÊNCIA

3.4.4 Ferramentas da eco-eficiência

3.4.4.2 Análise do ciclo de vida ACV

3.4.4.2.2 Principais aplicações da Análise de Ciclo de Vida (ACV)

a) Extensões

Considerando-se os níveis de aplicação do conceito de ciclo de vida, a União Européia considera basicamente três extensões (EEA, 1998b):

• Nível conceitual, no qual a abordagem baseia-se em inventário qualitativo. O objetivo é responder perguntas como:

-Esse produto difere significativamente dos similares da concorrência?

-Esse produto tem vantagens inequívocas com respeito aos aspectos ambientais? Este conceito parte do pressuposto que para algumas estratégias relativas aos “produtos verdes” não há necessidade de um inventário detalhado para identificar vantagens ambientais.

• Análise Simplificada, na qual é feito um inventário, que pode ser qualitativo ou quantitativo de todas as etapas do ciclo de vida, focando-se somente os aspectos e impactos ambientais mais significativos.

O objetivo da análise simplificada é obter os mesmos resultados da análise detalhada, reduzindo-se custos e tempo dedicado neste trabalho. No entanto, a simplificação confronta-se com o dilema da confiabilidade e qualidade dos resultados obtidos. As principais etapas são:

1. Levantamento inicial - Visa identificar os principais componentes do processo, os fluxos mais importantes e a necessidade de dados adicionais, se for o caso;

2. Simplificação - Usando os dados obtidos na etapa inicial, define-se quais são os processos e fluxos mais relevantes do sistema;

3. Verificação - Avaliar se as simplificações não reduziram a significância dos resultados obtidos.

Dependendo da aplicação, os dados podem ser qualitativos ou quantitativos. Indicadores como consumo de energia, intensidade de material por unidade de produto, produtos-chaves (associados a um ou mais impactos ambientais) podem ser usados como guias para identificar os principais pontos do sistema (“hot spots”). Por outro lado, indicadores relacionados somente a uma característica do produto, como, por exemplo, degradabilidade, devem ser usados em combinação com os demais indicadores. Embora os estudos simplificados possam ser reportados externamente, eles são normalmente usados internamente pelas empresas.

Análise detalhada, segundo especialistas da União Européia, este tipo de abordagem demanda um considerável esforço, e ainda pode ser considerada um desafio devido às dificuldades de metodologia.

A Tabela a seguir mostra o nível de detalhamento da análise de ciclo de vida em algumas aplicações:

Tabela 4 - Nível de detalhamento.

Nível da ACV

Aplicação Conceitual Simplificado Detalhado Observações

Design for

Environment (DfE) X X Sem ligação formal com ACV

Desenvolvimento de.

produto X X X Abordagem variada

Melhoria em

produtos X Associada a produtos existentes

Nível da ACV

Aplicação Conceitual Simplificado Detalhado Observações

Selos verdes tipo I X Critérios de desenvolvimento

usam conceitos da ACV

Selos verdes tipo III X Inventário e/ou análises de

impacto

Marketing ambiental X X Inclusão da ACV em relatórios

de performance Planejamento

estratégico X X

Conhecimento e aplicação gradual do conceito da ACV Declaração

ambiental X X

ACV não é tão detalhada como nos selos verdes

Bônus ambientais X Reduzido número de parâmetros

na ACV

Taxas verdes X Reduzido número de parâmetros

na ACV Escolha de

embalagens X X

Inventário detalhado Resultados da ACV são abrangentes no nível de empresa

Fonte: EEA (1998b).

b) Aplicações no setor privado

As principais aplicações no setor privado são: • Desenvolvimento de produtos;

• Marketing;

• Planejamento estratégico.

A aplicação depende bastante da posição em que a empresa está situada na cadeia produtiva e dos mecanismos reguladores legais e de mercado. Empresas produtoras de “commodities”, como plástico e metais, normalmente, elaboram inventários para avaliar a geração de resíduos e oportunidades de reciclo ou reúso.

As empresas produtoras de componentes enfocam os aspectos relacionados ao design e à manufatura, com objetivo de gerar informação aos consumidores e minimizar os impactos ambientais.

Nas empresas fornecedoras de bens de mercado, na maioria das vezes, não é viável a realização da ACV, devido à insuficiência de dados, à curta duração do desenvolvimento dos produtos, ao tempo requerido para a análise do ciclo de vida e sua complexidade.

• Desenvolvimento e otimização de produtos

Os principais objetivos no desenvolvimento e otimização dos produtos são: a prevenção à poluição, a redução no uso de matérias primas e energia e o aumento da reciclagem. A metodologia denominada – “Design for Environment - DfE” – que agrupa um conjunto de métodos que incorporam a variável ambiental no “design” de produtos, apresenta grande similaridade com a ACV, muito embora esses conceitos tenham sido desenvolvidos inicialmente sem um vínculo formal.

Os principais temas enfocados no DfE são:

- Seleção de materiais; redução dos impactos durante a manufatura; - Uso do produto,

- Reciclo e reúso de produtos e componentes,

- Extensão da vida útil de produtos e de seus componentes e - Disposição final segura.

A Figura 20 ilustra as diversas fases de desenvolvimento de um produto e como se pode integrar ferramentas como a ACV neste processo.

O tipo da ACV a ser utilizado (detalhado, conceitual ou simplificado) dependerá da disponibilidade de dados, complexidade do produto, aplicação, entre outros.

Vários programas que incorporam a variável ambiental no desenvolvimento de produtos estão sendo conduzidos no mundo. Maiores detalhes sobre esses programas e pesquisas podem ser obtidos nos sites recomendados no anexo A.

Figura 20 - Fases do desenvolvimento de um produto.

Fonte: Cowell et al. (1997)

• Marketing

O marketing é uma forma já consolidada de comunicação e divulgação das propriedades de um produto ou serviço, visando atender as necessidades e expectativas dos consumidores. À medida que aumenta o nível de informação e de conscientização ambiental, cresce a atenção dos consumidores para os aspectos ambientais dos produtos.

A partir desta constatação, muitas empresas passaram a priorizar o marketing ambiental, e houve evolução dos modelos de avaliação e divulgação de desempenho ambiental dos produtos, com o aprimoramento dos sistemas de gestão. Notadamente: • Selos verdes (selos tipo I);

• Manifestos ou autodeclaração (selos tipo II)

• Declarações ou rótulos ambientais - (selos tipo III); • Marketing organizacional (ISO 14001, EMAS, BS 7750)

Planejamento Análise do Problema e Definição das prioridades Estabelecimento De alternativas Seleção do produto Conceito e Detalhes do design Marketing Estimativa do Sucesso do produto Avaliação De impactos Grupo De Ecoprodutos Matriz de: Materiais Efeitos toxicológicos Energia Brainstorming Checklist ACV ACV Elementos ou Ferramentas Etapa Planejamento Análise do Problema e Definição das prioridades Estabelecimento De alternativas Seleção do produto Conceito e Detalhes do design Marketing Estimativa do Sucesso do produto Avaliação De impactos Grupo De Ecoprodutos Matriz de: Materiais Efeitos toxicológicos Energia Brainstorming Checklist ACV ACV Elementos ou Ferramentas Etapa

Selos Verdes

O principal objetivo dos selos verdes é estimular a produção de bens e serviços com menor impacto ambiental, de modo que o consumidor possa identificá-los.

Existem, atualmente, um grande número de selos verdes ratificados por países ou organizações supra-governamentais, como por exemplo: Nordic Swan (países nórdicos), The Blue Angel (Alemanha), Green Seal (Estados Unidos da América), etc.

Estes selos foram desenvolvidos para diferentes produtos e possuem critérios revisados periodicamente, que nem sempre são claros e justificáveis.

Na União Européia, por exemplo, uma comissão formada por diferentes organizações, estabeleceu seis fases para a definição dos critérios ambientais a serem contemplados no selo verde – EU Ecolabel:

• Fase I - Estudo preliminar; • Fase II - Estudo de mercado;

• Fases III e IV - Inventário e avaliação de impacto ambiental; • Fase V - Escolha de critérios;

• Fase VI - Elaboração de uma proposta preliminar para validação pela comissão. Do ponto de vista da indústria, não é preciso executar a ACV para poder ter um produto com selo verde, basta que os integrantes da cadeia produtiva atendam os critérios definidos para o mesmo.

A ISO (International Organization for Standardization) está desenvolvendo um padrão de selo tipo I (ISO 14020) que utiliza a metodologia de análise de ciclo de vida.

A publicação “Life Cycle Assessment” feita pela Agência ambiental da União Européia, disponível no URL:http://service.eea.int/envirowindows/lca/ apresenta mais detalhes sobre os selos verdes e estabelece “links” com vários organismos certificadores. Além deste, a SETAC, apresenta no seu site:http://www.setac.org/, na parte sobre ACV, um grande número de informações sobre o tema. A EPA por sua

vez, também fez uma extensa revisão sobre os selos verdes, na publicação de 1998, denominada: “Environmental Labelling Issues, Policies, and Practices Worldwide”, disponível no URL:http://www.epa.gov/greenbuildings/environmental- labeling/report.html. Neste compêndio são apresentados 54 programas relacionados à certificação de produtos em mais de 30 países (USEPA, 1998a).

Manifestos ou auto-declarações ambientais

São selos ou afirmações que indicam aspectos ambientais associados a produtos ou serviços, na forma de símbolos, frases, boletins técnicos, propaganda, ou qualquer outra forma de divulgação. Normalmente são de abordagem unidimensional do tipo: “produto isento de CFC”; “produto biodegradável”; etc.

Este tipo de abordagem tende a decrescer devido à mudança do perfil dos consumidores e à maior preocupação com as questões ambientais.

Declarações ou rótulos ambientais

A declaração ambiental pode ser uma importante ferramenta de marketing, à medida que fornece informações ambientais provenientes do inventário do ciclo de vida, por meio de índices, gráficos, etc.

Basicamente, a idéia é apresentar em forma de gráfico, tabelas, ou qualquer outra representação, os principais impactos ambientais associados a um determinado produto.

O rótulo ambiental permite comparação dos principais impactos ambientais associados aos produtos em questão, permitindo ao consumidor escolher aquele de menor importância. Já por meio dos selos verdes, não é possível distinguir se um produto é melhor ou pior do que outro.

Grande esforço está sendo feito nos comitês técnicos da ISO (ISO TC 207/SC3/WG1) para padronizar essa ferramenta, incluindo-se requisitos mínimos de

metodologia, transparência, revisão externa, componentes certificáveis e procedimentos que balizam a certificação e habilitação dos órgãos certificadores.

O principal obstáculo a esse tipo de certificação é transcrever para o consumidor um grande número de informações. Além disso, é necessário o levantamento e a disponibilização de informações sobre produtos de diferentes fabricantes e fornecedores e por fim, a descodificação da linguagem técnica de tal forma que o consumidor possa compreendê-la.

A Tabela 5 apresenta as principais diferenças entre os selos verdes e a declaração ambiental.

Tabela 5 - Fases do desenvolvimento de um produto.

Parâmetro Declaração ou rótulo

ambiental Selo verde

Tipo da ACV Inventário detalhado ou ACV simplificado

O conceito é utilizado na escolha de critérios

Tipo de avaliação Neutra Positiva (avaliação por especialistas)

Número de produtos Todos em princípio Somente 10 – 30% dos melhores do grupo Grupo de alvo Revendedores, compradores especializados, consumidores verdes Consumidores em geral

Nível de informação Complexo Simples

Forma de informação Diagramas, gráficos de barras,

valores de referência Selo

Permite comparação Sim , quando há mais de uma

declaração Não

Revisão Quando mudar o produto Têm revisões periódicas

De todos os selos, somente os do tipo III utilizam análise de ciclo de vida como pré- requisito.

Os sistemas de gestão nos moldes da ISO 14001, EMAS ou BS 7750 encorajam as empresas a implementar programas como a ACV, embora não tenham correlação explicita com os mesmos, uma vez que são voltados para a organização e não para o produto.

• Estratégia das empresas

A integração dos aspectos ambientais na estratégia das empresas está cada vez mais presente nas corporações modernas. Esta mudança de comportamento foi induzida por fatores como: pressão dos consumidores, atendimento à legislação, pressão da sociedade por melhoria de desempenho ambiental e oportunidades de mercado. Em muitos casos, as características ambientais de um produto passam a ser uma propriedade intrínseca, fazendo com que a utilização de uma ferramenta como a ACV permita as comparações com os produtos existentes, e também possibilite identificar novos segmentos de mercado. As estratégias básicas associadas à demanda de mercado versus desempenho ambiental dos produtos estão mostradas na Figura 21.

A utilização nas empresas esbarra na dificuldade de entendimento da alta gerência e dos empregados em diferentes níveis, fazendo com que sejam necessários programas especiais de treinamento e conscientização.

Um bom exemplo dos desafios de implementação de um programa da ACV foi apresentado no Congresso sobre Eco-eficiência em Malmo – Suécia, no trabalho: “Ecoefficient products and services through LCA in R&D/design”. Os autores apresentaram os resultados de uma pesquisa realizada na empresa ABB, na qual foram avaliadas a percepção e a utilização da ACV pelos principais envolvidos no programa.

Os resultados indicaram que embora a maioria dos entrevistados percebesse a ACV como uma ferramenta útil, ela de fato não tinha sido integrada nas atividades do dia- a-dia, como foi constatado pelo baixo tempo dedicado pelos envolvidos nas atividades relacionadas ao projeto - em média, menor do que um mês durante todo o ano de 2000 (Laestadius et al.,2000).

Figura 21 - Estratégias relacionadas ao desempenho ambiental e ao potencial de mercado.

Fonte: EEA (1998b)

c) Aplicações no setor governamental

O conceito de desenvolvimento sustentável foi incluído nas agendas da maioria dos países desde a Conferência de Meio Ambiente em 1992, no Rio de Janeiro. Mesmo na ausência de uma definição precisa do que seja o desenvolvimento sustentável, fica claro que a análise do ciclo de vida vai ao encontro do conceito de sustentabilidade. Embora a ACV não seja a única resposta para essa questão, é sem dúvida, uma abordagem estratégica que pode nortear ações e políticas públicas voltadas para a sustentabilidade. Estratégia: Focar em desempenho ambiental em outro segmento Estratégia: Vender Estratégia: Mudar o produto Estratégia: Iniciar projeto de produtos sustentáveis D e s e m p e n h o a m b ie n t a l Alto Baixo P ot e n cia l d e m e r ca d o Alto Baixo Estratégia: Focar em desempenho ambiental em outro segmento Estratégia: Vender Estratégia: Mudar o produto Estratégia: Iniciar projeto de produtos sustentáveis D e s e m p e n h o a m b ie n t a l Alto Baixo P ot e n cia l d e m e r ca d o Alto Baixo

As principais aplicações no setor governamental são: • Políticas orientadas para produtos;

• Políticas de gestão de resíduos, • Subsídios e taxas;

• Políticas setoriais.

Utilizando-se do conceito de ciclo de vida de produtos, muitos países têm desenvolvido programas que visam reduzir os impactos ambientais associados à produção e ao consumo de produtos, como acontece com a Dinamarca. Neste país, um comitê formado por representantes do governo, da indústria e dos consumidores elaborou um guia com informações sobre os principais aspectos e impactos ambientais de produtos, baseando-se na análise simplificada do ciclo de vida. Para alguns produtos são fornecidas somente informações qualitativas, como por exemplo, tecnologia, enquanto que para outros, são compilados dados de consumo de energia, de água, etc. (EEA,1998b).

No entanto, pode-se dizer que até o momento o maior uso seja na gestão de resíduos e de embalagens.

A análise de ciclo de vida tem sido utilizada como suporte para estabelecimento de políticas de gestão de embalagens, muito embora a ACV não forneça dados inequívocos que permitam assegurar o desempenho superior ou inferior de diferentes produtos ou materiais. Casos como, por exemplo, os de embalagem de leite, bebidas e refrigerantes desencadearam grandes debates, ressaltando-se que por trás de questões puramente metodológicas, existem grandes interesses comerciais. Mais detalhes sobre essa questão podem ser encontrados em diversas publicações disponíveis em meio eletrônico, nos sites citados no anexo A.

No documento tese zeila c piotto (páginas 80-90)