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Cidades mais violentas do Brasil

4.6 Procedimentos de análise

Depois da transcrição e da alimentação dos dados no Atlas.ti 6.2, assim como dos procedimentos realizados para a preparação do material levantado, coube-nos fazer a análise propriamente dita desses dados e, em seguida, discutir os resultados.

A análise ancorou-se na Análise do Discurso à Luz da Metáfora (CAMERON, 2003, 2007a, 2007b, 2008; CAMERON; DEIGNAN, 2009; CAMERON et al., 2009; CAMERON; MASLEN, 2010).

Com base nos objetivos desta pesquisa, na análise dos dados enfocamos três aspectos, a saber: (1) a figuratividade manifesta na fala das participantes do grupo focal, (2) as metáforas sistemáticas que emergiram ao longo do discurso e (3) as mudanças metafóricas observadas nos veículos identificados ao longo do discurso. Os procedimentos de análise relativos a cada um desses aspectos são descritos mais detalhadamente a seguir.

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4.6.1 Da análise da figuratividade

Após a leitura dos registros e sua transcrição e alimentação no Atlas.ti, iniciamos a análise da linguagem figurada, ainda em andamento, que se fundamenta nos pressupostos da Análise do Discurso à Luz da Metáfora, de Cameron, conforme referências já informadas.

Com base em nosso entendimento de que vítimas diretas de violência doméstica contra a mulher expressam suas ideias e sentimentos sobre esse tipo de violência, por meio da linguagem figurada manifesta em metáforas que emergem no seu discurso, buscamos, inicialmente, investigar a presença dessa figuratividade, identificando a emersão de metáforas por meio de seus veículos metafóricos (itens lexicais que possuem significado que contrasta com aquele do contexto discursivo).

Nossa análise e reflexão sobre os dados apurados voltou seu foco, então, para aquelas metáforas que emergiram ao longo do discurso, envolvendo um ou mais tópicos discursivos e resultantes da interação de pelo menos dois participantes, revelando sistematicidade em sua trajetória (metáforas sistemáticas).

4.6.2 Da análise das metáforas sistemáticas

Passamos, em seguida, a examinar cada uma das metáforas sistemáticas elencadas, que são estabilizações temporárias na dinâmica discursiva decorrentes das negociações de conceitos entre os participantes, e que envolvem não só aqueles veículos metafóricos semanticamente relacionados, mas também os tópicos a eles vinculados.

4.6.3 Da análise das mudanças metafóricas

Examinamos também, ao longo do discurso, as ocorrências de mudanças metafóricas por que passaram os veículos metafóricos. Buscamos identificar os tipos de mudanças registrados e, dentre eles, aquele cuja frequência foi maior.

Neste capítulo, no qual relatamos os procedimentos metodológicos realizados nesta pesquisa, depois de caracterizarmos a pesquisa como qualitativa, de caráter descritivo-exploratório, descrevemos o lócus – a Casa Abrigo de São Luís

145 – mantida pelo Tribunal de Justiça do Maranhão, destacando o seu histórico e principais características. Tratamos, logo em seguida, das informantes, caracterizando-as; dos critérios adotados no seu processo de seleção; do número de informantes e sua faixa etária; além dos codinomes adotados para as participantes e as pessoas por elas citadas. No tocante às técnicas e instrumentos empregados nesta investigação, descrevemos, inicialmente, como técnicas: o grupo focal, a aplicação de questionários, a gravação e o Atlas.ti, justificando sua utilização, e, em seguida, os instrumentos de ordem legal (termo de consentimento informado e declaração de consentimento) e os de pesquisa (questionário, roteiro de perguntas e Atlas.ti). Após esses esclarecimentos, discutimos o corpus, caracterizando-o e descrevemos os procedimentos metodológicos utilizados na coleta de dados, assim como as onze etapas de preparação dos dados levantados. Essas etapas tiveram início com a transcrição do evento discursivo, incluíram a leitura dessa transcrição, a observação de possíveis temas-chave, a observação de temas-chave, a identificação de tópicos discursivos, a descrição da estrutura do discurso, a identificação, organização e codificação dos temas e, em seguida, dos tópicos discursivos, a identificação das metáforas por meio dos veículos metafóricos, o agrupamento desses veículos, a identificação das metáforas sistemáticas por meio desses agrupamentos de veículos e dos tópicos discursivos, e foram finalizadas com a vinculação das metáforas sistemáticas aos temas e/ou tópicos discursivos ao longo do evento discursivo (trajetória). Concluindo esse capítulo, tratamos dos procedimentos de análise no tocante à figuratividade, às metáforas sistemáticas e às mudanças metafóricas.

No próximo capítulo, apresentaremos as análises das metáforas sistemáticas que emergiram no discurso das participantes do grupo focal desta pesquisa sobre violência doméstica contra a mulher.

146 5 INDO ALÉM DO ÓBVIO: O RAIO X DE UMA METÁFORA

“Só quando fica insuportável é que a mulher quebra a barreira do silêncio.”

(Marta Rocha, Delegada, quando Presidente do Conselho da Mulher, no Rio de Janeiro). Este capítulo, o coração desta tese, destina-se à apresentação das análises realizadas e corresponde à penúltima etapa a ser cumprida nesta investigação. Neste momento, nossa lente fecha, reduz o foco e o concentra nas metáforas que, segundo nossa interpretação dos dados obtidos, emergiram na fala de vítimas diretas da violência doméstica contra a mulher reunidas em um grupo focal, para discussão desse fenômeno.

Após o cumprimento dos procedimentos metodológicos de preparação apresentados no capítulo anterior (Capítulo 4), as análises foram realizadas com base no arcabouço teórico da Análise do Discurso à Luz da Metáfora, proposta por Cameron, conforme referências anteriormente citadas.

A análise dos dados relativos ao discurso produzido como resultado da interação verbal de seis vítimas diretas da violência doméstica contra a mulher, baseada em nossas percepções, inferências, reflexões e interpretações, indicou a emergência de quinze metáforas que, no nosso entendimento, em decorrência da trajetória que desenvolvem ao longo do evento discursivo, podem ser consideradas sistemáticas.

Para a realização da análise de cada uma dessas metáforas, elaboramos um roteiro que nos permitiu manter um padrão na sequência de apresentação. Esse roteiro inclui os seguintes dados da metáfora sob análise: (1) Número de ordem; (2) Título; (3) Total de excertos envolvidos; (4) Linhas inicial e final de cada um dos excertos, marcando os momentos de estabilização; (5) Total e nome das participantes da interação; (6) Total de tópicos discursivos envolvidos e tópicos discursivos por participante; (7) Total de veículos metafóricos e número de veículos por participante; além de (8) Total e tipos de mudanças metafóricas envolvidas.

Esses dados foram distribuídos em um quadro sinótico que elaboramos para viabilizar, inicialmente, uma visualização mais rápida dos detalhes relativos a cada metáfora analisada.

147 Ao final da análise de cada metáfora, apresentamos um gráfico, elaborado por nós, com o intuito de demonstrar a trajetória da metáfora analisada ao longo do evento discursivo, de modo a tornar possível a visualização do que foi construído de modo colaborativo pelas participantes. Tal visualização permite-nos identificar os momentos de estabilização resultantes da negociação de conceitos entre as participantes em sua interação verbal.

Nesse gráfico, os dois eixos utilizados são: (1) na vertical, as unidades entonacionais, que compõem a transcrição de todo o evento discursivo e correspondem às linhas de 0001 a 3768; e (2), na horizontal, os momentos de emersão da metáfora analisada, marcados pela linha inicial de cada excerto do tópico em que ela se manifesta. A linha que registra essa trajetória pode variar de acordo com os momentos de emersão da metáfora ao longo do discurso, com a frequência dessas ocorrências e com a tamanho do hiato que se estabelece entre elas no discurso como um todo.

Esclarecemos que, ao longo das análises, ao examinarmos alguns veículos, a título ilustrativo, recorremos, no Grande dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2012), ao primeiro significado do item lexical analisado, já que, na grande maioria dos dicionários tradicionais, como é o caso, esse significado é sua acepção mais básica, seu sentido mais primário, seu uso mais concreto, sendo os seguintes, se houver, extensões desse primeiro significado. Ao incluirmos esses dados, não há qualquer intenção em contrapor o literal ao figurado, já que isso não se coaduna com nossa concepção e, muito menos, com os princípios norteadores do quadro teórico que nos serve de base.

Apresentamos, em seguida, nossas análises, em sua grande maioria realizadas excerto a excerto, que se concluem com a apuração dos resultados e a apresentação da trajetória traçada pela metáfora analisada no gráfico já descrito, permitindo uma visualização de como esta se desenvolveu ao longo do evento discursivo.

As análises incluem as mudanças metafóricas que ocorrem em cada metáfora, com a identificação de quais os tipos e de quantas recorrências se verificam de cada um deles e no todo.

148 Quadro 4 – Metáforas sistemáticas emersas no discurso

Fonte: Elaboração da autora.