Capítulo II ― Metodologia de Investigação
2. Procedimento metodológico da investigação
“Vida, doce mistério”.
A pesquisa foi realizada com seis Mulheres participantes do MOEMA e os critérios
para a seleção foram: (i) tempo de participação (atuação no movimento), (ii) disponibilidade,
(iii) frequência nas reuniões e em eventos desenvolvidos pelo MOEMA e (iv) Mulheres que
são denominadas amigas do MOEMA, que são pessoas que já participaram como integrantes
e hoje são apoiadoras ou mesmo que nunca participaram diretamente, mas sempre fizeram
parte de alguma maneira ajudando e divulgando o movimento.
Lembramos que este trabalho respeita as orientações oferecidas pela Carta Ética para
a investigação em Educação e Formação do instituto de Educação da Universidade de Lisboa
(ULISBOA), considerando a integridade dos participantes e o respeito à coleta e à análise dos
dados.
que tem como objetivos (a) revelar a história de vida das Mulheres que fazem o MOEMA; (b)
apresentar um arcabouço conceitual sobre a Economia Solidária (E.S.), sobre os movimentos
sociais, sobre o gênero e sobre a cidade enquanto educadora ― no MOEMA ―; e (c)
demonstrar o perfil e o percurso das Mulheres que fazem o MOEMA e como isso influenciou
em seus percursos de vida [formulário de entrevista anexo I].
Para tanto, foi adotado um formulário de entrevista semidiretiva, visto que
consideramos a mais adequada à pesquisa em pauta, o qual nos permite uma relação mais
flexível com o entrevistado, deixando-o livre para expor seu pensamento, como sintetiza
Amado (2013):
As questões derivam de um plano prévio, um guião onde se define e regista, numa
ordem lógica para o entrevistador, o essencial do que se pretende obter, embora, na
interação se venha a dar uma grande liberdade de resposta ao entrevistado (p. 208).
Um questionário de entrevista semidiretiva foi muito oportuno para trabalhar com as
Mulheres do MOEMA; este permitiu colher suas histórias, suas vivências e seus pontos de
vista de maneira livre e sobretudo espontânea. Pudemos, também, perceber suas expressões e
até mesmo suas emoções quando contavam, por exemplo, uma história que há muito não
relatavam e que já estavam esquecendo, ou mesmo algo que faziam questão de contar. Nessa
perspectiva, Amado (2013) sustenta que “a entrevista é um dos mais poderosos meios para se
chegar ao entendimento dos seres humanos e para a obtenção de informação nos mais
diversos campos” (p. 207).
No decorrer da realização do presente trabalho, o mundo passava pela pandemia do
COVID-19 (do inglês Coronavirus Disease 2019); razão que explica a necessidade de
algumas adaptações para a continuidade do presente estudo. Uma delas consistiu na
realização das entrevistas por meio do aplicativo Zoom ― aplicativo de videoconferência que
apresenta uma boa qualidade de imagem, de áudio e de compartilhamento de tela, e que
permite gravar áudio e vídeo; um dos mais usados atualmente no mundo. Frisamos que, em
meio aos tempos vividos, essa foi a opção mais viável que encontramos para dar
prosseguimento à pesquisa.
A primeira entrevista (anexo A), que denominaremos aqui de “entrevista-teste” ou
“exploratória”, adotou um caráter experimental para testarmos o aplicativo a ser usado e o
questionário e para equalizar as possíveis alterações, ajustes e o que se fizesse necessário.
Porém, a referida entrevista foi de muita valia para o desenvolvimento do trabalho, o que nos
levou ao surgimento da ideia de entrevistarmos não somente as atuais participantes do
MOEMA, mas algumas Mulheres que passaram pelo movimento de alguma forma e até hoje
mantêm um vínculo ― estas chamadas carinhosamente de “Amigas do MOEMA”. Foi uma
maneira de alcançarmos um olhar diferenciado, de quem vive o movimento de outra maneira.
Então, foram realizadas duas entrevistas com Amigas do MOEMA e quatro com participantes
ativas no movimento.
Não foi necessário fazer alterações no questionário de pesquisa aplicado, uma vez que
as Amigas do MOEMA são muito presentes no movimento. As entrevistas foram realizadas
de maneira individual e em dias diferentes, dependendo das disponibilidades das
entrevistadas. Foram entrevistas longas, gravadas através do aplicativo Zoom, e as
entrevistadas não tiveram acesso ao questionário de pesquisa anteriormente, visto que as
integrantes do MOEMA já eram conhecedoras da pesquisa em processo.
As transcrições foram realizadas manualmente, sem auxílio de aplicativos de
transcrição; uma opção da pesquisadora, pois foi observado o tom de voz, o olhar, o silêncio,
a emoção, um sorriso ou qualquer manifestação de sentimentos. Acreditamos em que, ao
ouvir as histórias de vida dessas Mulheres, a maneira como as narrativas foram concebidas, o
momento em que essas histórias se cruzam e se mostram tão parecidas quando vividas dentro
de um Movimento Social levar-nos-ão a uma análise oportuna.
2.2 Tratamento e análise dos dados
A análise pautada em uma investigação biográfica de um grupo de Mulheres fora
realizada por meio de um processo de reconhecimento, de recolhimento e de tratamento de
dados de entrevistas semidiretivas aplicadas em seis Mulheres participantes do MOEMA.
Os dados recolhidos e analisados com base em relatos de Mulheres, amazônidas,
nortistas, periféricas e participantes de um grupo de Mulheres nos leva a um olhar singular, é
perceptível a surpresa ao propor a pesquisa; porém, a surpresa maior é para quem as
entrevista, pois se escuta histórias de vida, olhares diferenciados diante do outro, diante da
vida em sociedade, da economia, da cidade e da própria maneira de se notarem enquanto
Mulheres dentro de um Movimento Social. Essa assertiva equipara-se ao pensamento de
Delory-Momberger (2012):
Essa ambição, talvez louca, de atingir as próprias fontes e os modos de efetuação da
singularidade individual só pode trilhar os caminhos de uma “hermenêutica da
relação” em que o pesquisador empreende, ele também, um “trabalho do sujeito”,
tanto quanto o autor do relato, e em interação com ele. Talvez o pesquisador, mesmo
quando “armado” de seus modelos e grades, não faça e não possa fazer nada a não ser
“contar” por sua vez aquilo que lhe “contam” os relatos dos outros. É pouco e é muito,
é o preço de uma ciência “humana” ― e é seu tesouro (p. 535).
As informações recolhidas por meio das entrevistas aplicadas em Mulheres ― cada
uma com sua singularidade, com a sua maneira de ser, de agir, de viver e de narrar ―
levam-nos a uma interpretação hermenêutica, a uma busca pela compreensão dos comportamentos,
das falas e das atitudes, as quais se constituem ações humanas demonstradas tanto pelo
entrevistado, na hora de sua fala, quando pelo entrevistador/pesquisador, no momento de
transcrever os relatos e as emoções neles contidos. Este foi o motivo de optarmos pela
transcrição manual das entrevistas gravadas por meio do Zoom: para que, durante a
transcrição, fosse possível observar o comportamento, o olhar, o silêncio e o respirar diante
das perguntas e das respostas.
As autoras Dittrich & Leopardi (2015) asseguram que “podemos dizer que a
hermenêutica é um modo muito peculiar para a compreensão dos fenômenos, resultantes de
relações em que os sujeitos envolvidos na pesquisa compartilham vivências baseadas em
coparticipação, solidariedade e mente aberta aos seus significados” (p.114).
Além disso, o registro biográfico gerado por Elas no momento das entrevistas é de
notável valor para o desenvolvimento da pesquisa, pois fazem importantes ligações com as
pautas abordadas. Acerca disso, Cavaco (2015) nos destaca o valor dos sujeitos diante da
versatilidade da escrita biográfica: “A análise das narrativas autobiográficas permite
compreender a importância que os sujeitos atribuem à reflexividade, destacando que se trata
de um ganho conquistado com a elaboração do registo biográfico” (p. 84).
Portanto, a análise dos dados foi feita de maneira cuidadosa. Não foram utilizados
aplicativos para transcrição de falas, para que se estabelecesse uma análise bem real levando
em consideração as alterações emocionais que aconteciam durante as respostas ali
apresentadas. Nas citações das análises, por sua vez, foi procurado respeitar a pesquisa,
enquanto biográfica, de sorte que fizemos uso dos relatos longos, exatamente como fora
falado, sem grandes interferências a fim de protegermos a linguagem e de garantirmos o
protagonismo das Mulheres aqui entrevistadas.
As análises seguiram o guião de entrevista proposto e ligaram-se aos temas abordados
no decorrer da dissertação. A cada nova temática, era apontada e trabalhada a questão.
No documento
UNIVERSIDADE DE LISBOA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
(páginas 64-69)