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CAPÍTULO 1 – M ETODOLOGIA DE PESQUISA

1.4 Procedimentos para a análise de dados

A análise dos dados está organizada, neste trabalho, ao longo dos capítulos 5, 6 e 7, conforme o local e os instrumentos por meio dos quais foram coletados, bem como pela finalidade de cada etapa da constituição do corpus da pesquisa, o qual é composto por registros escritos de observação participante (diários de campo 1 e 2) e por dados provenientes de entrevistas com professores, seja em situações informais, de conversações exploratórias, seja em situações formais que demandaram a utilização de roteiros previamente elaborados. A natureza interpretativa de nosso estudo e o tipo de material coletado levaram- nos a optar pela técnica de análise de conteúdo (Bardin, 1979) para obter indicadores que nos permitissem inferir conhecimentos relativos às mensagens presentes nos materiais analisados.

Bardin (1979) esclarece que, na análise de conteúdo, tudo o que é dito ou escrito é passível de ser analisado. Nesse sentido, a análise pode se debruçar sobre textos previamente existentes ou, como é o nosso caso, sobre textos produzidos no âmbito da própria pesquisa. Assim constituído, o corpus representa, como lembra Moraes (2005, p. 87), “uma multiplicidade de vozes se manifestando sobre os fenômenos investigados”, as quais não se restringem às dos sujeitos investigados, implicando também a subjetividade do próprio pesquisador, que influencia e é influenciado pela realidade.

Conforme explicamos anteriormente, a constituição do corpus de análise ocorreu em locais e momentos distintos, implicando a alternância entre períodos de coleta propriamente ditos e períodos de leitura e organização parcial dos dados, que foram sendo complementados entre 2006 e 2009. De posse dos materiais que foram sendo coletados ao longo desse período, fizemos sucessivas leituras até ficarmos impregnados por seu conteúdo. Para Bardin (1979), esta fase de pré-análise, que chama de leituras flutuantes, possibilita a criação de familiaridade entre o investigador e os dados da pesquisa, permitindo a apreensão de detalhes importantes para a análise.

Os procedimentos que empregamos para analisar, com base num critério essencialmente semântico, as mensagens explícitas ou latentes percebidas nas observações e nas entrevistas variaram conforme o local e os sujeitos investigados. Tendo em vista, de antemão, que os sentidos são pessoais e se manifestam, em práticas sociais, por meio de

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pensamentos, emoções, sentimentos, valores e ações cotidianas de cada indivíduo, procuramos compreender o sentido que nossos sujeitos conferem ao seu trabalho, aos fatores objetivos e subjetivos que nele intervêm, à leitura e à escrita como processos que favorecem ou não uma aprendizagem mais bem sucedida por parte dos alunos, entre outros aspectos que consideram importantes para otimizar essa aprendizagem.

A codificação e categorização dos indicadores que foram surgindo dos dados passaram por algumas etapas, algumas definidas a priori, outras emergentes do contexto da pesquisa. Assim, no quadro constituído no capítulo 5 a partir de indicadores desvelados nas sucessivas leituras do diário de campo 1, são discutidas categorias que serviram de base para a busca de informações complementares, nas entrevistas realizadas com os professores, algum tempo depois. São elas: contingências do trabalho cotidiano na escola, estratégias de enfrentamento adotadas pelos professores e concepções acerca do ensino de leitura e escrita. Os registros de situações observadas em nossas próprias aulas e, sobretudo, nos momentos de interação entre professores em reuniões de HTPC, planejamento e intervalos permitiram a constituição de um quadro representativo da complexidade implicada no fazer docente, na medida em que foram desveladas e discutidas as categorias mencionadas.

No capítulo 6, o material de análise são transcrições de entrevistas semiestruturadas realizadas com professores dessa mesma escola, no segundo semestre de 2009. A volta ao campo foi necessária para enriquecer nossa compreensão a respeito do modo como esses sujeitos entendem o contexto em que atuam, já que o período precedente de observações não contemplou a entrada em suas salas de aula, posto que também trabalhávamos naquela escola e a observação de aulas de colegas implicaria delicados problemas éticos. Nesse capítulo, alguns indicadores para a constituição de categorias de análise foram definidos a priori no roteiro de entrevista e outros surgiram da margem de flexibilidade existente em entrevistas compreensivas, posto que os professores respondem a questões abertas e destacam aspectos para os quais conferem maior importância, independentemente de estes terem sido ou não previstos como tópicos relevantes pelo entrevistador. Assim, discorremos sobre os seguintes pontos, considerados importantes para aprofundarmos nossa compreensão acerca dos sentidos que os professores manifestam a respeito de sua prática e do contexto institucional em que atuam, incluindo as relações interpessoais que nele têm lugar:

- Dificuldades mais sérias ou mais frequentes dos alunos - Causas das dificuldades

- Materiais impressos utilizados

- Modos de orientar os alunos quanto à realização das atividades - Concepções de leitura e escrita

- Clima relacional no ambiente de trabalho

No capítulo 7, por fim, o material de análise é a transcrição de uma entrevista em profundidade realizada com uma professora de Língua Portuguesa, atuante em escola municipal, e também o diário de campo elaborado a partir da observação de suas aulas, no decorrer de um bimestre letivo. Com o fim de destacarmos fatores objetivos e subjetivos que intervêm no trabalho docente, focalizamos, neste estudo de caso, os sentimentos positivos e negativos que a professora experimenta em relação a si mesma e ao trabalho que realiza, a partir da intersecção das dimensões objetiva (condições de trabalho) e subjetiva (fatores pessoais), analisadas a partir de subcategorias que, determinadas em função da proposta de Lapo (2005), emergiram em seu discurso, sendo depois comparadas a aspectos desvelados na análise dos registros de suas aulas.

Destacamos que, na análise de conteúdo, assim como esclarece Moraes (2005), o processo de construção de categorias tende a ser muito trabalhoso, implicando a insegurança de um percurso a ser construído no próprio processo. Não obstante, pretendemos que a trajetória por meio da qual foi constituído o corpus de nossa pesquisa e os procedimentos empregados na sua análise tragam respostas para as questões que motivaram a investigação, permitindo-nos desvelar como a articulação de aspectos subjetivos e objetivos que intervêm na prática do professor facilita ou dificulta sua atuação no sentido de investir na formação das proficiências leitora e escritora dos alunos, o que, segundo o pressuposto do qual partimos, favoreceria sua aprendizagem em todas as disciplinas.