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Os vínculos familiares são uma fonte extremamente articulada dos mais profundos sentimentos humanos, sejam eles positivos ou negativos, de amor, ódio, discriminação, proteção, segurança e insegurança ou mesmo de autoritarismo e democracia. A família é uma organização grupal, produto de múltiplas relações, em

que existe um vínculo afetivo durável, que permite que se consiga traçar um projeto comum entre todos os integrantes dessa entidade, sendo um grupo com um espaço e tempo divididos em que cada sujeito tem sua própria representação na constituição do cenário familiar, onde a tarefa do grupo é a reprodução social da vida de acordo com as funções e papéis. A identidade da família tradicional não é imutável, o que faz com que apareçam desafios de diversas ordens a serem contornados diante dessas novas mudanças e dicotomias que acontece no seio familiar. (BARG, 2009)

Nessa perspectiva, pode-se dizer que de acordo com a posição que ocupam na família e ainda de acordo com o poder que detém todos os seus membros, será o modo de interação entre eles, de modo que as relações familiares se dão através de normas e valores, objetivando, em muitos casos, funções especificas, como a sexualidade, a reprodução, a socialização e o cuidado de seus membros. É nestas funções que houve grandes mudanças, conseqüência de ordens culturais e tecnológicas dos últimos anos, trazendo a tona problemas e desafios até então desconhecidos, ocasionados a partir da possibilidade de planejar a chegada dos filhos, da modificação de papéis domésticos tradicionais, com a presença do homem em casa, na esfera privada e a mulher deslocando-se para a esfera pública ou mesmo em relação à conformação das famílias, com a existência de famílias adotivas, de uma única pessoa ou de famílias monoparentais ou homoafetivas. (BARG, 2009)

A família não é um lugar que pode ser naturalizado como bom em si mesmo, porque ela pode consolidar e reproduzir as desigualdades sociais entre homem e mulher, entre pais e filhos, em que muitas vezes pode haver uma relação de autoritarismo, abuso, violência, discriminação e, principalmente nos dias atuais, o individualismo. Para Elías (2011) essas novas organizações de família colocam em questionamento a localização dos sujeitos e a sua posição dentro do escopo familiar, muitas vezes não estando a altura da vontade individual das pessoas. As representações sociais assumiram o comando também na esfera familiar, lugar em que os preconceitos, o valor ou desvalor das atitudes estão também aparecendo. Por outro lado, as próprias condições específicas de existência, como a exclusão, a pobreza, a insegurança, as barreiras no acesso aos serviços de saúde, à educação, ao lazer e serviços para promover o crescimento econômico e cultural, fazem com que a família torna-se também um espaço de conflito de interesses, onde as

relações de poder aparecem não somente através da submissão, da dominação, da hierarquia, mas também da autonomia e liberdade.

Por outro lado, a partir dessas novas configurações e situações, além das dificuldades com a criação dos filhos e adaptações necessárias, inerentes a todas as famílias, surgem também problemas novos, como o afastamento na relação com pais, as funções parentais confusas, o envolvimento de crianças em assuntos relacionais a adultos, o próprio distanciamento de vínculos familiares da família extensa, ocasionando uma dificuldades nos sentimentos de pertencimento e uma certa confusões na estruturação de identidades pessoais e familiares. (ELIAS, 2011)

Assim, os problemas típicos da família moderna podem também estarem ligados justamente a essa instabilidade de valores. Para o bom funcionamento da sociedade é necessário um sistema de valores que varia no tempo e no espaço, esses valores são internalizados pelos indivíduos por meio da família, e uma vez internalizados, se transformam na consciência moral do individuo. Na visão de Berg (2009), os sistemas de valores por muito tempo foram estáveis servindo de norma para o comportamento social do homem, porém, esse relativismo provocou uma espécie de crise dos valores, provocando também em alguns momentos a instabilidade em famílias sem um sistema de valores sólidos, independentemente de sua conformação.

Outro problema nas conformações familiares é a falta de uma educação responsável para vida em detrimento de uma educação hedonista, buscando puramente o prazer e a satisfação individual. A disciplina deve ser parte constitutiva na formação do individuo no processo de seu desenvolvimento, de modo que produza uma ação responsável na família e na sociedade, porém a falta dela produz e reproduz indivíduos autoritários, na busca de saciar suas vontades, um prazer egoísta e individualista. Ainda há o conflito de gerações que se caracteriza não só pala diferença de idade, mas pelas estruturas rígidas das mentes dos envolvidos.

Em outra perspectiva, merece preocupação o fato de que, mesmo estando em minoria, às famílias monoparentais estão crescendo incessantemente, principalmente nas camadas mais pobres da sociedade, esse fato é preocupante já que a maioria delas é chefiada por mulheres sozinha com crianças. A respeito desse fato, Leite ressalta que

Enquanto o grupo familiar coeso encontra meios de se manter em relativa estabilidade financeira, a monoparentalidade condena seus atores (regra

geral) à precariedade que atinge tanto os pais (com maior ou menor intensidade) quanto os filhos. A causa geradora do fenômeno depende dos mais variados fatores, mas as estatísticas atuais comprovam que o fator preponderante continua sendo a ruptura do casamento (separação e/ou divórcio). (LEITE, 2003, p.293)

As famílias monoparentais têm uma maior fragilidade em sua estrutura, uma vez que os cuidados com os filhos para quem vive sozinho são redobrados por isso, podem precisar de ajuda de diversas formas, em razão disso Dias (2007) sugere que o Estado atenda a essas especialidades e dê auxílio especial a esses grupos familiares.

Bem, se antes tínhamos o casamento como um laço indissolúvel perante os olhos da Igreja e da sociedade, a situação atualmente é completamente diferente, assumindo um paradigma de normalidade, através do que Bauman (2001) chama de relações liquidas, a incidência dos casos de separação foi crescendo de tal forma que cada vez mais obrigam a sociedade a se adequar a este fenômeno social, buscando interagir com outras ciências, como a psicologia e sociologia, no sentido de humanizar mais tal situação e assim minimizar os danos advindos com a desestruturação familiar.

Em muitos casos, o que vai parar na esfera judicial são os restos do que foi uma relação de amor amor ou mesmo o próprio ódio que ocupa, de modo cruel, os laços antes existentes. Tais conflitos são expostos nas separações ou divórcios, requerendo medidas chamadas de preparatórias, como separação de corpos, afastamento do lar conjugal ou ainda incidentais, como o fato de realizar busca e apreensão de filhos, por exemplo. Tais desavenças envoltas de um sentimento negativo tomam um lugar público, assim, promover adequadamente a separação ou o divórcio contribui para colocar fim em um vinculo de uma convivência que não mais se sustenta, devendo também propiciar um ambiente razoavelmente harmônico para evidenciar que o vinculo que se desfez não prossiga, pelo inverso, nas acusações recíprocas de culpas. (FACHIN, 2003)

Uma das grandes tarefas dos processos de terminação de vínculos, quer seja sócio-afetivo, quer seja apenas formal, é evidenciar que se os pais se separam, os pais não devem se separar dos filhos. Quanto ao instituto da guarda, Dias (2010) coloca que tanto a unilateral quanto a compartilhada, deve espelhar um exercício diário de autocrítica para não despejar sobre as crianças ou adolescentes a discórdia entre os pais.

Salienta-se que antes ao falarmos de família trazíamos vinculada somente a imagem do pai, mãe e filhos juntos, hoje temos na sociedade vários modelos. Dentre estas novas formas de representar a família encontramos aquelas em que os pais ficam com a guarda dos filhos e os criam sozinhos, temos mães que assumem totalmente os filhos tanto financeiramente como na educação, torna-se constante também família formada por pessoas separadas que se unem e trazem para esta nova relação filhos de uniões anteriores e até famílias formadas por avós que passam a assumir os netos integralmente após a separação dos pais destes, o que será objeto de análise no próximo item.

Temos assim na sociedade contemporânea um conceito de família bastante diversificado, bem como uma visão do casamento totalmente diferenciada daquela existente em períodos anteriores da história. Entretanto, uma perspectiva não mudou, apesar de tantas transformações, que é o fato da família ter o dever de cumprir o seu papel em direção ao desenvolvimento e felicidade de todos os membros que dela fazem parte.