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2. CAPÍTULO I:

4.1 Procedimentos metodológicos

A metodologia adotada situa-se nos marcos da pesquisa qualitativa, uma vez que essa abordagem pauta-se na análise e contextualização do objeto de estudo considerando a realidade como um campo dinâmico e de muitas interações. Nesse sentido, Bogdan e Biklen (1994, ´p. 49) afirmam que:

[...] a abordagem da investigação qualitativa exige que o mundo seja examinado com a ideia de que nada é trivial, que tudo tem potencial para constituir uma pista que nos permita estabelecer uma compreensão mais esclarecedora do nosso objeto de estudo .

A escolha por essa abordagem, além de permitir a maior aproximação entre os sujeitos, possibilita a interação do pesquisador com seu objeto de análise, buscando compreender as múltiplas faces que ele apresenta no contexto social.

Se queremos conhecer modos de vida, temos de conhecer as pessoas. Esse é o motivo pelo qual as pesquisas qualitativas privilegiam o uso de uma abordagem em que o contato do pesquisador com o sujeito é muito importante. Nessas pesquisas, ao invés de trabalharmos com grandes temas, com grandes cronologias, o fazemos de forma mais

localizada. Trabalhamos com os fatos de forma a poder aprofundar tanto quanto possível a análise, e não para conhecê-los apenas de uma forma sumária, a partir de uma primeira apresentação. Nesse sentido, priorizamos não os fatos épicos, os fatos de grande dimensão, mas aqueles que estão mais próximos do sujeito e que repercutem diretamente na sua vida (MARTINELLI, 1999, p. 22).

Cabe lembrar que, apesar da proximidade e da familiaridade com o campo da pesquisa104, o apoio da revisão de literatura é, sobretudo, um processo investigativo que possibilita o estranhamento necessário às circunstâncias dadas. Através da imersão bibliográfica o pesquisador confere a cientificidade necessária à compreensão do objeto em questão. “Com um olhar comparativo, alimentado por várias pesquisas bibliográficas, ele consegue distanciar-se de seu próprio universo para constituí-lo em termos sociológicos e culturais” (FONSECA, 1999, p. 61).

Com os professores e demais profissionais da educação, realizamos a entrevista semiestruturada, apontada por Alves-Mazzoti e Gewandsznadder (2002) como método que consiste na organização, pelo entrevistador, de algumas perguntas voltadas às questões da investigação, além de permitir ao entrevistado acrescentar itens, fatos e informações relevantes.

Como técnica, a entrevista foi selecionada por ser um recurso que permite ao pesquisador, a partir da interação que estabelece, obter informações contidas nas falas dos professores e profissionais da educação (assistente de aluno, coordenador de curso, diretores da instituição, pedagogo e psicólogo). Além disso, favorece melhor fluidez ao assunto, possibilitando ao entrevistador acompanhar as pausas reflexivas, o domínio do conteúdo apresentado pelo entrevistado e as reações que este apresenta diante das perguntas e dos questionamentos que vão surgindo no decorrer da entrevista.

A entrevista é uma das técnicas de coleta de dados mais utilizada no âmbito das ciências sociais. Psicólogos, sociólogos, pedagogos, assistentes sociais e praticamente todos os outros profissionais que tratam de problemas humanos valem-se dessa técnica, não apenas para coleta de dados, mas também com objetivos voltados para disgnóstico e orientação. [...] Por ser flexível é adotada como técnica fundamental de investigação nos mais diversos campos e pode-se afirmar que parte importante do desenvolvimento das ciências sociais nas últimas décadas foi obtido graças à sua aplicação (GIL, 2009, p. 109).

104 Reiteramos que a pesquisa foi realizada no próprio local de trabalho da pesquisadora, exercendo esta a função de Assistente Social lotada na Seção Serviço Social do Setor de Coordenação Geral de Assistência ao Educando.

A entrevista semiestruturada, portanto, confere à investigação maior aprofundamento do tema pesquisado, o que, de acordo com Minayo (1996), permite a obtenção de dados de uma forma mais livre, uma vez que as respostas não ficam condicionadas a um padrão fixo de alternativas. O emprego metodológico da ADC, enriquece a análise dos dados uma vez que o pesquisador, ao estabelecer o diálogo investigativo, passa a acompanhar os discursos mediatizados pela fala presente nas práticas sociais, assim como lhe é possível compreender a interligação entre práticas sociais e discursos:

Nessa perspectiva, o discurso é visto como um momento da prática social ao lado de outros momentos igualmente importantes – e que, portanto, também devem ser privilegiados na análise, pois o discurso é tanto um elemento da prática social que constitui outros elementos sociais como também é influenciado por eles, em uma relação dialética de articulação e internalização (RESENDE e RAMALHO, 2014, p. 38-39).

O emprego da ADC é um método de análise que leva o pesquisador a captar as manifestações de poder contidas nas falas dos sujeitos, pois as práticas discursivas podem revelar a conformação dos atores sociais às condições sociais vigentes ou mesmo a subversão ao poder instituído no contexto social. Dessa forma, conceitos como direito, direitos sociais, cidadania, política social, política de cotas, educação de qualidade, igualdade, justiça e democracia podem tanto revelar a prevalência de uma consciência social crítica como a persistência de uma (in)consciência social conservadora. Para Fairclough (2016), o conceito gramsciano de hegemonia coaduna com sua concepção de discurso, uma vez que as relações de poder presentes na sociedade são expressas pela luta pela conquista do consenso. Ou seja,

Tal concepção de luta hegemônica em termos da articulação, desarticulação e rearticulação de elementos está em harmonia com […] a concepção dialética da relação entre estruturas e eventos discursivos; considerando-se as estruturas discursivas como ordens do discurso concebidas como configurações de elementos mais ou menos instáveis […]. Pode-se considerar uma ordem do discurso como a faceta discursiva do equilíbrio contraditório e instável que constitui uma hegemonia, e a articulação e a rearticulação de ordens do discurso são, consequentemente, um marco delimitador na luta hegemônica (FAICLOUGH, 2016, p. 128-129).

abertas e fechadas. Esse instrumento foi selecionado tendo em vista que os participantes da pesquisa já concluíram o ensino médio,, sendo-lhes enviado o questionário por e- mail e contatos pelas redes sociais.

Em outro âmbito, contemplamos a análise dos documentos institucionais (diários, dados do Sistema Nacional de Informações da Educação Profissional e Tecnológica – SISTEC -, Projeto Pedagógico do Curso, Registros Acadêmico e pasta de alunos) visando confrontar as práticas discursivas com as diversas formas de registros acerca de desempenho dos estudantes cotistas.